Ouve lá ó Mister – Vitória Setúbal


Amigo Vítor,

Não te invejo a sorte, garanto. Este é um jogo que apesar da importância que tem para a competição a que se refere, poucos gostariam de ter de jogar. Por um lado, tens muita sorte se tiveres cinco mil pessoas nas bancadas, e com a chuva e frio que aí vem, talvez nem isso. E olha que há entradas à borlix para quase trinta mil, o que não seria nada mau para passar um final de tarde a ver a bola no estádio preferido de toda a gente de bem, mas que poucos, diria muito poucos vão aproveitar, eu incluído. Ainda por cima é daqueles jogos que se venceres, ninguém te dará mais que uma palmadinha nas costas e um “meh, até nem correu mal” a caminho do balneário, rodeado de meia-dúzia de tímidos aplausos. Mas se perderes, não tenho dúvida que meio-mundo te vai cair em cima com a raiva de duzentos titãs furiosos, incapazes de perceber o porquê de tal descalabro. E somando todos os factores incluídos na simples verdade de noventa e nove ponto nove por cento dos portistas estarem já a pensar no jogo do próximo domingo, não há muita gente que dê um prepúcio cortado para ver a bola.

Vou estar a trabalhar e se um jogo para a Taça da Liga contra o Setúbal já não entusiasma um miúdo com uma boa dose de anfetaminas no organismo, o horário ainda vem atirar mais duas pazadas de areia para os olhos dos adeptos. Lindo, não é? E tu, profissional semi-liberal, lá estarás com os teus muchachos a dar o corpinho ao manifesto e a tentar fazer com que nos apuremos para a próxima fase desta pseudo-competição de elite. Devo ver o jogo óspois, em diferido, porque não quero que penses que te estou a desprezar, longe disso. E olha que gostava imenso de ver algumas alterações no onze, mesmo que possa significar que a qualidade do jogo poderia ser sacrificada em função de introduzires algum sangue novo na tua equipa. Não digo que metas o Tozé ou o Quiño a titulares, mas talvez possas fazer com que alguns dos “bons” descansem. Tu é que os conheces, não sou eu, eu só os vejo ao longe e parece-me gente de bem, por isso decide lá como quiseres. E faz lá o favor, ganha o jogo, descansa a malta de dentro e de fora e deixa-nos preparar mentalmente o jogo de domingo em paz com as nossas almas. Força, rapaz, e leva um guarda-chuva.

Sou quem sabes,
Jorge

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We may need to buy

Estou sentado no sofá na minha sala a ouvir Billie Holiday e a beberricar um copo de vinho. Do Douro, forte, com corpo suficiente para empurrar o Hulk e deixá-lo prostrado no chão. E enquanto sorvo mais um gole do néctar no copo com pé que pouso delicadamente na borda do encosto para o braço que não uso, vou pensando em futebol. Prosaico, não acham? Talvez, mas não dá nada de jeito na caixa e poucas coisas melhoram estes momentos de descanso e puro lazer idílico (para mim, que sou um maldito epicurista wanna-be) que dissertar um pedacinho sobre a bola e acima de tudo sobre a bola dos meus. Não sobre as minhas bolas, descansem, não terão prosa de índole testicular por estes lados nos próximos tempos a não ser que me surja um instinto incontrolável de pontapear alguns e descrever sensações alheias.

Olho para o plantel e concordo com o mister. Parece-me curto. Infelizmente curto. E se tirarmos os que estão de fora da equação porque nunca foram opção (Rafa e Rolando), somarmos os que não serão opção válida pela pressão que têm já em cima deles para apresentarem níveis de performance mínimos para impedirem vaias quando entrarem em campo (Kleber e Iturbe) e adicionarmos os que são segundas-escolhas por demérito próprio (Kelvin ou Castro), ficamos com…pouca gente. Se a baliza Helton não oferece contestação e mesmo com a alternativa Fabiano não estaríamos a arrancar cabelos, na defesa as coisas começam a tremer. Danilo e Alex Sandro estão seguros nas laterais e no centro Otamendi e Maicon estarão na mesma situação, com Mangala sempre pronto a entrar para o lugar de qualquer um dos…quatro. Alternativas? Algumas. Credíveis? Poucas. Miguel Lopes pode render Danilo, tudo bem, com mais coração e muito menos cabeça, mas safa o lugar. Abdoulaye teve alguns bons momentos mas espera mais uma vaga e de Quiñones ainda não vi nada. E nos bês há alguma qualidade mas dificilmente entrarão como opção para os ás. Diogo e Victor Luís são miúdos a defender, David é mais fraco do que parece e no centro talvez Tiago Ferreira seja opção daqui a uns anos. Falta alguém? Depende de quem sair, se alguém sair.

No meio-campo é que a casa treme toda. Fernando vai batalhando com Defour, Lucho com Kelvin e Moutinho com Defour. Mas Defour já jogou mais vezes na posição de Fernando e Castro, a outra alternativa, também fez o mesmo. Lucho está sozinho e tem-lhe sido exigida uma carga de trabalho bem maior do que esperava que aguentasse. Lembro-me das quebras do argentino a meio da temporada e temo que o mesmo aconteça este ano, o que me deixa receoso que tenhamos de lá colocar um outro milieu-de-terrain com um nível parecido. Quem? Não há mais nenhum no plantel, A ou B, que se equipare. Podem pensar que qualquer um faz o papel dele mas quem vai lá ver os jogos sabe que não é verdade e isso é evidente quando Lucho sai de campo. Kelvin desposiciona-se com demasiada facilidade, James joga à frente demais, Defour atrás demais. Sérgio Oliveira, talvez? Não lhe reconheço consistência nem maturidade competitiva para tal. Pedro Moreira? Parece-me de futebol curto, pouco imaginativo e acima de tudo pouco líder. É preciso uma alternativa a Lucho. E se Moutinho sai? Mete-se lá o Tozé? Coitado do moço, até tem jeito mas precisa de continuar a jogar, a aprender, a crescer. Por isso vamos com calma, um passo de cada vez.

Chegamos ao ataque. Jackson tem raízes no lugar, James é indispensável. E do outro lado? Atsu começou bem a época, Varela é mais consistente, tacticamente mais astuto e mais experiente, mas a boa forma do início da época está a roçar o medíocre nos tempos que correm, e fazem-no mais que Varela. Kelvin, que pode fazer o lugar, não parece ter o sentido prático para decidir jogos. Se no meio Kleber perdeu confiança dos adeptos apesar do treinador o manter por perto, não vejo em Dellatorre uma solução eficiente e acima de tudo suficiente, muito menos o faço em relação a Vion. É preciso uma alternativa a Jackson. E na ala, quando vejo Sebá a jogar penso em tantos extremos que passaram por clubes menores em Portugal ou na estranja e que nem deram má conta de si nesses clubes…mas olho para os que cá chegaram e penso na pressão que recebem. E desconfio que o rapaz ainda não tenha o que é preciso. Estarei a ser pessimista? Não creio, olhem para os exemplos de Marco Ferreira, Alan, Djalma ou Mariano, para não falar nos putos que subiram como Candeias, Vieirinha, Bruno Gama ou Helder Barbosa, entre outros. Temo que Sebá tenha de progredir mais para não ser contestado. É preciso uma alternativa a Varela.

Assim sendo, vejo três posições que podem precisar de remendo. Médio organizador, extremo e ponta-de-lança. Ideas, anyone?

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Baías e Baronis – FC Porto 1 vs 0 Nacional

foto retirada de desporto.sapo.pt

Depois de sair do estádio e acabar de subir a alameda, encontrei o Miguel do Tomo II. Estava com pressa e não pude ficar muito tempo na conversa (desculpa, rapaz!), mas as curtas impressões que trocámos sobre o jogo foram sintomáticas da forma como vimos o jogo. “Então que tal? Gostaste do jogo? Achei que a equipa estava pouco lutadora, muito lenta, sem garra…”, afirmei. Apontando com o indicador para as fontes, o meu colega da bluegosfera disse: “Já estão a pensar na próxima semana!”. E talvez tenha sido esse o principal factor que levou a que o jogo não tivesse sido vibrante, vivo, emocionante, interessante. Sim, o guarda-redes do Nacional defendeu que se fartou mas acima de tudo quem esteve no Dragão creio que concorda que o Miguel acertou na mouche. Notas abaixo:

(+) Jackson. O golo é bonito, para lá de vital na conquista dos três pontos. Canto bem marcado (que nesta equipa tem sido um achado ao nível de um trevo de quatro folhas ou de um elefante saxofonista) e salto perfeito depois de uma boa desmarcação. Mas durante o jogo esteve muito activo apesar de jogar quase sempre muito mal apoiado por Moutinho e Lucho, ambos longe da melhor forma. Lutou imenso, trabalhou para a equipa a roubar bolas aos médios contrários, controlou bem o espaço e ajudou os colegas a criar lances de perigo sempre que conseguiu. Os colegas é que nem sempre estiveram dispostos a apoiá-lo em condições.

(+) Danilo e Alex Sandro, especialmente na primeira parte. Boa exibição dos brasileiros, principalmente na primeira parte, onde apareceram com força pelo flanco e em constante apoio aos alas que pareciam mortiços e só despertavam quando tinham as costas protegidas. Danilo destacou-se não só pelas subidas mas pela garra com que jogou e correu, foi talvez o melhor jogador do FC Porto na primeira parte a par de Jackson, mas Alex Sandro não lhe ficou nada atrás, e não fosse uma segunda parte em que os muitos passes falhados de Danilo e algumas atitudes displicentes do lateral esquerdo e teriam tido prémios de melhores em campo.

(+) Defour. Todo o estádio ficou a olhar para a posição do belga que entrou depois do intervalo a substituir James. “Ui, está na ala? Vai jogar a extremo?!”. Not quite. Defour fez um papel quase de um interior…pelo exterior, por onde apareceu com uma consistência inteligente, tacticamente certinho e sem tentar fazer o que não sabe. Continuo a gostar muito do rapaz e começo a não ter dúvidas nenhumas quando digo que é o jogador tecnicamente mais perfeito do FC Porto, na recepção, domínio e endosso da bola. É um utilitário, dir-me-ão. Deixem-no ser, porque tem lugar em todos os jogos, nem sempre a titular mas é uma presença que se agradece. Merecia um golo pelo bom trabalho que fez.

(-) Uma equipa pouco lutadora. É um padrão que se tem vindo a fazer notar desde o último jogo da Champions League no Parque dos Príncipes. A equipa está, para usar um termo inglês que se adequa na perfeição, “sluggish”. Lenta demais na movimentação em campo, exagerada no jogo lateral sem criação de espaços para passes produtivos e acima de tudo com uma incapacidade tremenda em construir lances que não pareçam improvisados no momento. Os detractores perenes dirão que é uma marca do treinador, que estamos a regressar ao FC Porto de 2011/12, que vencia jogos com alguma sorte e muita inspiração de Hulk. Até podem ter alguma razão quando dizem que não jogávamos nada de especial. Os outros, os positivistas, contrariam com lembranças de Mourinho, que venceu dezenas de jogos por 1-0 e as suas equipas controlavam os jogos de início a fim sem criar problemas para a defesa. Fico no meio, como de costume. Não se trata de não jogar muito mas de não querer jogar muito. Esta mentalidade de marcar um golo e ficar grande parte do tempo a esperar que o relógio vá subindo até aos noventa e coisas até que o árbitro apite três vezes, não me agrada. E agrada-me ainda menos quando vejo que esta forma de pensar no jogo está a entranhar-se lentamente no lombo dos jogadores, que fazem passes absurdos (Mangala quase a rematar para Otamendi, Lucho a picar para Kelvin com o brasileiro e os seus 1,20m de altura em cima da linha, Alex Sandro a perder bolas com passes por entre cinco adversários, alívios de Fernando para o ar, entre tantas outras) são a imagem de uma equipa que pode produzir muito mais mas que opta por não o fazer para salvaguardar problemas futuros. Estamos a jogar pior, não melhor. E neste momento, quando se aproximam Benficas e Málagas, equipas com qualidade mas com enorme capacidade de trabalho e luta…assusta-me.


Cada jogador do FC Porto que caía ao relvado lançava uma onda de temor pelo estádio, tão receosos estávamos que qualquer rapaz fosse afastado do jogo da Luz. E não gosto nada de ver um jogo que é tão condicionado pela partida seguinte ao ponto de fazer com que se queira apenas despachar os noventa minutos, fazendo o mínimo necessário para vencer e acumular os três pontos. Que valha a pena a poupança e até tenho medo de ver quem raio vai entrar em campo no jogo de quarta-feira contra o Setúbal…

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Ouve lá ó Mister – Nacional da Madeira


Amigo Vítor,

Já não te vejo desde ano passado, homem! Parece que já foi há anos que saí de casa, tomei o café da praxe e segui para o estádio, passei o cartão no leitor da cena magnética e subi as escadas até ao meu lugar. São semanas de ausência que me furam as entranhas como ácido e deixam um vazio que só é preenchido com futebol. Há outros vazios que são preenchidos com comida, outros ainda com uns copos e ainda outros com música e outros com outro tipo de deleites terrenos, mas este, pá…tu sabes, tu já percebeste.

E então para este jogo decidiste-te a convocar gajos da B para uma competição a sério? Isso é que são tomates, homem! Ou não, tendo em conta o que tens ao dispôr. Estás-te a sentir um Robson, certo, naquelas alturas em que tinha de enfiar com o João Manuel Pinto a ponta-de-lança para desenrascar um golinho nos últimos minutos, heim? Carago que isso é que era desespero, pá, nem me quero lembrar dessas alturas e se tudo correr bem também não vou precisar, não é verdade? Mas diz-me lá a sério, achas mesmo que o Sebá e o Dellatorre já estão prontos para isto? Mais, achas que podem ser mesmo gajos para entrar no caso de precisarmos de marcar um ou dois golos? Já sei que não tens Iturbe praí até ao fim da época, nem o Atsu nem o Kleber por um mês ou mais, por isso vai-te habituando a isto…a não ser que convenças o teu patrão a dar-te uma prenda de Natal atrasada. De qualquer maneira, vê lá se orientas a malta para ganhar isto que começa a ser complicado e nem te atrevas a perder pontos hoje. Para a semana vamos ao galinheiro e quero chegar lá com os mesmos pontos teóricos porque também estou convencido que ganhas em Setúbal mais lá prá frente.

Seja como for, avança sobre os gajos como o Monty em cima do Rommel. Martela, carrega, destrói! E depois ganha o jogo.

Sou quem sabes,
Jorge

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Izmailov is my love?

Sentimentos contraditórios assolam a minha mente quando quebro uma das minhas auto-impostas regras para um defeso tranquilo e me coloco perante a estranha situação de comentar a eventual chegada do Marat ao Dragão. Nunca escondi que era um dos meus jogadores preferidos do Sporting, um daqueles que sempre que me foi colocada aquela putativa pergunta absurda do “quem é que escolhias do Sporting para vir para o FC Porto?”, estava sempre no topo da lista, a par de Liedson. Sempre foi um rapaz inteligente com a bola, com excelente remate, a jogar com dois pés activos, que jogava e fazia jogar e que tantas vezes me pôs a clamar piedade quando pegava na bola para lá do meio-campo sem marcação cerrada.

E as lesões todas que o rapaz foi acumulando nestes anos em que por cá passou não me metiam medo. Não porque tenha uma confiança cega no nosso departamento médico, nada disso que não entro em demandas loucas e auto-elogios parvónios, mas porque o tempo que passava em campo me dava confiança suficiente para que pudesse fazer a diferença em circunstâncias que precisavam de qualidade e capacidade técnica em vez de irreverência juvenil e tantas vezes infrutífera. É o que sinto ao ver rapazes com boa vontade como Kelvin ou Iturbe ou até um certo ponto Atsu, que me está a desiludir um pouco tendo em conta as altas expectativas que tinha dele, e que continuo a ter porque acho que só precisa de atinar mais uma ou duas dezenas de jogos para ser um titular absoluto na equipa. Quando um jovem com boa técnica e garra para mostrar futebol mas que apenas aparecem a espaços, lembro-me de rapazes como Izmailov ou Quaresma, que podem decidir um jogo ao mesmo tempo que usam a experiência acumulada para fazerem a diferença nas alturas que a equipa mais precisa deles. São jogadores instáveis, é verdade, capazes do melhor e do pior, mas que me dão mais garantias que a juventude tão boa para evoluir mas que é rapidamente ultrapassada pelos alicerces bem fundados de uma escola de vida que os putos, lamento dizê-lo, ainda não têm. Foi por isso que aplaudi a chegada de Lucho, com todas as limitações que a idade trazia, com a falta de pernas que se podia notar (e nota, oh sim) em muitos jogos, mas que compensa com outros vectores de inteligência competitiva que são fulcrais numa equipa que se quer dinâmica e agressiva mas também suficientemente madura para encarar problemas que se adivinham complicados.

Lembro-me dos golos que nos marcou. O petardo de pé direito que nos roubou a Supertaça em 2007, o tiro de pé esquerdo na Grande Implosão de Alvalade de 2010 ou o míssil que empatou a eliminatória da Taça no Dragão antes do capitão Mariano marcar aquele golão que nunca mais sairá do arquivo das minhas memórias. Faz-nos falta um rematador de meia-distância desde que Guarín saiu da equipa e se Moutinho tem vindo a melhorar nesse aspecto, em pouco será equivalente ao russo. Faz-nos falta um homem que possa servir como médio e extremo ao mesmo tempo e na mesma equipa, caso seja necessário encher um pouco mais o centro do terreno ou expandir a frente de ataque. Faz-nos falta alguém que faça diagonais para o centro e que remate para assustar o guarda-redes. Faz-nos falta um elemento que tenha boa técnica individual para controlar uma bola de primeira sem ter medo que ela tenha picos e fuja para a frente. Faz-nos falta alguma audácia quando James estiver em dia nim.

E se para isso tivermos de aguentar com um russo de trinta anos que ainda tem mais algumas largas e boas centenas de minutos pela frente, so be it. Que tenha o mesmo rendimento dos primeiros russos que por cá andaram, porque se alguma vez chegar a jogar tanto como o último russo que cá esteve…faço-lhe uma vénia com uns boxers vermelhos com foice e martelo e uma bandeira do Lokomotiv drapeada no meu lombo. Tens o meu selo de aprovação, Marat. Agora decide lá a tua vida.

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