Ouve lá ó Mister – Gil Vicente


Amigo Vítor,

Passou-se o fim-de-semana todo e jogo do FC Porto, népias. Não me incomodou tanto quanto isso porque sempre dá um certo gozo começar uma semana de trabalho com um boost de moral na segunda-feira à noite que me dá sempre que jogamos no Dragão. E seja do calendário, dos adiamentos, da SportTV, não quero saber. Há jogo no Dragão e vou lá estar. Eina, viva eu.

Ainda te lembras do jogo da primeira volta? A estreia no campeonato? Aquela exibição disforme, com onze jogadores cuja exibição resultou num, e passo a citar, “jogo frouxo, em que pouco pode servir como desculpa à lentidão, à exasperante falta de opções de passe e à aparente falta de vontade de jogar como antigamente se fazia”? Ainda jogava lá o Givanildo e o Miguel Lopes, vê lá tu como as coisas mudam. Até o James jogava e olha que já nem me recordo de ver o puto em campo, todas as imagens do FC Porto deste ano parece que me trazem o pobre do Defour a esforçar-se como um louco a extremo-direito. Mas hoje tudo pode ser diferente. Os nomes nas camisolas vão ser diferentes, não tenho dúvida, mas o futebol também tem de ser porque a malta começa a ficar um bocado aborrecida com os últimos jogos que temos visto contra este tipo de equipas, para te ser sincero. Queremos todos ver mais alma, mais vivacidade, mais sentido de baliza e menos tabelinhas que não trazem resultados práticos. Aprecio a gestão do jogo, mas quero ver os *nossos* rapazes com a bola, não quero que se repitam espectáculos como o de Setúbal, onde pegamos no jogo pelos cornos, marcamos um golo e depois…uma noite ensonada contra uma equipa fraca. Não quero outra do género, pá, não quero.

Até porque estes gajos não merecem. De Barcelos não sai nada que se aproveite desde o Drulovic.

Sou quem sabes,
Jorge

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Dezanove

Liedson is in the house, e o número que escolheu (ou escolheram por ele) é um pouco diferente do trinta-e-um que usou durante vários anos de verde-e-branco. Dezanove é, como devem compreender, um número bastante próximo do meu coração, por isso continuo a saga das listas de jogadores do FC Porto que o usaram nas costas, com o sonho de um dia contratarmos um gajo chamado “Porta” que me dê uma publicidade que nunca mais acabe. Vamos a isso:

 

1995/1996 João Manuel Pinto
1996/1997 João Manuel Pinto
1997/1998 João Manuel Pinto
1998/1999 João Manuel Pinto
1999/2000
2000/2001 Juan Antonio Pizzi
2001/2002 Rafael
2002/2003
2003/2004 Carlos Alberto
2004/2005 Carlos Alberto
2005/2006 Tomislav Sokota
2006/2007 Tomislav Sokota
2007/2008 Ernesto Farías
2008/2009 Ernesto Farías
2009/2010 Ernesto Farías
2010/2011 James Rodríguez
2011/2012 James Rodríguez
2012/2013 Liedson
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Trinta-e-um

foto retirada de MaisFutebol.pt

Aguentei estoicamente para comentar a entrada de Liedson no FC Porto, quando uma grande parte do mundo civilizado e quatro bloggers aborígenes já o tinham feito antes da data. Fiz o mesmo com Izmaylov, porque sou fraco. Sou, metaforicamente, levezinho (as minhas desculpas pela piada, mas era impossível evitar). Recuperei a força e agora, contextualizado com a oficial chegada do avançado ao plantel, parto para a análise.

Todos nos lembramos do Liedson que jogou no Sporting. Todos o criticávamos pela teatralidade, a invulgar capacidade de sacar faltas aos defesas contrários (ainda se lembram da expulsão de Maicon em Alvalade que fez com que Villas-Boas fosse expulso?) ou dos penalties cavados graças à arte e engenho da manha de um avançado…manhoso. Mas todos, secreta ou ostensivamente, elogiavam a inteligência goleadora, o cheirinho pela posição certa onde se colocar para receber a bola prontinha a atirar para a baliza. O jogo de área, aquele zénite da acuidade ofensiva, o último cais de onde saem os botes dos golos que transformam um jogo morno numa vitória sem dúvidas, sem medos, sem questões. Habituei-me a vê-lo, durante vários anos, a ser a principal ameaça de um Sporting que perdeu tanto do que já foi e o pouco que ainda aguentava à tona estava firme nos pés e na cabeça de dois homens: Moutinho e Liedson. O primeiro, já cá está. O segundo, chega agora.

Essa é a questão principal. Como é o “agora”? Lembro-me do “antes”, mas não faço a menor ideia como está o “agora”. Pior, o “já”, porque se temos Liedson no plantel é para jogar ou pelo menos para ser opção no banco. Jackson tem rendido bem, muito bem, mas nunca teve adversários internos à altura. Metaforizo novamente, porque Kleber é grande mas não é grande coisa e se Liedson jogar metade do que fez no Sporting, é mais que suficiente para compensar três Klebers. Sabe mais, percebe mais, tem a obrigação moral e técnica de mostrar que ainda pode ser uma solução para um problema que se arrasta há algum tempo e que não pareceu merecer opção dos técnicos em recursos pontuais aos Bs, que ainda são pouco As para serem usados para uma porfia que se quer decente mas acima de tudo constante. E se nem Dellatorre, Vion ou até o novo Caballero podem ser úteis aos olhos dos adeptos, será que um Liedson com mais alguns anos do que é hábito num plantel que é bem mais novo que ele, será que pode fazer a diferença. Hell yeah.

As contratações dividem-se em dois espaços temporais e cada um desses espaços cumpre o seu destino. As de verão preparam épocas, as de inverno tapam buracos. Não tenho dúvidas, como nenhum portista poderá ter, que Liedson é uma compra (ou empréstimo, as miudezas semânticas perdem-se na big picture) que serve para 2012/2013. Não sei se servirá para 2013/2014, nem interessa saber neste momento. Como Rocchi quando o Inter lhe pegou há umas semanas, ou tantos outros casos no passado do nosso e de outros clubes, o mais importante neste momento é suprir as necessidades imediatas de um plantel que foi planeado com apostas pouco arriscadas, umas mais que outras, e onde o centro do ataque se prendia às odds de um desconhecido mexicano e de um infeliz brasileiro. Ganhámos uma, perdemos claramente a outra. E Liedson é uma aposta de elevado risco, pela idade e pelas lesões anteriores, pelo ordenado e pela imagem que ainda tem. Vai ser bem recebido, não duvido, até porque todos gostam de mais uma alfinetada nos rivais, mesmo que o rival seja menos rival do que já foi, mas é arriscado. Liedson terá de provar o porquê de apostar num homem conhecido mas há muito desaparecido em vez de um homem desconhecido mas que possa vir a ser uma aposta mais conservadora. Tem de aparecer em grande, com sorte ou trabalho, mas sempre com golos.

Porque no fundo ninguém vai buscar um rapaz de trinta e cinco anos se não tiver uma enorme fé nas suas capacidades e no que pode trazer à equipa. Caso contrário, há muitos Jankos no mercado. Mas talvez nenhum sirva como o “levezinho” pode vir a servir. Bem-vindo, Liedson. Mostra-nos que ainda sabes o que fazer. Sê um Milla, não um Pizzi.

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Baías e Baronis – Vitória Setúbal 0 vs 3 FC Porto

Ao intervalo mudei para os outros canais da SportTV, num mini-zapping para me manter acordado. Valencia-Real, Arsenal-West Ham e Roma-Inter. Taça, Liga, Taça. E eu, que já achei muitas vezes que sou amante de futebol, apercebo-me nestes momentos que não o sou em pleno. Sou portista, e razoavelmente fanático para continuar a ver um jogo que tinha quase tanta excitação como um quadro de ardósia numa escola primária às escuras. Foi entediante ver o FC Porto a jogar sem jogar, a trocar a bola numa partida insípida, com poucos motivos de interesse a não ser o easter egg da noite: “Qual seria o próximo jogador do Setúbal a fugir a uma expulsão?”, com um festival de patadas, calcadelas, teatralidades e pontapés que os sadinos brindaram a magra plateia do Bonfim. Tão fraquinhos, mas tão fraquinhos, que o FC Porto lhes entregou o jogo quase todo para tentarem animar a contenda…sem sucesso. Vamos a notas:

(+) Jackson. Dois golos foram suficientes para o colocar no topo dos melhores marcadores e é ali que se devia sempre manter. Continua a esforçar-se, a usar o corpo e a técnica para receber bem a bola e continuar a lutar para ganhar a melhor posição possível e talvez conseguir marcar mais um ou dois. Mais vale um Jackson manco que doze Klebers em topo de forma, e só tem a ganhar com a eventual chegada de Liedson, que o vai obrigar a seguir em frente e a trabalhar para ajudar a equipa, que tem feito desde que chegou. Muito bem.

(+) Alex Sandro. Só tem o problema do excesso de confiança a sair da defesa com a bola controlada, que insiste em deixar presente em todos os jogos, quase perdendo a bola e valendo-se da ajuda dos colegas para se safar. Para lá disso é inteligente na protecção da bola em corrida e em drible, criando os desiquilíbrios que se espera que um lateral consiga fazer e o colega do outro lado do campo insiste em abdicar sequer da tentativa. Melhor na primeira parte que na segunda, onde jogou mais subido, mas já é uma das figuras da equipa.

(+) Mangala. A central ou a defesa-esquerdo, Mangalho continua a brilhar. Forte no 1×1, salvou um golo do Setúbal numa das únicas oportunidade que Meyong (who else?) teve, com uma pequena hesitação na segunda oportunidade do camaronês, que Helton salvou. Ofereceu o segundo golo a Jackson numa jogada que começa a ser uma imagem de marca: a cavalgada desde a zona defensiva, com a bola semi-controlada e a enorme envergadura das pernalongas a driblar adversários pelo chão e pelo ar. É titular de pleno direito.

(-) O sono de um ataque não-ofensivo. Compreendo quem me diz que ver o FC Porto dá mais sono que um álbum da Cat Power. Um grande número dos jogos do FC Porto são tão aborrecidos que não censuro quem opta por fazer outras coisas, desde que não seja portista, claro, como expliquei no início da crónica. Mas alguém é capaz de me explicar a racionalização de manter um resultado tão magro, com uma vantagem tão fácil de inverter até por uma equipa como o Setúbal, com uma simples bola parada, um ressalto, um cruzamento zarolho…qualquer evento que nos faça despertar daquele torpor, aquela letargia que parece tolher corpo e mente? Há jogos em que, sinceramente, não percebo como é que Vitor Pereira não dá um safanão nos gajos e ao fim de dois gritos cheios de bom vernáculo espinhense (acreditem, aquela malta sabe muito bem falar “mal”) talvez víssemos algum movimento consequente, interiorizado, com consciência que os adeptos querem o campeonato mas gostavam de não dormir o caminho todo até lá chegar? Vá lá, rapazes, façam lá mais um esforço sem ser nos jogos grandes.

(-) Kelvin. Definitivamente não. Não consigo ver Kelvin como uma opção útil para o nosso ataque e merece passar dias, semanas, meses emprestado ou na equipa B para ver se consigo perceber se quer de facto ser jogador de futebol ou se lhe chega o estatuto e a conta no Twitter. Saiu ao intervalo depois de uma primeira parte de fintas inconsequentes, arremessos para o relvado e pouco, muito pouco futebol. Não é, actualmente, jogador suficiente para ser convocado.

(-) Vitória de Setúbal. No jogo da Taça da Liga, falei do Vitória assim: “É um campeonato fraco, tão fraquinho, cheio de equipas a sobreviver ano após ano, rodeados do fausto de três ou quatro equipas que conseguem brilhar um bocadinho acima da medíocre média que pauta a nossa liga. Uma miséria, que nos rouba a motivação, a alma e de vez em quando o campeonato.“. E não retiro uma palavra, porque é uma equipa muito limitada e que com tanto espaço para jogar, convenientemente dado pelo FC Porto, raramente conseguiu criar perigo a não ser num remate de Meyong e numa parvoíce de exagero de Helton, mais uma vez possuído pelo “Síndroma de Jorge Campos”, e que mesmo assim conseguiu fintar três adversários antes de mandar a bola com as couves. Ver o Benfica a jogar contra este ou outros “Setúbais” e vencer por 2 ou 3 golos de diferença é tão normal como ver o Setúbal a jogar contra um FC Porto que não está sequer interessado no jogo…e perder por três na mesma. É muito fraco este nosso campeonato.


Fim da primeira volta, um golo atrás do Benfas. Um golo, é verdade. E já continuamos na segunda-feira contra o Gil, para arrancar da melhor maneira a segunda volta…que é como quem diz: “Já só faltam quinze vitórias para sermos campeões!”. Não é muito, porra.

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Ouve lá ó Mister – Setúbal


Amigo Vítor,

Há uma treta que não me agrada nada no agendamento de um campeonato e que de vez em quando lá se lembra de acontecer, seja lá por que motivo for: os jogos adiados. Como este, exactamente. É que um gajo anda a par das jornadas, é só olhar para a classificação no jornal ou num site ou lá onde quiseres espreitar a tabela, e imaginas a cena. O Benfas joga primeiro e ganha, sabe-se lá como, um choureco qualquer pior que o cruzagolo do Alex no Domingo, e passa três pontos para a frente. E tem mais um jogo. E logo vem toda a gente com os “avanços”, “provisoriamente na liderança”, “em primeiro pelo menos por uma semana”, entre outras conversas do género. E não acontece só com os nossos amigos lá de baixo, porque se o FC Porto ficar em primeiro também acontece a mesma treta, só muda o entusiasmo para desdém e a euforia alcoólica é trocada pela moral rebaixada por uma poça de lama bacteriologicamente infectada. E tenho de olhar para a merda da tabela e ver que o número de jogos não bate com a jornada e tenho de fazer contas aos jogos fora e casa, quantos pontos faltam para conseguirmos ser campeões, onde é que os outros vão a seguir e se ainda contam os amarelos ou não…é uma confusão na minha vida e já tenho chatices que chegue.

Por isso, Vitor, para evitares mais um aborrecimento a somar-se a tantos outros, faz lá o favor aqui ao menino e espeta dois ou três no Setúbal e põe ordem na minha cabeça e na minha vida desportiva. Relembro-te do que te disse na primeira versão desta missiva, ainda em Dezembro do ano passado: já não está lá o Meyong, mas continua o Ricardo Silva. E esse ressabiado não merece respirar nada para lá do fétido aroma da derrota. É mandá-lo de volta para o inferno boavisteiro onde ele pertence.

Sou quem sabes,
Jorge

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