Baías e Baronis 2012/2013 – Os médios

Foi o sector mais intenso de todo o plantel. Poucas opções para Vitor Pereira poder implementar uma política de rotação em condições fazem com que acredite que a opção pelo trio que estava mais disciplinado, mais coeso e, sem dúvida, melhor, revelou-se adequada mas em determinados momentos demasiado exigente em relação às pernas dos rapazes que lá passavam. Destacaram-se vários, em momentos diferentes e com graus de eficácia variável.

Comecemos com Fernando, o melhor jogador do FC Porto 2012/2013. Foi um Fernando diferente, que mostrou uma evolução clara no controlo do meio-campo subido, sempre a tapar a natural posição defensiva com perfeição mas a deliciar adeptos e colegas com a nova atitude Vieiriana. Patrick, não Luís Filipe, entenda-se. E Fernando foi aquilo que nunca conseguiu ser em épocas passadas: o primeiro avançado da equipa. Pegava na bola em zonas recuadas e não só ajudava na rotação pelo meio-campo e pelos dois principais mobilizadores de jogo da equipa (Moutinho e Lucho), mas também a levar a bola para a frente, controlada, em progressão, arrastando a equipa às costas e empurrando os adversários para trás. O 25 parecia estar em todo o lado naquela relva, a cobrir as ausências de Lucho na segunda volta do campeonato como se fosse ele a representação física da vontade dos adeptos. Fez mais que suficiente para ser não só chamado à selecção mas para merecer interesse para um contrato melhorado, talvez numa liga superior. Não o censuro por querer sair, mas custar-me-ia, especialmente depois de uma época destas. E um trinco deste nível está bem acima de quase todos os outros do nosso campeonato (Matic esteve também brilhante) e acima de muitos que jogam por essa Europa fora.

Moutinho e Lucho estiveram bem. Se João não conseguiu estar ao nível do ano passado por muito pouco, foi consistente durante toda a época e um jogador pivotal na construção de jogo, sempre pronto para carregar o jogo e a equipa (com Fernando sempre a cobrir bem as ausências) para um ataque organizado, calmo, em posse. João é excelente no que faz e um dos melhores jogadores do Mundo e tenho muita pena de o ver sair, mas isso são outras conversas que serão tratadas noutro post. Em relação a Lucho, foi um herói dentro e fora do campo. O episódio do falecimento do pai que o levou a jogar de luto em Zagreb onde acabou por marcar um golo serviu para unir o plantel à sua volta e reforçar ainda mais a sua postura de liderança no balneário que tanto nos serviu na recta final do campeonato.

Lucho fez uma primeira volta em pleno, cheio de vigor e de força física, sendo o primeiro a pressionar alto, em cima do guarda-redes, a voar por todo o campo para ajudar a equipa a subir no terreno e a travar o adversário ainda mais acima. Houve gritos de escárnio pintados de vermelho, clamou-se pela urina do argentino e insinuaram-se trinta descidas aos infernos para todos e quaisquer agentes da bola que permitiam esse tipo de alarvidades. E Lucho, na segunda parte da época, baixou de produção, acabando jogos agarrado às pernas e fazendo esforços enormes para conseguir terminar algumas das partidas. Recuperou no final mas nunca conseguiu voltar aos níveis do arranque da época mas na altura…já tinha feito o seu trabalho.

Defour foi igual a si mesmo. Prático, inteligente, de toque simples e esforço pleno, polvilhado com uma ou outra loucura (Málaga, n’est-ce pas, Steven?) que parece típica de jogadores daquele estilo. Sabe que nunca será um Moutinho mas tem valor suficiente e acima de tudo acredita nesse valor para ser um jogador de equipa, que participa onde pode, sempre que pode. Jogou a trinco, como médio volante, extremo-direito e até como defesa-esquerdo. Foi muito importante ao longo da época e é o tipo de jogador que gosto sempre de ter no plantel. “Jack of all trades and master of none”, dirão. Não me preocupa. A sua utilidade e versatilidade são as suas maiores armas e espero que fique muitos anos. Já Castro, o doido Castro, o gondomarense Castro, é “o” nosso puto. Imagem de marca do FC Porto, a luta e o empenho total que coloca em cada lance que disputa fez dele opção perene no banco mas uma utilização bem acima do que talvez fosse esperado no início da temporada. Mais um rapaz que fez uma boa época e que merece continuar no plantel, porque muito embora talvez nunca venha a ser um jogador essencial no onze-base, é um jogador perfeito para transportar a história do clube aos ombros. Resta saber se está disposto a ser utilizado de uma forma intermitente…

Izmaylov, para terminar, foi uma contratação curiosa. Chegado a meio da temporada com mais ruído que um concerto dos Pantera em chapas de zinco, mas demorou algum tempo até poder ser útil. E nunca mostrou que deveria ser titular na equipa, tendo aproveitado a ausência de Atsu e a auto-anulação de Varela de uma forma não completamente assertiva, mas tem algo que fez dele um jogador que faz sempre falta a um plantel que se quer campeão: talento. E Marat tem-no em grande quantidade e mostrou-o a espaços, nunca sendo genial mas exibindo-se sempre a um nível acima da média para a capacidade física que mostrava e o entrosamento que se esperava ser baixo. O que fez, fez bem.

O quadro-resumo dos médios fica abaixo:

CASTRO: BAÍA
DEFOUR: BAÍA
FERNANDO: BAÍA
IZMAYLOV: BAÍA
LUCHO: BAÍA
MOUTINHO: BAÍA

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Baías e Baronis 2012/2013 – Os defesas


Falou-se muito da zona defensiva do FC Porto durante o ano e houve muitos bons motivos para o fazerem. Foi talvez o único sector onde se notou alguma evolução nos jogadores, com dois em particular a merecerem a ressalva de serem olhados com admiração pela forma como cresceram durante a temporada: Alex Sandro e Mangala. O francês começou ao mesmo estilo do ano passado, ainda com alguma agressividade em excesso e alguma dificuldade em manter esses exageros controlados. Mas aproveitou bem a infeliz lesão de Maicon para lhe roubar o lugar e exibir-se em nível digno de transferência à FC Porto para um grande europeu. Tem tudo, o rapaz. Alto, forte pelo ar, rijo na marcação, raramente hesita no corte e é mais prático do que estamos habituados. Foi um prazer vê-lo a crescer, especialmente jogando ao lado de Alex Sandro, outro moço que subiu de produção quase exponencialmente, com sete Baías. Já no ano passado tinha mostrado que podia ter oportunidade de jogar a sério se fosse utilizado regularmente. E mostrou que Álvaro Pereira está tão bem no Inter que ninguém se lembrou dele, já que este rapaz desfez dezenas de adversários (os médios-ala e os laterais) com inteligência, criatividade, postura ofensiva mantendo o posicionamento e recuperação defensivas bem efectuadas, remate forte e apoio constante ao ataque. Algum excesso de confiança fez com que tremesse num ou noutro jogo, mas nunca deu hipótese sequer a que nos lembrássemos do Palito. Mangala tapou várias vezes o brasileiro durante a sua lesão mas era evidente que Alex traz uma profundidade ao flanco que Mangala, jogando sempre com empenho e força de vontade, não consegue.

Abdoulaye jogou pouco e foi coerente, apesar de ficar sempre ligado à final perdida da Taça da Liga. Coerente pela agressividade, coerente porque é lento e porque parece um Mangala mais alto e magro. Tem a vantagem de ser jogador “da casa” que dá muito jeito para compôr plantéis para a UEFA, mas não creio que venha a ser opção para titular a curto-prazo. Squad-player, through and through. Quiño também, passando a grande maioria da época nos Bs, não entrou mal quando foi chamado mas nunca conseguiu ser sequer uma sombra para Alex Sandro e perdeu inclusivamente o lugar para Mangala em várias circunstâncias. Talvez para o ano, rapaz.

Não me quero esquecer de Otamendi, porque seria uma injustiça. Várias paragens cerebrais durante o ano não mancham o que foi uma época excelente do argentino, à volta do qual foram rodando os restantes elementos daquela zona. Ota soube pegar no lugar desde que chegou no Verão de 2010 e este ano foi mais uma vez a rocha defensiva. A menor produção ofensiva foi contrariada com consecutivas e excelentes prestações defensivas em que mostrou que nem sempre os mais vistosos são os mais influentes. Atrás de um Mangala que voa por cima dos adversários, há um Nico que comanda os colegas, que manda no eixo e que raspa a relva com um sorriso nos lábios.

Com estes dois, Maicon pouco pôde fazer. Entrou muito bem, com rótulo de marcador de livres ainda desde a pré-temporada que perdeu a cola poucas semanas depois de começar a temporada. E lesionou-se em casa contra o Marítimo (que para lá do 5-0 também perdemos Fernando e Helton) para nunca mais recuperar em pleno a posição. Teve um momento horrível quando foi assobiado em pleno Dragão durante o mal-conseguido jogo contra o Rio Ave. Na altura disse: Ouviam-se gritos quando Maicon tocava no esférico, assobios quando demorava mais de dois segundos com a bola nos pés (muito embora raramente tivesse uma linha de passe decente), insultos quando o rapaz fazia algo que fosse contra o que as pessoas gostavam. É assim que querem apoiar os vossos jogadores? Quando as coisas estão a correr mal e vêem que um dos jogadores que conhecem há quatro anos, que já nos deu troféus atrás de troféus, que marcou o golo que deu a vitória na Luz no ano passado…quando vêem que esse rapaz, que perdeu a titularidade depois de uma lesão, está a ter um mau momento…o que optam por fazer é insultá-lo!? Nunca vou perceber este tipo de atitudes de alguma gente, palavra.. Não retiro um pixel.

Passemos aos Baronis. Um para Rolando, que preferiu sair por uma porta pequenina, no fundo de uma parede pequenina…e que desapareceu da minha mente ao ponto de ter chegado a pensar que tínhamos apenas quatro centrais desde o início do ano enquanto pensava neste artigo. Rolando escolheu o caminho que decidiu trilhar e não censurarei ninguém dentro do clube se o puserem a treinar sozinho. No Parque da Cidade. À noite. Mas agora para o Baroni da época. Danilo. Sim, vou por aí.

Danilo foi uma decepção. Quem me lê sabe que sou um gajo para dar oportunidades a todos os jogadores para mostrarem o que valem em todas as posições, em vários esquemas tácticos, com as nuances de cada competição a pesarem na minha noção sobre a valia do jogador. E Danilo esteve abaixo da média em todos os vectores que me posso lembrar de o pesar. Danilo mostrou durante toda a temporada o porquê de ser um jogador que sofre a contestação dos adeptos baseada em grande parte no valor pelo qual foi comprado. E o problema foi mesmo esse, o valor que lhe subiu a cotação e que colocou um rótulo que ainda não conseguiu sacudir. E vê-se em campo, porque mostra uma indolência que não acredito seja devida apenas ao espírito do jogador. Danilo não acredita que possa render na lateral-direita o mesmo que poderia render no centro do terreno e nota-se pela forma como tende com uma precisão de um relógio de césio para o centro do terreno, valendo-se do seu pé mais fraco para poder deambular por zonas onde se sente melhor e mostra mais produtividade. E falta sempre qualquer coisa, na corrida, na intercepção, no momento certo e na altura certa…Danilo falha mais do que acerta. Tem de reabilitar a sua imagem perante os adeptos, perante aqueles que o apoiam até ao ponto que vêem que nunca desiste, que nunca baixa os braços. E viram-se esses momentos a acontecer vezes demais durante a época.

O quadro-resumo dos defesas fica abaixo:

ABDOULAYE: BAÍA (por pouco)
ALEX SANDRO: BAÍA
DANILO: BARONI
MAICON: BAÍA
MANGALA: BAÍA
OTAMENDI: BAÍA
QUIÑO: BAÍA
ROLANDO: BARONI

PS: uma pequena adenda para Miguel Lopes, porque a sua ausência aqui da lista me foi chamada à atenção e com toda a razão. Miguel Lopes, lateral direito de raiz, não conseguiu sacar o lugar a um homem inadaptado à posição. ainda tentou, mas nunca consegui ver nele mais que um suplente glorificado. Esforçado, sem dúvida, mas demasiadamente incerto para ser titular. Fez um bom jogo em Vila do Conde, mas pouco mais.

MIGUEL LOPES: BARONI

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Assim dá gosto

Obrigado, malta alemã, para me lembrarem do prazer que é ver bom futebol sem torcer por nenhum dos clubes envolvidos.

Parabéns, jovem Josef, por mostrares que nunca se desiste mesmo quando o futuro pôs o presente em causa. E a ti, Herr Klopp, por perderes tão bem.

Parabéns também a ti, Arjen, que pareces velho há demasiados anos mas que continuas a jogar que é uma parvoíce.

E obrigado ao futebol alemão. São o único futebol em que se nota que os treinos fazem com que os jogadores evoluam, ao contrário do que cá acontece.

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Baías e Baronis 2012/2013 – Os guarda-redes

Helton é uma personagem. Vai de viola às costas nos estágios como um puto no secundário, faz gestos constantes de apoio e agradecimento para com os adeptos, é baterista numa banda e finta avançados. E estas personagens trazem um sal extra a este maravilhoso mundo da bola, como uma travessa de espargos a acompanhar um prato de caça. São os pormenores do jogo com os pés, a facilidade com que lida com uma pressão mais intensa de um ou outro adversário mas acima de tudo a calma que mostra quando coordena uma defesa que parece ficar mais nova à medida que ele fica mais velho. E a PDI ainda não lhe começou a afectar os reflexos nem o julgamento, porque está mais experiente que nenhum outro no plantel (só ele é responsável por aumentar a média de idades do grupo aí uns dois ou três anos…) e mostra-o em campo, quando impõe a disciplina defensiva nos colegas, com graus variáveis de eficácia mas sempre com a convicção que é o dono daquela zona recuada. E Fabiano, que já mostrou ter bons instintos, excelente elasticidade e presença na baliza (ainda tem de melhorar o jogo com os pés, especialmente tendo em conta o padrão do “puto” que está à frente dele na ordem natural de escolha), vai ter de esperar pela reforma ou pela viagem de regresso ao Vasco da Gama, que parece não estar marcada para 2013. Helton foi Helton durante toda a temporada. Brincalhão, tranquilo, seguro. Não posso pedir mais a um guarda-redes.

HELTON: BAÍA
FABIANO: BAÍA

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