II Encontro da Bluegosfera – 15 de Junho

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UMA única paixão
FUTEBOL CLUBE DO PORTO
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Baías e Baronis 2012/2013 – O treinador

Falar de jogadores é fácil. Todos nós já entrámos num campo da bola, maior ou mais pequeno, com ou sem chuteiras, a pontapear um esférico de couro para trás e para a frente, sem nos preocuparmos imensamente com problemas tácticos ou nuances posicionais. É só chutar a bola para o próximo gajo ou directamente para a baliza, se a bola lá conseguir chegar. Ninguém se preocupava com treinos, preparação física, palestras antes dos jogos, gritos de incentivo das laterais tingidos com as adequadas correcções dos movimentos dos jogadores, o alinhamento dos nomes para a ficha de jogo, as decisões das convocatórias, a atitude perante dezenas de jornalistas sedentos de sangue. Nenhum de nós teve de lidar com amuos, imperfeições, lutos, azares ou falhas humanas. E também nenhum teve de acalmar nervosismos, de travar excessos de confiança, de consolar jogadores que falharam penalties e de motivar os que os vão marcar a seguir, ao mesmo tempo que tem de manter uma equipa em níveis de topo para vencer todos os jogos que se lhe aparecem à frente. Por isso fica o disclaimer: que ninguém pense que ser treinador do FC Porto é um trabalho fácil. Passemos à frente.

A época foi épica. Mas quem acompanhou o desenrolar da temporada percebe que nem tudo correu bem, logo desde o início. Vitor Pereira, sem dúvida nenhuma o grande vencedor da campanha, teve uma vida difícil muito à imagem do que tinha acontecido no primeiro ano. Mas notaram-se diversas melhorias especialmente no ponto de vista táctico, em que os jogadores pareceram assimilar muito melhor as ideias do treinador depois de uma época inteira a viver, sejamos honestos, da vida de Hulk e do que ele conseguia ou não fazer no decorrer de um jogo. A presença de um homem de área, que tinha sido talvez o elemento fundamental para que a táctica de rotação de bola em constante posse não tivesse resultado em pleno no ano passado, foi determinante. E foi decisiva a entrada de Jackson para que houvesse alguém em quem colocar a bola e que conseguisse funcionar muito para lá da mobilidade torpe de Kléber ou da estatura física de Janko, servindo como pivot quando era necessário, de costas para a baliza, ou para aparecer na área na altura certa e na posição certa para marcar. Jackson foi o garante do funcionamento da táctica que Vitor tentou durante dois anos implementar na mente dos jogadores que mais trabalhavam para a fazer resultar, nomeadamente Moutinho, Lucho e James. E funcionou durante largos períodos, com um futebol bonito, atraente, posses de bola na percentagem dos sessenta e muitos, e que apesar de criar poucas oportunidades de golo em virtude do que seria expectável dada a enorme diferença de tempo em que tínhamos a bola em nosso poder, lá ia aparecendo o passe perfeito para a finalização correcta. Funcionou bem, a espaços. O jogo em Guimarães, juntamente com os confrontos europeus contra PSG e Málaga no Dragão talvez tenham sido os zénites da aplicação prática de uma enfatização teórica que atravessou as nossas mentes desde Agosto. Quando a equipa jogava com confiança, quando Fernando tapava atrás, Lucho e Moutinho rodavam no meio, James descaía da ala para o centro e Jackson marcava, tudo corria bem. Mas houve alturas em que a posse de bola era entediante, o jogo demasiado recuado e pausado, onde parecia que os jogadores estavam demasiado despreocupados em acabar com a partida cedo e deixavam tudo para segundas-partes que nem sempre eram tão calmas como as primeiras, onde o nervosismo ia começando a baixar a moral e a transtornar as bancadas e onde quase tudo parecia perdido. Foram jogos como o Olhanense no Dragão, o Marítimo na Madeira ou o Rio Ave em Vila do Conde, onde a equipa simplesmente não parecia funcionar como um todo. E perdemos pontos vitais com esta mentalidade tão lusa, esta constante procrastinação que o treinador não controlava e se alheava de comentar nas conferências de imprensa depois dos jogos. Tudo estava bem na cabeça e nas palavras de Vitor Pereira, quando era visível que esse não era o caso.

Na gestão do plantel, Vitor fez o que pôde. Casos como os de Kléber ou Iturbe, possuídos de uma tal inoperância competitiva que tornaram a sua utilização inviável, associados a um curto plantel e ainda mais curtas opções para certas posições, foram cansando peças-chave e tornando a vida do treinador mais difícil. Danilo e Atsu renderam abaixo do previsto, Varela foi um nado-morto em determinada altura da época e não fosse a excelente primeira volta de Lucho, intercalado com a participação sempre activa de Defour e o aparecimento de um Mangala em grande (e Abdoulaye a espaços) a colmatar as ausências de Maicon por culpa da lesão e Rolando por culpa própria. E o que dizer de Jackson, que Vitor “obrigou” a fazer a época toda quase sem sair da relva, com um Liedson que o treinador não via como opção mas recebeu-o como “prenda” da SAD sem muito poder dizer ou fazer? Foram muitos problemas para um homem lidar, mas Vitor nunca desistiu, deu a cara pelo grupo e pelos seus rapazes e teve a sorte que fez por merecer. Fez de Mangala um jogador completo, melhorou as já grandes potencialidades de Alex Sandro, motivou Kelvin para que pudesse entrar e jogar os minutos necessários para criar uma imagem indelével na cabeça dos adeptos, evoluiu Fernando para um quase-box-to-box, manteve Moutinho como líder com a bola e Lucho sem ela e deu a conhecer Jackson a meia-Europa. E notou-se a evolução até do ponto de vista do seu próprio visual e atitude, longe do parolinho que apareceu em Julho de 2011 a apresentar-se aos jornalistas como comandante de um dos melhores clubes do Mundo. Está melhor, com mais nível, nunca perdendo a personalidade que sempre teve de homem simples mas adaptando-se melhor a um mundo novo que é mais exigente, mais analítico e acima de tudo bastante mais cínico.

Mas…e há sempre um mas nestas coisas…nunca foi forte. Nunca pareceu forte, isto é. Quando um naco enorme dos próprios adeptos pedem a sua cabeça por cansaço em ver jogos consecutivamente sofríveis, Vitor virou o discurso para fora e tentou atirar com as culpas para outros, em mind-games óbvios e que só resultaram porque a soberba alheia tolhia o pensamento e abafava as verdades. As eliminações da Taça e da Champions caíram mal, especialmente a segunda, pela forma infeliz com que a equipa se abafou sozinha e onde o treinador foi culpado de não conseguir convencer os “seus” que eram capazes de dar a volta por cima. E a final da Taça da Liga, por muito que admitamos que não interesse por aí fora, é mais uma marca de que é preciso ser forte, ser rijo quando é preciso, e Vitor raramente o fez, pelo menos para fora. Nunca conseguiu reunir um apoio inequívoco dos adeptos, que querem a vitória mas começam a ficar cansados do que têm de atravessar para que ela chegue. E o síndroma do number-two-becomes-one (ou de Peter, como quiserem) pareceu uma espada de Dâmocles em constante perigo de cair, não fosse o final aprazível para a malta. Não caiu e Vitor Pereira sai da temporada em alta, com cartas na mão para usar e a opção de poder continuar, presumo que à espera de melhores condições para continuar a implementar a sua visão, os seus métodos, a sua identidade.

Bottom line: Vitor Pereira é honesto, não duvido. Portista de alma, coração e outros órgãos aleatórios, acredito sem questionar. Tem estatísticas ao nível de poucos, com uma derrota em sessenta jogos e nenhuma nos últimos quarenta e três. Valorizou jogadores e já deu muito dinheiro a ganhar ao clube. Apanhou de tudo e de todos sem se vergar e conseguiu vencer com mérito. E se tiver condições para pôr a equipa jogar bem e continuar a vencer…que mais podemos pedir?

VITOR PEREIRA: BAÍA

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Baías e Baronis 2012/2013 – Os avançados

Há um nome que está a vários parsecs de todos os outros nesta lista: Jackson. Foi o homem-golo que apareceu depois de uma temporada em que Hulk tinha sido senhor feudal de todos os seus domínios, da ala direita para o meio, no centro da área, de fora e lá dentro. Jackson chegou, viu, venceu a Supertaça e só parou trinta e um golos depois. Foi sem qualquer dúvida o homem do campeonato dentro da área, com golos acrobáticos (aquele de calcanhar contra o Sporting no Dragão foi qualquer coisa…) e outros nascidos de perfeito posicionamento para a recepção e remate, mas trabalhou que se fartou fora da zona de assassínio de guarda-redes, servindo muitas vezes como parede para segurar a bola enquanto os colegas subiam no terreno. Tecnicamente muito acima da média, esteve em grande na Liga e a espaços também na Champions. Uma pequena nota: teve aquele pequeno AVC quando tentou panenkar o penalty contra o Rio Ave mas redimiu-se com um golo e foi humilde nas reacções. Ficou-lhe bem. O melhor dos avançados, de longe.

Atsu foi uma pequena desilusão. Começou bem a roubar o lugar a Varela, ainda coberto do hype que lhe colocaram em cima, mas foi perdendo a força das primeiras exibições e acima de tudo deixou de ser a opção primária de apoio dos adeptos, que lhe reconhecem o valor mas esperam mais. É rápido e prático mas pouco eficiente, com incessantes corridas até à linha sem produzir o suficiente para podermos dizer que ali estava um titular absoluto. Talvez tenhamos pedido demais para a primeira temporada como membro efectivo do plantel do FC Porto, mas a verdade é que me deu uma sensação do “síndroma dos extremos” que já tinha afectado tantos outros (Helder Barbosa, Vieirinha, Candeias, Bruno Gama, Ivanildo, para citar alguns nomes) que no passado prometeram muito nas camadas jovens sem se conseguirem afirmar inequivocamente na primeira equipa. Cedeu o lugar a Varela, que começou mal (como tem sido um hábito desde 2009/10, a sua melhor época), com jogos em que parecia estar fisicamente exausto e incapaz de se tornar num elemento de mínimo perigo para o adversário. No entanto, conseguiu recuperar e terminou a época como um jogador vital no onze e estranhamente influente na criação de lances ofensivos para a equipa, ajudando na defesa sempre que era necessário. Na luta Varela/Atsu, o português levou a melhor especialmente pelo photo-finish fantástico que mostrou e fez por merecer uma nota positiva.

Iturbe perdeu-se em infantilidades, amuos e pequenas grandes parvoíces para desaparecer do imaginário dos adeptos e passar a ser um menino mimado que ainda não aprendeu a jogar num futebol que lhe é alheio e que pareceu sempre ser uma espécie de mundo alienígena para o puto argentino. É um miúdo e não deixou de ser um miúdo desde que cá chegou, ao contrário de um Anderson ou até de um…James. Não sei se voltará tão cedo e pouco fez por cá para merecer o regresso com coroas de louros.

Kléber e Liedson são dois casos estranhos da temporada. Se o segundo chegou para ser um remendo que nunca deixou esperanças em muitos portistas e confirmou a incapacidade (física ou psicológica, creio que nunca viremos a saber ao certo) para ser uma alternativa credível a Jackson, Kleber esteve cá desde o início e nunca justificou a contratação e a estúpida guerriúncula com o Marítimo. Sempre nervoso, trapalhão, triste, pouco lutador e muito pouco produtivo, cheguei várias vezes a olhar para o banco e a pensar se não valeria a pena pôr lá o Vion ou o Dellatorre porque não lhe conseguia ver qualidade para ser uma mais-valia para a equipa. Não deve voltar e ainda bem, porque por vezes há que assumir as inadaptações e perceber que nem sempre se acertam as contratações, por muito pensadas que possam ser. Sebá, por seu lado, trabalhou bem nos Bs mas não lhe vi maturidade suficiente para ser um jogador importante nos As e continuo a achar que cinco milhões de euros pelo seu passe é um valor alto demais para a sua valia a curto-prazo. Talvez venha a ser uma boa peça no futuro, mas não no imediato.

Faltam os dois jogadores mais curiosos das opções ofensivas do plantel: Kelvin e James. James não teve uma grande temporada no ano em que a imprensa cedo lhe colocou o rótulo de “gajo que vai substituir o Hulk e vocês é que vão ver o que é que o moço sabe fazer a sério”. Não foi, nem tinha de ser. James é James, um dez obrigado a jogar na ala algumas vezes mas que brilhou bem mais quando foi colocado no centro, naquele híbrido táctico que Vitor Pereira criou e que nem sempre funcionou. A verdade é que o colombiano foi várias vezes genial mas muitas vezes pouco influente na criação de jogo e a lesão que o afastou dos relvados durante mais de um mês não ajudou em nada ao crescendo de forma que vinha a exibir (Outubro e Novembro muito bons, Fevereiro e Março sofríveis), mas James foi a imagem da equipa durante toda a temporada. Quando jogava bem, tudo estava bem. Quando estava em dia de desinspiração, os colegas sentiam a falta da criatividade e produziam menos. E quando um jogador tem este tipo de influência numa equipa, é natural que ceda à pressão. James fez uma boa época mas não fez a temporada estupenda que esperava. Too bad, valham os 45 milhões da transferência.

E o herói…foi Kelvin. Bem pode guardar as bolas dos jogos contra o Braga e o Benfica porque não creio que tão cedo (se alguma vez) volte a fazer igual. Foi o jogador certo na altura certa contra as equipas certas e se os jogos tivessem sido disputados durante o dia, estou certo que se veria um raio de sol a brilhar com intensidade redobrada por cima da trunfa gelificada que pauta a moleirinha do miúdo. Hesitei em dar-lhe uma nota positiva porque pouco fez durante o resto da temporada para o merecer, mas o simples facto de ter marcado aquele golo ao Benfica e de me ter proporcionado um orgasmo futebolístico ao nível do que muitos devem ter sentido em Sevilha quando Derlei enfiou o terceiro aos escoceses…só por isso merece um Baía de ouro.

Uma curta nota para Djalma, que jogou meia-dúzia de minutos na Supertaça antes de zarpar para a Turquia, longe de ser o suficiente para receber nota. Tive pena de o ver sair, merecia melhor sorte e talvez na próxima temporada regresse para fazer parte do plantel. Não me parece ser uma hipótese muito provável, mas até gosto do moço, sinceramente.

O quadro-resumo dos avançados fica abaixo:

ATSU: BARONI
ITURBE: BARONI
JACKSON: BAÍA
JAMES: BAÍA
KELVIN: BAÍA
KLÉBER: BARONI
LIEDSON: BAÍA
SEBÁ: BARONI (nos As…)
VARELA: BAÍA (por pouco)

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