Ouve lá ó Mister – Gil Vicente

Mister Paulo,

Escuta bem. Põe o ouvido esquerdo junto ao solo e olha para o horizonte. Há um som que se propaga, que foge pelas entranhas dos automóveis que passam nas estradas à volta do Porto, que envolvem o corpo e amaciam a alma. Reconheces? Consegues perceber o que milhões de sinapses disparam na tentativa de buscar o sentido da sua própria existência? Então? Nada?

É isso, Paulo, estás a ouvir ao longe o eterno suspiro dos portistas de todo o Mundo, porque os rapazes voltaram das selecções (só para voltar à carga nacional lá para Outubro…os fulanos que fazem o calendário bem que podiam ir todos levar no reguinho) e já cá estão todos ao teu dispôr. Quase todos, porque um ou outro há-de ter chegado meio a mancar das pernas ou da cabeça. E acabou o mercado há que tempos, temos a Champions à porta e só o caralho do Verão é que parece que não passa para estarmos chegadinhos ao Outono. E a única coisa que ainda me safa é que posso ir ver o jogo só de camisola. É parvo, não é, um gajo a pensar só nestas merdices de saúdes e afins, mas é o que temos. Mas falemos do jogo.

Não espero grande espectáculo, porque os rapazes devem vir cansados, temos jogo em Viena (de Áustria, como dizem) a meio da próxima semana e é preciso não estourar o povo. Se fosse a ti não mudava muito, mas tentava acabar com o jogo bem depressinha. Limpar os gajos a meio da primeira parte dá descanso e põe a malta bem disposta. Mas também te digo que gostava de ver o Ghilas e o Carlos Eduardo darem uma perninha, só para os ver ao vivo pela primeira vez. Pois foi, pá, não te lembras que falhei a apresentação? E depois disso…só na TV. Mas acima de tudo, ganha o jogo. Vou estar na bancada, com uma bifana e uns finos no bucho. E o bucho vê-se bem, como já desconfias.

Sou quem sabes,
Jorge

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Os meus quatro Onzes – Parte IV

Completo a sequência dos meus quatro onzes-tipo dos últimos trinta anos com a era “Tetra, Villas-Boas e Vitor Pereira – De 2005/2006 a 2012/2013“, que teve três distintos elementos diferenciadores. O primeiro de domínio intenso pelas mãos de Co Adriaanse e Jesualdo Ferreira, o segundo com a glória europeia na única época de Villas-Boas e o terceiro com alguma instabilidade que ainda assim terminou com a conquista de dois campeonatos pelas mãos de Vitor Pereira. Sem mais demoras até porque o post vai ser longo, aqui está o elegante onze:

Há várias opções para qualquer um dos lugares e talvez pela frescura das memórias recentes tive bastante dificuldade em optar por apenas um jogador em grande parte das posições. A História dirá se terei feito a opção certa, mas a verdade é que se torna muito complicado fazer este tipo de escolhas quando os jogadores ainda estão em actividade e as recordações tão presentes. Ainda assim, vamos a algumas explicações.

Começando pela baliza, Helton é um nome que não pode ser contestado. Digno sucessor de Baía, teve em Beto o único rival à altura durante o tempo em que o português fez parte dos plantéis desse período, alternando apenas com o brasileiro em 2010/2011, numa altura de abanão da equipa que não teve os resultados pretendidos. Na defesa é que começam as dúvidas. Na lateral direita tinha três nomes à escolha e optei por Bosingwa, pelo simples facto de ter sido o titular absoluto durante quatro épocas consecutivas, semeando o terror pelo seu flanco sempre que subia no terreno. Jogou com Adriaanse e Jesualdo da mesma forma, com agressividade e muito sentido ofensivo. De fora ficam dois nomes que me deixam um nó no estômago por não figurarem no onze, mas é exactamente por isto que escolher apenas onze jogadores é uma tarefa ingrata e injusta. Fucile e Sapunaru foram essenciais na conquista de vários campeonatos e da Europa League em 2010/2011 e qualquer um dos dois seria escolha natural se o “Zé” não tivesse tido o impacto no clube durante tanto tempo. Do outro lado, temos Álvaro Pereira a bater Alex Sandro não pelo talento mas pela presença em três estupendas épocas, uma delas com conquistas europeias. O uruguaio, goste-se ou não do estilo e mantendo ainda os estigmas do passado recente, nomeadamente da sua saída, foi mais importante que o brasileiro…pelo menos até agora. De fora fica também Cissokho, que com apenas meio ano de presença no clube fez do negócio conseguido uma mais-valia superior à (muito boa) performance em campo. No centro, ainda mais dúvidas. Originalmente tinha optado por Otamendi e Pedro Emanuel, mas troquei o argentino por Bruno Alves. Não o fiz, à semelhança do que aconteceu com Álvaro, por uma questão de talento, mas por influência e pelo facto de ter sido capitão do FC Porto durante vários anos. É um estatuto que, na minha opinião, ultrapassa o número de jogos e/ou a capacidade individual. Bruno Alves e Pedro Emanuel, o segundo pela força e papel que desempenhou nos vários anos que usou a nossa camisola, são os elementos deste onze, que deixa de fora Pepe, um central estupendo e vital na equipa de Adriaanse e Rolando, titularíssimo durante três épocas. Ambos perdem aos pontos para os dois escolhidos, mais uma vez segundo os meus critérios.

Passando para o meio-campo, mais um momento de possível discórdia. Fernando bate Paulo Assunção, João Moutinho encosta Raul Meireles e Lucho González será talvez o único a recolher unanimidade, passando à frente de Diego, Guarín e Belluschi. Se na batalha dos trincos Fernando leva vantagem por ocupar o lugar durante mais tempo e recolher mais títulos que o compatriota, Moutinho bate Meireles pela influência que teve em três anos consecutivos de magia ao meio, de forçar a equipa a jogar ao seu nível e de ajudar a criar a equipa-maravilha que venceu a Europa League em 2011 (e enquanto escrevo isto vou-me apercebendo que Meireles é mais um dos muitos exemplos que faz com que estes onzes sejam mais frustrantes de cada vez que penso neles…). Lucho é já um dos grandes nomes do FC Porto de sempre e apesar de ter falhado a conquista da Europa League, foi durante vários anos o jogador principal da equipa dentro e fora de campo, reunindo simpatias de todos os cantos do mundo e mantendo a classe e a dignidade como futebolista e como homem. De fora ficam Diego, com talento mas mal aproveitado; Anderson com muito brilho mas pouco tempo no clubem apesar do negócio fabuloso que o levou a ser estragado em Manchester;Guarín e Belluschi, essenciais na caminhada e no triunfo até Dublin. Qualquer um destes fica muito longe do argentino.

Chegando finalmente ao ataque, apenas um nome me deixou com algumas dúvidas por ficar de fora: Ricardo Quaresma. Foi ele quem durante quatro anos dinamizou a ala direita do clube, jogando com Bosingwa ou Fucile sempre ao mesmo nível e com um talento e técnica individuais difíceis de ultrapassar. Mas perdeu para Hulk porque…Hulk é uma figura, tal como Cubillas foi no seu tempo. É impossível para qualquer portista ficar indiferente ao brasileiro, pela dependência com que deixou a equipa durante vários jogos, pela influência que tinha no jogo colectivo e acima de tudo pelos golos. Hulk será sempre um nome histórico no FC Porto, mais até que Quaresma. Nas outras posições, Lisandro López reúne consenso e ultrapassa Varela ou Tarik com uma presença a fazer lembrar Derlei, com movimentação constante na frente e uma atitude “never say die” que encantava os adeptos. Saiu no mesmo ano de Lucho e acabou por não vencer a Europa League, mas foi um nome muito querido dos adeptos e de todos que gostavam de futebol. E para finalizar, o centro do ataque, com um nome que não poderia ser outro: Falcao, sem qualquer dúvida, foi dos melhores pontas-de-lança que passou pelo FC Porto (e diria por Portugal), e nas duas épocas que por cá andou deixou a sua marca de qualidade que fará com que ninguém que tenha visto alguns dos seus jogos (o “poker” contra o Villarreal ou o golo na final de Dublin) alguma vez se venha a esquecer do colombiano. A alguma distância ficam Jackson Martinez, com uma excelente época mas ainda com provas para dar e os mais antigos Adriano, importante na era Jesualdo e Farías, o principal suplente do plantel durante vários anos.

Et voilá. Para rever os três primeiros onzes, têm aqui os links em baixo:

Opiniões?

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Dragão escondido – Nº19 (RESPOSTA)

A resposta está abaixo:

Manuel Albino Morim Maçães escolheu o nome “Bino” para ser conhecido no mundo da bola, que o fez atravessar o país várias vezes, já que para lá de ser campeão por três vezes pelo FC Porto, jogou alguns anos emprestado no Marítimo e acabou por ser campeão no Sporting em 1999/2000, antes de sair para experimentar as praias de Tenerife. Regressou a Portugal de novo ao Marítimo e terminou a carreira no Moreirense. Quem o viu a jogar notava o talento, mas nunca conseguiu ser titular no FC Porto e acabou por estar envolvido numa transferência que na altura pôs meio-mundo aos berros, quando FC Porto e Sporting fizeram uma troca de dois jogadores por outros dois: Bino e Rui Jorge seguiram para Alvalade, enquanto que Costinha (o keeper) e Peixe subiram a A1. Era bom, mas era lento. Era talentoso, sem dúvida, mas acredito que muita malta nem se lembra que a uma dada altura foi jogador do FC Porto…ai, os de memória curta…

E neste jogo da época 1995/1996, que creio não ter sido oficial (à noite, nas Antas, com pouca gente nas bancadas…talvez um amigável de início de época), a malta andou ocupadíssima a tentar descobrir o Bino ali escondido. Entre os tiros ao lado estiveram:

  • Aloísio– Já estavam dois centrais na equipa titular e quem conhecia Robson sabia que o terceiro central normalmente entrava a cinco minutos do fim para o chuveirinho final e nunca antes…;
  • Artur– Não fazia ainda parte do plantel do FC Porto mas viria para o clube na temporada seguinte;
  • Domingos– Naquela que foi a sua melhor temporada pelo FC Porto (31 golos em 45 jogos), não foi titular nesta partida…talvez tenha entrado a meio, quem sabe?;
  • Emerson– Era uma das melhores opções, mas Bino foi titular em vez do guedelhudo brasileiro, pelo menos neste jogo. Não o repetiu muitas vezes.;
  • Kulkov – O russo já não fazia parte do plantel do FC Porto, tendo saído para o Spartak Moscovo no final da temporada 1994/1995;
  • Latapy – Tendo em conta que o Latapy está agachado na frente do Bino e não conhecendo ao tobaguenho o dom da omnipresença…;
  • Lipcsei– Mais um médio que seria uma boa opção, mas não era o húngaro naquela partida em particular;
  • Paulinho Santos– O mesmo que se pode ler na linha de cima, trocando a palavra húngaro e substituindo-a por “nosso grande treinador adjunto“…;
  • Semedo – Naquela que foi a última temporada da versão lusa do Mariano González dos anos 80/90 no FC Porto, não era (mais uma vez) escolha para o onze titular;

O primeiro a adivinhar desta vez foi o Miguel, às 11h05. Sim, era complicado, mas como vêem, para verdadeiros portistas acaba por se tornar simples!

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