Há qualquer coisa nestes jogos pré-Champions que me chateiam muito. Os jogadores metem menos o pé, lutam com menos intensidade e parecem sempre querer descansar cedo demais. Hoje foi mais um desses infelizes exemplos tão usualmente portugueses (e particularmente portistas), em que há um relaxamento exagerado à sombra de uma vantagem mínima. Acontece há anos e por muito que mudem os jogadores, o treinador, a relva ou o adversário, a mentalidade continua a mesma. Perdemos dois pontos por demérito nosso mas também porque o Rio Ave nunca desistiu e teve um Tarantini em grande…com o FC Porto a permitir que houvesse facilidades a mais em duas situações mas também em tantas outras que não deram golo por sorte. Não percebo como é que se continuam a perder pontos nestas jornadas e é uma pena. Notas abaixo:
(+) Miguel Lopes Um golo e uma assistência. Não se pode pedir muito mais a um lateral direito, especialmente depois de alternar na titularidade com o que deveria ser a escolha evidente para entrar no onze-base da equipa. Esteve sempre activo, interventivo, com a tradicional agressividade mas sempre a tentar ajudar a equipa e levá-la para a frente. Não foi por culpa dele que o FC Porto hoje empatou em Vila do Conde.
(+) Alex Sandro Estou a ficar fã do rapaz. Não só pelas subidas através do flanco esquerdo mas pela inteligência que vai mostrando em posse de bola, pela forma como parece estar a evoluir no futebol europeu que tem um nível físico e de exigência ao nível do posicionalmento táctico que não é habitual no Brasil. É rápido (já o viram a rodar sobre o próprio eixo? excelente!), coloca-se bem e continua a exibir-se a bom nível.
(+) Tarantini Dois golos, mas se o primeiro foi um aproveitamento de um inesperado AVC do nosso melhor central, o segundo é um remate estupendo de fora da área, sem hipótese de defesa. Estupor.
(-) A displicência de Maicon É a imagem mais evidente do que não se deve fazer e que é martelado na cabeça dos miúdos desde as escolinhas: “Quando sais da área com a bola controlada, não podes perdê-la. Mais vale uma biqueirada para a frente do que arriscar um golo do adversário.” Maicon contrariou o que tinha vindo a ser o normal nele desde há muitos jogos, em que optava tradicionalmente por não se chatear com bolas controladas ou o raio que a valha e mandava o esférico até a praia mais próxima. Não o fez e foi mais um daqueles lances que eram perfeitamente escusados para uma equipa de topo. Se tivesse mandado a bola até o meio-campo adversário…talvez tivéssemos vencido o jogo. “Se”. Pois.
(-) Incapacidade de manter o jogo controlado É verdade que temos jogo para a Champions na quarta-feira. Sim, vem aí o Paris Saint-Germain e o Ibrahimovic e o Thiago Silva e o Verrati e o raio que os parta, mas preocupa-me muito mais que a equipa desperdice dois pontos que podem ser vitais mais lá para a frente contra um adversário que não nos pode deixar com os pistons na mão por causa de uma merda de uma bola perdida à entrada da área e que leva o povo a tremer durante mais dez minutos. Acho que Vitor Pereira fez as substituições certas na altura certa porque optou por refrescar nome por nome com jogadores que pudessem subir um pouco o nível, colocando um gajo rijo no meio-campo e o Varela na frente. Mas a equipa perdeu-se, caiu, fraquejou e PERDEU agressividade com a entrada de Fernando. PERDEU! Não admito isso, não consigo compreender como é que se pode ficar a olhar para um jogo em que a vantagem é tão curta que a mínima falha pode fazer com que se fique a correr com os nervos a raiar os olhos enquanto se tenta procurar um destino que já deveria ser nosso. Fico lixado.
(-) Atsu Tem de fazer muito mais. Sei que é novo e já estou farto de ouvir as piadinhas sobre o “Messi ganês”, porque é aquela tradicional elevação dos nomes mediáticos para que lhes seja colocada uma pressão que não precisam e que muitas vezes não conseguem aguentar. Atsu é um rapaz talentoso, explosivo, rápido, prático…mas hoje em Vila do Conde pareceu um qualquer Varela depois da lesão. Não chega.
Compreendo que há jogos maus. Há alturas em que os jogadores não conseguem jogar em condições apesar de haver mais talento do que seria necessário aplicar para vencer um adversário que é aguerrido mas não pode assumir o jogo durante tanto tempo sem que ripostemos com a tranquilidade que uma equipa campeã deveria sentir. Dois pontos, mais dois pontos perdidos e acima de tudo a noção que é preciso ter mais cabeça na gestão das vantagens. Dois-zero? Talvez dê para acalmar o ritmo. Um-zero? Não. Nunca. O campeonato vai ser longo, amigos…