Balancemos – Q3 2013

Seguimos em frente com o terceiro trimestre do balanço do ano que ontem nos deixou:

Julho

foram quase 1700 posts totalizando cerca de 615 mil palavras escritas que receberam mais de 9700 comentários, muito vernáculo, alguma arrogância, temperadas com um misto de parvoíce e racionalidade que é, admito, uma espécie de imagem de marca.

Recuso-me a aceitar que a opinião fundamentada, pessoal e completamente transmissível pelos bítes e baites dos tubos interligados, se deixe cair num fosso que canalize para duas fontes apenas o “textbyte” absurdo do comentário rápido ou a longa análise em jornais e revistas da especialidade.

a nossa história tem de ser lida, conhecida, estimada e guardada para transmitir às novas gerações. Para que saibam que o FC Porto não é feito só de pipocas no Dragão, cartazes ou cânticos para jogadores que chegaram ao clube há 20 minutos ou patrocinadores mais ou menos obscuros nas bordas das camisolas.

Notou-se a mudança de Carlos Eduardo para Lucho como se tivéssemos pegado numa jarra de cristal com tulipas e a colocássemos na mesa em vez de um tupperware de sopa de nabos.

Primeiro de tudo: puta que pariu a “raça latina”. Este tipo de equipas para jogos de pré-época devem ser um Deus me livre para os jogadores porque o adversário simplesmente não pára. Correm como chitas atrás de saborosas gazelas, acertam em tudo o que vêem com uma intensidade tal que mais parece que estão a disputar uma final da Libertadores.

se demorar mais tempo a escrever uma crónica ou uma análise ou se falhar alguns jogos do FC Porto ao vivo e tiver de os ver em directo ou diferido pela têvê, o motivo é o que está na foto.

Quanto ao nosso, a ser inaugurado daqui a cerca de dois meses, que tenha mais visitantes que o vosso (very unlikely, mas ninguém me impede de sonhar) , que seja mais bonito, com melhor circulação de ar, esteticamente mais agradável, arquitectonicamente inovador, que cheire melhor e que tenha taças mais bem polidas. E que ambos sirvam para enaltecer as glórias próprias e não as infelicidades alheias.

Não queiram fazer omeletas sem que a galinha acabe de parir o ovo. Tenham calma, não se exaltem, critiquem o que devem criticar, mas façam-no jogo-a-jogo, não exacerbando a parvoíce como já vi em muito blog durante todo o dia de ontem, porque estamos tramados e porque não houve evolução desde o ano passado e a merda é a mesma e as comissões e os empresários e falta um jogador para a frente que faça a diferença e yadda yadda yadda.

Agosto

muito se vai dizer deste primeiro jogo, onde as dores de crescimento ainda vão ser evidentes e que podem causar muito desconforto se as coisas correm mal. E se correrem bem, vais ver que os maldizentes, internos e externos, vão arranjar sempre maneira de descobrir podres. É isso. Bem-vindo ao FC Porto.

É em campo que os campeões se fazem, é neste nível de domínio territorial com bola que devemos sempre entrar em campo, aniquilando os jogos logo de início para gerir a posse de bola até ao fim com os ritmo que nós quisermos impôr.

É um regresso aos tempos em que debaixo de um calor abrasador, talvez no Algarve ou em Espinho ou em vários outros sítios onde tive a sorte de poder ir passear nos estios que já vivi, enquanto a família dormia uma merecida sesta sob uma qualquer sombra ou no fresco de uma divisão arejada e bem resguardada do sol, lá me deslocava a caminho da papelaria mais próxima, usando o dinheiro que tinha na altura e poupava para poder gastar neste tipo de extravagâncias, e comprava o guia para a próxima temporada.

Tenho pena, acreditem que sim. Mas também quero ver o FC Porto a vencer e quero ter os melhores jogadores nas melhores posições. E Castro, muito à imagem de Paulo Machado, Vieirinha ou Atsu ou vários outros que surgiram em tantos momentos diferentes do nosso passado e que subiram da formação para não conseguirem vincar um lugar no plantel principal, não seria a melhor solução para o lugar.

Serão quarenta e quatro jogadores, com outras quarenta e quatro notáveis omissões que me sentiria mal se não mencionasse. Porque esta escolha de apenas onze não bate com a minha maneira de pensar e não me consigo limitar a apenas uma equipa, tantas foram as que me deram alegrias durante a minha vida.

Vamos apanhar muitos destes, na sua parte boa e má. A boa é que são gajos lutadores, rijos, que se antecipam muitas vezes aos nossos avançados, médios, defesas, guarda-redes e apanha-bolas, o que nos deve deixar sempre atentos. A parte má, é que são mais caceteiros que uma padaria num Domingo de manhã.

Foi um daqueles jogadores iluminados pelos deuses que transforma alguém que deteste futebol num ávido amante da bola. Por toda a magia que me deste, número dez, por fintares tantos adversários com os dois pés, pelas centenas de vezes que gritei que eras melhor que o Pélé, obrigado.

Setembro

Vinte e seis remates. Há jogos assim, acontecem na 3ª Divisão búlgara, na Liga de Amigos das Estátuas da Ilha da Páscoa e nós não somos imunes a isso. Mas há jogos que me levam a ficar nervoso, palavra, porque começava a parecer injusto demais não termos já enfiado três batatas na baliza do Degra e a equipa continuava a não conseguir meter a bola lá dentro e CHUTA, RICARDO, OH FODA-SE que lá vai outra pro keeper e ANDA JACKSON, É FÁCIL! pronto e lá foi mais uma. São oportunidades a mais sem serem concretizadas e não podem deixar que seja um hábito. Dão-me cabo do batente.

É muito fácil converter facilidade em estupidez. As tradicionais idiossincrasias dos jogadores transformam-se rapidamente em idiotissincrasias, o povo chateia-se, boceja, aborrece-se e espera pelo próximo jogo.

Não estamos habituados a ver o Porto fraquejar nestas alturas e há um medinho particular que me atravessa os poros e me faz pensar que se calhar ainda nos vamos ver lixados para mandar abaixo estes moços. Mas quero que saibas que estamos todos à espera de uma vitória, com mais ou menos dificuldades.

chegamos ao local do costume, onde o habitual hiperbólico adepto portista tem um pequeno ataque de nervos quando a equipa joga mal e em vez de olhar para o jogo e analisar o que lá se passou, logo vai apontar armas a tudo que mexe de azulebranco. Eu, como tantos outros, não gostei do jogo de ontem, mas para tanta gente há uma distância de um palito partido entre um mau passe do Josué e o bota-abaixismo da SAD, de todos os treinadores, do plantel, da relva e do calendário.

Fomos roubados hoje na Amoreira. Os adeptos portistas que lá se deslocaram, juntos com os que viram pela televisão, os que não puderam ver o jogo em directo e os que nem sequer viram o jogo de propósito (sim, meus caros, há muitos portistas assim), todos eles foram despudoradamente assaltados hoje à noite. Roubaram-nos a alma. Tiraram-nos a estrutura que tínhamos, a inteligência competitiva, a capacidade de resistir a uma pressão que empurra com a força de um infeliz sem-abrigo que dorme ao relento em noites de inverno. Pilharam a calma de uma defesa férrea que oxidou e não parece resistir a semi-equipas e avançados lutadores mas pouco mais. Pior, roubaram-nos um meio-campo que betumava buracos e abafava contrariedades com espírito de luta.

Há confusão, desorganização, desatenção, há tanta coisa mal que vou desesperando sempre que saímos em posse para o ataque. Há pouco tempo para construir uma equipa do início, mas temos de tentar corrigir alguns dos problemas para evitar males maiores.

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Balancemos – Q2 2013

Seguindo na saga do balanço, continuemos com o segundo trimestre:

Abril

um adversário que, francamente, tem tanto direito moral a estar na primeira liga que um cacto no Amazonas.

SIM, ESTOU A BERRAR PORQUE ESTE FILHO DA PUTA DE HORÁRIO NÃO LEMBRA ÀS HEMORRÓIDAS DE SATANÁS!

Se fosse a ele [Kelvin] guardava a camisola, as botas, a bola, dois nacos de relva e a embalagem de gel que pôs no cabelo, porque um jogo destes não se vai repetir durante muitos anos.

[a minha mãe] apreciava o meu propalado compadrio com as equipas de lusa terra mesmo quando não percebia porque raio chamavam “fora-de-jogo” quando o jogador estava claramente dentro das linhas

Maio

Basta um destes jogos e temos o povo eufórico, centenas de polícia na rua, claques insultadas, jogadores nervosos, treinadores exaltados e colunistas à beira de doze ataques apopléticos. (…) Se tudo correr bem nem preciso de dizer nada, porque a euforia vai ser tal que haverá completos estranhos a abraçarem-se nas bancadas, homens a beijar mulheres, mulheres a beijar outras mulheres, raios, até homens a beijar outros homens que isto da bola já não é o que era e ainda bem.

Vou só ali ver se o meu coração arranca de novo. Estou certo que compreendem. Volto já.

O portismo, por muito que nos queiram convencer do seu provincianismo, está em todo o lado. E hoje reuniu-se de alma e coração na Invicta, na sede física mas também moral, onde podemos ter pintado um dos mais belos quadros de sempre. Foi lindo, foi catártico, foi futebol. E foi nosso. (…) Lágrimas escorriam pelas faces do rapaz que se senta à minha frente. O estádio estava vivo, mais uma vez, depois de quarenta e cinco minutos dos mais frustrantes que vi em mais de vinte anos de futebol ao vivo. Kelvin conseguiu transformar as vozes de portistas pelo mundo fora num grito em uníssono de vitória, de reconquista, de enorme alegria e um alívio que ninguém conseguiu controlar. Nas bancadas há abraços, beijos, danças, saltos, cinquenta mil que suspendem a gravidade e o bater do coração durante minutos consecutivos, enquanto dois mil e dezoito estóicos adversários estáo petrificados como estátuas gregas, sem resposta, sem reacção. Grito e parece que o som fica preso na minha garganta. Agarro amigos, abraço desconhecidos, salto e beijo o emblema do FC Porto com força e sem qualquer pudor em perceber que se morresse naquele momento, pelo menos morria feliz. Não me dava jeito nenhum porque tenho coisas combinadas para os próximos tempos, mas estaria feliz. Naquele momento não existia mais nada no mundo para as almas que lá estavam. Era só aquilo, só aquele remate que vi a entrar na baliza de Artur e me fez parar de respirar durante meio segundo. Futebol é isto e o Dragão hoje foi futebol.

como Basileia teve lugar numa altura em que não distinguia os cueiros de uma toalha de linho, felizmente não sei o que é perder um jogo desses. Muito menos desta maneira. Fica um abraço de solidariedade para com os adeptos que conheço e que nesta altura estão num poço bem, bem, bem lá no fundo.

Porque a emoção deste último jogo exige que nos juntemos, em grupo, em coligação de esforços, numa espécie de aura gigantesca que te tenta passar a força dos grandes, dos enormes, dos gigantes. É isso que seremos hoje, Vitor, uma multidão de almas a sofrer por ti, a viver cada segundo como se fosse o último

Hoje, todos estamos de parabéns, todos os que acreditaram que era possível dar a volta a um campeonato que nos vergava a fé e a mente, que parecia perdido até duas semanas antes do seu final. Hoje somos felizes porque trabalhamos para isso.

Atrás de um Mangala que voa por cima dos adversários, há um Nico que comanda os colegas, que manda no eixo e que raspa a relva com um sorriso nos lábios.

o simples facto de ter marcado aquele golo ao Benfica e de me ter proporcionado um orgasmo futebolístico ao nível do que muitos devem ter sentido em Sevilha quando Derlei enfiou o terceiro aos escoceses…só por isso merece um Baía de ouro.

Bottom line: Vitor Pereira é honesto, não duvido. Portista de alma, coração e outros órgãos aleatórios, acredito sem questionar. Tem estatísticas ao nível de poucos, com uma derrota em sessenta jogos e nenhuma nos últimos quarenta e três. Valorizou jogadores e já deu muito dinheiro a ganhar ao clube. Apanhou de tudo e de todos sem se vergar e conseguiu vencer com mérito.

Junho

Não conheço Paulo Fonseca. Nunca falei com o homem, raramente vi o Paços a jogar este ano que agora acabou e nem sequer me lembro do que fez o Pinhalnovense na tal quase-gloriosa jornada no Dragão. (…) Tem pouco tempo de bola, dizem uns. É treinador de equipa pequena, dirão outros. As equipas dele jogam feio e são resultadistas, opinarão terceiros. Não olho a nomes, CVs, companhias ou palavreado fácil. Reservo o direito de acreditar na equipa que o escolheu e acreditar ainda mais que vai fazer um trabalho sério e ao nível do nosso clube.

Quando Vitor chegou ao pouso, naquela tarde de Junho de 2011, foram muitos os portistas que torceram o nariz. Temiam o estigma do princípio de Peter, desconfiavam da capacidade de um adjunto desconhecido com pouca experiência como treinador, sem sequer ter passado pela primeira divisão antes de chegar ao Dragão. Era um gajo com ar de recém novo-rico, com discurso enrolado, nervosismo em frente às câmaras e uma aparente inadaptação a um mediatismo que lhe parecia tão alienígena como inevitável.

Os painéis foram interessantes, com excelentes apresentações feitas por portistas com gosto de dizer que o são. As opiniões eram diversas, defendidas com garra e com argumentação bem vincada e bem alinhada por nove bons exemplos que a bluegosfera está viva e dinâmica. (…) Sem glórias pessoais, demandas pelo networking social ou buscas incessantes pela demonização de ideias diferentes e pelo debate puro e bem disposto.

Nunca escondi que gosto do moço. Sempre gostei, mesmo naquelas alturas em que me apetecia sair da minha cadeira, descer ao relvado e espetar-lhe quatro lapadas nas trombas para ver se lhe punha algum sinapse a disparar desenfreada pelo cérebro que na altura estava mais parado que o Jesus quando caiu de joelhos depois do golo do Kelvin. (…) Cara de reguila, de quem acabou sempre de fazer qualquer borrada em casa e está a ver se a mãe não descobre. Dos que diz: “Sim, senhora professora, garanto-lhe que foi o cão que me comeu os deveres!” com uma expressão de gozo na fronha, que dá vontade de esbofetear ao mesmo tempo que se tem de admirar a frontalidade e o descaramento.

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Balancemos – Q1 2013

Numa altura em que se fazem mais balanços que um puto num baloiço depois de beber uma lata de Red Bull, junto-me à carneirada. Numa série de quatro posts, aqui vai o que por aqui foi escrito de mais importante, parvo e razoavelmente sonante no passado ano. Comecemos pelo primeiro trimestre:

Janeiro

“Proponho mudarmos o nome do rapaz de uma vez por todas para Mangalho. Mangalhão, para os mais excitáveis.”

“Não sei como é que não chamaste o Paulinho e lhe disseste: ‘ó caxineiro, queres dar uma perninha? dá uma fueirada ali no catorze. vai, querido, dá-lhe amor.'”

“Sou portista, e razoavelmente fanático para continuar a ver um jogo que tinha quase tanta excitação como um quadro de ardósia numa escola primária às escuras.”

“É um campeonato fraco, tão fraquinho, cheio de equipas a sobreviver ano após ano, rodeados do fausto de três ou quatro equipas que conseguem brilhar um bocadinho acima da medíocre média que pauta a nossa liga. Uma miséria, que nos rouba a motivação, a alma e de vez em quando o campeonato.”

“Mangala viu um cartão amarelo tão escusado como um retrato a óleo do Manuel Vilarinho de corpete a dançar o can-can”

Fevereiro

[sobre Moutinho] Já começa a ser complicado falar de ti sem que me comece a babar e a agradecer a Deus e ao Sporting por te ter “despachado” para o nosso seio.

Ninguém é acarinhado mais tempo do que faz por merecer, e se por algum motivo calha de ter um mau jogo, logo as biqueiras de aço estão apontadas directamente ao escroto do infeliz.

Uma parte de mim, uma enorme e maioritária parte de mim, fica feliz quando João Pereira falha. Torço como um louco para que faça um penalty desnecessário, que tropece sozinho sem a bola perto, que dê uma Zidanada num adversário ou que, como ontem, tente atrasar a bola para o guarda-redes (na direcção da baliza, mind you) e falhe com um estrondo de doze Torres dos Clérigos a tombar em cima de uma montanha de porcelana. (…) “Vocês viram o que aquele imbecil fez? Mil rinocerontes paneleiros me fodam se não vou gravar aquilo e pôr à entrada de casa por cima do móvel para que as pessoas se sintam bem ao entrar e ver aquela parvoíce!”.

A Taça da Liga que ninguém liga, como todas as Taças deste ano, interessam pouco. Passam em parangonas excitadas para jurista ler e adepto conversar no café durante os cinco minutos da praxe para matar o tempo enquanto o café não chega para cedo passar às perfeitas incongruências de um mundo que nem é nosso. É um paradoxo, é o que é, saber que estamos envolvidos sem o estarmos.

E é olhando para ele que percebo a pouca importância que Addy alguma vez teve no FC Porto, como tantos outros antes dele. São rodapés na história de um clube, nomes perdidos na mente de tantos adeptos que nunca ouviram falar do Kaviedes mas sabem em que dia o James tem agenda na pedicure.

Bravos adeptos que acompanharam a equipa a um terreno que é ligeiramente menos hostil para as nossas cores que Berlim para um negro homossexual nos anos 40″ (…) “Nunca gostei do Vitória, admito, há qualquer coisa de visceral na relação entre mim e aquele clube que os coloca ao nível do desprezo que tenho pela couve-flor, a palavra “corrimento” e o vocalista dos Keane.

Março

São estas as vozes escolhidas a dedo por um canal de televisão para defenderem as cores dos seus clubes em frente a um público televisivo de tal maneira vidrado no enaltecimento da carneirada nacional que ainda se dá ao trabalho de ouvir o chorrilho de idiotices que se lembram de proclamar naquele ou em qualquer outro dia.

Parece fácil pensar que os rapazes vão entrar em campo com a confiança de Thor com o martelo nas mãos, mas a verdade é que se nota que há uma tristeza latente na forma de jogar, no passe, até no festejo dos golos e dos lances mais bem conseguidos.

Não parece haver vontade e inteligência suficiente para conseguir mandar o infortúnio para o caralho, não vejo discernimento em quantidade que nos permita alegrar pelo menos com o entusiasmo, senão com o resultado. Não vi nada. Só vi resignação com a perda da autonomia e da auto-dependência para ser campeão. (…) Curto, grosso e directo: em Março de 2013, Varela tem tanta utilidade na equipa do FC Porto como uma saca plástica cheia com água salgada no meio do Oceano Atlântico. Pensei em metaforizar com um cacto no meio do deserto, mas mesmo parado e inconsequente ainda pode ajudar a tapar vento ou a dar sombra para proteger do Sol.

Varela e Atsu parecem estar num eterno jogo de Arkanoid (…) Sucedem-se passes após passes com a pontaria de um rinoceronte bêbado com o corno torto a apontar para o anel de Sauron. (…) parecemos uma equipa de Marianos González com delirium tremens

A táctica é ambiciosa mas tem falhas. Tem falhas por um motivo muito simples: é bonito querer jogar à Barcelona. É audacioso pensar que o podemos fazer. E é utópico pensar que o conseguimos facilmente ao fim de meia-dúzia de meses.

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Baías e Baronis – Sporting 0 vs 0 FC Porto

Nota prévia: esta crónica vai estar repleta de vernáculo. Assim cheia cheiinha como um prato de bacalhau de Natal com couves e pencas e batatas e molho fervido, como se faz cá em casa. Porque vi o jogo com um nervosismo acima do normal e porque me ia sentindo mais chateado à medida que a partida ia decorrendo. O jogo foi vivo, dinâmico, demasiadamente partido para ser visto com normalidade, apesar da baixa importância da competição. Um clássico é um clássico, goddamnit, por isso a emoção foi crescendo dentro de mim e ia saindo aos poucos sob a forma de insultos genéricos, diatribes descontroladas e palavras avulsas atiradas para o écran. E no final, uma sensação de dever cumprido mas sem a força de outros tempos. Somos uma equipa jeitosa, com pouco talento e demasiados erros, mas que ainda sinto poder ser trabalhada para vencer esta e outras provas nacionais. Enfim, vamos a notas que se faz tarde:

(+) Fabiano. Não há grande volta a dar: o rapaz deu muito bem conta de si e confirmou que é uma excelente opção para funcionar como understudy do Helton. Se tirarmos da vista algumas falhas nos cruzamentos, onde pareceu sempre apontar para a cabeça de Maicon, esteve em grande durante todo o jogo, defendendo tudo que lhe apareceu à frente (e não foi pouco). Com os pés jogou sempre simples e sem inventar, mesmo quando a tarefa não lhe foi facilitada por Alex Sandro que lhe passou várias vezes a bola para tão longe que o rapaz teve de se esticar todo para não fazer cagada. Mas aquela jogada do Carrillo onde Fabiano lhe sacou a bola dos pés, para depois defender um remate à queima do André Martins (creio) e correr para a baliza para se lançar e evitar o golo do Cedric…é estupenda e mereceria um aplauso de pé se lá tivesse estado. Grande jogo.

(+) Os centrais. Quase impecáveis na defesa da área, tanto Maicon como Mangala conseguiram evitar quase todas as situações de perigo pelo ar e pela relva. Maicon esteve excelente nos cantos defensivos, aviando tudo que lhe aparecia pelo ar, e Mangala também muito bem na marcação e no corte de alguns lances perigosos que os jogadores do Sporting, na sua forma oh-tão-rápida de atacar e de lançar bolas lá para o meio, perceberam que não seria por ali que criariam perigo e toca de mandar a bola para as alas onde se saíram bem melhor. Com dois centrais assim…não calça mais nenhum.

(+) Fernando. Enquanto esteve em jogo foi o único elemento do meio-campo portista que conseguiu lutar contra as debulhadoras de verde que por ali andaram e que jogaram mais vezes com os braços e com as pernas sem a bola (e sobre os nossos macios jogadores) do que de facto com ela. E se tivesse um poucochinho mais de talento para saber o que fazer com a bola depois de subir a cavalgar pelo terreno fora…era do carago, isso é que era.

(-) Herrera. Tem de ir rapidamente ao médico para perceber se sofre de qualquer forma mexicana de narcolepsia. Há alturas do jogo em que lhe parece parar o cérebro e alhear-se do lance que está a decorrer QUANDO TEM A PUTA DA BOLA NOS PÉS! Não consigo entender-te, coño, palavra que não, mas se não mudas rapidamente a tua capacidade de estar atento 100% do tempo em que estás em campo, vais levar muitas mais notas destas. O que custa mais é perceber que o rapaz até tem talento e é invulgarmente forte para a constituição física aparentemente débil…mas deita tudo a perder com passes falhados em demasia (e em situações perigosas para a defesa) e esses blackouts pontuais. Acorda, homem!

(-) Os laterais, especialmente a defender. Danilo até tem vindo a fazer uma época jeitosa, mas insiste em falhar consecutivamente no primeiro passe/arranque/sprint ofensivo, desiquilibrando a equipa e tornando-a permeável a contra-ataques rápidos. Diversas falhas defensivas por mau posicionamento, corrigiu e melhorou na segunda parte. Alex Sandro continua a jogar mal, sem garra e sem cabeça, com passes cruzados de trinta metros que estão destinados ao falhanço antes sequer de sairem dos pés dele e incompreensíveis momentos apáticos em que parece esquecer-se da bola. Haverá um vírus Herrera?

(-) Licá. Inconsequente. Sem capacidade de ultrapassar o adversário directo, insistiu em cruzamentos que batiam sem falha no gajo que estava à sua frente. Lutar é giro e tal mas para isso já cá tivemos um argentino (que até marcou um golaço ao Sporting) que fazia o mesmo e pouco mais. Juro que pensei que ia conseguir ser mais do que está a mostrar ser. Parece que me estou a enganar com o rapaz.

(-) A habitual filhadaputice do gamanço. Ora então vamos lá a isso. Já não é de agora que esta merda me fica atravessada (lembro aos leitores esta pérola de aqui há uns anos: http://www.porta19.com/2012/01/basta-me-pensar-um-bocadinho-lembro-me-logo-sempre-saimos-de-alvalade-sinto-como-uma-ourivesaria-na-almirante-reis/) mas parece que há uma insistência divina em fazer com que a história se repita. E acontece sempre no mesmo caralho do mesmo estádio que agora até tem nome diferente mas onde já devíamos estar habituados a ser assaltados quando lá passamos. E raramente são lances parvos de penalties, que só hoje houve praí quarenta reclamações de mãos e saltos e pinchadelas de verdes para a piscina, porque André Martins e Wilson Eduardo devem gostar mais de lamber cricas do que jogar à bola e andam sempre com os dentes a roçar na relva. Mas ao mesmo tempo, esse mesmo André Martins adooooooooooora dar pontapés nos gémeos dos adversários e safa-se com muita facilidade. Uma palavra também para o próximo trinco da Selecção, que é um jogador muito acima da média mas que hoje devia ter levado um vermelhinho por uma trancada que deu no Varela que só não lhe pôs a perna a sangrar porque não lhe acertou em cheio. E esse mesmo Varela, que foi parvinho por responder a mais um encontrão do insurrecto do defesa-esquerdo que joga naquela zona (porquinho mas normal num jogo destes) e levou um cartão amarelo, ficou à espera que o adversário também levasse um da mesma cor, mas nada acontece. E Cedric, no meio das suas quarenta e nove faltas, todas elas reclamadas com mãos na cara e lamentos de virgem fodida por doze hunos, lá se foi safando até ao final. Ou Adrien, que foi ou será lenhador noutra vida e que parece pensar que o futebol se joga acima do joelho, também escapou pelos pingos da chuva dourada que aposto deve gostar. Tudo isto para depois, inclemência nunca única e certamente repetida (como, citando os exemplos do post acima, Maicon, Emerson ou Costinha e as facilitadas de Rui Filipe, Kostadinov, McCarthy, Mielcarski, Seitaridis e Domingos), toca a expulsar Carlos Eduardo por uma falta que tantos, mas tantos, TANTOS FILHOS DA PUTA DO OUTRO LADO TINHAM FEITO ATÉ AÍ! Enerva-me, pois claro que me enerva. Enerva-me porque é sempre a mesma merda com aquela gente. Os que se queixam mais são habitualmente como o defesa que levanta o braço para reclamar fora-de-jogo. A culpa, na maioria dos casos, é mesmo dele.


Empatámos, o que nem se pode considerar um mau resultado tendo em conta que era o jogo mais complicado e que os dois próximos encontros se jogam no Dragão e onde duas vitórias podem selar a qualificação para a próxima fase. Esperava mais da equipa? Sinceramente, não. Tive o que estava à espera, algum controlo emocional perdido, inúmeros passes falhados na saída para o ataque, ineficácia ofensiva e suficiente cobertura defensiva para aguentar um jogo complicado. Meh.

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Ouve lá ó Mister – Sporting

Mister Paulo,

Que sejas muito bem vindo de volta ao burgo! Estamos todos prontos para fazer a digestão da enormidade de comida que nós, os sortudos, enfardámos neste período natalício e que melhor maneira para enfiar os bolos todos na memória que um jogaço do FC Porto? Nada, meu caro, nadinha mesmo!

Devo dizer-te, logo para arrancar, que fiquei um pedaço desiludido com a convocatória. Estava à espera de olhar para a lista e ver algumas caras novas, diversidade de nomes e de ficar já com uma imagem mental de vários gajos com números de NBA a jogar em pleno relvado de Alvalade. Compreendo que muitos tiveram jogo dos Bês na Trofa (que vi e achei muito interessante, como vários outros jogos que já vi dos putos. Tens ali material para trabalhar, Paulo, tens mesmo…), mas ver gajos com cinquentas e setentas e oitentas nas costas a roçar-se na lagartada como se os estivessem a foder em seco era algo que me podia animar a noite de Domingo, especialmente enquanto tento digerir mais uma dose de farrapo velho que insiste em sobrar para as minhas próximas refeições. Isso ou lançar-lhes o Josué. Parece que, mais uma vez, vamos apostar na Taça da Liga sem apostar de facto na Taça da Liga. Às vezes incomoda-me um bocadinho esta sinusóide de intenções, mas como não sou eu a mandar, só posso mandar a minha posta e deixar-me ficar por aí.

Assim sendo, estão os grandes menos o Helton e o Quintero. Nada mau. Ia-te pedir para dares alguns minutos aos rapazes menos rodados, mas parece que do grupo que escolheste só o Ghilas e o Kelvin é que se enquadram nesse grupo. Tu os escolheste…agora mete-os em campo!

Sou quem sabes,
Jorge

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