Ouve lá ó Mister – Paços de Ferreira

Mister Paulo,

Bons dias, caríssimo. Parece que há jogo no Dragão hoje à tarde e tenho a certeza que vais estar lá, no banco onde tantos outros aspiram a estar, ao lado de jogadores que milhares de equipa por esse mundo fora matariam a avó e os cães para os terem nas suas formações, usando o fato oficial do clube que agora te paga o ordenado. E devo dizer-te que até agora, poucas têm sido as vezes em que olho para ti e vejo um treinador que de facto consegue fazer encher de orgulho o peito de muitos portistas, e incluo-me nesse lote. Começas a ter pouco tempo para te livrares deste que foi dos piores inícios de época que me lembro. Não sou propriamente um gajo de muita idade, mas do alto dos meus trinta e tais já acompanhei dezenas de arranques, muitos deles com treinadores novinhos em folha, e não me estás a dar grandes motivos para te bater palmas de pé. Nem sentado. Nem numa espreguiçadeira com meia-dúzia de mojitos e gajas com saias de palha a abanar gigantes folhas de palmeira enquanto suaves melodias polinésias ecoam no fundo, complementando o som do mar a galgar as delicadas areias de uma qualquer praia num paraíso distante. Nota-se que estou farto da chuva?

E já viste a cabrona da coincidência cósmica do jogo de hoje? É isso mesmo, hoje jogamos contra a tua antiga equipa, com quem terminaste o campeonato num honroso terceiro lugar…e vais defrontá-los ocupando exactamente esse mesmo terceiro lugar! É do caralho, não é, Paulo? E se não estivesses no FC Porto mas sim no Chaves ou no Belenenses, ou até mesmo numa outra equipa com o título oficial de “meh, who cares?”, isso seria um feito digno de telefonar para casa e contar à mãe para ela deixar de te comer a cabecinha por teres escolhido uma profissão tão desgastante. Mas não é. É trampa, Paulo. Estar em terceiro é equivalente a esterco no nosso clube desde há muito tempo e por isso espero que hoje recuperes pelo menos dois pontos em relação aos fulanos da capital que ao que parece vão jogar entre eles quarenta e cinco minutos antes de os teus entrarem em campo. Só espero que não se atrasem, seria uma forma de troçarem das instituições e blá blá blá verdade desportiva yadda yadda yadda os dentes da Thatcher e coisas do género. Entra para ganhar, arruma com os gajos e faz-nos acreditar que ainda podemos lá chegar. A minha esperança, como sabes, não anda nos seus melhores dias.

Dou-te duas opiniões tácticas para terminar: tira o Licá da ala, teve piada durante algum tempo, já todos nos rimos, mas já chega. E já que não tens o Carlos Eduardo, que tal experimentares o Quintero a titular? Nunca se sabe, pode ser uma boa surpresa!

Sou quem sabes,
Jorge

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Somos nós que pomos o barro nos pés dos ídolos

Olhando para a lista que está aqui em cima, conseguimos perceber uma coisa: de todos os jogadores que venceram a final Liga Europa há três anos (sim, amigos, só passaram três anos desde Dublin), apenas quatro permanecem no plantel do FC Porto, aos quais se soma Walter que continua a tentar perder peso pelos diversos ginásios brasileiros por onde já passou. Esta equipa, que se pode discutir ter sido uma das melhores da história do clube, foi uma das mais vitoriosas e eficientes, com quatro troféus nessa aparentemente longínqua época de 2010/2011. E os jogadores eram apoiados pelas massas, elevados a heróis pelos adeptos e liderados por um rapaz que chegou, viu e venceu quase tudo que tinha para vencer, com um plantel pouco renovado depois de uma temporada de 2009/2010 onde apenas tínhamos ganho a Taça de Portugal e onde o terceiro lugar no campeonato tinha sido meritório tal a fraca qualidade do futebol de Jesualdo que tinha então perdido dois elementos fundamentais (Lucho e Lisandro) e onde Hulk e Sapunaru atravessaram aquele nada-salomónico castigo depois das ridículas peripécias do túnel da Luz.

Deste grupo, Nico Otamendi foi o último a sair e Fernando esteve, ao que consta, bastante perto de embrulhar a carreira que o fez subir a pulso pela mão de Jesualdo, evoluir com Villas-Boas, estabelecer-se como incontestável sob Vitor Pereira e continuando assim com Paulo Fonseca, apesar da estratégia não o favorecer desde o início da temporada. Já Otamendi vinha numa espiral descendente que começou no início da temporada passada e que continuou com o crescendo de forma e maturidade de Mangala e a subida de Maicon para a titularidade graças a uma sequência infeliz de jogos do argentino. Tudo isto são factos e é muito giro falar sobre eles depois dos actos estarem consumados. Mas olhando novamente para a tabela, há algo que me deixa triste: poucos saíram de bem com o clube, os adeptos, depois de declarações agressivas, ameaças, castigos nos treinos e nas convocatórias e um mal-estar geral que se alastrou durante dois ou três anos. E é algo que dura há mais tempo se nos lembrarmos dos casos de Maniche, Costinha, Paulo Assunção, Bruno Alves, Cristián Rodriguez ou Fucile, só para falar nos últimos dez anos.

A saída do argentino é mais um sinal do decaimento dos valores antigos e da forma como os adeptos se ligavam a um jogador como se fosse um amigo com quem tomavam um café de vez em quando. E o principal responsável por tudo isto é o futebol moderno e a baloiçante estratégia mercantilista que tomámos há vários anos, quando começámos a criar a imagem de um clube que compra barato e vende caro e que faz com que todos os jogadores passem a ser conhecidos pelo valor de mercado em vez da inata audácia competitiva dos heróis de azul-e-branco de outrora em captivar os adeptos e atrair o povo para o estádio. Somos actualmente a imagem viva da faceta do futebol mais fria e mais distante da apreciação de um talento e da capacidade humana. Transformámos os nomes em números e estamos a caminhar de uma forma perene para um abismo em que as alegrias que temos enquanto vemos os nomes empalidece perante o assombro de uma meia-dúzia de euros que nunca veremos a não ser na criação de mais um ou dois monstros económicos ao nível da dívida externa de países do terceiro mundo. Otamendi, como vários Otamendis antes dele, saiu por uma porta pequena depois de nos ter dado tanto em tão pouco tempo. Três campeonatos, uma Liga Europa e uma batelada de troféus depois, a saída do argentino deixa mais um vazio, não no centro da defesa onde talvez já tivesse dado o que nos tinha a dar, mas na ligação do adepto com o seu ídolo. Culpa dele? Culpa nossa? Culpa de todos.

Não admira que cada vez haja mais movimentos saudosistas para trazer de volta o brilho nos olhos dos adeptos que ainda gostam de futebol pelo futebol. É que como tantos outros, começo a ficar farto de ser tratado como um número.

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Baías e Baronis – FC Porto 2 vs 1 Estoril

Continua a ser difícil ver o FC Porto a jogar sem ficar extremamente nervoso e a entrar num remoinho de insatisfação e desespero geral pelo estado do nosso futebol. Hoje foi mais um exemplo de uma equipa desconexa, com pouca inspiração individual e uma confrangedora falta de motivação, agressividade e vontade de praticar um futebol consistente, inteligente, prático, digno do clube que todos aqueles jogadores representam. Salvaram-se alguns do fogo que parece lavrar continuamente por debaixo dos rabinhos colectivos e a passagem às meias-finais aparece caída de um lance quase perdido em que Ghilas aparece finalmente numa zona de finalização, ele que passou o pouco jogo que teve encostado a uma das alas. Não vejo quase nada que me motive no FC Porto actual. A notas, que se faz tarde:

(+) Quaresma. Todos sabemos que gosta de jogar sozinho, que opta pelo lance individual em virtude do enorme talento que tem e que assume os lances na pele porque acredita que consegue ser a mais-valia que todos queremos que seja. Mas hoje trabalhou para o grupo, para o colectivo, mantendo a veia individualista que o caracteriza mas tentando entender-se com Danilo (desentendendo-se várias vezes) mas sempre a procurar a baliza e a produtividade acima da baixíssima média da equipa. Esforçou-se e merece aplausos por isso.

(+) Herrera (na segunda parte). Há qualquer coisa de estranho e fascinante no jovem Hector, que de um momento para o outro um jogador lento que se arrasta em campo e falha simples passes de dez metros se transforma num rápido box-to-box que recolhe a bola em zonas recuadas e percebe as deambulações dos colegas para lhes endossar a bola de uma forma correcta, com passes pesados e dirigidos na perfeição e que ajuda a movimentar o jogo ofensivo de uma forma simples e prática. Se durasse um jogo inteiro a esse nível seria titularíssimo.

(+) Danilo. Esforçou-se e há que lhe dar mérito por isso. Surgiu várias vezes em zonas adiantadas pronto para rematar e tentou corrigir alguma falta de entendimento com um dos jogadores mais complicados de agregar em tarefas colectivas que temos e tivemos nos últimos dez anos. Falha muitos passes e perde bolas em demasia no approach ao ataque, mas se melhorar nesse aspecto podemos finalmente ter um defesa lateral direito que suba no terreno em condições.

(-) Mais uma vez, onze gajos, zero equipa Começo a compreender um bocadinho sobre futebol ao passar dos treze anos, quando Carlos Alberto Silva comandava então os nossos destinos em campo. Segui com a segunda vinda de Ivic, admirei a chegada de Robson, tentava perceber as opções de Oliveira, as hesitações de Fernando Santos, a ultra-defensividade de Octávio e a rigidez táctica de Mourinho. Estranhei a chegada de Del Neri, agoirei a saída de Fernandez, cuspi veneno com Couceiro e enervei-me com Adriaanse. Aborreci-me com Jesualdo, exultei Villas-Boas e quase adormecia com Vitor Pereira. Mas este FC Porto, esta pseudo-equipa que vejo semana após semana com as nossas camisolas, consegue colocar-me num estado de ansiedade do qual dificilmente sairei até que consiga ver algum lampejo de estrutura, de futebol organizado e em que os jogadores estão de facto a interpretar um guião teórico através do talento que todos têm e que parece andar fugido como um católico na Inglaterra da virgem Isabel. Somos um pedaço de gelatina num ventoso e lacrimejante dia de Outono, em que o sabor dos componentes se perde ao primeiro sinal de contrariedade, onde um jogador vale por si e poucos fazem com que o grupo valha como tal. Fracos. Somos fracos de corpo e mente e não tardará muito até os azares começarem e os resultados falarão por si, como até agora têm vindo a fazer.

(-) A contínua escolha de Licá como “extremo” O rapaz não é extremo, Fonseca. Não é. Por muito que o queiras usar como tal, não é. Não consegue receber a bola na linha e controlá-la para prosseguir a jogada. Não é bom no 1×1, não cruza bem e claramente não faz diagonais com a bola dominada. Estar sempre a colocá-lo nesses impróprios lugares é desfazer a imagem do jogador que luta sem produzir e apanha assobiadelas sem merecer.


Benfica na Taça. Benfica na outra Taça, se nos deixarem jogar. Benfica no campeonato. Raios, até podemos apanhar o Benfica na Liga Europa. É Benfica a mais, sinceramente.

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Ouve lá ó Mister – Estoril

Mister Paulo,

O jogo da Madeira foi um belo naco de trampa. Uma equipa sem ideias, sem construção de jogo, com uma dinâmica digna de nove tetraplégicos, o Helton e o desgraçado do Quaresma que queria fazer tudo sozinho. Foi penoso de ver para qualquer pessoa e então para um gajo que vive o clube como eu e tantos outros vivemos…rapaz, estás no mau caminho. E não me parece que seja só do mercado e da forma como a SAD está a tratar dos casos pendentes, para lá dos negócios de milhões que afinal não aconteceram ou das vontade de A ou B em ficar ou sair. És tu, Paulo, que não estás a conseguir pôr os gajos a jogar um futebol em mínimas condições. És tu, Paulo, que falas com os gajos e eles ou não te ligam ou não percebem o que estás a dizer. E nós, a malta que fica de fora, não está a gostar nada.

Este jogo é mais uma prova que tens de atravessar para recuperares a imagem de um treinador que impõe uma ideia, um estilo de jogo, uma concepção de uma estratégia que seja visível, implementável e executável. Até agora não vi nada disso. Vi que convocaste o Mikel e tenho gostado muito de o ver na B, mas não acredito que o ponhas a jogar em vez do Fernando. O que acredito, e custa-me muito dizê-lo, é que vai ser mais um jogo “à Porto do Fonseca”. Lento, desinspirado, triste, com jogadores e sem equipa. Convence-me que estou enganado e mostra que ainda consegues acender fogo no rabo dos teus pupilos. Nós, cá fora, continuamos a ser portistas e a acreditar que é possível virmos a ver bom futebol este ano. Mas começamos a perder as esperanças…

Sou quem sabes,
Jorge

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Votação: Quem deve ser o próximo capitão do FC Porto?

 

Com a saída de Lucho, a braçadeira fica órfã e à procura de um novo dono. Sim, eu sei que Helton é o actual capitão e reconhecido por todos como o líder do grupo, mas apelando ao sentido prático e ao facto de pensar que um guarda-redes não é a melhor escolha para capitanear uma equipa, apeteceu-me perguntar à malta quem acham que deveria ser o novo capitão do FC Porto. As quase quatrocentas opiniões dividiram-se assim:

  • Fernando: 48%
  • Helton: 18%
  • Maicon: 13%
  • Varela: 12%
  • Outro: 9%

Não havendo unanimidade nem sequer uma votação de um jogador que agregue o apoio de mais de 50% do povo, a verdade é que Fernando continua a ser o preferido. Mas estará presente para pegar no facho?…

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