Enquanto escrevo e ouço o vento lá fora a soar como se um esquadrão de 767s estivesse continuamente a rondar os céus da minha casa, questiono-me do porquê de ter saído do conforto do lar para enfrentar os elementos, empenhadíssimos em travar uma batalha sem tréguas contra a pobre raça portuguesa, e deslocar-me até ao Dragão para ver um FC Porto que semana após semana continua a exibir as mesmas dificuldades, os mesmos problemas e sem mostrar grandes soluções para os resolver. O resultado é enganador porque pode indiciar para alguém que não tenha visto o jogo que houve bom futebol, jogadas de entendimento e uma equipa que se exibiu a um nível acima da média. Desengane-se pois, caro leitor. Foi uma bela merda, mais uma vez. Notas, se o vento permitir, aqui abaixo:
(+) Herrera. Está a ser interessante ver a evolução do mexicano. Continua com alguns momentos em que lhe pára o cérebro mas intercala-os com um sentido prático apurado no meio-campo e na definição de lances ofensivos. Trabalha muito e parece querer estar sempre em constante movimentação, pressionando o adversário e ajudando a defender para tapar as subidas dos laterais (hoje apareceu várias vezes a tapar o corredor de Alex Sandro) com alguma eficiência. Quero continuar a vê-lo a jogar e mesmo percebendo que nunca será um Moutinho, ao menos que consiga ser o box-to-box que precisamos há algum tempo.
(+) Helton. Uma defesa elástica depois de um grande remate de Seri (este puto que foi nosso no ano passado, algum motivo decente para o termos despachado para Paços?! temos alguma coisa contra marfinenses?!) e mais algumas defesas de bom nível, incluindo uma mancha a remate de Bébé ainda na primeira parte. Segurou a vantagem e esteve seguro, não se pode pedir mais. Teve apenas uma falha, talvez por causa do vento e da chuva (se soo a desculpadista…ponham-se no lugar de um guarda-redes a jogar com um temporal destes e depois falamos), em que socou a bola para trás mas os defesas livraram-no de ficar com o rabo quente.
(+) Licá. É verdade que os números podem enganar, já que esteve em campo apenas doze minutos, mas a grande diferença está exactamente aí: no timing da sua entrada em jogo. Não se colou à linha e jogou numa zona mais central onde esteve mais “solto” e sem precisar de se prender a aplicações tácticas e outro tipo de nuances que, francamente, não tem mostrado conseguir assimilar. Assim é que Licá pode ser útil, recuando para ajudar no meio-campo ao mesmo tempo que joga numa espécie de “inside-forward”, no espaço criado pelas movimentações mais atabalhoadas que um adversário a perder e desesperado por tentar marcar habitualmente concede. Assim, ainda pode dar mais alguma coisa que as habituais perdas de bola e dribles infrutíferos pela linha.
(-) Josué Uma lata cheia de trampa, foi o que fizeste hoje, meu caro. Não me lembro de te ver a acertar num único passe decente a não ser para Varela num fora-de-jogo que na altura me deixou dúvidas. Passes atrás de passes com má direcção, mau discernimento do posicionamento dos colegas, força desajustada da necessidade e uma movimentação a meio-campo tão inepta que raramente recebeste a bola em condições mesmo não estando a ser marcado em cima. Em suma, como diz o Waldorf sentado ao meu lado (eu, como já devem ter percebido, posso ser o Statler), “este gajo pode ser um box-to-box jeitoso, mas nunca um organizador de jogo!”. Concordo.
(-) Uma equipa cheia de medos e vazia de ideias Três exemplos simples conseguem descrever o FC Porto de hoje: Danilo recebe a bola na lateral, vê Quintero no meio e Quaresma pela sua direita com linhas de passe fáceis e possivelmente eficazes, mas opta por procurar a zona central, envolvendo-se no mesmo percurso acidentado do costume com três adversários, um dos quais lhe tira a bola com facilidade e o defesa-direito não consegue recuperar a posição, abrindo espaço no corredor direito para o contra-ataque adversário; Abdoulaye vê Danilo na diagonal, tapado por um jogador do Paços. À imagem de Maicon aqui há umas semanas, não pode deixar de ver que se lhe tenta endossar a bola, esta vai ser facilmente interceptada por um adversário. Opta então por um passe para…you guessed it, Danilo, com a força de cinco Guaríns, que vai directamente para fora, saindo pela linha uns bons quatro metros ao lado do brasileiro; Varela, num contra-ataque em que está como de costume sozinho, enfrenta três jogadores do Paços de cabeça enfiada no chão e sente Alex Sandro uns bons vinte metros atrás de si. Progride no terreno sempre a encostar-se para a linha lateral, devagar, devagarinho, até que não sabendo o que fazer com a bola, em vez de rodar para trás e atrasar para o colega, tenta fintar os três…e não passa do primeiro. Este tipo de lances acontecem com maior frequência do que seria admissível em escalões de formação onde os putos ainda não têm sequer um mínimo brotar de pilosidade facial. Fonseca, do banco, aposto que estava a aplaudir e a incentivar os rapazes. Paulo, isto já não vai lá com palavras fofas.
(-) Quem é que vai apanhar este temporal…para assobiar?!A uma dada altura, vários segundos depois de um fora-de-jogo ter sido apontado ao ataque do FC Porto e os resmungadores oficiais terem acalmado a excitação, ouviu-se na minha bancada uma voz forte e solitária: “FODA-SE!”. Pouco tempo depois, começaram os assobios. Não sei se foi o senhor grunho que despoletou a turba, mas a partir daí foi uma parvoíce sempre que algum jogador perdia a bola. Um assobiador caseiro é tão útil num estádio de futebol como um terceiro testículo: só atrapalha.
E depois do derby da capital? Ficaremos a depender só de nós? Tem a palavra o Sporting.
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