Ouve lá ó Mister – Gil Vicente

Mister Paulo,

Anda tudo a anunciar o apocalipse que vai acontecer neste jogo. Porque vamos a Barcelos jogar num campo completamente cheio de toupeiras e com menos relva que um adolescente num Domingo depois de ter dado uma festa no Sábado para alguns amigos que trouxeram outros amigos e lá apareceram três ou quatro “amigos”. O costume. Mas em Barcelos não me parece que haja snipers nas bancadas, exércitos de Hunos ou divisões de kamikazes que atravessem os céus do estádio para se espetarem contra os nossos moços, matando-os no processo. Tento-me manter calmo quando penso no jogo de hoje, mesmo sabendo que é um campo tramado…mas que raio, não deixa de ser o Gil Vicente. Há um nome, uma honra, um princípio a defender e esse é o dos mais fortes, que qual mulher de César, têm de ser mais fortes em campo e não só em nome.

E é essa merda que me anda a moer a moleirinha nos últimos tempos. Todos os adversários agora são “excelentes equipas” ou “bem organizados” ou simplesmente “fortes”. Caralho, Paulo, que aconteceu ao majestoso FC Porto que metia medo em campos por esse país fora e que cada visita nossa só tinha uma vitória possível para o clube visitado que era na bilheteira? Estamos assim tão sub-orientados e sofremos tanto com os nossos próprios males que qualquer montezinho de estrume nos canta por cima? Neste caso…de galo? (não resisti, perdão). Já sei que não ganhamos naquela cidade há oito anos (no futebol, entenda-se), mas algum dia é para voltar às vitórias e mais vale que seja hoje. Vi que o Mikel voltou a estar na convocatória muito embora haja um jogo importante dos Bs contra o Leixões. Acho bem, é exactamente isso que quero da equipa secundária, que mostre jogadores que possam vir a ser usados nos As. E volta a pôr o Maicon na equipa, por favor, o rapaz merece.

Sou quem sabes,
Jorge

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Leitura para uma sexta-feira tranquila

 

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Isto já não vai lá com palmas e incentivos

Há duas coisas que me fazem uma azia do caraças quando analiso a performance do nosso treinador. A primeira é o discurso, a forma como parece estar sempre com um dicionário de clichés da bola entreaberto no bolso do casaco, buscando cansativamente a forma mais ridiculamente eufemística de falar sobre o jogo que terminou ou o que por aí vem. Mais do primeiro que do segundo, porque ainda nutro aquela fugaz esperança que “é desta, carago, é desta que vamos começar a jogar em condições!” antes de mais um jogo…que rapidamente se esfuma como um dente-de-leão ao vento mal passam os primeiros dez minutos, altura em que começo a coçar a cabeça e a endireitar-me na cadeira com um misto de sono, enfado e nervosismo que não faz bem a nenhum sistema nervoso. Chateiam-me, portanto, as frases do “as coisas não correram bem” ou “houve grandes dificuldades” quando perdemos (e que raio de hábito estamos agora a readquirir, esta coisa de falar das nossas derrotas), e “um jogo à Porto”, “momentos de excelente futebol” e “soubemos contornar um adversário difícil” quando vencemos. Há um jogo na cabeça de Fonseca e outro na visão dos adeptos e que o Altíssimo me perdoe mas raramente são idênticos.

A segunda parcela que compõe a soma de todos os medos em que se está a traduzir esta temporada é a mais importante das duas: a forma como se está a lidar com os erros. Compreendo que há diferentes formas de abordar o mesmo problema e garanto que não preciso de ter um doente como Jesus, que salta e grita no banco como se fosse um chimpanzé cheio de fome entupido com anfetaminas. Acredito que quase nenhum jogador o ouve e mesmo os que ouvem devem deixar passar ao lado os guinchos e as instruções tácticas, que entram por um ouvido e saem pelo outro numa atmosfera de jogo. Quem já esteve dentro de campo e ouviu o seu treinador a ganir percebe que a maioria das vezes o espectáculo é orientado para o público e pouco mais. Mas o que tenho vindo a assistir é a uma passividade tremenda, aliada a aplausos constantes e a incentivos para o relvado, como se os rapazes estivessem cobertos de um manto de invulnerabilidade e que não pudessem errar. Oh, mas podem e erram e erram MUITO. Lembro-me de Robson e das exigentes declarações pré e pós-jogo (Quinzinho que o diga, ele que só podia dançar se marcasse três ou cinco golos – já não me lembro do número certo – mas nunca apenas com um tento apontado), da forma rija com que saltava do banco a gritar naquele misto de linguagem que só Sir Bobby conseguiu atingir na perfeição, e quando o casaco voasse os tipos sabiam que a malga de sopa já estava quebrada no pavimento. Sim, os tempos eram diferentes, os egos eram muito diferentes e o estatuto de Robson permitia-lhe esse tipo de reacções a quente que os jogadores acatavam e seguiam a peito. Mas aplausos para constantes passes falhados sem intenção nem aparente vontade de melhorar? Palminhas para um cruzamento que sai todo torto, um remate fácil que leva a uma situação de jogo desperdiçada? Incentivos quando o rapaz tira o pé da bola ou se desorienta pela quarta vez durante o jogo porque ainda não se apercebeu que o adversário aparece constantemente no ataque com mais gente que a sua própria equipa? Really?! Parece haver uma sensação de facilidade, de pouca exigência, de permissividade para com comportamentos indolentes e acima de tudo para quem não mostra estar à altura de representar o clube todas as semanas. Se Fonseca ainda quiser ganhar o carinho dos adeptos, tem de mudar a atitude. Tem de deixar de ser amigo dos jogadores para passar finalmente a ser chefe. Patrão. Pai, se quiserem.

Dizia-me o Waldorf (vou insistir na metáfora) no Domingo: “Se o Robson estivesse aqui, todos os jogos deste ano acabavam com o Paulinho a trazer as bolas para os gajos treinarem depois de acabar!”. Sinto-me tentado a concordar.

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Baías e Baronis – FC Porto 3 vs 0 Paços de Ferreira

Enquanto escrevo e ouço o vento lá fora a soar como se um esquadrão de 767s estivesse continuamente a rondar os céus da minha casa, questiono-me do porquê de ter saído do conforto do lar para enfrentar os elementos, empenhadíssimos em travar uma batalha sem tréguas contra a pobre raça portuguesa, e deslocar-me até ao Dragão para ver um FC Porto que semana após semana continua a exibir as mesmas dificuldades, os mesmos problemas e sem mostrar grandes soluções para os resolver. O resultado é enganador porque pode indiciar para alguém que não tenha visto o jogo que houve bom futebol, jogadas de entendimento e uma equipa que se exibiu a um nível acima da média. Desengane-se pois, caro leitor. Foi uma bela merda, mais uma vez. Notas, se o vento permitir, aqui abaixo:

(+) Herrera. Está a ser interessante ver a evolução do mexicano. Continua com alguns momentos em que lhe pára o cérebro mas intercala-os com um sentido prático apurado no meio-campo e na definição de lances ofensivos. Trabalha muito e parece querer estar sempre em constante movimentação, pressionando o adversário e ajudando a defender para tapar as subidas dos laterais (hoje apareceu várias vezes a tapar o corredor de Alex Sandro) com alguma eficiência. Quero continuar a vê-lo a jogar e mesmo percebendo que nunca será um Moutinho, ao menos que consiga ser o box-to-box que precisamos há algum tempo.

(+) Helton. Uma defesa elástica depois de um grande remate de Seri (este puto que foi nosso no ano passado, algum motivo decente para o termos despachado para Paços?! temos alguma coisa contra marfinenses?!) e mais algumas defesas de bom nível, incluindo uma mancha a remate de Bébé ainda na primeira parte. Segurou a vantagem e esteve seguro, não se pode pedir mais. Teve apenas uma falha, talvez por causa do vento e da chuva (se soo a desculpadista…ponham-se no lugar de um guarda-redes a jogar com um temporal destes e depois falamos), em que socou a bola para trás mas os defesas livraram-no de ficar com o rabo quente.

(+) Licá. É verdade que os números podem enganar, já que esteve em campo apenas doze minutos, mas a grande diferença está exactamente aí: no timing da sua entrada em jogo. Não se colou à linha e jogou numa zona mais central onde esteve mais “solto” e sem precisar de se prender a aplicações tácticas e outro tipo de nuances que, francamente, não tem mostrado conseguir assimilar. Assim é que Licá pode ser útil, recuando para ajudar no meio-campo ao mesmo tempo que joga numa espécie de “inside-forward”, no espaço criado pelas movimentações mais atabalhoadas que um adversário a perder e desesperado por tentar marcar habitualmente concede. Assim, ainda pode dar mais alguma coisa que as habituais perdas de bola e dribles infrutíferos pela linha.

(-) Josué Uma lata cheia de trampa, foi o que fizeste hoje, meu caro. Não me lembro de te ver a acertar num único passe decente a não ser para Varela num fora-de-jogo que na altura me deixou dúvidas. Passes atrás de passes com má direcção, mau discernimento do posicionamento dos colegas, força desajustada da necessidade e uma movimentação a meio-campo tão inepta que raramente recebeste a bola em condições mesmo não estando a ser marcado em cima. Em suma, como diz o Waldorf sentado ao meu lado (eu, como já devem ter percebido, posso ser o Statler), “este gajo pode ser um box-to-box jeitoso, mas nunca um organizador de jogo!”. Concordo.

(-) Uma equipa cheia de medos e vazia de ideias Três exemplos simples conseguem descrever o FC Porto de hoje: Danilo recebe a bola na lateral, vê Quintero no meio e Quaresma pela sua direita com linhas de passe fáceis e possivelmente eficazes, mas opta por procurar a zona central, envolvendo-se no mesmo percurso acidentado do costume com três adversários, um dos quais lhe tira a bola com facilidade e o defesa-direito não consegue recuperar a posição, abrindo espaço no corredor direito para o contra-ataque adversário; Abdoulaye vê Danilo na diagonal, tapado por um jogador do Paços. À imagem de Maicon aqui há umas semanas, não pode deixar de ver que se lhe tenta endossar a bola, esta vai ser facilmente interceptada por um adversário. Opta então por um passe para…you guessed it, Danilo, com a força de cinco Guaríns, que vai directamente para fora, saindo pela linha uns bons quatro metros ao lado do brasileiro; Varela, num contra-ataque em que está como de costume sozinho, enfrenta três jogadores do Paços de cabeça enfiada no chão e sente Alex Sandro uns bons vinte metros atrás de si. Progride no terreno sempre a encostar-se para a linha lateral, devagar, devagarinho, até que não sabendo o que fazer com a bola, em vez de rodar para trás e atrasar para o colega, tenta fintar os três…e não passa do primeiro. Este tipo de lances acontecem com maior frequência do que seria admissível em escalões de formação onde os putos ainda não têm sequer um mínimo brotar de pilosidade facial. Fonseca, do banco, aposto que estava a aplaudir e a incentivar os rapazes. Paulo, isto já não vai lá com palavras fofas.

(-) Quem é que vai apanhar este temporal…para assobiar?!A uma dada altura, vários segundos depois de um fora-de-jogo ter sido apontado ao ataque do FC Porto e os resmungadores oficiais terem acalmado a excitação, ouviu-se na minha bancada uma voz forte e solitária: “FODA-SE!”. Pouco tempo depois, começaram os assobios. Não sei se foi o senhor grunho que despoletou a turba, mas a partir daí foi uma parvoíce sempre que algum jogador perdia a bola. Um assobiador caseiro é tão útil num estádio de futebol como um terceiro testículo: só atrapalha.


E depois do derby da capital? Ficaremos a depender só de nós? Tem a palavra o Sporting.

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