Ouve lá ó Mister – Eintracht Frankfurt

Mister Paulo,

Tentei pela minha vidinha lembrar-me da última vez que estivemos neste infortúnio e só me conseguia lembrar do jogo contra o Panathinaikos da altura da Taça UEFA que ganhamos em Sevilha, quando perdemos por um em casa (maldito polaco núbio do Olisadebe), jogo que vi na antiga Bancada Central das Antas e nem reparei no gesto do Mourinho a pedir calma à massa, porque ainda faltavam noventa minutos na Grécia. Ainda fui procurar mais alguns eventos do género e vi que na pré-eliminatória da Champions em 2001, com o Octávio na frente da equipa (que curiosamente foi substituído alguns meses depois por…exactamente, Mourinho), tínhamos empatado exactamente a dois em casa contra o Grasshopper. Lembrei-me depois que estava de férias longe do Porto e não pude ir às Antas ver a bola, mas sofri ao ouvir o relato do jogo, como sofro sempre quando o FC Porto não vence. E este ano tenho sofrido tanto, mesmo longe da telefonia…

Tudo isto para dizer que nada está perdido. Há sempre hipóteses de vencer o jogo ou até podes empatar a cinco, sei lá, o mundo está cheio de pequenos milagres e de coincidências celestiais que fazem com que qualquer tarefa seja passível de ser concluída sem que a casa venha abaixo ou pior, que o Fernando ou o Quaresma se lesionem. De qualquer forma, aqui estou mais uma vez para te pedir que não deixes os rapazes cair naquele poço de desgraça e auto-comiseração onde parecem estar nos últimos meses e obriga-os a provar o que valem e porque é que estão num clube de topo. Porque o jogo da semana passada já lá vai, até o jogo contra o Estoril, aquela amálgama de pseudo-futebol e chances perdidas em que se transformou o Dragão no passado Domingo, até esse jogo já lá vai. O que interessa agora é morder os gémeos aos alemães, pisar-lhes as botas se for preciso, arrancar relva com os dentes e marcar mais golos que eles. Faz isso por nós mas especialmente por ti, Paulo. Navegas uma linha tão ténue entre o Olival e o Centro de Emprego que qualquer bocadinho de vento te inclina para o segundo em vez de te manter no primeiro. Luta contra o vento, Paulo. Esquece o vento. Just do it.

Sou quem sabes,
Jorge

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Passaram todos pelo mesmo, mas só alguns se safaram

Desde que comecei a ver futebol ao vivo, no início da última década do século passado, muitos têm sido os motivos de crítica dos diversos treinadores que passaram pelo FC Porto:

  • Carlos Alberto Silva foi criticado pelo estilo taciturno e pelo futebol aborrecido;
  • Tomislav Ivic foi criticado por ser demasiado defensivo;
  • Sir Bobby Robson foi criticado pelas más contratações e pelas substituições tardias;
  • António Oliveira foi criticado pela excessiva rotatividade da equipa-base;
  • Fernando Santos foi criticado por não conseguir manter as estrelas sempre motivadas;
  • Octávio Machado foi criticado pelo estilo de jogo duro e sem beleza;
  • José Mourinho foi criticado (sim, até Ele!) pela arrogância e pelo excessivo pragmatismo;
  • Luigi Del Neri foi criticado pela introdução à força de tácticas revolucionárias para o clube;
  • Victor Fernandez foi criticado pela incapacidade de saber lidar com os egos do plantel;
  • José Couceiro foi criticado pela fraca qualidade do futebol;
  • Co Adriaanse foi criticado pela rigidez das regras internas e pelas tácticas hiper-ofensivas;
  • Jesualdo Ferreira foi criticado por ser benfiquista e por falhar na Europa;
  • André Villas-Boas foi criticado pela inexperiência e pela pouca rotação de um plantel curto;
  • Vitor Pereira foi criticado pelo discurso fraco e pelo futebol enfadonho.

A grande diferença entre a maioria destes nomes e o de Paulo Fonseca é que salvo uma ou outra ocasião, via-se um semblante de uma táctica, de uma estratégia de jogo. Com melhores ou piores jogadores, mais ou menos motivados, havia um fio de jogo planeado, um reconhecimento em campo do trabalho que se faz durante a semana. Hoje em dia, Paulo Fonseca arrisca-se a ficar na história pelo seguinte:

  • Paulo Fonseca foi criticado por fazer com que o FC Porto deixasse de jogar futebol.
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Baías e Baronis – FC Porto 0 vs 1 Estoril

Ainda a subir a alameda, depois do jogo, ouvia um miúdo que caminhava atrás de mim, rodeado por um casal que estimei serem os progenitores do infante. A dada altura, num discurso excitado, o puto dizia: “Ó pai, ó pai, e quando eles começaram a cantar ‘Fonseca, cabrão, pede a demissão!’ é que foi”, para logo ser interrompido pelo pai, admoestando-o para não dizer palavrões. Talvez pela associação fácil, virei os pensamentos para Fonseca e para a forma como tem vindo a não-gerir a equipa, as expectativas e as exibições. A equipa continua desorganizada, os jogadores cabisbaixos e as exibições absurdamente más, mas palmas a partir do banco tornam tudo pior, transformando-se em imagem de chacota e levam à irascibilidade dos adeptos, incapazes de perceber como é que nada parece correr bem. É difícil ser adepto do FC Porto em 2014. Vamos a notas:

(+) Quaresma. Dos poucos que tentou, ainda que à sua maneira, fazer com que as coisas fossem um pouco diferentes do que até aí tinham vindo a ser. E não foi por culpa dele que perdemos o jogo, ele que rematou, cruzou, tentou fintar os homens do Estoril para colocar a bola em Jackson (quem?) ou Ghilas, quase sempre sem sucesso mas sem desistir. Foi a imagem da frustração transferida dos adeptos, que viam nele um dos que podia dar a volta às coisas. Não conseguiu, mas não foi por falta de tentativas.

(-) Fonseca, os ovos do Fonseca, a forma como o Fonseca pega na sertã e a omelete toda fodida do Fonseca A esperança não morre mas vai definhando ao longo de tantas semanas de mau futebol, perdendo o controlo das funções corporais enquanto se transforma uma equipa que sabia jogar (algum) futebol, por muito que pudesse ser um estilo que não agradasse a todos, mas que hoje é uma imagem parva do que outrora já foi e já mostrou que podia continuar a ser. A bola parece um corpo estranho, que dói ao toque e amedronta em posse, os adversários agigantam-se na mente dos jogadores e a desorientação em campo é tão evidente e tão confrangedora que apetece mandar todos para casa e trazer uma equipa nova, sem medos e temores mil mas com vontade de jogar. O que temos hoje em dia não é mais do que uma carcaça de uma equipa, com um treinador incapaz de se fazer ouvir, de mostrar o que sabe e de convencer um único adepto que é o homem certo no lugar certo. É certo que não temos dois jogadores essenciais que tínhamos no ano passado e que davam estabilidade à equipa (mais Moutinho que James, é certo), mas não engulo essa teoria “per se”. O plantel pode não ser forte, mas são muitos jogos exactamente como este, sem rumo, sem organização a meio-campo e sem um estilo de jogo vincado e consistente, que marcam a diferença entre um qualquer Estoril e uma equipa como tem de ser o FC Porto. Fonseca tem culpas óbvias neste estado a que chegamos. O fio de jogo é inexistente e assenta na bola pelos extremos com os laterais em fraco auxílio, lento, sem ideias, sem organização. O meio-campo é triste, preso, sem elasticidade para a marcação ou para a pressão, alta ou baixa (vi hoje várias vezes dois ou três jogadores a tentar tirar a bola sem sucesso a um adversário, deixando espaços enormes na zona recuada e jogadores livres para receber a bola), que permite que qualquer oponente consiga trocar a bola sem qualquer problema no nosso meio-campo, onde só não criam mais perigo porque a maior parte deles não sabe muito bem o que fazer com tanta facilidade por nós oferecida. O ataque é frouxo, onde Jackson está incapaz de apontar para a baliza, Ghilas parece um elemento fora do seu meio e apenas Quaresma e Varela, a espaços, conseguem algo de produtivo. E Fonseca hoje conseguiu pior que na 5a feira, onde tirou Fernando e destruiu o resto do pseudo-centro do terreno: retirou Josué, sem grande sucesso no jogo mas dos poucos que tentava lutar para a equipa subir e recuperar a bola, para introduzir Carlos Eduardo (que infelizmente nada trouxe de novo), deixando Herrera em campo, que tinha estado quase sempre ausente do jogo. Pior de tudo é a falta de crença. Os jogadores não acreditam neles, nos colegas e no treinador. Os adeptos não acreditam nos jogadores nem na equipa que os dirige. E não sei muito bem quem é que acredita que Fonseca ainda conseguirá fazer alguma coisa de positivo esta época. Eu, aqui para nós que ninguém nos ouve, também não acredito.


Não baixo os braços, nunca o faço, mas começa a ser complicado mantê-los lá no alto sem ser para fazer uma prece a qualquer Deus que me ouça para dizer: “Ajuda-me, Big Barbas!”…

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Ouve lá ó Mister – Estoril

Mister Paulo,

Começo a ficar farto de ver o FC Porto a jogar desta maneira, Paulo. É frustrante para mim, para todos os adeptos mas acredito que também para ti, porque se estás todas as semanas a dizer a mesma coisa e ninguém te ouve, chega uma altura em que se tem de bater com os punhos na mesa e dizer “basta!”. E jogo após jogo a ver os mesmos erros, a mesma falta de disposição para sofrer e para encarar os problemas de frente e tentar resolvê-los, hesito em tentar perceber o que raio passa pela cabeça dos teus jogadores para não fazerem o que é preciso para limpar a mente e começar a jogar futebol de uma maneira que agrade a todos e que traga vitórias consistentes. Vitórias, pronto, neste momento já me contento com um 1-0 com uma exibição agradável.

Mas não me convences, homem. Já não me convences e temo em pensar no que pode ser do resto da temporada se continuarmos a este nível exibicional e não houver um salto à Mike Powell que nos faça pinchar deste poço para fora e traga de volta o FC Porto que sei estar aí escondido por baixo da epiderme de lixo que tem sido este ano. O Estoril, mais uma equipa “excelente”, sabe jogar à bola e não sendo um titânico adversário, neste momento é uma equipa que nos pode tirar pontos com facilidade pela simples razão de correr mais que nós, de jogar mais organizado e com sentido prático bem mais apurado. Convence-me do contrário, Paulo. Faz-me acreditar que ainda é possível.

Sou quem sabes,
Jorge

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