Houve alturas a meio do jogo que me enervaram, especialmente na primeira parte, quando a equipa parecia estar a pedir ao público para ser insultada. Ainda me chateei mais quando vi que poucos pareciam querer mudar o rumo do que vinte ou trinta e tal mil pessoas estavam a ver: uma exibição medonha, com onze jogadores distraídos, pouco concentrados, alheios à vontade de chegarem depressa a uma vitória que podia e devia ter sido atingida sem qualquer problema, muito menos depois dos problemas que eles próprios criaram. Poucos se salvaram, apesar da vitória, e o que me deixaram foi uma amarga sensação de dever cumprido mas o receio que possamos perder este campeonato por exageros neste tipo de jogos. Vamos às notas:
(+) OtamendiFoi o único que se safou de início a fim porque nunca desistiu. Porque se manteve quase impecável com algumas falhas humanas no meio daquele oceano de desleixo generalizado. Muito bem na antecipação aos avançados do Rio Ave, especialmente ao canastrão do Tope, que se lixou quase sempre contra o Nico, que lhe aparecia sempre a roubar a bola antes do moço lhe poder tocar. Foi um patrão, como tem sido, e apesar de Mangala ter estado em grande nos últimos tempos, o facto de dar mais nas vistas talvez esteja a esconder a excelente época de Otamendi em 2012/2013.
(+) Jackson, na redençãoDevo ter sido o único animal na minha bancada que disse: “Tem de ser o Jackson a marcar!”, quando Soares Dias apitou para o segundo penalty (o primeiro é evidente e o segundo é o rapaz do Rio Ave que se arrisca com os braços esticados. deixo ao critério do árbitro, como sempre). E todos protestaram comigo, mas não me importei, nunca me importo quando começo com as alarvidades do costume. Mas acredito na redenção do Homem, na penitência depois do erro, na tentativa de salvar a imagem e o afecto dos adeptos que o apoiam, que torcem por ele e são felizes se ele for feliz…e Jackson correspondeu. Podia ser qualquer um mas tinha de ser ele a marcar. Tinha. E o segundo golo também, com uma recepção e remate perfeitos.
(-) Esta merda não se admite!Intolerável. Simplesmente intolerável. A forma como quase chegávamos ao intervalo a perder, graças um golo que tem tanto de inteligência do avançado como de permissividade defensiva de Helton (e levantares os braços, não?!) e Maicon (sim, continua a passar pelo gajo, de pé e tudo…), foi quase insuportável. Tudo era mau: passes, remates, cruzamentos. Tudo era lento: movimentação, desmarcações, construção. E a pior parte…os jogadores estavam desconcentrados, distraídos, sem vontade de jogar, sem empenho. As jogadas sucediam-se a um ritmo muito fraco, exageradamente fraco, um total oposto ao que se viu no jogo contra o Málaga. E ninguém podia iconizar a exibição como Jackson naquele primeiro penalty. Não tenho a certeza porque nunca estive num balneário em dia de jogo, mas estou convencido que deve haver um varão, fixo ou portátil. Afinal, são jogadores da bola, todos homens de sangue quente. E a primeira coisa que devia ter acontecido ao nosso ponta-de-lança à chegada ao balneário…era levá-lo “ao poste”, if you know what I mean. E depois tinha de marcar golos suficientes para se safar da estupidez. Foi o símbolo maior de uma equipa que nunca quis jogar este jogo e voltou a baixar o nível em demasia, como já aconteceu este ano várias vezes. E agora? Que FC Porto vamos ter em Alvalade?
(-) MaiconUm jogo muito infeliz de Maicon. E ainda pior do que a infelicidade, na sucessão de falhas, de desconcentrações e descoordenações, foi a forma como Maicon nunca conseguiu sair do fosso em que se tinha enfiado e continuou, penosamente, a afundar-se na miséria do jogo que estava a fazer. E os passes longos falhavam, perdia a noção do espaço, “roubava” bolas a Helton, esquecia-se do homem que estava a marcar…era o Maicon que cá chegou, nervoso, aterrorizado, sem confiança, triste…
(-) A reacção do público a Maicon…e o público pressionava o rapaz como se fosse um adversário! Ouviam-se gritos quando Maicon tocava no esférico, assobios quando demorava mais de dois segundos com a bola nos pés (muito embora raramente tivesse uma linha de passe decente), insultos quando o rapaz fazia algo que fosse contra o que as pessoas gostavam. É assim que querem apoiar os vossos jogadores? Quando as coisas estão a correr mal e vêem que um dos jogadores que conhecem há quatro anos, que já nos deu troféus atrás de troféus, que marcou o golo que deu a vitória na Luz no ano passado…quando vêem que esse rapaz, que perdeu a titularidade depois de uma lesão, está a ter um mau momento…o que optam por fazer é insultá-lo!? Nunca vou perceber este tipo de atitudes de alguma gente, palavra.
Continuamos em primeiro, mas a que custo? Para os adeptos menos habituados a este tipo de jogos, ainda vale a pena deslocarem-se ao estádio para verem este tipo de espectáculos? É só isto que o FC Porto pode prometer, especialmente depois do que fez na terça-feira contra o Málaga? Só vale a pena ir ver os jogos grandes? Ouvi vezes demais a frase: “para que raio é que vim à bola?”. Eu sei que vou porque gosto, porque sou portista e porque abdico de outras coisas para ver o meu clube. Eu. Eu faço isso. Muitos outros não o farão.