Depois das correrias e tropelias do jogo, depois do penalty falhado, dos dois golos oferecidos e do regresso quase-triunfal em meia-dúzia de minutos, só me apetece parafrasear Samuel Beckett: “All of old. Nothing else ever. Ever tried. Ever drew. No matter. Try again. Draw again. Draw better.“. Siga para notas:
(+) Jackson. E cá voltamos nós ao mesmo. Jackson joga, Jackson marca. Apesar do jogo bem razoável de Aboubakar, há ali uma grande diferença na forma como Jackson controla a bola e apesar de ser consideravelmente mais lento que o camaronês, a forma como está na área fez hoje toda a diferença e mostrou que é o único ponta-de-lança a sério no plantel (Adrián nem para lá caminha, quanto mais não seja pela posição em que tem vindo a jogar). Não se intimidou nem teve aqueles tiques de vedeta à Quaresma. Talvez por isso seja capitão em vez do Ricardo. Talvez.
(+) Marcano, apesar de Pepe. Não sou fã de centrais adaptados a trincos. Desde que Pepe foi aí espetado por Mourinho e Queiroz, fiquei ainda com menos vontade de ver esse tipo de adaptações. Gosto de médios defensivos à Redondo ou Makélélé, dos varredores, que joguem com os dois pés e que saibam o que fazer com a bola quando a recuperam, ao contrário dos centrais que habitualmente são mais trapalhões e brutos. Mas Marcano foi o oposto do que estava à espera, com uma técnica apurada, passe simples e bom posicionamento. Manter Ruben Neves no banco foi uma boa opção, especialmente depois do rapaz ter vindo em rampa descendente nos últimos jogos, mas Marcano será sempre uma solução de recurso naquela posição. Ainda assim, há vários jogos em que pode vir a ser muito útil e acabou por somar mais uma alternativa ao plantel. “Football Manager” style.
(+) Danilo. Continua a ter um excelente arranque de época, que me motiva a elogiá-lo quase em todos os jogos. Estranho, muito estranho, especialmente depois de dezenas e dezenas de partidas em que vi um Danilo cabisbaixo, sem vontade de jogar, a hiperbolizar todas as falhas e a minimizar os seus próprios sucessos. Danilo versão 2014/2015 está mais alegre, mais entusiasmado e nota-se em campo pela forma como ataca a bola na defesa e como surge a apoiar o ataque (mais comedido mas acima de tudo mais inteligente) pelo flanco ou em incursões pelo centro. E como o último rapaz que elogiei desta forma foi Maicon…temo a exibição do lateral contra o Braga.
(-) As duas ridículas falhas defensivas. Maicon chegou ao jogo contra o Boavista como um dos jogadores em melhor forma no plantel, imperial na defesa, perfeito no corte, tranquilo em posse e sem parvoíces de maior a apontar. E depois…foi expulso no Dragão por uma entrada idiota e hoje fez uma rosca à Maurício que ia dando auto-golo e cortou a bola para os pés do avançado do Shakhtar, dando origem ao 2-0. Óliver foi apenas ingénuo, a tentar controlar a bola numa zona em que merecia que o treinador entrasse em campo e lhe desse dois tabefes na hora para entender que num jogo deste nível é imperdoável achar que aquela era uma atitude interessante e de grande jogador. Dezanove aninhos, dezanove sapatadas de mão aberta em rabo ao léu. E ficávamos conversados.
(-) Mais um penalty falhado. Já me começam a faltar as palavras para descrever o que sinto quando um árbitro marca um penalty a nosso favor. Como é bem mais normal acontecer na Europa do que cá no burgo, a importância do lance no decorrer de um qualquer jogo acaba por ser bem mais vital e faz com que cada falha seja ampliada para penalizar o seu autor. Hoje a fava saiu a Brahimi, que se dependesse de mim passava imediatamente para o último lugar na lista dos marcadores. À frente dele ainda ia o Fabiano. Sim, o Fabiano, o guarda-redes que não sabe jogar com os pés para salvar a vidinha.
(-) Os brasileiros do Shakhtar. Aposto que deve haver scouts a trabalhar no Brasil e que se adaptam a todos os gostos. Há os que gostam dos rapazes tecnicistas e vão buscar os Decos e os Andersons. Há aqueles que adoram o futebol defensivo e sacam os Dorivas e os Paredes. Também há os do futebol rápido e voador, os que descobrem os Artures e os Derleis. E depois há os scouts do Shakhtar, que estão interessados em tudo o que seja grande, saiba jogar com os braços e tenha planos de acertar em tudo que vê. Não me admita que Bernard não jogue. Os hobbits têm notória dificuldade em dar porrada.
Nunca tivémos o jogo na mão, mas podíamos e devíamos ter vencido estes moços de laranja e preto. Somos melhores que eles, não tenho dúvidas, e podemos acabar com eles no Dragão na última jornada. Com um golo de penalty do Brahimi, outro do Óliver e ainda outro do Maicon. Só para limparem a consciência.