O primeiro camelo que me vier dizer que os jogos da Champions’ (bem mais que os da Europa League) não são diferentes dos outros vai levar com um insulto customizado. Há qualquer coisa no ambiente, fora e dentro do estádio, na forma como o público encara o espectáculo, nos adeptos contrários (que hoje estavam em grande número…e bem dispersos pelo estádio…vale tudo para meter notas ao bolso, não é, malta?), na emoção do resultado e dos outros resultados por essa Europa fora…há uma electricidade, um tremor, uma vida que se ganha nestas partidas que só em clássicos se consegue neste nosso desterro da bola. Ganhámos, e ganhámos bem…mas também ganhámos mais uma meia-hora de susto pelas falhas que se repetem, ainda por cima em jogos grandes. Safou-nos o 7. E de que maneira. Vamos a notas:
(+) A entrada de Quaresma. É curiosa esta dicotomia da relação de Quaresma com os adeptos. Um rapaz que saiu do FC Porto corrido a assobios para voltar como grande símbolo do clube e da identificação da massa associativa com a sua imagem e com o espírito do rapaz. É caso para análise freudiana (ou jungiana, talvez) à qual voltarei mais tarde. Entrou cheio de força e foi exactamente o que a equipa precisava para aquele último empurrão para a vitória, conseguida pelos seus pés, onde Ricardo mostrou que quando quer, quando está empenhado no jogo e na equipa, é uma mais-valia para qualquer clube do Mundo. O remate foi feliz, sim, mas a tentativa, a busca incessante pela bola e pelo resultado fizeram dele um herói improvável numa altura em que o panorama era sombrio. Obrigado, rapaz, volta assim.
(+) Tello. Só tem um problema, este estupor: é ineficaz no remate. Corre imenso, posiciona-se muito bem para receber a bola e é um perigo constante para os laterais pela aceleração que consegue quando se coloca no 1×1. Hoje, mais uma vez, mostrou que é um elemento essencial no ataque (continuaria a apostar em Brahimi/Jackson/Tello) pela diferença que exibe em relação a qualquer outro jogador do plantel, com a excepção talvez de Ricardo, que deveria ser o seu understudy e não um pseudo-adaptado a lateral. Se fosse mais eficaz a rematar à baliza…provavelmente não tinha vindo para cá.
(+) Os laterais. Não me esqueço das correrias de Danilo e Alex Sandro no apoio ao ataque, mas a forma como estão a ser colocados em campo, partindo de trás em vez de se colarem imediatamente à linha como faziam com Vitor Pereira, faz com que seja muito mais exigente a sua utilização em termos físicos porque percorrem mais relva durante o jogo. Tenho de confirmar as estatísticas, mas é o que me parece. E Danilo está num momento alto de forma e moral, a jogar prático, simples, sem inventar mas acima de tudo sem desistir. Alex foi rijo a defender pelo chão e pelo ar e só não atacou mais porque foi obrigado a tapar os buracos deixados por Brahimi e Quintero. Ambos estiveram muito bem.
(+) Herrera. Não estou louco, fica já aqui assente. Gostei do jogo de Herrera. Depois do jogo recebi um sms a dizer: “O Herrera correu 12 kms!” e não contesto as estatísticas. O problema de Herrera nunca foi a movimentação, nunca foi a forma como se desloca para receber a bola e como se coloca de frente para o jogo para perceber o que melhor pode fazer. O seu problema é sempre o que faz depois de a receber e o timing leeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeento com que executa. Hoje foi mais rápido, mais inteligente com a bola nos pés e lutou até não poder mais, acabando a pressionar Iraizoz. Marcou o primeiro golo numa excelente jogada entre Quintero (muito bem na primeira parte) e Tello. Espero que mantenha o nível.
(-) Casemiro. Não me lembro de um jogo bom dele. E lembro-me bem dos jogos maus. Este é mais um deles, em que passou quase o tempo todo fora da posição defensiva, sem pressionar o adversário, sem criar linhas de passe (viu várias vezes Herrera…HERRERA a passar por ele com a bola, sem se mexer), sem se colocar no local certo, sem obstaculizar a progressão do oponente…sem futebol. Foi um zero. Ruben, na sua posição, só perde na força, porque seria perfeito para funcionar como um “regista” mandão. Tivesse mais um ou dois aninhos e umas dezenas de jogos nas pernas e Casemiro tinha de trabalhar para ser titular. Como assim não é, continuamos a ver Casemiro a arrastar-se pelo campo e a falhar passes. Algo tem de mudar na atitude do brasileiro.
(-) Mais um golo oferecido. Shakhtar: dois golos oferecidos. Sporting: um golo oferecido, um auto-golo. Guimarães: um golo oferecido. Hoje: um golo oferecido. Começa a ser um handicap enorme estar todo o jogo a procurar o melhor entendimento possível quando de um momento para o outro conseguimos atirar à lama todo o trabalho com um erro que é quase sempre evitável. Hoje foi Herrera (que, note-se, até fez um bom jogo) com um passe mal medido para Casemiro, que foi (mais uma vez) lento demais para interceptar a bola antes dela chegar aos pés do adversário. Não pode ser, minha gente, não podemos continuar a ter este tipo de erros. A época passada chegou e sobrou para isso e a malta não se esquece.
(-) Os assobiadeiros. Mais uma vez fui obrigado a levantar a voz no meio daquela corja de pseudo-portistas que assobiaram a equipa e dizer, do alto do meu 1,69m: “ASSOBIAR AO CARALHO, PÁ!”. E não fui o único porque ouvi estas palavras (ou outras com a mesma temática) a serem proferidas por diversas pessoas na minha bancada, numa manifestação de solidariedade (ou enfado com esta merda desta moda) com os jogadores que já tremiam sem capacidade para subir no terreno e receio natural depois de mais uma falha. Portistas. De. Merda. É o que vocês são.
Vi o jogo com cinco bascos à minha frente. Malta porreira, tranquila, fomos conversando no intervalo e trocando algumas opiniões durante o jogo. Inimigos sim, mas com cordialidade. Enfim, vão com mona pesada para Bilbao. Eu, vou dormir descansadinho e com um sorriso bem grande.
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