Baías e Baronis – FC Porto 2 vs 0 Nacional

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retirada do facebook oficial do FC Porto

Um bom jogo, com uma boa vitória, numa boa noite de uma boa equipa, em frente a uma boa casa com boa vontade. E sem assobios. Quase sem assobios. Afinal de contas, quando a equipa consegue colocar em campo um futebol ao nível do que fez nos primeiros 15/20 minutos, que encostava às cordas qualquer equipa portuguesa e muitas das que por aí fora vão andando, não há razão para insatisfações de qualquer ordem. Algumas boas exibições, excelentes trocas de Lopetegui durante a partida, um rapaz que não engana, outro que enganou durante algum tempo e outro que parece ter deixado de se enganar sozinho. Vamos às notas:

(+) Brahimi. Parece improvável mas está a ser uma verdade impossível de contornar: depois de Madjer, há outro argelino que eleva os rabos das cadeiras do estádio do FC Porto em aplausos permanentes e totalmente merecidos. Yacine Brahimi. Tem nome de jogador e tudo, enrola nas bocas dos adeptos e solta-se com o grito que coloca o povo em brasa e as redes em chamas. Depois de uma excelente primeira parte, onde brilhou pelo flanco esquerdo a desfazer rins madeirenses sem fim, passou um bom naco da segunda parte sem grande produtividade mas sempre a tentar a finta curta em passada rápida, com pouco sucesso. E quando em discussão com o meu amigo do lado já ia pedindo a sua substituição por Tello…o homem faz-me aquilo. Sidestep, feint, sidestep again, kaplow. Deus me livre. Alá. Shiva. Vishnu. Zeus. Osíris. Venham todos. Este rapaz merece ser visto ao vivo.

(+) Quaresma. Ao intervalo, enquanto falava animadamente com o meu pai, ouvia-o a dizer: “E o Quaresma? O gajo até vem atrás defender e ajudar os colegas, nem parece o mesmo!”. E não parecia, mas por culpa sua, por nos ter habituado a ver um jogador tantas vezes indolente e sem vontade de mostrar…vontade de ajudar. O Quaresma que vimos hoje no Dragão foi voluntarioso, bom no passe, perfeito no overlap com Danilo e inteligente a reter a bola nos pés. Este Quaresma é titular no FC Porto, sem dúvida.

(+) Danilo. Mais um óptimo jogo de Danilo, apesar de algumas hesitações na primeira parte, onde deixou vezes demais os adversários passarem-lhe nas costas. Quando se entendeu melhor com Maicon (ao lado) e com Quaresma (pela frente), estabilizou a exibição e desatou a subir pelo flanco. E o golo é totalmente merecido, especialmente porque já o procurava há alguns jogos, sem sucesso. Continua a ser dos melhores este ano.

(+) Lopetegui a mexer. De todas as componentes das alterações que Lopetegui hoje fez na equipa, só não acertei na saída de Quintero. Preferia Óliver porque com Quintero em campo basta um passe para dar golo enquanto que o espanhol “rodriguilha” mais o jogo, mas aceitei a decisão. A saída de um dos dois médios com características quase idênticas era imperativa e a entrada de Herrera foi perfeita porque Hector esteve excelente na forma como complementou Óliver, alternando tranquilidade em posse com a abertura de passes horizontais para abrir o jogo. Herrera muito bem. Ainda não soa bem, mas sigamos em frente. Brahimi por Tello era exigível porque apesar do golaço do argelino, tornava-se evidente que se tivesse de correr dez metros para o marcar, talvez já não o conseguisse. E render Jackson por Quinz…Aboubakar, perdão, foi expectável pela correria do colombiano e a necessidade de o poupar para o importante jogo em Bilbau. Three for three, mister.

(-) Esta equipa não está pronta para jogar sem bola. Olhem para o meio-campo do Nacional. E pensem que tiveram 39% de posse de bola durante este jogo. Uma cambada de ogres prontos para demolir muros de castelos medievais que tiveram o privilégio de poder trocar a bola entre si durante largos minutos em pleno relvado do Dragão. Enquanto o jogo decorria. Com o FC Porto a gerir, atrás da bola. Mas agora alheiem-se desse facto digno de figurar em livros do fantástico e olhem para a constituição do meio-campo do FC Porto. O equivalente do Walter a jogar na posição 6/8/whatevs, somando-se dois elementos que levam o cagataquismo a um nível olímpico, pressionando em zonas estranhas (a sério, Óliver, onde RAIO andavas tu a correr naquele meio-campo se raramente chegavas perto do Ghazal e Cª?!) e incapazes de colocar entraves a jogadores que podiam pegar neles e arremessá-los pelo ar para o Fabiano, sem que fosse sequer marcada falta nem mostrado amarelo. Com a bola, génios. Sem ela, meninos.

(-) Alex Sandro. Deve haver uma regra não-escrita que só um lateral do FC Porto pode estar a jogar em condições de cada vez. O outro é relegado para um papel subalterno, um círculo muito especial do inferno por si criado, onde as invenções se sucedem sem sucesso, onde as falhas são ampliadas como um outdoor com a palavra FAIL em grossas letras negras, onde os passes saem tortos e as intercepções mal medidas. Não estás a ter uma boa época, Alex.


Mais uma jornada sem sofrer golos e com tantas ocasiões criadas que o resultado parece curto. Façam o mesmo na quarta-feira, rapazes.

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Ouve lá ó Mister – Nacional

Señor Lopetegui,

Temos uma história com estes tipos que tu nem imaginas. Um dos jogos mais humilhantes da minha vida foi vivido neste mesmo estádio, aqui há oito ou nove anos, quando estes fulanos apareceram cheios de bazófia e nos cravaram quatro no lombo. Lembro-me que a meio do jogo já não havia nada que conseguisse fazer para abanar a depressão e já só me ria, juntamente com o meu companheiro de sempre nestas lides da bola. Ria-me, Julen, com uma derrota do FC Porto! Em casa! Por QUATRO! Há alturas em que não se consegue explicar o próprio comportamento e só posso atribuir esse pequeno acesso de loucura a uma qualquer histeria que possuiu a minha mente, até aí medianamente sã. Nunca mais fui o mesmo desde esse dia.

E se havia ainda qualquer necessidade de vencer este jogo, tens mais esse motivo. Estes badamecos habituaram-se a vir sacar pontos aqui à urbe e nós fomos consistentes na permissividade durante os últimos anos, o que me enerva sem que possa fazer o que quer que seja acerca disso. Não me deixam entrar em campo e tirar a bola de cima da linha de golo, dar dois bufardos no Rondón ou uma entrada de carrinho à Otamendi com anfetaminas nas pernas do Marçal (mais um gajo odioso), por isso delego em ti e nos teus a responsabilidade de o fazerem. Não precisa de ser nestes moldes nem com estas particulares doses de malvadez, basta que ganhes o jogo. Basta-me que relembres a esses gajos que quem manda aqui somos nós. Somos. Nós. Mai nada.

Sou quem sabes,
Jorge

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O aríete e a espia sedutora

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Parece que foi há meia-dúzia de dias mas já lá vão quase nove anos. Nessa altura, num país muito parecido com o nosso, numa cidade em tudo semelhante à nossa, vivia um senhor que tinha herdado uma enorme fortuna. Um filão de ouro, prata, diamantes, rubis e iPads que lhe apareceram nas mãos vindos de outras menos hábeis e capazes. Esse senhor, um largo e destemido mestre da diplomacia e da arte da guerra, conhecedor dos pontos fortes e fracos do seu exército e desejoso de conquista e de expansão. A vontade de derramar sangue levava-o a investir contra as armadas oponentes, com a força de milhares de homens condensada na sua reduzida mas sequiosa unidade de combate. Os ataques eram constantes contra os redutos inimigos, com aríetes (fui confirmar, tem mesmo acento no i) a estamparem-se contra os pesadíssimos portões que guardavam os preciosos bens do adversário perante as incessantes avançadas do nobre e autocrático lorde. Dezenas de setas voavam quase na vertical enquanto que os oponentes lutavam com todas as forças para evitar o massacre, mas os bravos guerreiros aguentavam, cediam terreno na sua zona recuada, deixando-a fértil a tácticas de guerrilha e de blitzkriegs pelos flancos desprotegidos, arriscando a alma e a família na demanda da conquista. No final, com mais feridos que mortos, a vitória era certa e a conquista assegurada.

Este era o modelo do Co. Um modelo que me ia pondo cardíaco e que sempre que a bola passava para o nosso meio-campo…olhava para trá só vendo o Pepe e o Paulo Assunção a recuar…enervava um bocadinho, vá.

Lopetegui é diferente. É um bar no fundo de uma rua escurecida pela guerra. Um Rick’s Café escondido no meio de suor e mesas quadradas e whiskey velho. É um ponto de encontro de almas, de interacção entre homens e mulheres, de delicadeza no toque, na troca de olhares, na fugaz reincidência da procura de uma fuga para a frente, na confiança entre camaradas de armas, todos sabendo que vão cair perante uma qualquer espia de combinaçao negra deitada entre lençóis de cetim no pequeno quarto das traseiras.

Hoje, olhando para Lopetegui, o modelo é tão díspar que nem consigo estabelecer comparações. E devo dizer que apesar da estratégia estar em ajustes, dos jogadores estarem em adaptação e das rotinas estarem a ser criadas…gosto muito mais. E o meu coração também.

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Baías e Baronis – Arouca 0 vs 5 FC Porto

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Acho que ninguém esperava um jogo tão fácil como este. É certo que o Arouca não é o Bilbao, que Bruno Amaro não é titular do Zenit ou do Shakhtar e que o David Simão, no alto da sua arrogância nojenta que dá vontade de cuspir em cima, não tem o talento de um Pirlo cego e paralítico. Mas esperava ao mesmo tempo mais do Arouca e menos do FC Porto. Foi uma vitória tornada fácil pela eficácia do nosso ataque, que andava tão fugida nos últimos jogos. Quintero no centro, Brahimi e Tello nas alas mas especialmente Jackson na frente estiveram muito bem e tornaram simples algo que às vezes parece tão complicado. E um cincazero é sempre giro e traz memórias engraçadas, como devem compreender. Vamos às notas:

(+) Jackson. Trabalha como poucos pontas-de-lança vi a trabalharem em todos os plantéis do FC Porto, mantendo as características de um ponta-de-lança que trabalha fundamentalmente na área. Houve Pena, Derlei, Lisandro, entre outros, mas nenhum deles era um Jardel, um Falcao. Jackson, em dias bons, combina as qualidades dos dois tipos de avançado: a mobilidade e progressão em drible dos jogadores que não são tão vocacionados para jogarem na área; o oportunismo e a capacidade de desmarcação que dão nome a um matador. Somemos a isto uma excelente capacidade para reter a bola em zonas mais recuadas enquanto aguarda pela subida dos companheiros…e vendemo-lo no final da época por 35 milhões a qualquer clube. Mesmo com 29 anos.

(+) Quintero. Dez. Dez. E talvez Dez. É esta a posição que Juanfer Quintero deveria sempre ocupar em campo quando estivesse ao serviço do FC Porto. Na selecçao colombiana podem pô-lo a jogar como defesa direito, durmo bem na mesma, mas colocá-lo na linha para flectir na diagonal interior não é a mesma coisa que vê-lo a levantar a cabecinha e a projectar as trajectórias que podem levar a um golo que parece fácil. Vai falhar muitos mais passes, inventar até levar o povo ao desespero. Mas uma vez, de vez em quando…pode dar a vitória à equipa com um singelo toque na bola. A continuar.

(+) Casemiro, finalmente. Um bom jogo de Casemiro, que até incluiu um golo e tudo, de cabeça depois de um canto. E para quem achar que estou a tentar incluir o maior número de conceitos claramente falsos sobre o FC Porto 2014/2015, asseguro-vos que tudo aquilo aconteceu ontem em Arouca. Ao fim de vários jogos com produção claramente negativa, finalmente o brasileiro mostrou-se estável no meio-campo, a tapar bem a dupla de orcs que compõem a zona central da equipa adversária, com Bruno Amaro e David Simão ambos a caírem perante a superioridade evidente de Casemiro e até de Herrera (meu Deus, os eixos inverteram-se!). Bom jogo, espero que continue.

(+) O gesto de Aboubakar para Quaresma depois do golo. Acabou de marcar o primeiro golo ao serviço do clube no campeonato. Celebra rapidamente e faz o quê logo a seguir? Vai cumprimentar Quaresma e acena para o público congratular o Ricardo pela assistência, como que dizendo: “sem ele este golo não entrava!”. Esperto, o nosso Vincent, heim?

(-) Os contínuos erros defensivos. Como se atravessassem um campo de minas de tacões altos. Como se estivessem a pescar num lago gelado no início de Junho. Como se tentassem atravessar uma linha de combóio sem guarda de linha enquanto vendados e com os pés atados. Assim foram os primeiros quinze, vinte minutos da equipa. Como se acabassem de saltar de um avião sem confirmar se o pára-quedas não tinha buracada. Tivemos sorte que o Arouca estava em dia não, porque aqueles momentos de passes mal guiados, recepções duvidosas, sobre-complicadices na defesa e pontapés para a frente directos aos pés de um adversário…continuamos com grandes problemas na saída da bola da defesa e o meio-campo pareceu melhor mas ainda sem conseguir uma produção consistente. A eficácia no ataque ajudou a mascarar as contínuas dificuldades na construção de jogo e a excessiva dependência em jogadores como Brahimi e Tello para impôr velocidade. Só quando o adversário está desgastado e desposicionado é que conseguimos fazer com que Danilo e Alex Sandro subam em apoio ao ataque e se até agora tem corrido razoavelmente bem e de uma forma produtiva…o jogo torna-se aborrecido e pouco agradável de seguir. Futebol bonito…ainda vai demorar a ser regular. Por agora, só a espaços.


Continuamos a evoluir. Devagarinho, sem pressões, é o que precisamos para criar uma estrutura que nos permita lutar pelo zénite (o outro) até Maio. Com alguma sorte, com mais alguns cincazeros destes.

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Ouve lá ó Mister – Arouca

Señor Lopetegui,

Anda tudo louco. Tudo. Louco. Um empate, dois empates, três. Uma derrota, uma vitória, mau. O mundo parece convencido que uma equipa se forma de um dia para o outro, que as empatias e sinergias que decorrem do trabalho em conjunto, da harmonia que se cria durante meses (raios, durante anos!) de convívio, de espírito comum e objectivo partilhado, tudo isso aparece automagicamente do ar. Não é verdade e se as pessoas pensarem um bocadinho, vão perceber que nada é obra do acaso e tudo se trabalha para que os frutos apareçam. A não ser que sejas o Scolari, nesse caso é mandar as bolas para os Ro-Ros e siga a rusga.

Hoje vai ser um bom teste a essa capacidade crescente de harmonizar um grupo de talentos e de o consolidar como uma equipa em condições, capaz de enfrentar equipas temíveis por essa Europa fora ou alguns adversários de menor nome aqui pelo burgo. E o Arouca, que incluo no segundo grupo por motivos que deverão ser óbvios para o comum dos mortais, pode ser uma boa prova a essa mesma capacidade. O Pedro, teu companheiro de profissão e aquele gajo que de vez em quando podes ver da VCI quando os écrãs gigantes estão virados para a estrada, vai ver se te lixa a vida e a vida de todos nós, depois de tanto nos ter dado quando por cá esteve. São as matizes da vida, Julen, e podes ter a certeza que a mordidela no traseiro vai aparecer quando menos esperas. Hoje, vendo a convocatória, reparo que estás a levar dezoito garbosos moçoilos, prontinhos a sair de lá com três pontinhos no saco. Não te peço mais, só gostava de te pedir duas coisas: aposta no Quaresma para aproveitar a pica do rapaz…e decide de uma vez o que vais fazer com o meio-campo. Queres uma dica? Cá vai: Ruben, Herrera e Quintero. Tau. Assim, sem trocos, obrigado, siga a sua viagem.

Ganha lá o jogo. Nem sei se consigo ver em directo mas garanto que se não conseguir ou se vir a espaços, quando chegar a casa vejo o jogo todinho para te dizer das minhas. Boas ou más. Boas. Sim, vamos acreditar que serão boas.

Sou quem sabes,
Jorge

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