Um bom jogo, com uma boa vitória, numa boa noite de uma boa equipa, em frente a uma boa casa com boa vontade. E sem assobios. Quase sem assobios. Afinal de contas, quando a equipa consegue colocar em campo um futebol ao nível do que fez nos primeiros 15/20 minutos, que encostava às cordas qualquer equipa portuguesa e muitas das que por aí fora vão andando, não há razão para insatisfações de qualquer ordem. Algumas boas exibições, excelentes trocas de Lopetegui durante a partida, um rapaz que não engana, outro que enganou durante algum tempo e outro que parece ter deixado de se enganar sozinho. Vamos às notas:
(+) Brahimi. Parece improvável mas está a ser uma verdade impossível de contornar: depois de Madjer, há outro argelino que eleva os rabos das cadeiras do estádio do FC Porto em aplausos permanentes e totalmente merecidos. Yacine Brahimi. Tem nome de jogador e tudo, enrola nas bocas dos adeptos e solta-se com o grito que coloca o povo em brasa e as redes em chamas. Depois de uma excelente primeira parte, onde brilhou pelo flanco esquerdo a desfazer rins madeirenses sem fim, passou um bom naco da segunda parte sem grande produtividade mas sempre a tentar a finta curta em passada rápida, com pouco sucesso. E quando em discussão com o meu amigo do lado já ia pedindo a sua substituição por Tello…o homem faz-me aquilo. Sidestep, feint, sidestep again, kaplow. Deus me livre. Alá. Shiva. Vishnu. Zeus. Osíris. Venham todos. Este rapaz merece ser visto ao vivo.
(+) Quaresma. Ao intervalo, enquanto falava animadamente com o meu pai, ouvia-o a dizer: “E o Quaresma? O gajo até vem atrás defender e ajudar os colegas, nem parece o mesmo!”. E não parecia, mas por culpa sua, por nos ter habituado a ver um jogador tantas vezes indolente e sem vontade de mostrar…vontade de ajudar. O Quaresma que vimos hoje no Dragão foi voluntarioso, bom no passe, perfeito no overlap com Danilo e inteligente a reter a bola nos pés. Este Quaresma é titular no FC Porto, sem dúvida.
(+) Danilo. Mais um óptimo jogo de Danilo, apesar de algumas hesitações na primeira parte, onde deixou vezes demais os adversários passarem-lhe nas costas. Quando se entendeu melhor com Maicon (ao lado) e com Quaresma (pela frente), estabilizou a exibição e desatou a subir pelo flanco. E o golo é totalmente merecido, especialmente porque já o procurava há alguns jogos, sem sucesso. Continua a ser dos melhores este ano.
(+) Lopetegui a mexer. De todas as componentes das alterações que Lopetegui hoje fez na equipa, só não acertei na saída de Quintero. Preferia Óliver porque com Quintero em campo basta um passe para dar golo enquanto que o espanhol “rodriguilha” mais o jogo, mas aceitei a decisão. A saída de um dos dois médios com características quase idênticas era imperativa e a entrada de Herrera foi perfeita porque Hector esteve excelente na forma como complementou Óliver, alternando tranquilidade em posse com a abertura de passes horizontais para abrir o jogo. Herrera muito bem. Ainda não soa bem, mas sigamos em frente. Brahimi por Tello era exigível porque apesar do golaço do argelino, tornava-se evidente que se tivesse de correr dez metros para o marcar, talvez já não o conseguisse. E render Jackson por Quinz…Aboubakar, perdão, foi expectável pela correria do colombiano e a necessidade de o poupar para o importante jogo em Bilbau. Three for three, mister.
(-) Esta equipa não está pronta para jogar sem bola. Olhem para o meio-campo do Nacional. E pensem que tiveram 39% de posse de bola durante este jogo. Uma cambada de ogres prontos para demolir muros de castelos medievais que tiveram o privilégio de poder trocar a bola entre si durante largos minutos em pleno relvado do Dragão. Enquanto o jogo decorria. Com o FC Porto a gerir, atrás da bola. Mas agora alheiem-se desse facto digno de figurar em livros do fantástico e olhem para a constituição do meio-campo do FC Porto. O equivalente do Walter a jogar na posição 6/8/whatevs, somando-se dois elementos que levam o cagataquismo a um nível olímpico, pressionando em zonas estranhas (a sério, Óliver, onde RAIO andavas tu a correr naquele meio-campo se raramente chegavas perto do Ghazal e Cª?!) e incapazes de colocar entraves a jogadores que podiam pegar neles e arremessá-los pelo ar para o Fabiano, sem que fosse sequer marcada falta nem mostrado amarelo. Com a bola, génios. Sem ela, meninos.
(-) Alex Sandro. Deve haver uma regra não-escrita que só um lateral do FC Porto pode estar a jogar em condições de cada vez. O outro é relegado para um papel subalterno, um círculo muito especial do inferno por si criado, onde as invenções se sucedem sem sucesso, onde as falhas são ampliadas como um outdoor com a palavra FAIL em grossas letras negras, onde os passes saem tortos e as intercepções mal medidas. Não estás a ter uma boa época, Alex.
Mais uma jornada sem sofrer golos e com tantas ocasiões criadas que o resultado parece curto. Façam o mesmo na quarta-feira, rapazes.