Ouve lá ó Mister – Benfica

Señor Lopetegui,

Anda um gajo todo o ano à espera deste jogo, Julen. Um ano de misérias ou fortunas, de tristezas ou alegrias, de tanto que nos traz o entusiasmo de uma vida que pode ser mais ou menos efusiva mas que se coloca em perspectiva perante estes noventa minutos que se jogam no nosso estádio, com a nossa equipa, perante o adversário mais imponente que se nos coloca pela frente e que em situações tradicionais é um dos mais complicados de abater. E não tenhas dúvidas, por muito que o histórico recente nos dê um favoritismo tranquilo, a estatística é atirada para um canto e o jogo, quando começa, é de tripla. É sempre de tripla. Sempre.

Ninguém está à espera de um jogo de futebol agradável hoje à noite no Dragão. Garanto-te, do fundo do meu coração que se aperta tanto desde que a bola começa a rolar naquele relvado, que não haverá uma alma naquele hino à arquitectura moderna que pense que o jogo está a ser fraquinho e que o futebol praticado deveria ser mais consonante com o talento que está disposto em campo. A malta quer é ganhar. Pode ser por um-zero, por dois, três, quinze, o resultado é pouco importante nestes momentos. O que o povo portista te pede é que ganhes, ou que quando muito tentes ganhar. Nuances tácticas, movimentações de meio-campo bem conseguidas, incursões pelos flancos, remates de longe, tudo fica muito lá no fundinho quando pensamos no que será poder arrumar com estes gajos em nossa casa e sair do estádio com um sorriso de uma orelha à outra a dizer: “Hoje estes cabrões não passaram!”. Dá-nos a oportunidade de passar a semana a falar do jogo, a reviver todos os momentos como se um video estivesse a rodar sem parar no interior dos nossos cérebros. Imagina-nos felizes, com os “bragging rights” que deteremos com a emoção e alegria imensa de podermos dizer, de punho cerrado a bater no peito, que vencemos. Quem marcou? Não sei, mas vencemos. Foi um bom jogo? Não sei, mas vencemos. Houve lesões? Não sei, mas vencemos.

Venceremos. Venceremos, raios me partam, venceremos. E está tudo nas vossas mãos. Força, rapazes.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – FC Porto 1 vs 1 Shakhtar Donetsk

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Um ambiente pacífico, relaxado e de bom convívio, a fazer lembrar saudosas noites das Antas, que enchiam de espaço vazio com a visita de um qualquer Famalicão, viveu-se hoje no Dragão. Um jogo tranquilo entre duas equipas com muito pouco a ganhar e ainda menos a perder, de onde se retiram três notas importantes: Ricardo a dizer que não está aqui só para jogar na B; Aboubakar a mostrar que de vez em quando um ou outro remate fora da área até podem dar jeito e Ruben Neves que começou cedo a tramar os joelhos. Vamos a notas:

(+) Ricardo (Pereira, ou “2”). Pezinhos de veludo, fibra nas bolas divididas e um bem-estar geral que contagiou o público e encorajou a equipa. Foi assim que Ricardo (Pereira, que isto de ter tantos Ricardos num plantel devia dar para aquelas palhaçadas à 80s do Ricardo 2 ou 3) se mostrou mais uma vez numa posição que não me agrada mas onde conseguiu uma excelente exibição. Preferia vê-lo como extremo, em alternativa a Tello ou Quaresma, mas compreendo que perca para os “nomes”, pelo menos por agora. Ainda assim, admito que se está a adaptar bem à posição e não é por ser magricelas que não lutou até não poder mais, interceptando bolas em zonas subidas, investindo pela lateral e jogando sempre em alta velocidade e intensidade, mostrando a Lopetegui que pode contar com ele e mandar Opare para outro lado porque este está cá para ficar. A não ser que saia em Janeiro, claro.

(+) O golo de Aboubakar. Vincent, meu filho, as redes ficam caras e se continuas com essas parvoíces vamos ter de te tirar o dinheiro para as arranjar direitinho do teu ordenado. Estamos entendidos? Que volte a acontecer, ouviste?

(+) A resposta das segundas linhas que podiam ser primeiras. Gostei de Evandro no meio-campo, menos nervoso e mais prático que da última vez que o vi. Falta-lhe um pouco mais de audácia para subir no terreno como Herrera (eu, a elogiar Herrera. eu. vejam lá que a meio do jogo cheguei a dizer que o homem fazia falta para impôr ritmo naquele meio-campo. vou ao médico em breve, garanto) mas precisa de mais jogos, mais confiança; Ruben muito bem até à lesão (recupera rápido, puto!), Quaresma sem problemas em arriscar e a subir no terreno com o apoio dos colegas, apesar de algumas jogadas escusadamente “Quarésmicas”; Marcano a jogar fácil na defesa e a servir como tampão no meio-campo, a mostrar que na Europa pode ser muito útil em jogos de mangas arregaçadas e dentes cerrados; Fernández bem nas saídas da baliza com a cabeça e com os pés; Aboubakar a trabalhar muito sem conseguir ser produtivo, muito por culpa de Juanfer Quintero que hoje não estava para ali virado. Há ali alternativas no plantel e não sendo titulares de caras, podemos rodar algumas peças sem que se ouçam muitos riscos na agulha.

(-) Maicon. No jogo em Lviv, falei de Maicon assim: “Maicon chegou ao jogo contra o Boavista como um dos jogadores em melhor forma no plantel, imperial na defesa, perfeito no corte, tranquilo em posse e sem parvoíces de maior a apontar. E depois…foi expulso no Dragão por uma entrada idiota e hoje fez uma rosca à Maurício que ia dando auto-golo e cortou a bola para os pés do avançado do Shakhtar, dando origem ao 2-0.“. Hoje, o regresso do…aham, capitão foi marcado por mais uma avalanche de imbecilidades que fariam Stepanov corar de vergonha. Lento demais em posse, tremido no passe curto e absurdo no longo, foi mais um jogo que marca a diferença entre o Maicon de início de época e a contínua saga do careca que por ali anda a oferecer bolas aos avançados. Continua a facilitar em demasia nos jogos “fáceis” e faz com que comece a pensar em dar mais uma oportunidade a Reyes ou a primeira a Lichnovsky.

(-) Adrián. Uma simples frase: Bolatti conseguiria passar por ele em passo lento. Meu Deus, rapaz, se nem neste jogo, onde podias mostrar mais serviço, te dignas a mexer as pernas, não vejo como é que vais ganhar lugar na equipa. Nem tu, ao que parece.

(-) Quintero. O meu bobblehead preferido continua a não conseguir ganhar pontos em relação ao mais-que-provável dono do lugar na equipa principal (Óliver) porque é tão evidente a diferença de ritmo entre os dois como se estivéssemos a comparar Cristiano Ronaldo com o homónimo brasileiro em 2014. Lento, incapaz de se movimentar em condições para criar espaços no meio-campo e com pouca desenvoltura sem o apoio de Evandro. E Ruben. E depois Marcano. Não deve ter precisado de tomar banho, porque pouco fez hoje à noite.


Duas alemãs, uma suíça, uma italiana, uma francesa e…*suspiro*…duas inglesas. Venha qualquer uma das seis primeiras, por favor.

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Ouve lá ó Mister – Shakhtar Donetsk

Señor Lopetegui,

Não há nenhum portista que queira perder um jogo, seja para que competição for. Mesmo aqueles atrasados que no ano passado (e em tantos outros “anos passados”) desejaram que o FC Porto perdesse para o treinador ir para a rua ou seja lá que inane objectivo a que algumas almas se vão propondo no normal decurso das suas infelizes vidas cheias de fel e ódio e má disposição generalizada…mesmo esses, acredito que lá no fundo sabiam da estupidez que estariam a proferir nesse momento. E os que o desejam, ou são outra estirpe de portistas menos de acordo com o que é habitual chamarmos de “ser humano” ou de “gente racional”, merece ser enforcada pelos tomatinhos até chorarem lágrimas de sangue.

Este intróito menos agradável está aqui por um motivo: em relação ao jogo de hoje, digo-te isto com todas as letras: no one cares. Mesmo. Certo, a malta quer sempre ganhar e nem sequer pensa que um empate possa ser um bom resultado no último jogo da fase de grupos, quando podemos bater um dos nossos recordes de pontos nesta etapa das competições europeias ou seja lá qual é o recorde que podemos atingir. Mas nós somos o Ronaldo, sempre à busca do próximo alvo estatístico a abater? No. One. Cares. Mesmo.

O que a malta se importa mesmo é pelo jogo de Domingo. Esquece todas as rivalidades Real vs Barça em que estiveste mergulhado nos últimos anos, porque te posso garantir que isto chega perto se não a ultrapassa. Hoje vem ao Dragão o Shakhtar, rei da Ucrânia, senhor feudal de todos os brasileiros decentes agora a jogar no estádio emprestado de Lviv, penta-campeão em título do campeonato lá do burgo…e toda a gente vai estar a pensar no jogo de Domingo. Por isso o que esperamos do jogo de hoje? Zero lesões, uma exibição agradável, nada de extraordinário, não perder para deixar este grupo para trás sem a mácula de uma derrota caseira…mas acima de tudo preparares os rapazes mentalmente para o que aí vem. Bom jogo. No pressure!

Sou quem sabes,
Jorge

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El capitán en los tiempos que corren

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Não houve Jardel sem ter havido um Capucho ou um Drulovic. Não teria havido Falcao se não tivesse co-existido com um Hulk ou um Moutinho. E não há um Jackson sem um Tello, um Quaresma ou um James. Ou há?

Jackson tem sido um dos melhores avançados da nossa Liga desde que cá chegou e está este ano a ser igualmente um dos avançados mais profícuos em toda a Europa. E é em grande parte graças aos seus golos que conquistámos o primeiro lugar na fase de grupos que amanhã fecha no Dragão. Por cá, a vida de Jackson continua a ser polvilhada por uma tremenda sucessão de golos, com 77 em 114 jogos (0,67 golos/jogo, ou seja, cerca de dois golos em cada três partidas), o que não atingindo os quase miraculosos números de Jardel (uns extraordinários 0,96 golos/jogo) ou Falcao (com uns não menos impressionantes 0,82 golos/jogo) acaba por ser uma marca incrível de um jogador que já chegou a ser contestado de uma forma absurda por tantos portistas. Mas Jackson dá um pouco mais à equipa que Falcao e bem mais que Jardel. Para lá das notáveis capacidades como “poacher”, é a forma como volta atrás depois de perder uma bola, como recupera defensivamente para tapar os buracos deixados pelos colegas ou pressiona o último jogador para tentar fazê-lo perder a bola tão depressa como a recebeu. É a inteligência na posse de bola e a capacidade tremenda de a controlar em situações complicadas, sempre parecendo que não está a dominar o lance mas sempre com a presença de espírito de saber onde estão os colegas, de perceber o melhor timing para largar o esférico ou entender se a deve manter mais algum tempo nos pés.

Jackson é, neste momento, tão importante para a equipa como sempre foi e parece estar a liderá-la em campo com autoridade e espírito de conquista. Só precisa de aprender a marcar penalties. Se fizesse isso bem não havia ninguém a dizer mal dele. Dentro ou fora.

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Baías e Baronis – Académica 0 vs 3 FC Porto

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É assim que todos os jogos do FC Porto deviam ser, pelo menos contra este tipo de equipas medíocres. Uma entrada fortíssima, sem mácula, com pressão intensa, golos fáceis e uma autoridade em campo que não mostra um mínimo de preocupação com a moral ou a capacidade de recuperação adversária. Jogar como os grandes que somos, no fundo. Dois ou três golos depois, a gestão, sempre com bola, com rotação de jogadores e manutenção de uma atitude de arrogância positiva, continuamente a criar perigo para a baliza contrária. Simples, não é? Foi, por nossa culpa. Vamos a notas:

(+) Um meio-campo que funcionou muito bem. A numerologia pode explicar muita coisa, desde os calendários Maias às cartas do professor Mambo, mas o meio-campo do FC Porto foi hoje um exemplo quase perfeito que a escolha de camisolas parece seguir uma inspiração divina que faz com que questionemos a raiz da nossa existência e o nosso lugar no Universo. Para lá do sentido da vida ser 42, como todos sabem, vejamos os números dos três centro-campistas que hoje alinharam em Coimbra com as nossas cores: 16, 30 e 36. Se Ruben Neves arrancou numa posição mais recuada, somemos Óliver à construção defensiva e teremos 36+30=66. Dois números “seis”, portanto, a alternar na combinação defensiva. Se colocarmos o outro 16 a passear ali pelo lado, o “seis” parece uma visão idílica que nunca aparece ao mesmo tempo que se mostra perfeito, em zona pouco criativa mas muito trabalhadora. E se tirarmos Óliver a Ruben e o deixarmos sozinho, 36-30=6, que ele não é mas mostra gostar de fingir ser. Mais pela frente, se subtrairmos Herrera a Ruben e subtrairmos esse número também a Óliver, quando o homem volta para apoiar, temos 30-(36-16)=10. O dez perfeito que também não existe mas que se compõe das ausências e presenças na zona certa, no momento certo. Todos a funcionar, a adicionarem-se e a subtrairem-se, como números em folhas de papel, manuseados por um Deus de lápis em riste. Só faltou um: o 6. Para a semana, talvez.

(+) Óliver. Impecável na zona defensiva em apoio à primeira fase de construção, perfeito na labuta do centro do terreno e trabalhador como poucos na altura de pressionar o adversário, parece estar a atravessar um bom momento e a jogar com a confiança que esperávamos desde o início da temporada. Excelente capacidade técnica, toque de bola de primeiro nível e uma inteligência táctica acima da média fazem dele titular na frente de Quintero e uma peça essencial do estilo de Lopetegui. Excelente jogo.

(+) Jackson. Dois golos perfeitos, um com cada pé, numa exibição que foi quase perfeita em termos de eficácia em frente à baliza. Trabalhou bem e apesar de não ter tido grande impacto no resto da partida, foi ele quem resolveu o jogo logo desde muito cedo e a perfeição com que aquele segundo remate (e segundo golo) entrou na baliza é uma obra de arte que deve ser vista, revista e trevista. Genial, filho do Jack, genial.

(+) O apoio dos adeptos. Quando se colocam bilhetes a dez euros para um jogo a uma hora de viagem de carro da Invicta, é natural que a malta alinhe e este foi um caso paradigmático do que se quer sempre que o FC Porto se desloque a um estádio para praticar o seu métier. Todo o jogo se ouviram os adeptos a cantar, a afastar o frio enquanto saltavam e entoavam os tradicionais cânticos de apoio à equipa e aos jogadores, aqueles que fazem a razão do nosso apoio e da nossa dedicação. Tive pena de não ter estado ali no meio dos nossos, parabéns, malta!

(-) Brahimi. Segundo jogo consecutivo em que Yacine não parece o mesmo de aqui há umas jornadas, o que não sendo algo que me deixe prostrado em posição fetal a lamentar os infortúnios das decisões dos deuses, chega para preocupar um bocadinho. Parece mais lento, menos activo, a complicar mais do que decide e sem perceber qual a melhor maneira de passar pelos adversários. A genialidade tem disto, quando a lâmpada não se acende por cima da sua cabeça naquela imagética tão tradicional dos desenhos animados…só sai borrada. Espero tempos melhores, rapaz, mas não te preocupes, ninguém deixou de acreditar em ti. Até os relógios normalmente certos podem parar de vez em quando.

(-) Académica. Muito, mas muito fraquinho. A entrada em jogo fazia prever uma estratégia tão defensiva que temi o pior caso não conseguíssemos trabalhar a partida de forma a mostrarmos em campo que somos melhores, e a forma como a Académica não ter obrigado Fabiano a fazer uma única defesa em condições num jogo disputado no seu próprio estádio é a prova que não há grande qualidade em Coimbra para lá de meia-dúzia de estudantes bem boas e alguns bares porreiros. Enfim, ebbs and flows da vida.


Jogo ganho, amarelados em risco que deixaram de estar em risco para o jogo contra o Benfica…all is well, venha o Shakhtar!

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