Baías e Baronis – FC Porto 3 vs 0 Belenenses

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Marcar cedo, gerir, ampliar o resultado se possível e não sofrer golos. É uma receita que se apresenta como base para a vastíssima maioria dos jogos de uma equipa grande a jogar no seu terreno e que o FC Porto cumpriu com alguma inteligência e a jogar com calma suficiente para estar confortável sem grandes chatices. Entrámos muito bem, com a dinâmica que se pede sempre, marcámos cedo e depois do arranque da segunda parte…a acalmia que nos idos tempos de Sir Bobby daria um treininho após o jogo. Mas em Janeiro de 2015, especialmente com a quantidade de jogos que ainda vamos disputar este mês, não me preocupou muito que deixassem o tenrinho Belenenses brincar durante dez minutos. Só tornou o jogo um bocado mais entediante, apenas isso. Vamos a notas:

(+) Danilo e Ángel. O brasileiro falhou muito mais passes hoje do que é normal, mas a forma férrea com que se tem vindo a mostrar de início ao fim do jogo, com constantes pedidos pela bola, a subir pelo flanco aos 80 e muitos minutos de um dos jogos mais fáceis do ano como se estivesse a vida e o futuro em campo…dá gosto. E ainda tentou um remate cruzado que quase dava golo. Continua a ser um dos jogadores em melhor forma no plantel. Já o espanhol esteve solto, prático, afoito nas subidas e sempre disponível para ajudar o colega à sua frente. Não tendo sido um jogo excelente de qualquer um deles, foram determinantes na postura ofensiva com que enfrentámos o Belenenses.

(+) A primeira parte de Herrera. Excelente nas movimentações, na forma como tentou tantas e tantas vezes rasgar a defesa do Belenenses com diagonais no espaço entre o lateral esquerdo (a posição, não o blog) e o central desse lado que comecei a pensar que afinal o adversário estava a jogar a menos. Gosto mais de ver Óliver a recuar para pegar no jogo e quando isso acontece, olhem para Herrera e para a forma como se orienta em campo à procura do espaço, ou sprinta para a posição certa. Está a correr tanto como ano passado, mas com uma mentalidade mais prática e mais activa. Baixou (muito) de produção na segunda parte.

(+) As tradições que (ainda) se mantém. Já é um hábito de tantos anos ver o Belenenses a entrar com a bandeira do FC Porto no nosso estádio que nem considero a hipótese de se perder esta bonita tradição. E é também disto que o futebol vive, destes pequenos nadas que no fundo ajudam a construir as imagens de uma vida, as homenagens aos antigos, à alma que nos dá esta clubite de que não se morre mas com a qual se vive. Palmas, amigos.

(-) Certo, podem descansar…mas não tanto, rapazes! Depois do segundo golo…se olharem bem quase que conseguem ver o corpo de Herrera a relaxar, numa espécie de Robocop a entrar na docking station em plena estação de polícia (Weller ou Kinnaman, escolham o que mais gostarem), tal foi o relaxamento que se apoderou dele e de tantos outros quando o jogo ficou quase cem por cento fora do alcance do adversário. E compreendo, como sempre o fiz, quando a equipa tem uma sobrecarga no calendário e se está a tentar precaver para não ficar sem gás daqui a umas semanas, mas aborrece-me a falta de discernimento para manter a bola e ao mesmo tempo estar atento ao jogo. É certo que o Belenenses oferecia tanta resistência como um cubo de gelatina, mas há alturas em que penso que a mente de um jogador de futebol tem duas velocidades: activo e morto. Enfim, nada que não esteja habituado e nada que me vá fazer gostar mais ou menos da equipa, mas houve ali 25/30 minutos na segunda parte que só serviram para passar tempo. Ao frio. Com fome. Meh.

(-) Belenenses. Uma equipa que apanhe sete num jogo a meio da semana apresenta-se naturalmente instável no próximo jogo. Somem a falta de vitórias na Liga desde Novembro e temos a receita para uma formação sem vontade de ganhar, com medo na zona defensiva, ausência de pressão alta para não arriscar o mínimo e uma aversão ao risco maior que uma freira de clausura com um cinto de castidade. Se o FC Porto quisesse tinha tentado enfiar mais que sete. Ainda bem, para eles, que não quisemos


Objectivo conquistado, o mesmo que deve ser o alvo de cada jogo: três pontos. Mantivémos a pressão sobre o Benfas e distanciámo-nos dos restantes. Nada mau para um sábado à noite fresquinho.

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Ouve lá ó Mister – Belenenses

Señor Lopetegui,

Aqui há uns anos valentes, num frio final de tarde na Cidade Invicta, convidei um amigo para se juntar a mim e partilhar do maravilhoso espectáculo que é um jogo do FC Porto em casa. Enquanto nos deslocávamos para o estádio que ficava um pouco mais a norte quando comparado com a tremenda realização arquitectónica onde hoje vou estar, já depois do tradicional café pré-match que degustei com prazer no habitual avant-tasco, o homem, na altura mais jovem e menos ciente da facilidade com que as superstições se entranham na nossa alma e nos furam o bem-estar e a moral, mencionou que tinha acabado de chegar de Lisboa e que trazia, em homenagem ao jogo de hoje, um pacotinho de pequenos pedaços de céu que são confeccionados numa pastelaria lá perto do estádio do rival do dia. Uma caixa de pastéis de Belém, se ainda não percebeste, e olha que só perdes se não experimentares pelo menos um. Quentinho. Com canela em cima. Uff.

No arranque da partida, já depois de vermos a tradicional entrada dos rapazes de Belém com a bandeira do FC Porto nas mãos a cumprir a tradição histórica que tanto me apraz (bem como a nossa própria versão, com a coroa de flores sempre depositada no memorial a Pepe, lá em baixo à beira-Tejo), toca de abrir o pacote, sacar de lá duas unidades dessa ambrósia de massa folhada, e com um brinde que surpreendeu os colegas da bancada central das Antas, celebramos o facto de estarmos vivos e de podermos assistir a mais uma partida do nosso clube em tão boa companhia.

O jogo, esse jogo, em Janeiro de 2001, terminou com um empate a zero. Continuamos amigos e já partilhamos a bancada várias vezes, em acesos comentários ao jogo e discussões intensas que a amizade, como o tempo, não faz esmorecer. Mas nunca mais quero ouvir falar de pastéis de Belém. Pelo menos em dia de jogo. Faz com que hoje não seja um dia que me faça esquecer essa tão agridoce memória. Hoje, é para ganhar, mais uma vez. Com ou sem pastéis.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – Gil Vicente 1 vs 5 FC Porto

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Se é verdade que a expulsão de Jander (sem espinhas, questionável apenas o critério de todos os árbitros que nunca são pedagogos o suficiente para acalmar os meninos enervados) fez com que o jogo se desequilibrasse em grande, não é menos verdade que a nossa equipa colocou hoje em campo todo o talento e a capacidade de criação de jogadas ofensivas que andamos a clamar há algum tempo. E a facilidade com que a bola chegava à área em situação de perigo era tão grande que nem o jogador a menos explicava tudo. Há ali muito talento e com algum trabalho (como hoje em que a equipa não desacelerou mesmo a ganhar por vários golos de diferença) tudo chega a um final feliz. Vamos a notas:

(+) Óliver. Para lá do golo, que é um deleite só de observar em qualquer estádio do mundo, é a forma como se mostra sempre disponível no meio-campo para receber a bola de Casemiro ou Herrera e procede a construir o resto das jogadas, seja com passes curtos ou longos, com rotações naquele baixíssimo centro de gravidade que aproveita tão bem, ou com assistências cruzadas com a tradicional conta, o perfeito peso e a adequada medida. Parece adaptado a jogar neste nosso campeonato onde há pancada a mais e jogadores a menos e onde Óliver, pelo talento e capacidade técnica, se destaca bem acima de tantos outros. Jogas tanto, puto.

(+) Herrera. Bom jogo do mexicano, activo na construção e no último passe, excelente na movimentação no meio-campo e com boa visão de jogo para discernir qual o melhor colega na melhor posição para receber a bola. Alguns remates por cima não mancham uma exibição acima da sua tradicional média de “corro muito mas corro mal”, porque hoje correu muito, como de costume, mas quase sempre bem.

(+) Brahimi. Bem melhor do que tinha vindo a mostrar nos últimos jogos, este que foi o último jogo do argelino durante um mês e coiso foi uma boa mostra do que é capaz de fazer quando está num dia simpático. Raramente ultrapassou adversários em corrida como fez em Setembro e Outubro, mas a forma como combinou com Óliver e Alex Sandro fizeram dele um jogador quase impossível de controlar por parte dos lenhadores Móticos do outro lado. Vai fazer falta, especialmente se Tello continuar naquela tentativa infrutífera de se tornar noutro extremo que não deixa saudades no Dragão.

(+) Os (muitos) golos. Um remate de fora da área; um calcanhar de um defesa central; uma finalização à ponta-de-lança por um homem que não é ponta-de-lança, depois de um bom cruzamento da linha; uma jogada de entendimento perfeita concluída com uma bola picada por cima do guarda-redes; um lance individual em que o avançado recebe a bola longe da baliza, de costas, roda em corrida, tira o central do caminho e remata cruzado em arco para as redes. Houve de tudo, todos eles com qualidade. E a mostrar que temos muitas soluções para chegar ao golo. E podiam ter sido muito mais, não fosse o animal do Adriano estar em dia sim, como de costume.

(-) Tello. De zero a cem, teve vários zeros e zero cens. Zero dézes, raios. Zero de capacidade de controlo de bola, zero no 1×1, zero no remate, zero na inteligência no passe, zero nas assistências. Um jogo completamente ao lado do espanhol, que saiu tarde demais para um Quaresma que foi muito mais astuto, mesmo a jogar a passo.

(-) Casemiro, até ao golo. Na altura do petardo que deu o nosso primeiro golo, estava a pensar para com os meus…espera, não tenho botões hoje…para com o meu zipper do hoodie que visto: “já me começavas a explicar para que é que serves, Casemiro, se não fazes um passe em condições, se adiantas demais a bola e és tão lento que não a consegues controlar e se fazes falta sempre que divides um lance com um adversário…hás-de me dizer para que é que serv…”, e o moço espeta aquele balázio. Foi o que lhe valeu.

(-) A contínua saga das equipas do Mota. Paulada ao nível de limpeza de manifestações em Pequim, jogadores que se interessam sempre mais pelo adversário do que pela bola, trinta corridas para a frente e uma perspectiva incessantemente defensiva do jogo. É isto que temos sempre que José Mota pega numa equipa. E continua a pegar, vá-se lá saber porquê.


Trabalho bem feito numa noite fria em Barcelos. Cinco galos no forno, uma boa exibição e acima de tudo a luta por todas as bolas e o não parar depois de quatro ou cinco golos lá dentro. Gostei.

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Ouve lá ó Mister – Gil Vicente

Señor Lopetegui,

Começar bem o ano é sempre algo que a nossa cultura preza a níveis estratosféricos. A malta faz de tudo para puxar aqueles imaginários cordelinhos com o fulano lá de cima ou, dependendo da fé de cada um, com as forças que regem o nosso dia-a-dia. Há os que comem passas, os que inventam tradições, os que se põem de pé em cima de uma cadeira, os que brindam demais, os que não querem brindar sem ser com copos que possam partir, os que fazem promessas que têm toda a força e empenho para cumprirem (“mas só uma vez também não faz mal, continuo a dieta amanhã”, desse tipo) e os que vão à missa no dia 1, mesmo ressacados.

Eu tenho outro tipo de esperança no arranque de cada ano novinho em folha, a estrear: que seja melhor que o ano passado. E tu, que só cá estiveste desde Julho, não sabes o que a primeira metade de 2014 nos trouxe e que não queremos voltar a ter. E o arranque do ano transacto em termos de jogos para o campeonato foi uma miserável derrota na Luz, com uma exibição que mostrou tudo o que correu de mal durante toda a época. Não queiras, por favor, que o entusiasmo daqueles maravilhosos vinte e três mil que anteontem encheram as bancadas do Dragão se deixe perder no marasmo de uma apresentação frouxa e banal em Barcelos. Faz com que esses e outros vinte e três mil (e mais uns pozinhos) fiquem em pulgas pelo próximo jogo do FC Porto e mal possam esperar para ver a equipa a jogar de novo.

Entusiasma-nos, Julen. Faz com que 2015 seja de novo um ano de Dragão orgulhoso e vitorioso. Tens o meu apoio. Tens o apoio de todos, desde que trabalhem para isso. Acreditamos em vocês!

Sou quem sabes,
Jorge

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