Ouve lá ó Mister – Basileia

Señor Lopetegui,

Em primeiro lugar, os meus parabéns por teres atravessado esta fase complicada da época com várias vitórias e sem sofreres golos. Era muito importante manter a moral dos adeptos em alta (a dos jogadores também, neste eterno circuito realimentado que é o adeptismo de futebol) e tu e os teus rapazes conseguiram com boa nota. Um B+, vá, pelo futebol jogado e pela solidez defensiva, mas tens de corrigir a ineficácia e as entradas em jogo nos próximos tempos para que possas subir para o A. É daquelas parvoíces das notas “motivadoras” que tantos professores meus usavam no secundário e que só motivavam a que um gajo lhes quisesse rebentar com um pneu do carro quando estivessem a sair ao final do dia.

Mas hoje, basta jogar o que tens vindo a fazer. Digo “basta” porque o Basileia é uma equipa lutadora mas não podemos pensar que nos chega aos joelhos. Chega aos calcanhares, caso contrário não estaria aqui prontinha a ser considerada uma das oito melhores da Europa em 2014/2015. No entanto, com a devida vénia ao trabalho do Paulo Sousa, nós temos mais futebol, mais arte e bem mais saber. E que saudades temos nós de chegar a esta fase, depois daquele tiraço do Ronaldo me ter tirado todo o ar que tinha nos inchadíssimos pulmões, ainda cheios a seguir ao brilharete em Old Trafford, onde o Mariano e o Cebola foram tão grandes e depois…aquele genial estupor lá nos roubou a hipótese de voltar aos quartos de final. Agora, o Mariano joga na segunda divisão argentina (vê aqui se não acreditas) e o Cebola anda a raspar o guito aos gajos do Parma para ver se saca algum antes de se pisgar para o Brasil. Dessa equipa só sobra o rapaz de luvas ao teu lado, já viste como os tempos mudam tão depressa? E tu podes ajudar a que os nomes fiquem marcados na nossa memória ao mesmo tempo que crias novos nomes para uma história sempre renovada.

Hoje à noite, Julen, tens hipótese de te colocares na história do clube. Nada mau para quem cá chegou há uns meses, heim?

Sou quem sabes,
Jorge

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Não é a tua grande oportunidade. Mas é uma oportunidade.

Porto's Aboubakar celebrates his goal against Shakhtar Donetsk during their Champions League soccer match in Porto

Meu caro (3 milhões por 30% do passe) Vincent,

Falo pouco contigo, rapaz. Dei-te uma palavrinha aquando do jogo contra o Shakhtar, quando tentaste acertar num rapaz qualquer que estava na Superior Sul do Dragão mas onde a maldita baliza te apareceu pela frente e te tramou a pontaria. Vá lá, deu golo, mas eu não acredito que tivesses marcado um golaço desses e que ninguém pareça recordar-se disso para lá do obscuro arquivo de meia-dúzia de fanáticos. Enfim, coisas da história de um clube que, habitua-te, tem sempre destes infortúnios.

Não temos um histórico muito vasto de goleadores africanos. Vasto em termos de número, porque em valia tivemos um argelino aqui há umas décadas que até foi jeitoso e marcava golos de costas e tudo, se conseguires imaginar. Mas quando comparado contigo era um poucochinho diferente a nível de…bem…quase tudo. Tu és um calmeirão, um gentil gigante, um armário de força e alguma técnica (já me lembro da tua “rabona” aqui há umas semanas, nada mau) e uma seta apontada à baliza contrária, ao passo que o outro moço era…bem, era só aquilo que todos sabemos. E provavelmente nunca conseguirás jogar como ele, mas também quem é que diz que todos os jogadores têm de imitar um antecessor? Cada um tem as suas mais-valias, o seu nível e a sua capacidade que colocam em campo ao serviço da equipa e tu não serás diferente. Pareces-me um gajo voluntarioso, cheio de altruísmos e simpatias. Lembro-me do teu gesto, oh se me lembro, logo num dos primeiros jogos em que entraste e onde o Quaresma te deu a marcar o golo da vitória (terá sido em Vila do Conde?) e tu procedeste a celebrar junto dos adeptos, sempre a apontar para o colega que te passou a bola, perfeitamente ciente do mau momento que o rapaz passava nos media e, quiçá, até no balneário. Fizeste logo amigos nas bancadas e na televisão, Vincent, não tenhas dúvida. E já agora, desculpa lá, mas isso do Vincent tem de acabar. Aqui serás Bincent. Sempre Bincent que os Vs são só para vitórias sem aves pelo meio.

A malta tende a comparar-te ao Quinzinho. Eu sei, é uma parvoíce e até eu já caí nessa desgraça. Sabes que para os trintões como eu, a imagem do angolano é difícil de apagar e o nome tornou-se um adjectivo ao longo dos anos, usado e abusado para qualificar qualquer jogador da tua raça que tenha a tua raça. Redutor, eu sei, mas não censures o povo pelas parvoíces de uma vida. É malta simples que não sabe ser de outra maneira e não o faz por malícia nem ódios, apenas por força de hábito. E olha que o Quinzinho até ficou bem visto por cá, apesar dos poucos golos que lá ia marcando.

Seja como for, tens agora alguns jogos para mostrar trabalho durante mais que os infelizes 15/20 minutinhos que foste acumulando grão após grão, quando o Jackson deixava de ter pernas para tudo ou quando era preciso outra arma lá na frente. Agora, durante alguns jogos, essa arma serás tu. Diria que o Gonçalo também tem uma palavra a dizer, mas é curtinha e ferida pela inexperiência que tu, titular da tua selecção das camisolas justas e futebol com perfume, já podes jogar com o resto das fichas. Mostra-me lá o que vales, marca uns golinhos e ajuda o teu novo clube. Para o ano, quando fores aposta para arrancar de início, já podemos saber melhor com o que é que podemos contar.

Força, puto. Estamos a contar contigo.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – Braga 0 vs 1 FC Porto

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Um jogo tramado contra uma equipa tramada cheia de jogadores tramados num estádio tramado. Se disser “tramado” mais uma vez pode ser que ganhe uma raspadinha. A verdade é que não houve tantos tramados como se imaginaria, ou se houve foi por culpa própria. Sim, o Braga corre muito. Claro, o Braga é rijo. Óbvio, o Braga joga em contra-ataque. Mas não correu assim tanto. Não foi assim tão rijo. Quase não contra-atacou. O que sobra do jogo? Uma vitória arrancada com (mais) um golo em 1×1 de Tello, a lesão de Jackson e a percepção que os rapazes estão com ganas de continuar mas continuam com pouca imaginação na altura de criar lances ofensivos. Vamos às notas:

(+) Casemiro. Às vezes é preciso jogar assim. Duro no contacto físico e certeiro no controlo da zona central, onde Pedro Tiba (um cabrãozinho que dá vontade de esbofetear até ficar com a mão em sangue, bem como Pedro Santos. Qualquer Pedro que jogue no Braga, pronto) e Danilo se dispunham como unidades mais agressivas e que Casemiro ajudou a tapar. Não esteve tão bem contra Ruben Micael (e não imaginam o quão estranho é escrever esta frase) mas foi acima de tudo pela inteligência nos últimos minutos que o brasileiro brilhou. Sacou pelo menos três faltas a jogadores do Braga, no equivalente centro-campista da dupla lateral+extremo na linha à espera que os minutos passem, ganhando lançamentos atrás de lançamentos. Às vezes é preciso jogar assim. E Casemiro, hoje, fê-lo na perfeição.

(+) Marcano. Certinho, direitinho, eficaz, prático…é o central perfeito para acompanhar um outro que seja líder. Maicon não o é e nunca o será porque é demasiado falível em lances fáceis (hoje esteve bem, com uma ou outra falha pontual que não deixaram preocupação) e o exemplo de Marcano parece sair direitinho do manual “Como ser Aloísio em dez simples lições”. Impecável no corte, sem inventar no passe e acima de tudo a transmitir uma tranquilidade que faz com que seja o central número um nas escolhas de Lopetegui. Ou nas minhas, pelo menos.

(+) Tello. Esforçado e eficaz. Quem vir este Tello e fizer uma comparação com o mesmo fulano que usava o mesmo número na camisola aí por volta de Setembro/Outubro arrisca-se a sofrer uma lesão na espinha tal é o efeito de chicote que receberá na base do pescoço. Este Tello é que devia ter andado por cá desde o início do ano, um Tello que não desiste, que vai às bolas todas, que arrisca e que não se atemoriza perante um ou cinco defesas. Um Tello que se atira para cima do defesa no 1×1 e que aparece em frente ao guarda-redes e não se atrapalha todo como fez tantas vezes no arranque da temporada. Este Tello pode ficar. O outro pode voltar a Barcelona.

(-) Herrera Já não sei que te dizer, rapaz, mas começo a ficar preocupado. Das duas uma: ou vais ao médico e queixas-te que há qualquer tipo de narcolepsia hiper-temporária que se apodera de ti durante os jogos, ou eu vou telefonar ao Casemiro e faço com que ele ande com uma daquelas varetas que dão choques ao gado para ver se te assusto o suficiente ao ponto de acordares. Demasiadas bolas perdidas pela assustadora lentidão com que executa e pensa o jogo, demasiados passes falhados, demasiadas vezes em que me apeteceu gritar para o despertar daquele torpor que tanto me enerva. Se o Speedy Gonzalez é mexicano, tu deves ser o estupor do arqui-inimigo dele. O Slowy Herrera ou qualquer merda parola do género.

(-) As saídas aéreas de Fabiano. Se o rapaz já vai em seis jogos consecutivos sem sofrer golos em competições nacionais, deve uma enorme caixa de chocolates e uns ramos de rosas aos seus defesas. Não sendo o zénite da eficácia defensiva mundial, a linha defensiva vai limpando a folha do seu keeper que não consegue assentar-se como um nome que não deixa reservas aos adeptos. E não o consegue pelas constantes falhas em saídas a cruzamentos, pelo jogo de pés (que está melhor, atente-se!) medíocre. Não é mau guarda-redes, longe disso, mas ao ver Helton no banco dá-me logo uma sensação nostálgica e apetece-me trocar de brasileiro na baliza.

(-) A lesão de Jackson Foda-se. Trinta destes seguidos. Foda-se. Putas das toupeiras. Foda-se.


A vitória era o mais importante e não estou muito preocupado se a equipa joga bom futebol ou não. Digo isto com toda a sinceridade que um portista pode ter neste momento, em que andamos atrás do líder há tempo demais e onde um mínimo percalço nos pode afastar de vez do título. Três pontos. Check. Next!

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Ouve lá ó Mister – Braga

Señor Lopetegui,

Mas que bela dose de sportencavanço que demos aos verdes na semana passada, Julen! Foi bonito de ver a malta a cascar no Nani ou no Patrício, eles que são bons rapazes mas que nem sempre se dão bem com os ares aqui do Norte e ainda bem. Os meus parabéns pela vitória, pela exibição e pelo facto de nos manteres activos neste sonho de sermos campeões este ano. Mas…e tudo vem com um mas para dar aquele ar de tensão sublimada por uma ou duas frases inconsequentes a abrir um artigo…mas…se não ganharmos ao Braga, serviu para pouco mais que uma moralização temporária das tropas, aí dentro e cá fora.

Já sabes o que o Braga vale. Uma enormidade de defesas prontos a partirem as pernas a muitos dos nossos, agressividade a rodos no meio-campo e velocidade no ataque. São putos rijos, cheios de sangue quente que vêm, como nós, de uma batelada de jogos sem perder. Para lá de quatro, imagina, o que dá para ver que este campeonato não está a ser um modelo de consistência para nenhuma das equipas, mas ainda assim pode funcionar como um barómetro para percebermos que vão cair em cima de nós como caíram em cima do São Helton como no jogo da Taça da Liga. Por isso há que fazer reunir a malta, explicar-lhes que aquele tolinho que está do banco dos que jogam em casa é um tolinho, sim, mas já foi nosso tolinho. E sabe perfeitamente como é que há-de enervar os nossos, onde acertar e com que índice de força: canela-pum ou gémeo-trau. Mentaliza-os que vai ser mais um jogo de enfesto e que se preparem para ele mais afincadamente que a Umbelina na noite de se encontrar com o Nérso ali no banco de trás do Ford Fiesta kitado.

Ganha o jogo e passa um bom fim-de-semana a veres os outros. Também não é mau jogar antes do adversário de quando em vez.

Sou quem sabes,
Jorge

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O Herrera não tem culpa de ser feio, mas tem culpa por ser lento.

20150301 - FC PORTO - SPORTING CP

Olho para trás e revejo uma lista que fiz há meia-dúzia de meses, quando Herrera atravessava uma fase má na sua carreira pelo FC Porto. Não que a presente esteja repleta de lantejoulas e videos no youtube feitos por adolescentes entediados, mas as expectativas pós-Mundial deixaram o povo a salivar como um cão raivoso e o mexicano falhou em corresponder aos desejos da turba.

Mas reparo nos nomes que por ali andam e olho para Moutinho, Meireles ou Maniche (porra que houve muitos émes!) e não consigo deixar de sentir uma certa nostalgia. Há qualquer coisa que falta no Hector quando comparado com esses três grandes nomes do nosso passado recente e os que mais brilharam com a nossa camisola no século XX. Falta sempre um pouquinho extra, e aquele pedacinho de talento que Herrera parece ter a mais a nível do controlo de bola e da movimentação táctica empalidece quando comparado com a dinâmica introduzida ao jogo por qualquer um daqueles três monstrinhos quando tinham a bola em seu poder. Com Maniche havia um excesso de velocidade, agressividade em qualquer contacto e sentido prático no remate. Moutinho, mais delicado, pausava o jogo e arrancava quando o timing era precisamente o adequado, rodando a bola e organizando o jogo como poucos vi a fazer até hoje; já Meireles deslocava-se mais no terreno naquela estruturação de área a área (só para não usar Box to Box e não te lixar o nome do artigo, toma lá @sergiolpereira!) que libertava Lucho e ajudava Assunção e Fernando a livrarem-se da primeira linha do ataque adversário pelo centro. Herrera tem um bocadinho destes três, polvilhado por aqui e por ali, mas tem muito mais de alguns outros mais para trás. Muito de Lipcsei e muito também de Valeri, que os de fraca memória nem recordarão que chegou a ser titular com Jesualdo em 2009/10. É na lentidão ao executar que Herrera mais transforma um adepto que o está prestes a aplaudir em mais um pontapeador de cadeiras alheias, no estádio, em casa ou no café. Há cadeiras que nasceram para serem pontapeadas em certas alturas, não se esqueçam.

Herrera peca nisso mesmo. Movimentações em círculos perto do centro aparte, a forma como consegue arrastar o jogo naquele estilo estranho que se categoriza como “olha-que-eu-estou-quase-a-cair-mas-quase-mesmo-e-já-viste-que-ainda-não-malhei-com-os-dentes-no-chão-pumba-passei-a-bola” é interessante e traz uma imprevisibilidade ao jogo que nos beneficia. Mas em posição decisiva, quando pode fazer alguma coisa que afecte directamente o resultado da partida, Herrera treme e a equipa treme com ele.

Gostava de o ver mais decidido, mais rápido a executar, a pensar à Lucho com três ou quatro toques/movimentos de antecipação. Não preciso que seja mais bonito, só que seja mais rápido. Só tínhamos a ganhar com isso.

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