Ouve lá ó Mister – Marítimo

Señor Lopetegui,

Este é o primeiro jogo do resto da tua vida, Julen. Da tua vida este ano. Esta época, pronto. Talvez esteja a exagerar. Não? Vamos ver. Esta é a primeira possibilidade que tens de acesso a uma final que te pode dar um troféu. É certo que é um troféu menor, com tanta importância como o aniversário do próximo jogador do Benfica que apareça na capa da Bola, mas ainda assim é um naco de aço ou ferro ou uma liga metálica qualquer, chapeado a ouro com uma placa a dizer: “ESPAÇO PARA O PATROCINADOR. POR FAVOR, ESTAMOS DESESPERADOS!” no topo. Formoso, elegante e uma bela adição a qualquer Museu.

Balelas. Ninguém quer saber da Taça da Liga a não ser que a ganhemos e mesmo assim não acredito que haja festa na Alameda até mais que a uma da manhã. Mas se perdes, é mais uma competição que desperdiças, mais uma prova que o plantel não é assim tão valioso, que o Danilo afinal já tem a cabeça em Madrid porque já não mete o pé e que o Aboubakar não serve para substituir o Jackson e mais uma enxurrada de “jás” que enoja a verruga do Maxi. A verdade é que é uma borrada que só nos serviu para criar ainda mais antipatia pelo Marítimo, atravessar meio oceano a meio da semana depois de jogos internacionais e cansar os rapazes antes de segunda-feira jogarmos com o Estoril. Pff.

Usa quem quiseres. Dá minutos ao Ricardo, ao Hernâni, ao Evandro e ao Indi, raios, dá a todos os que te apetecer. Por muito que não estejam habituados a jogar juntos, aposto que não fazem pior que a Selecção contra Cabo Verde.

Sou quem sabes,
Jorge

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Ouve lá, ó Danilo

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Jovem Danilo,

Lembro-me quando cá chegaste e o nome que trazias do Brasil. Lembro-me de te ver a jogar no Mundial sub-20 contra aquela estranhíssima selecção nacional que jogava em 8-0-1 com o Nelson Oliveira a correr como um tolinho lá na frente e sabendo que vinhas para o FC Porto, imaginar o que seria ter-te no plantel. Imaginava-te um novo Guarín (versão 2010/2011), um astro de força e talento no meio-campo, com um remate fulminante e uma capacidade de luta inigualável. Dizias que não gostavas de jogar na lateral, que o teu lugar era no meio com os outros, onde podias estar no centro da acção, onde te deixavam rematar e crescer e sonhar e viver como querias.

Chegaste e pouco tempo depois, pum. A lesão lixou-te os planos, lixou-nos o jogo com o Manchester e deitou por terra o que era ver-te a crescer durante os tempos seguintes. Continuava sem acreditar em ti e a não conseguir ver-te como um lateral de futuro, sempre à espera que te conseguissem enfiar no centro do terreno e olhando com desconfiança para as tuas exibições. Raios, tu próprio afirmavas que não gostavas de ali jogar, porque é que eu haveria de sentir o contrário? Quase que não falei de ti na temporada de estreia mas massacrei-te na segunda época e casquei-te na terceira como fiz com tantos outros, usei-te como exemplo por não perceber o porquê dos teus desânimos, da forma como perdias confiança em cada minúscula pedra que encontravas no teu caminho. E deste-me razão porque cresceste, porque te soubeste superar e, perdoa-me o termo, danilificaste-te de uma forma que só pecou por tardia.

Não sei se sairás pela porta grande. O anúncio da tua venda a meia-dúzia de horas do sempre inútil e ridículo primeiro dia de Abril serve para que não se pense que é uma piada (que isto de vender laterais-direitos ao Real Madrid tem história aqui por estes lados) mas a quantia é boa e se ainda deres lucro já não é mau negócio. Se o é ou não, deixo para quem tem pachorra para os números. Mas tenho a certeza de uma coisa, mais ou menos milhão que entre ao barulho na conversa: o que não é bom negócio é perder-te numa altura em que pareces mesmo direitinho para seres um lateral a sério, quando acreditas no que fazes e acreditas na forma como o fazes. Não sei, como disse, se sairás pela porta grande. Em parte depende de ti e do que fizeres até ao final da temporada, porque ninguém quer voltar a ver o Danilo antigo, o que cá chegou e que andou cabisbaixo durante grande parte da segunda época com Vitor Pereira ao comando. Aquele Danilo que acabou de marcar um golo contra a Académica e sobre o qual disse isto:

Danilo foi o expoente máximo dessa tristeza. No final de um excelente lance de ataque, onde Lucho aproveita a subida do lateral para rasgar a defesa, contrariar o movimento de quatro adversários e coloca a bola direitinha nos pés do brasileiro que só precisa de encostar para marcar, o que faz na perfeição pelo meio das pernas de Ricardo. A celebração deste banquete futebolístico? Um punho levantado, a cabeça caída, os abraços dos colegas, que compreendem o desânimo do companheiro e continuam a festejar sem chama, sem entusiasmo. Se não conseguirmos ser campeões, esta é uma das imagens que me vai ficar na memória.

Mês e meio depois estavas a levar Kelvin em ombros, rapaz! É isto que tem de ser a tua vida, é sempre a olhar para a frente e a acreditar que tens dentro de ti o que é preciso para venceres. Mesmo no Real Madrid, que terá agora um poucochinho mais de apoio da minha parte, só porque te vai ter.

Boa sorte…em Junho. Até lá temos muito trabalho pela frente!

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Dragão escondido – Nº33 (RESPOSTA)

Ora depois de múltiplas tentativas, cá está a resposta:

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Um polaco com um apelido que arranca com “M” será sempre presença de nota nos plantéis do FC Porto depois do grande Mly, e Grzegorz Mielcarski (ou Miguel Castro para muito boa gente que ainda se lembra do rapaz e que tem dificuldade em pronunciar nomes estranhos, talvez por isso o conterrâneo que se lhe seguiu, com nome muito maior, tivesse de ser reduzido para Kaz…) chegou com nome e com vontade de ser o target-man na área que Domingos e Edmilson não conseguiam ser por falta de atributos físicos. Acabou por não ter grande sorte, fazendo apenas 55 jogos oficiais nos quais marcou 10 golos e nunca conseguiu impôr-se na equipa depois de uma lesão muito grave no joelho e pela presença daquele verdadeiro eucalipto de avançados de nome Mário Jardel. Rapaz simpático, trabalhador e esforçado, foi uma aposta que saiu furada mas que gravou o seu nome nas mentes dos adeptos que o viram a jogar e que ainda se lembram do rapaz que afinal de contas acabou por ser tetra-campeão quase sem jogar…

A imagem diz respeito a uma eliminatória da Taça contra o Famalicão na época 1998/1999, em que o FC Porto venceu por 4-2 depois de prolongamento. Mielcarski jogou até aos 73 minutos, substituído por Miki Féher. Deliciem-se com uma viagem às vossas memórias:

Deixo-vos a responsabilidade de comentarem o video. Some truly epic stuff there.

Os palpites errados, numa das edições com mais tiros ao lado:

  • Doriva – Fazia parte do plantel mas não esteve presente neste jogo. Also, com aquelas pernas?!
  • Drulovic – Titularíssimo durante a temporada, ficou ao banco neste jogo e entrou ao intervalo.
  • Edmilson – Tinha saído no início da época anterior para experimentar ares da Cidade Luz. Paris, não o Colombo…
  • Féher – Entrou a substituir o polaco e marcou um dos golos no prolongamento, como se viu no video.
  • Fernando Mendes – Titular durante grande parte da época, foi-o também neste jogo.
  • Panduru – Num dos cinco jogos em que foi titular, foi substituído ao intervalo por Drulovic. Pois.
  • Paulinho Santos – Mais um dos habituais titulares que ficou a descansar.
  • Sérgio Conceição – Arrancou em Julho para começar a aventura italiana na Lazio de Roma.
  • Timofte – Ui. Saiu SEIS anos antes e nesta altura estava na Invicta…mas com uma camisola de xadrez.
  • Zahovic – Mais um titular deixado de fora neste jogo da Taça. E o Engenheiro do Penta ia-se lixando…

O vencedor foi o Hugo Cardoso, com um twist (vejam aqui a primeira quase-opção do rapaz…tsc tsc) às 9h28 da manhã! Kudos!

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Assobia se és portista!

Às vezes dá-me vontade de ir ao quarto de banho. Ou à casa de banho, se for do Sul. Ou se lhe apetecer usar termos alternativos para lugares tão comuns como o belo espaço onde o trono de porcelana espera por nós como um fiel amigo, como às vezes me acontece. De qualquer forma, há alturas em que a necessidade ultrapassa a natural resistência humana aos processos involuntários que nos ordenam a vida com um punho de aço e lá cedemos, mais uma vez, sempre mais uma vez, esperando não ser a última. Mas vou divagando como o Herrera com a bola nos pés, voltemos à história.

Saí do corredor e passei o cartão de identificação para abrir a porta de vidro que me separa do exterior. À medida que ia prosseguindo na direcção do alívio, noto que à minha frente vai outro comparsa da bexiga a caminho do mesmo local. Não reconhecendo a personagem, abstive-me de qualquer interacção e continuei no mesmo sentido, distraído com um folhear de páginas no feedly. E foi então que ouvi o fulano a assobiar. Um silvo ligeiro a início mas audível pelo eco que um corredor vazio cria e espalha pelos tantos outros corredores mais ou menos povoados das instalações. Tentei perceber o que era e nem meio segundo foi preciso para que começasse eu mesmo a trautear uma música que já por tantas vezes tinha passado pelos meus ouvidos que a mais fugaz percepção do mesmo som cria um efeito pavloviano de réplica que, por definição, não consigo evitar.

E ouço-a no Dragão. Cantada pelas claques, pelo povo, por todos. Era uma das tantas músicas sem nome, sem identidade nem letra, com pouco mais para a identificar que um “lá lá lá” mas que todos ouvem, todos reconhecem, todos cantam, com aquele espírito de ânimo e de objectivo comum que partilhamos e onde todos queremos chegar.

Aqui, aos 10 minutos:

Afinal, um portista a assobiar nem sempre é mau. Só tem de escolher o sítio certo.

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