Viena + 1. Meu Deus. Não esperava, juro que não, mas eu sou um pessimista crónico com tendência para o miserabilismo por isso raramente espero algo deste calibre. Foi uma noite grande, com uma gigantesca exibição do FC Porto a mostrar que os adeptos nem sempre acertam quando pesam os valores de ambas as equipas sob um escrutínio tão linear dos números. Hoje mostrámos a todo o mundo que os alemães também caem e que a garra, o querer, o esforço e a convicção podem fazer com que o sonho seja tão verdadeiro. Nada está ganho a nível da eliminatória, mas a alma, essa, está no topo. Vamos a notas:
(+) Jackson. Eu…quer dizer…nem sei muito bem o que dizer. Andou uma amiga a dizer-me desde semana passada: “Olha que ele vai jogar, é tudo esquema psicológico”, mas o FC Porto ia tapando tudo, com fotos no twitter sem que ele aparecesse, semeando a dúvida, criando a antecipação certa. E quando ouvi alguém no Bom Dia a dizer bem alto que ele ia jogar, temi que não estivesse em condições e apenas entraria para impôr respeito, sem que conseguisse movimentar-se muito. Boy, was I wrong. Correu imenso, pressionando alto os centrais (e Xabi, no lance do golo, onde podia perfeitamente ter sido falta e ainda bem que o árbitro não marcou…e depois não expulsou Neuer…mas sobre isso podem ler abaixo) e posicionando-se para aquele controlo de espaço aéreo e da zona de recepção como vi poucos a fazer. E o golo é uma pequena obra de arte de movimentação ofensiva, domínio de bola, aceleração, técnica para ultrapassar o guarda-redes e finalização perfeita. Vamos ter saudades tuas quando fores embora para o ano, Jackson, mas até lá vamos aproveitar todo o suminho que pudermos.
(+) Quaresma. Decisivo na marcação do penalty. Ficar calm, cool and collected na frente do melhor guarda-redes do mundo não é para todos, mas o que mais me impressiona é a forma como parece ter tomado o gosto pelos sprints na pressão da zona recuada do adversário, onde desata em correria doida na direcção do defesa contrário, um pouco à semelhança do que faziam Derlei e Lisandro, durante menos tempo mas com a mesma intensidade. O segundo golo é prova disso, roubando a bola ao absurdo Dante (que continua a pensar que o penteado faz o jogador, algo que o colega de selecção já provou o contrário, inclusive hoje em Paris), prosseguindo para a baliza e batendo Neuer pela segunda vez em dez minutos, vingando-se daquela noite em 2008 onde, vestindo uma camisola em tudo idêntica a uma que hoje levei no corpo para o Dragão, se rebaixou perante o Manuel deles. Hoje, foi ao contrário.
(+) A estratégia de Lopetegui e os que a puseram em prática. Apenas Herrera (tu és TÃO LENTO nas transições e distrais-te TANTAS VEZES que um dia destes vai correr mesmo mal) e até um certo ponto Brahimi (a receber a bola demasiado atrás com muita relva e demasiadas pernas alemãs pela frente) estiveram um poucochinho abaixo dos colegas, mas não o suficiente para Baronizações. O resto dos moços esteve num plano superior de mentalidade competitiva, inteligência no posicionamento (por vezes muito recuados, com Lopetegui a ir até à linha do meio-campo pedir que a equipa subisse) e astúcia na saída para a frente. Estivemos pressionantes na zona de início de construção do Bayern e rijos a defender. Abdicámos da posse de bola para tapar os espaços pelo centro e evitar o jogo de passe rápido e criação de lances nas costas dos médios, onde Casemiro e Óliver estiveram enormes a tapar e a receber. Danilo e Alex Sandro, especialmente este último, estiveram excelentes na agressividade e na subida sempre que possível. Os centrais, fortes e lutadores e Fabiano seguro com apenas uma falha num lance aéreo sem consequências. Acima de tudo, foi Lopetegui que lhes ensinou que para vencer o Bayern não temos de jogar o jogo deles; temos de saber como jogar o nosso ao mesmo tempo que os impedíamos de usar o deles, forçando a passagem pelo meio, bloqueando as alas o mais possível e furando com contra-ataques rápidos a subida dos laterais e a deslocação dos médios. Estivemos brilhantes e os jogadores deixaram tudo o que tinham em campo. Foi lindo de ver.
(+) O Dragão. Cinquenta mil almas a gritar, a apoiar a equipa, a incentivar os lances ofensivos e a premiar os defensivos com palmas. Este é o ambiente que deveria sempre estar em redor da equipa, com assobios e críticas longe, pelo menos enquanto o jogo estiver a decorrer. Houve sintonia, empatia total entre os jogadores e os adeptos, como há muito não via. E quero voltar a ver.
(-) Ser pequenino é tramado. É fácil expulsar jogadores do FC Porto (e de outras equipas portuguesas) quando jogamos contra grandalhões. Não há aqui grandes dúvidas e nem estou com isto a tentar insinuar corrupções e coisas do género. Só um excesso de humildade arbitral que tanta gente assume como prudência e que tem de ser chamado pelo que é: medo. Medo de expulsar Neuer no primeiro minuto de jogo, medo das consequências que possam daí advir se o melhor guarda-redes do mundo, alemão, não puder continuar em campo durante este e o próximo jogo, condicionando o trabalho da equipa por causa de um erro que todos podem cometer. E os amarelos perdoados a Rafinha e a Boateng, para lá do segundo a Bernat, por lances em tudo iguais aos que deram os amarelos a Danilo e a Alex Sandro. Todos cometemos erros, como disse atrás. O problema é que eles, como de costume, podem fazê-lo mais vezes que nós.
(-) Müller, Rafinha et al. Não sei como se diz “açaime” em alemão mas se houvesse hipótese de calar aquele enorme filho de sete cadelas pelo menos durante os noventa minutos do jogo, creio que todo o mundo agradeceria. Este tipo de jogadores são os que mais me enervam, os Müllers, os Rafinhas, os Sérgios Ramos, os Busquets, os Carlos Martinses. Cada jogada é um espalhafato de vernáculo e de reclamação, cada falta que sofrem é como se uma lança lhes atravessasse o lombo e cada outra que cometem é um acto ignóbil contra o próprio Criador. Foda-se se não me apetece rebentar-lhes os dentes. Oh Paulinho, tens planos para a próxima terça-feira? Precisamos de ti na Allianz para amordaçar aquele boche. À cotovelada.
Quem, como eu, pensava que íamos tentar salvar a face com uma exibição esforçada mas pouco produtiva, ficou de boca aberta. No próximo Sábado contra a Académica…nem que ponhas metade dos Bês, deixa alguns destes moços descansar um bocado. Merecem, oh se merecem!