Não tinha grande fezada para o jogo. Ainda assim, saí de casa e fui ver a bola com amigos para um café na baixa do Porto, rodeado de portistas que apoiavam a equipa mas lamentavam cada lance perdido, cada passe falhado e cada inconsequente ataque que a nossa equipa protagonizou perante um dos campeões em título que pode revalidar o troféu com o seu pior futebol dos últimos anos. Tinha logo de nos calhar um JJ resultadista quando percebeu que a jogar bonito raramente havia de ganhar. Enfim, os moços tentaram, lutaram e fizeram o que podiam fisica e mentalmente. Não chegou. Não há sumo para mais. Nem tomates. Parece que este ano esses também tem vindo a faltar. Vamos a notas:
(+) A pressão alta no centro. Se o Benfica permitiu que jogássemos com o bloco subido, também não é demérito nosso que o tenhamos ganho. Casemiro bem na zona recuada, Ruben prático no centro com Evandro e Óliver a rodar a bola como podiam no meio de tanta perna e pontapé à solta, conseguimos impôr alguma ordem e manter a bola como precisávamos. O facto de não ter havido incursões ofensivas suficientes devido à falta de um dos extremos deveu-se no fundo à opção de Lopetegui que não tendo conseguido ganhar o meio-campo na primeira volta, decidiu enchê-lo de gente na segunda. Ganhou o meio-campo, perdeu em acutilância e velocidade. Era expectável mas a aposta foi ganha. Não valeu de muito mas ainda assim conseguimos empurrar o Benfica para trás, o que nem todas as equipas conseguem.
(+) Alex Sandro. Foi um Alex de fina colheita, cheio de garra na luta individual e a aproveitar o facto de Gaitán estar a jogar tanto como Sálvio no jogo de hoje. Esteve forte, subiu com velocidade e não fossem algumas más decisões (e se tivesse sido só ele…) no último terço e teria sido bem mais importante no jogo. Mesmo assim é bom ver Alex a jogar com fibra e com convicção até à última, acabando o jogo esgotado como se viu num dos últimos lances em que não consegue controlar a bola em velocidade porque…já não a tinha.
(+) Casemiro. Cortes de carrinho é com esta versão brasileira e bem avantajada de Otamendi a trinco, porque não só se coloca na perfeição perante a progressão do adversário como usa bem o corpo para levar a bola e parar o ataque. Não parece o mesmo badocha que cá apareceu no início do ano e só tenho pena que provavelmente não o consigamos segurar por cá a não ser que haja contrapartidas extra na venda do Danilo ao Real Madrid.
(-) A quantidade absurda de passes falhados. E voltamos a isto, que desde o tempo de Vitor Pereira me enervava. Bola para Maicon, mão no sobrolho para tapar o sol e cá vai disto. Corre, Jackson, CATRAPUM, bola em Júlio César. É das maiores parvoíces que me lembro de ver a nível de organização de jogo de uma equipa de topo, onde apenas um avançado corre como um doido para apanhar a bola enviada do cimo de uma qualquer colina com um canhão napoleónico, com qualquer tipo de ridícula expectativa que o homem se vá posicionar para receber o esférico, controlá-lo na perfeição e esperar meia-hora que os colegas subam. E isto na zona recuada, porque a quantidade de passes desperdiçados em zona de preparação para finalização foi um dos motivos pela quase total ausência de situações de perigo que deixámos por criar hoje na Luz. Nervosismo, falta de pernas, seja o que for, não se podem falhar tantos passes.
(-) Herrera. Alguém se oferece para dar uma chapada a este gajo logo no início do jogo para ver se acorda? É tremenda a lentidão com que recebe a bola e o ritmo que tenta imprimir ao jogo quando tem a bola controlada em zona de pressão é tão elevado como a marcha fúnebre tocada em 12 rotações. Demora tanto tempo quando recebe a bola que lhe caía logo em cima o Samaris, o Pizzi, a águia Vitória que estava a comer erva em Monsanto, trinta gajos da claque que desceram do terceiro anel e doze toupeiras que por ali passavam. Herrera é muito lento e como dizia um amigo na semana passada, acha que todos os outros são lentos como ele. Nestes jogos então, onde cada metro do terreno é disputado com virilidade e velocidade, ainda se nota mais.
(-) Sem ovos e com poucos “huevos”. O busílis. O torcer de rabo da porca. O lançamento da moeda. Ou seja, aquilo que decidia o jogo. Lopetegui entrou em campo a tentar controlar o jogo e a manter o meio-campo nosso, esperando que a posse de bola decidisse a inclinação do campo e fizesse com que a equipa produzisse o suficiente para marcar um golo. Não conseguiu. E não conseguiu porque ao contrário do que Julen parece pensar, a equipa não carbura a esse nível. Os rapazes entraram com garra mas com pouca cabeça, dando ideia que o plano era não sofrer em vez de marcar dois. O título decidia-se neste jogo, por muito que possamos todos pensar que ainda faltam quatro jornadas e há hipótese do Benfica tropeçar e cair num qualquer estádio por aí fora. Não é provável. E ao ver isto, urgia que tivesse mais audácia ofensiva, que atirasse o cachecol para os quintos do caralho e se mandasse para cima deles com raiva e fúria, de orgulho ferido e fome de vitória. Não foi isso que vi. Talvez não seja só Lopetegui que não o fez, talvez Munique ainda andasse no córtex dos jogadores, temerários depois da enxaguadela de realidade que apanharam na terça-feira. Mas se a luta foi boa e os rapazes se bateram com garra e dedicação, o facto do jogo se ter travado a meio-campo por força da estratégia de Lopetegui foi o início do fim da história. Lembrei-me de Vitor Pereira naquele inacredivável 2-3 na Luz em 2012. Sim, Vitor Pereira tinha mais ovos (Hulk, Moutinho, Fernando, Lucho, James, por exemplo) para fazer uma omolete. Mas também teve mais “huevos”. E isso fez toda a diferença.
Quatro jogos, doze pontos. Vou telefonar ao Nate Silver para me dar a probabilidade de sermos campeões, mas aposto que não é alta. Não interessa, até ao fim vou acreditar. Vocês também deviam.