E depois de dois empates, uma derrota. São sete pontos cedidos em circunstâncias que têm tanto de igual como de enervante. Não há estrutura física, táctica e mental no FC Porto em Novembro de 2013. Já atravessei momentos maus com o FC Porto e este é mais um que vai direitinho para um pódio que já lá tem o FC Porto de Octávio em 2001 e o de Couceiro em 2005, sem que consiga dizer ao certo qual deles apresentou pior futebol. A derrota é merecida porque me ponho a olhar para o jogo e tento perceber o que raio se passa na cabeça dos jogadores para se exibirem sem um mínimo de inteligência, organização em campo e convicção que têm um jogo pela frente que é imperioso vencer. Neste momento estamos na merda. Notas, apenas negativas, abaixo.
(-) Zero. Ora então aqui vamos nós. Zero. Foi isto que fizémos hoje em Coimbra. Zero ideias, zero concentração, zero vontade de jogar com cabeça, zero movimentos de ruptura no ataque, zero capacidade técnica, zero remates com perigo, zero jogadas de entendimento, zero concretizações, zero. Zero. É inútil pensarmos que as coisas são facilmente remendáveis com a mudança de um ou onze jogadores na equipa principal do FC Porto porque há uma deriva mental na grande maioria dos jogadores que faz com que raramente se consiga mais que um lampejo de um ataque fugaz que resulta invariavelmente numa tentativa amadora de criar perigo contra qualquer adversário que se nos é colocado. E podemos continuar a fugir para a frente, a pensar que a culpa é de A ou de B, do treinador ou dos jogadores, da SAD ou da senhora que muda o WC Pato, mas a verdade é que a culpa é geral. E não há culpa, havendo-a a rodos. Temos actualmente um plantel com soluções razoáveis, composto por um misto de experiência e juventude que milhares de clubes por esse mundo fora invejaria ter. Sim, perdemos James e Moutinho. Mas esses dois nomes não começam a tocar a pontinha do majestoso iceberg de estrume em que se transforma qualquer jogo do FC Porto desde que o árbitro apita para começar a partida. Paulo Fonseca lidera este bando de rapazes, uns com mais vontade que outros, uns sem dúvida com mais talento que outros, uns com mais garra que outros. Mas todos mostram uma fibra moral e uma determinação que neste momento vale…zero. Zero. Vale zero e hoje valeu zero porque qualquer corrida de um academista foi mais rápida que Danilo. Vale zero porque Mangala parece crer que é um Yaya Touré e decide começar a fintar a partir da sua própria zona de acção, perdendo a bola ao fim de quinze metros. Vale zero porque Alex Sandro se perde em fintas só para entregar a bola ao adversário. Vale zero porque Jackson está consistentemente sozinho e Lucho aparece longe, quase tão longe como Josué ou Fernando, ambos com vontade mas inoperantes em virtude da desorganização geral. Há dois lances que mostram na perfeição o que é o FC Porto neste momento. No primeiro, Varela tem a bola à entrada da área pelo lado direito. No processo de procurar centrar a bola para a área, escorrega e perde a bola para Fernando Alexandre. O médio da Académica, rápido e com sentido prático apurado, pontapeia imediatamente a bola contra o dezassete do FC Porto, ganhando o pontapé de baliza. No segundo, Maicon tenta proteger a bola de Magique, que lhe ganha (mais uma vez) em velocidade e em garra, conseguindo ainda tocar na bola contra o brasileiro, ganhando o lançamento. Estes lances sucedem-se um após o outro em noventa insuportáveis minutos de não-futebol. E tudo isto com o mesmo treinador de braços cruzados, sem perceber o que se passa. Só que eu, cá fora, posso não perceber. Ele, para ser sincero, não.
Um amigo, um dos poucos bons amigos que tenho e que vejo muito menos vezes do que queria, respondeu-me a um email onde discutíamos o último álbum dos Arcade Fire, usou a seguinte frase: “estavam bem era a tocar esta merda de música nova no funeral do Fonseca, enquanto o Vitor Pereira ejaculava para cima da campa e da boca do Danilo, Otamendi, Mangala, Defour, Ricardo, Licá, Josué e Quintero!“. É portista convicto, este meu amigo e usa o vernáculo como poucos. E com maior ou menor badalhoquice, dou-lhe razão na metáfora.