There will be pain

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Uma destas três frases é verdadeira:

  • Cheguei a casa, vi que o Benfica já tinha sido campeão. Abri a carteira, saquei de lá o cartão de sócio e com uma tesoura procedi a cortá-lo em pedaços tão finos que não conseguiam passar pelo recto de um caracol;
  • Vi o jogo todo e rebentei a televisão ao pontapé em cada passe falhado do Herrera e escorregadela do Quaresma ou bola entregue ao adversário do Alex Sandro. Acabei com os dedos partidos, muito vidro no chão e o olhar estupefacto da minha filha, provavelmente a pensar o que tinha acontecido aos bonecos animados que ali viviam;
  • Não vi o jogo em directo. Cheguei tarde a casa, mesmo a tempo de ver o fim do jogo do Benfica, já sabendo como tinha ficado o FC Porto. Gozei com a moura residente quanto ao facto de ganharem o campeonato com um empate. Jantei, fui deitar a piquena e voltei para a sala onde comecei a ver o jogo de Belém. Fiquei com uma neura do carago e dormi mal.

Quem já me conhece não duvida qual dessas frases representa o que se passou neste Domingo à noite. E ontem cheguei ao trabalho e fui, como fiz em todas as vezes que tal aconteceu, parabenizar a mourada com quem partilho o dia-a-dia e que está com a matraca aberta de orelha a orelha. Faço a minha parte como desportista, sem excessos. Um sorriso da cor da camisola do Gondomar, um “passou-bem” e está feito. Correcto sem euforias. There. E volta a neura.

Alguém hoje disse-me: “gostava que me explicasses porque é que estás triste” e não consegui responder. Há uma ligação emocional que não se quebra e creio nunca se quebrará e que estes momentos exacerbam ao ponto de nos transformar num naco de carne com as emoções à tona, incapazes de controlar o que dizemos e o que fazemos. Então escudo-me, fecho-me dentro de um casulo de profunda tristeza e melancolia por tempos passados (tinha logo de ser hoje que faz quatro anos disto, raios me partam mais a minha sorte), afastando a maioria das pessoas e abdicando de conversas da bola. E é uma ciclo que se repete sempre que não sou campeão, mas é curioso que não sinto qualquer agravante de perder o título para o principal rival. Não creio que sentisse melhor ou pior se o campeão tivesse sido o Sporting ou o Covilhã ou o FC Berlengas-Ao-Fundo, o que me dói é aquele vazio, aquela ausência de triunfo mental, a paz que surge ao fim de meses de luta e da busca por um resultado que parecia tão banal e que agora se torna cada vez mais desejado.

Disse aqui há uns tempos que tínhamos de nos habituar a perder para voltarmos a saber o que era ganhar. E é tudo muito bonito mas no papel soa bastante melhor que atravessar de facto este deserto momentâneo em que a boa disposição é ausente e a tristeza implacável.

O empirismo desportivo é uma merda.

 

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Baías e Baronis – Belenenses 1 vs 1 FC Porto

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Fuck. Fuck. FUCK! Trinta e três jornadas depois, voltamos ao ponto de partida com uma exibição a roçar a mediocridade da era Fonseca e com jogadores nervosos, incapazes de lutar, de mostrar que querem ser campeões mesmo que todas as probabilidades apontem contra eles. Não os temos, podemos vir a ter no futuro mas neste momento somos um conjunto derrotado antes mesmo de entrar em campo. Assim é difícil, bolas. Notas abaixo:

(+) Óliver. Foi dos poucos que procurou jogar de uma forma mais vertical e de romper pelo centro aproveitando o centro de gravidade tão baixo que tem e que usa com inteligência para passar pelos adversários. Alguns bons pormenores e várias desmarcações fizeram dele o homem mais activo no meio-campo. Não era complicado, admita-se.

(+) Jackson. Falhou uma oportunidade excelente para adiar a decisão do título para a última jornada mas juntamente com Óliver foi dos que fez o possível para que conseguíssemos sair do Restelo com uma vitória. A forma como a equipa olha para ele nos momentos mais complicados faz com que se torne ainda mais importante e, como consequência, a sua saída mais-que-provável ainda será mais-que-tramada para resolver. Vá lá, ao menos o título de melhor marcador pode estar mais perto se lhe atribuírem o golo de hoje, se bem que me pareceu que foi o rapaz do Belém que a meteu lá dentro.

(-) Temos aquilo que merecemos. Os primeiros vinte minutos foram o espelho de todo o jogo. Passes absurdos, incapacidade de manutenção da posse de bola mais de alguns segundos, as contínuas dificuldades perante um meio-campo fisicamente mais forte, extremos que não furam, o avançado que não recebe a bola e uma velocidade de jogo que faz o Varela parecer o Usaín Bolt. Todos os jogadores pareceram encarnar figuras de menor relevo do nosso passado. Alex Sandro em modo Rubens Júnior, Ruben como Bolatti, Herrera à Valeri, Brahimi como Alessandro, Maicon como Stepanov e Quaresma parecido com Tarik durante o Ramadão. Acima de tudo foi a forma como o jogo foi encarado, com medo do resultado a 400 km de distância, a tentar gerir uma vantagem mínima obtida sabe-se lá como contra uma equipa que corria mais que nós e a quem oferecemos pelo menos três (TRÊS, FODA-SE, ATÉ O BAYERN TEVE DE TRABALHAR MAIS PARA NOS MARCAR OS SEIS EM MUNIQUE!) oportunidades claras de golo que desperdiçaram. É um cliché mas aplica-se na perfeição: uma equipa que quer ser campeã não pode mostrar tão pouco em campo como o FC Porto fez no último mês de competição. E quando é isto que o FC Porto joga, não há colinhos no mundo que justifiquem a distância de três pontos depois de perdermos pelo menos oito nas deslocações à capital. Assim não chega. Julen, ouve: Assim. Não. Chega.


O campeonato acaba na próxima semana e estamos a precisar que acabe depressa. Alguém faz com que passe rápido?

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Ouve lá ó Mister – Belenenses

Señor Lopetegui,

Pode ser um jogo que termine com um sorriso ou com uma tremenda frustração e nenhum desses estados de alma dependem exclusivamente de ti. Hoje. Porque dependeram de ti e dos teus nalgumas jornadas no passado, onde perdemos pontos que não se podiam ter perdido, mas isso são pontos para outro conto. O que interessa é fazermos o nosso papel e depois de levarmos a coroa de flores ao Pepe (insisto, não é o tolinho que joga no Real, é outro Pepe) é importante entrarmos em campo com vontade de ganhar o jogo. Eu sei que o benfas está prontinho para fazer a festa e já seguram no gargalo da garrafa de espumante com a cápsula de alumínio arrancada, aquele piçito de plástico desenroscado e os dedos na rolha prontos para a fazer voar pelo ar até celebrarem durante horas aquilo que não festejam há décadas. É, Julen, é daquelas coisas que mais vale ver para ganhar vontade de a fazer, não achas?

Mas insisto: vamos fazer com que os gajos tenham de suar para ganhar o jogo e acabar com isto como homens. Não lhes dês a satisfação de um jogo tranquilo, obriga-os a trabalhar ao obrigar os teus a trabalhar. Já vi que a lista de convocados tem lá o Adrián e esse caramelo vai ter de ser muito importante para o ano se cá ficar, por isso dá-lhe uma hipótese de novo. Acima de tudo faz com que a malta se orgulhe de uma vitória em Lisboa que este ano já vamos em três empates (Estoril, Sporting e Benfica) e apetece-me plantar uma lança bem funda em África. Ou perto.

Ganha o jogo para acabarmos o campeonato na próxima semana em condições. Não deixes que a indolência se apodere dos teus moços, espicaça-os e fá-los acreditar que isto ainda não acabou! Força!

Sou quem sabes,
Jorge

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Julen contra o mundo – parte III: imprensa

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Este é o último de três artigos sobre o discurso do treinador do FC Porto e a forma como encara as conferências de imprensa. 

Tenho o hábito de ir buscar pão todas as manhãs. Sou parcial ao pão de água e se estiver um bocado cru por dentro…menino, então é possível ouvirem-me a gemer oh-tão-ligeiramente quando dou uma dentada para arrancar um naco daquela ambrósia de trigo e farinha. E quando vou à padaria (pun not intended) vou vendo as capas dos jornais, incluindo os desportivos. Não há muitas vezes em que esteja a degustar esses pedaços de céu que de tão pequenos se tornam ainda mais importantes, quando quase me engasgo ao ver mais uma capa do Record que pode ferir qualquer tipo de visão menos preparada para o que sai das mentes daquela gente. E o Record é uma espécie de versão portuguesa do Jon Stewart a bater na Fox News: já enjoa porque se fez tantas vezes que já ninguém lhes liga e só os doentes é que continuam a ver.

Seja ele qual for o jornalista que escreve debaixo desse enorme…manto protector, muitas vezes chamado “Redacção” em grande número dos artigos publicados online, há uma tendência clara para lermos as notícias da forma que queremos ler. Chamam-me muitas vezes tendencioso, doente, parcial e pouco objectivo quando leio um título que me arrelia pela forma como está escrito, pelo que diz sem dizer e insinua sem pronunciar as palavras de uma forma directa. E não consigo fugir disso porque estou mentalmente condicionado a uma actividade que insiste em fazer-se notada: pensar. Leio e penso. Mas há muita gente que não exerce o mesmo controlo sobre a sua mente, lê e aceita. Lê e guarda. Lê e come tudo.

Imagino que na grande maioria das redacções de jornais haja malta decente. Alguns que não tentam a todo o custo avançar com um critério editorial que lhes é imposto pelos donos/chefes e que procuram não dar uma marca pessoal de tal magnitude que a notícia deixa de o ser e passa a ser uma máscara do que é. Os jornais vivem para vender e a demanda pelo lucro leva-os a aproximarem-se daqueles que lhes podem dar dinheiro. É capitalismo puro, o vendedor oferece o que o comprador procura. Nada de mais. Mas é a forma como o fazem, a ostensiva e enojante forma como torcem o significado de uma banal notícia que me aborrece e que leva a que tantos portistas se sintam pessoalmente ofendidos pelo desprezo a que são votados de uma forma tão habitual e aceite pela maioria da sociedade que se tornou uma piada de mau gosto impossível de tornear. É o tal “eco social” de que falava Julen (pelas próprias palavras ou por sugestão alheia, não me incomoda qualquer uma das correntes de pensamento), o efeito do “manto”, a forma como as notícias são massajadas e os factos são inclinados para a narrativa que mais interessa para ferir e desprestigiar aqueles que são “do contra”. É o mundo do maior contra o mais pequeno e em Portugal, como em tantos outros países, nota-se a léguas a desonestidade.

É uma espécie de Alegoria da Caverna aplicada ao povo não-portista em geral, onde a entidade que relata os factos pinta-os de tal maneira que os acorrentados apenas vislumbram as sombras na sua frente e passam a apenas conhecer a verdade através do que lhes chega por esse único meio. E o povo, esse povo, o parvo povo, engole tudo até que um dia se lembre de começar a pensar. Será difícil e o trabalho de Lopetegui tem de ser cada vez melhor para que possamos olhar para o relvado e perceber que só sendo melhores que os outros lá dentro é que podemos receber algum reconhecimento cá fora. Caso contrário, teremos sempre andor, teremos sempre colinho, teremos sempre glória eterna. E cabe-nos também a nós evitar que isso aconteça. Para o nosso bem.

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Julen contra o mundo – parte II: opinadores

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Este é o segundo de três artigos sobre o discurso do treinador do FC Porto e a forma como encara as conferências de imprensa. 

Lembro-me do Herman contar uma piada e nunca me pareceu tão certa. Dizia o agora decadente humorista aqui há uns anos, numa frase que decerto virá da longa compilação de sabedoria popular onde com certeza terá ido pescar muitos e muitos destes aforimos, que “as opiniões são como as vaginas: cada qual tem a sua e quem as quiser dar, dá”. Nesta era de insuportável busca pelo soundbyte e pelo comentário, inano ou não, de alguém com a mais remota ligação ao contexto a ser discutido no momento, descobre-se uma frase bombástica e digna (alguns dirão) de figurar na capa de um qualquer jornal ou no cabeçalho de um site com um grau de facilidade parecido com aquele que faz Messi tornear defesas como se fosse imóveis pinos num jogo de bowling humano.

Deixei de ver programas de opinião desportiva aqui há uns anos. Ainda vejo ocasionalmente um ou outro com análises tácticas, e divirto-me com o lirismo do Freitas Lobo ou o pragmatismo feroz do Pedro Henriques, mas acima de tudo foco-me em ver e ouvir futebol. Desinteressei-me pelo que diz A ou B, convidados para programas onde a discussão se torna menos credível que ouvir seis bêbados a falar ao mesmo tempo depois de outras tantas garrafas de tinto rasca à mesa de uma qualquer taberna numa aldeola distante. Aliás, tragam-me os bebedolas, devem ter mais piada e bem mais honestidade. E um dos motivos de ter deixado de ver esses eventos televisivos de escárnio e maledicência prende-se exactamente com isso: a falta de honestidade intelectual. E questiono-me porque é que tanta gente que considero minimamente credíveis se importa com o que diz o representante do clube X ou Y, para imediatamente os criticar e acintosamente rebater com dezenas de exemplos do contrário, para na próxima semana voltar ao mesmo ciclo da reposição da verdade em nome próprio sem que se sintam mais sujos por causa disso. Perdi centenas de horas da minha vida a fazê-lo até ao momento em que disse: “espera lá, ó Jorge, mas tu estás parvo ou bebeste lixívia?! get a fucking life, you moron!” e parei. É como um vício, eu compreendo, a necessidade de nos sobrepormos a figuras públicas que fazem figurinhas em público. Mas deixei-me disso.

No entanto, muita gente não deixou e é exactamente esse tipo de malta que tens de evitar comentar ou aceitar sequer considerar como declarações válidas ou sóbrias, Julen. Porque a vida pública dessa malta é focada na discórdia, criando uma utopia de glória eterna e infalibilidade das próprias cores em tempos de vitória, contrastando com a parede de desconfiança e “I-told-you-so-ness” e hetero-crítica quando as coisas não correm bem. São sanguessugas, alimentando-se das fraquezas intelectuais alheias para gerar a entropia necessária que os mantém a sobreviver como que ligados a uma máquina de sustento eterno, sorvendo as almas dos pobres que ainda os ouvem. Por isso quando os ouvires a falar ou quando te perguntarem sobre isso, sobre o que o treinador do clube Y que é antigo portista ou o vice-presidente do clube Z que já foi Sub-chefe dos Bombeiros de São Presunto do Chifre Manso, responde que não queres responder. Em português, castelhano, swahili, o que quiseres. Não te deixes provocar. Sobe o nível, não te deixes arrastar para a lama.

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