Ouve lá ó Mister – Belenenses

Señor Lopetegui,

Aqui há uns anos fui ver o Belenenses às Antas com um amigo. O rapaz, acabado de chegar de Lisboa e adepto portista ferrenho, tinha comprado um pacote de pastéis lá da terra destes rapazes e começamos o jogo a “brindar”, cada um com o seu pedaço de céu com massa folhada à volta, na perspectiva de um jogo que nos trouxesse a alegria que merecíamos e que estávamos certos que nos seria entregue nos noventa minutos que se seguiam. Hélas, porque nos foi entregue um sensaborão empate, o total oposto do naco de felicidade com creme que tínhamos degustado no início.

Hoje espero que a sorte esteja do nosso lado e que consigamos melhor resultado que nesse infeliz encontro há vários anos atrás. Que se mantenha a tradição e que o nosso adversário entre em campo com a nossa bandeira bem aberta nas mãos dos seus jogadores. Não deixes morrer a boa onda como aconteceu depois do jogo contra o Benfica, em que abandonaram as boas fortunas desse jogo naqueles dois pontos que abandonámos no Minho. Vence a partida e imagina que vêm aí umas semanas desinteressantes de futebol de selecções que interessam a poucos. Manda os gajos votar de manhã (tu também, Ruben, agora que já o podes fazer, seu adulto!) e depois é enfoque certo para vencer o jogo sem problemas. Se a lógica funcionasse…ano passado deste quatro ao Paulo Sousa e ele esta semana enfiou outros tantos no Belém. Não peço oito, um ou dois já chega, mas ganha lá isso sem chatices e depois podes-te rir com os resultados das eleições. As nossas, rapaz.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – FC Porto 2 vs 1 Chelsea

andre chelsea

O futebol é isto. É a emoção de uma bola que parece ir para a rede mas enfrenta um poste vil e perde o duelo, são os saltos de milhares de adeptos quando uma sequência de remates se sucedem a uma velocidade indigna para seres humanos, com pernas e braços e cabeças ululantes numa coreografia que faria o Bolshoi corar de vergonha. É um canto tão bem marcado que desafia a realidade e o histórico recente. É um homem passar por seis adversários na mesma jogada, alguns várias vezes. É um gigante defender uma bola impossível e quase repetir o feito no mesmo segundo. É a alegria de ver um menino de 18 anos a ser mais homem que tantos outros no seu lugar. É lindo e é assim que devia sempre ser. Amén. Notas bem dispostas já abaixo:

(+) Ruben Neves. O Pirlo de Mozelos. Cada bola que sai dos seus pés parece levar veludo a enredá-la num harmonioso conjunto de leveza e dedicação, com a perfeição da entrega a deliciar-me a cada passo que dá, a cada passe que faz. Junta a isto o esforço de um jogo inteiro, alheio a passeios pelo relvado e a envolver-se em cada jogada com entrega e afinco, mostrando a todos que um jovem pode ser mais maduro que tantos outros com mais experiência. Um portento de discernimento e inteligência em campo. E é nosso.

(+) Aboubakar. Não sabe parar quieto e é na capacidade de trabalho que mostra toda a sua capacidade. Diferencia-se de Jackson, nas palavras do meu colega na cadeira ao lado, pela capacidade de drible curto e progressão no terreno que o colombiano não tinha. Concordo, apesar de achar que as comparações são desnecessárias. Aboubakar está a fazer o seu caminho depois de um ano como understudy e fez mais um jogo abnegado, no meio ou a tapar na esquerda durante os últimos minutos, sempre com força e dedicação à equipa.

(+) Brahimi. E finalmente apareceu o argelino, pronto para aqueles dribles curtos que puseram meia Europa a salivar nos primeiros meses da época passada e que tanta falta tem feito nas primeiras semanas desta. Enfrentou Ivanovic com agressividade e tentou sempre cair por cima do sérvio, acabando por dar origem ao primeiro golo numa jogada individual como há muito não se via a este nível. E foi igualmente importante a tapar o flanco na ajuda a Indi, especialmente na primeira parte.

(+) Indi. Talvez o melhor jogo do holandês pelo FC Porto, foi rijo e nunca se deixou intimidar por quem quer que lhe aparecesse pela frente de camisola preta (com umas nuances ridículas nos calções, diga-se). Não subiu muito, é verdade, mas por aquele flanco raramente houve perigo a não ser na parte final, com meia equipa já agarrada às pernas e o Chelsea a pressionar pelo ar. Não serve para todos os jogos mas esteve muito bem hoje.

(+) A reacção ao golo sofrido. Sofrer um golo na última jogada da primeira parte é o equivalente a tropeçar a meio de subir Machu Picchu. Confusão, medo, desânimo e uma sensação de perda que podia ter colocado tudo em causa, com as devidas comparações e noções de escala. Mas a equipa, talvez com influência do treinador, talvez pela fé em alta depois de uma boa primeira parte, conseguiu erguer-se de novo e apareceu em campo confiante e com vontade de vencer o jogo. O resto foi o que se viu.

(-) Meio-campo inelástico na primeira parte. A ideia era simples: encher o meio-campo com tanta malta que o Chelsea não conseguiria produzir futebol por aquela zona. E funcionou, mas por pouco, porque apesar de haver mais gente no centro do terreno que pinheiros em Leiria, houve grande dificuldade no desdobramento e no encontrar das posições certas, especialmente por Danilo e Imbula, que pareciam particularmente perdidos e muitas vezes ocuparam a mesma relva sem que conseguissem impedir o avanço do adversário. Na segunda parte tudo foi melhor, com o centro a ser ocupado de uma forma mais consistente e com os jogadores a entenderem-se muito melhor na cobertura da zona defensiva.

(-) As hesitações perante a pressão. Ao ver o onze a passar nos écrans gigantes do estádio, pensava: “porra, temos muitos internacionais, não podemos dizer que não há experiência do nosso lado”. Mas à medida que o jogo se ia desenrolando, notava-se uma diferença significativa na forma como o Chelsea encarava a pressão do adversário quando comparada com a nossa reacção ao mesmo cenário. Danilo tremia um pouco, Maicon insistia na jogada bonita, Marcano hesitava na abordagem aos lances e Imbula, apesar de usar bem o corpo, parecia sempre enfiar-se num buraco de onde era complicado sair. Brahimi e Ruben foram os que melhor se safaram na primeira parte mas houve demasiada tremideira com a bola nos pés durante muitos minutos.


Um empate, uma vitória e tudo prontinho para sermos bons meninos e tratarmos já da qualificação nas duas próximas jornadas contra os israelitas. Soube bem, carago.

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Ouve lá ó Mister – Chelsea

Señor Lopetegui,

Ainda tenho um mau gosto na boca da passada sexta-feira, porque quando já tinha erguido os braços ao alto a celebrar a vitória que parecia iminente, eis que aquele grupo de rapazes lhes deu outra vez para me lixarem a paciência e o fim-de-semana e lá foram mais dois pontinhos para o Minho. Dois na Madeira, dois no Minho, tenho de começar a contabilizar as terras começadas com M para saber onde é o próximo jogo em que vamos abdicar da vitória de uma forma tão idiótica e trazer mais nervosismo e combatividade ao campeonato. Ou me viro para aí ou começo a ficar tão fodido com os jogos que me deixa de dar prazer e aí as coisas viram para o lado negro.

Hoje não me parece o dia ideal para poderes trazer a equipa de volta. Ia começar aqui em grandes frases de louvor mas a verdade é que ainda não vi nada de especial este ano. E pelos vistos parece que vou ter de esperar mais um bocado, porque estes jogos contra Mourinheiros são sempre uma filha da puta duma carga de trabalhos para conseguir ganhar que só de pensar neles lá atrás até me vem logo uma lágrima ao olho de tentar segurar a vontade de lhes obrar em cima. Sure, os gajos têm meia-dúzia de gajos de talento mundialmente reconhecido, tanto na destruição como na construção, mas há dois tipos que tens de manter tapadinhos: o Hazard e o Matic. Não sei se vai jogar o Willian mas esse gajo chateia-me porque tem o cabelo parecido com o David Luiz só que com as pontas todas espigadas por isso não me mete medo. Já o belga e o sérvio são gajos para me encherem de trampa até aos olhos e de me lixarem a noite toda. Casca nos dois, protege a zona defensiva e não os deixes subir muito. Se fosse a ti apostava no Ruben no meio-campo. Se vamos jogar ao nível deles, não ouses espetar dois troncos de sequóia no nosso centro contra outros tantos do lado deles. A força pode ser útil mas a rotação de bola é muito mais!

Acima de tudo mostra que queres ganhar o jogo depois de teres desperdiçado dois pontos em Kiev que nos podem vir a fazer falta. Sim, o filme já se repetiu. E não foi nada bonito.

Sou quem sabes,
Jorge

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O próximo é sempre mais complicado

Não é de agora e não creio que vá parar por aqui. Esta forma muito peculiar das equipas grandes abordarem os jogos contra outras que no plano teórico lhes serão inferiores é algo que me massacra a alma desde há muitos anos (vejo futebol desde o meio dos 80s e sempre fiquei lixado com estas tretas) e, mais uma vez, não me parece que termine a curto ou médio prazo. E este tipo de irracionalidades acontece por uma enormidade de razões possíveis, típicas de quem errou sabendo que não podia errar. É a Champions, pela dificuldade do jogo seguinte e pela montra para possíveis transferências a fazer com que o jogador tire o pé ou faça um sprint a menos; é a parte física, que não está ainda em condições e que impede o esforço extra; é o desconhecimento das características dos colegas, que fazem com que haja menor entrosamento; é a táctica que não entendem e a movimentação que não compreendem.

Bollocks.

É facilitismo, apenas isso. É a hubris de um grupo de homens que vê o adversário como um alvo fácil, como se a maçã do Guilherme Tell fosse uma abóbora e o seu filho fosse Tyrion Lannister. É ver o jogo como uma sucessão de passes e remates até que o próximo certamente vai entrar e o(s) golo(s) serão suficientes. É sempre isto e não consigo engolir esta casca de melancia que se atravessa na garganta quando olho para o resultado e vejo que sofremos dois golos evitáveis de uma equipa que está em lugares de descida, que se bateu com garra e com força contra nós e que não conseguimos mostrar em campo que somos melhores que ele no papel.

E decepciona-me ver que Lopetegui não consegue mudar esta maré.

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Baías e Baronis – Moreirense 2 vs 2 FC Porto

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Não sei o que é que possui um grupo de jogadores, sabendo que são claramente mais talentosos que o adversário, a facilitar desta forma quando está sempre tanto em jogo. Quando toda a gente os avisa durante dias a fio que não se pode brincar em nenhum jogo, quando todos os jogos contam, quando um deslize pode significar a diferença entre ganhar e perder e quando a equipa ainda está numa fase instável que parece não querer acabar. O treinador brincou, os jogadores brincaram e os adeptos não sabem o que fazer. Um jogo de merda, com um resultado de merda e uma exibição de merda. Não há outro termo. Notas, abaixo:

(+) Osvaldo. Trabalhou que se fartou e mostrou que tem uma capacidade técnica e talento para jogar de costas para a baliza que fazem dele um elemento importante para o onze, mas é o remate rápido e repentino e a facilidade de desmarcação que podem fazer dele um ainda melhor suplente de luxo. Merecia ter marcado.

(-) Incapacidade de criar perigo constante contra equipas fechadas. Ainda não tínhamos apanhado uma destas este ano e viu-se o que já se viu vezes sem conta em anos anteriores e em especial com Lopetegui: somos incapazes de pressionar de uma forma que crie perigo a não ser por lances individuais.

(-) As contínuas adaptações tácticas Entram. Travam. Sofrem. Muda-se o miolo. Mudam-se as alas. Muda-se tudo e continua a mesma parvoíce. Um jogo lateral como no andebol. Sobe um, desce outro, não apoia o terceiro. Sobe o lateral, trava o extremo, volta atrás. Os médios não sobem, o avançado atrasa. Os extremos não furam, bola para o lateral, recua para o central, volta à base, recomeça. Nervosos, como o treinador. Muda-se o centro de novo. Sai um médio, entra um extremo. Troca outro extremo para o meio. Troca outro médio para trás. Recua o jogo, trava a forma, pára a equipa. Sai um defesa, entra um avançado. Desce um médio. Desce outro avançado. Recua o jogo, trava a forma, pára outra vez a equipa. São mudanças a mais durante um jogo onde os jogadores deixam de saber o que fazer e insistem na lateral. Pelo ar, agora. Não dá. Força pelo meio. Não dá. Onde estão os avançados? Onde estão os médios? Ninguém sabe, muito menos eles.

(-) Herrera Enquanto o meio-campo o tiver como comandante não vejo como conseguiremos ser uma equipa em condições. Podem-me dizer que toma as decisões certas e que tem bom controlo de terreno e de zona e de todos os conceitos técnicos e tácticos, mas a velocidade a que joga é tão ridiculamente baixa e a forma como triangula com os colegas reflecte-se em passes mal feitos e num empastelamento do jogo que me enerva como poucos o conseguiram no passado. À sua beira o Bolatti cresce para um Bolt, um Chippo para um Obikwelu e um Valeri para um Ben Johnson. Com doping.

(-) Varela Era tão bom, mas assim espumante-ao-pequeno-almoço bom, se o Silvestre conseguisse passar por um adversário. Nem peço tanto. Era tão agradável como três semáforos verdes consecutivos se ele conseguisse ao menos fazer um cruzamento normalzinho. Baixemos ainda mais o nível. Era tão simpático como uma toalha sequinha sem cheirar a mofo se ele conseguisse controlar uma bola de primeira. Era. Mas nunca é e hoje voltou a não ser. Dizer que foi inoperante é pouco. Foi um redondíssimo zero.


Mais dois pontinhos a voar num campo de onde não poderíamos sair com menos que três. A época vai ser longa, muuuuuuuuuito longa…

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