O futebol é isto. É a emoção de uma bola que parece ir para a rede mas enfrenta um poste vil e perde o duelo, são os saltos de milhares de adeptos quando uma sequência de remates se sucedem a uma velocidade indigna para seres humanos, com pernas e braços e cabeças ululantes numa coreografia que faria o Bolshoi corar de vergonha. É um canto tão bem marcado que desafia a realidade e o histórico recente. É um homem passar por seis adversários na mesma jogada, alguns várias vezes. É um gigante defender uma bola impossível e quase repetir o feito no mesmo segundo. É a alegria de ver um menino de 18 anos a ser mais homem que tantos outros no seu lugar. É lindo e é assim que devia sempre ser. Amén. Notas bem dispostas já abaixo:
(+) Ruben Neves. O Pirlo de Mozelos. Cada bola que sai dos seus pés parece levar veludo a enredá-la num harmonioso conjunto de leveza e dedicação, com a perfeição da entrega a deliciar-me a cada passo que dá, a cada passe que faz. Junta a isto o esforço de um jogo inteiro, alheio a passeios pelo relvado e a envolver-se em cada jogada com entrega e afinco, mostrando a todos que um jovem pode ser mais maduro que tantos outros com mais experiência. Um portento de discernimento e inteligência em campo. E é nosso.
(+) Aboubakar. Não sabe parar quieto e é na capacidade de trabalho que mostra toda a sua capacidade. Diferencia-se de Jackson, nas palavras do meu colega na cadeira ao lado, pela capacidade de drible curto e progressão no terreno que o colombiano não tinha. Concordo, apesar de achar que as comparações são desnecessárias. Aboubakar está a fazer o seu caminho depois de um ano como understudy e fez mais um jogo abnegado, no meio ou a tapar na esquerda durante os últimos minutos, sempre com força e dedicação à equipa.
(+) Brahimi. E finalmente apareceu o argelino, pronto para aqueles dribles curtos que puseram meia Europa a salivar nos primeiros meses da época passada e que tanta falta tem feito nas primeiras semanas desta. Enfrentou Ivanovic com agressividade e tentou sempre cair por cima do sérvio, acabando por dar origem ao primeiro golo numa jogada individual como há muito não se via a este nível. E foi igualmente importante a tapar o flanco na ajuda a Indi, especialmente na primeira parte.
(+) Indi. Talvez o melhor jogo do holandês pelo FC Porto, foi rijo e nunca se deixou intimidar por quem quer que lhe aparecesse pela frente de camisola preta (com umas nuances ridículas nos calções, diga-se). Não subiu muito, é verdade, mas por aquele flanco raramente houve perigo a não ser na parte final, com meia equipa já agarrada às pernas e o Chelsea a pressionar pelo ar. Não serve para todos os jogos mas esteve muito bem hoje.
(+) A reacção ao golo sofrido. Sofrer um golo na última jogada da primeira parte é o equivalente a tropeçar a meio de subir Machu Picchu. Confusão, medo, desânimo e uma sensação de perda que podia ter colocado tudo em causa, com as devidas comparações e noções de escala. Mas a equipa, talvez com influência do treinador, talvez pela fé em alta depois de uma boa primeira parte, conseguiu erguer-se de novo e apareceu em campo confiante e com vontade de vencer o jogo. O resto foi o que se viu.
(-) Meio-campo inelástico na primeira parte. A ideia era simples: encher o meio-campo com tanta malta que o Chelsea não conseguiria produzir futebol por aquela zona. E funcionou, mas por pouco, porque apesar de haver mais gente no centro do terreno que pinheiros em Leiria, houve grande dificuldade no desdobramento e no encontrar das posições certas, especialmente por Danilo e Imbula, que pareciam particularmente perdidos e muitas vezes ocuparam a mesma relva sem que conseguissem impedir o avanço do adversário. Na segunda parte tudo foi melhor, com o centro a ser ocupado de uma forma mais consistente e com os jogadores a entenderem-se muito melhor na cobertura da zona defensiva.
(-) As hesitações perante a pressão. Ao ver o onze a passar nos écrans gigantes do estádio, pensava: “porra, temos muitos internacionais, não podemos dizer que não há experiência do nosso lado”. Mas à medida que o jogo se ia desenrolando, notava-se uma diferença significativa na forma como o Chelsea encarava a pressão do adversário quando comparada com a nossa reacção ao mesmo cenário. Danilo tremia um pouco, Maicon insistia na jogada bonita, Marcano hesitava na abordagem aos lances e Imbula, apesar de usar bem o corpo, parecia sempre enfiar-se num buraco de onde era complicado sair. Brahimi e Ruben foram os que melhor se safaram na primeira parte mas houve demasiada tremideira com a bola nos pés durante muitos minutos.
Um empate, uma vitória e tudo prontinho para sermos bons meninos e tratarmos já da qualificação nas duas próximas jornadas contra os israelitas. Soube bem, carago.
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