Ouve lá ó Mister – Feirense

Señor Lopetegui,

Eu sei que no ano passado saímos da Taça com uma humilhação das grandes perante um Sporting que não jogava nada de especial e que veio ao Dragão cravar três naifadas na nossa moral e que abanou a equipa de uma maneira que andou umas boas semanas a ver se percebia o que tinha corrido mal. E este ano, até agora, temos tido alguma sorte nos sorteios e nada nos tem acontecido de muito mau nesta competição, prova disso é termos chegado até este ponto. Agora, na Feira, tens mais um teste que não pode ser mais que isso: um teste. Mas não é (nem pode ser) uma prova de dificuldade extrema, muito longe desse nível. É uma espécie de exame a meio do ano que só conta para nota se a média das notas for muito baixa, o que me vai fazer crer que estás prontinho para mais uma batelada de inventonas que me vão fazer arrancar os poucos cabelos que ainda tenho.

Vi que convocaste alguns “alternativos” e não me parece mal, mas não inventes muito, por favor. Tenta perceber quais dos teus jogadores são “Andrés” e quais são os “Alexs”. Explico. Há aqueles que dão o litro independentemente do jogo em que estão envolvidos, ao contrário de outros que se sentem menos motivados (coitadinhos dos pobres que sentem muito os sentimentos…) e acabam por só fazer borrada durante a partida e é um “oh tio oh tio” até atinarem, se percebes o que te digo. Escolhe os melhores e despacha lá mais uma eliminatória em condições.

Sou quem sabes,
Jorge

Link:

Dá mais gosto ver os Bês

São quase duas da manhã e estou a ver o jogo dos Bês contra o Sporting. Tenho escrito pouco sobre estes rapazes (e sobre os outros também, admita-se) este ano, mas vejo todos os jogos que consigo e só posso estar satisfeito com o que tenho visto. Não há ali enormes talentos, nem mini-Ronaldos nem mini-Messis. Mas há meia-dúzia de rapazes de qualidade que têm feito com que a equipa esteja em primeiro lugar na segunda Liga com todo o mérito. E há mais que isso. Há consistência. Os jogadores sabem o que fazer em campo, dos relativamente ineptos defesas centrais que cortam a bola para fora quando precisam; dos médios, talvez os mais pequenos de toda a nossa história, que trocam a bola entre eles com o entrosamento que o convívio habitual traz e que as rotinas que vão criando ajudam a construir e a trabalhar em permanência; dos avançados, que recebem apoio dos laterais e que se cruzam e trocam de posições com inteligência; dos próprios laterais, ambos titulares de caras em metade das equipas da divisão acima, que defendem com afinco e sobem com critério. Jogam porque se conhecem e conhecem-se porque jogam.

Não há Messis mas há talento. Ismael, um Hulk em potência que faz os mesmos erros que o brasileiro fazia quando chegou à Invicta. André Silva, que tem mais de Domingos que o seu próprio filho, agora a penar em Coimbra. Rafa, que fará corar de vergonha quem optou pelas contratações de Cissokho e Angel. Victor Garcia, que há tempos merece ser utilizado na equipa principal com mais frequência. Francisco Ramos ou Graça, que “roubou” o lugar a Tomás, qual deles o mais inteligente com a bola nos pés.

Há talento, há. Não para entrar directo para o onze da primeira equipa mas sem dúvida para fazer comichão às escolhas dos principais. E acima de tudo pelo gozo que dá vê-los a jogar, ao contrário dos que lhes tapam o lugar no Dragão e os obrigam a jogar em Pedroso.

Link:

Baías e Baronis – Nacional 1 vs 2 FC Porto

306956_galeria_nacional_x_fc_porto_liga_nos_2015_16_campeonato_jornada_13.jpg (1)

Se me disserem, daqui a uns anos, que um jogador do FC Porto ficou surpreendido ao ser substituído cinco minutos depois de se começarem a jogar os últimos quinze minutos de um jogo interrompido por causa do nevoeiro…nao creio que haja dificuldade em perceber que foi Lopetegui o autor do feito. E mais um jogo em que uma equipa do FC Porto acabou a mostrar mais cagaço que um miúdo tímido em frente a um bully que lhe rouba a sobremesa todos os dias. No entanto, uma vitória é uma vitória e não foi mau de todo, mas continua a ser incrível a insegurança que a equipa mostra em campo.

(+) A jogada do segundo golo. Um exemplo do que deveria acontecer em 90% e não em 2% das jogadas ofensivas da equipa. O lateral a aparecer no overlap em tabelinha com o extremo que flecte para o centro, um cruzamento aberto para o outro extremo que se aproxima do centro, rodando a bola para o médio mais próximo do avançado que remata…e a única falha foi essa, ainda que compreensível, porque logo apareceu mais um jogador em zona de segunda bola, a aproveitar o ressalto e a marcar. Perfeito. Fizessem isso mais vezes e não estava aqui aborrecido com eles.

(+) Indi. Está a fazer uma segunda época bem melhor que a primeira e ainda hoje foi inteligente na forma prática como cortou várias bolas para a bancada, exactamente como eu quero que um central faça quando não é fácil e certa a saída com a bola. Ainda assim, parece estar sempre mais à vontade defensivamente do lado esquerdo, onde consegue impôr a presença física…e provavelmente porque precisa de jogar menos com a cabeça.

(-) O medo. Mais que a ineficácia ofensiva, onde Aboubakar parece incapaz de enfiar uma única bola dentro da baliza, sozinho ou acompanhado. Mais que os passes falhados pelos centrais. Mais que as falhas defensivas de Marcano em número preocupante e crescente. Mais que os extremos que não conseguem furar, os laterais que dão muito espaço a defender e os trincos que fazem o mesmo no meio-campo. Mais que tudo isso é o medo, o incoerente temor de qualquer adversário que apareça pela frente de jogadores experientes, que deveriam conseguir jogar a um nível vastamente superior ao que estão actualmente a mostrar em campo. Há uma notável incongruência nos movimentos dos jogadores, que continuam a não estar entrosados, muito por culpa de um treinador que muda mais frequentemente de equipas do que seria aceitável numa equipa que não tem os pés tão firmes na terra como ele pensa que tem. E não satisfeito com isso, lá segue Julen na sua demanda de “treinador mais cagarola de sempre no FC Porto”, com mais uma saída de um jogador ofensivo para entrar outro para “segurar o meio-campo”. Já vi mais homens a tentar “segurar o meio-campo” sem o conseguirem do que os que tentavam, na altura do Adriaanse, “criar desequilíbrios ofensivos”. Vejam os últimos quinze minutos (os de hoje) e percebem o que estou a dizer: uma equipa cheia de receio do adversário, a recuar para a área com o treinador a enfiá-los ainda mais lá nas profundezas do rectângulo sem que haja calma e inteligência para conseguir sair no contra-ataque com um mínimo de eficácia. Jogar assim, com este medo, é de equipa pequena. E de treinador pequeno.


Mais uma exibição fraca de uma equipa medrosa, liderada por um dos treinadores mais medrosos que me lembro de ver ao nosso leme. Está encontrado o anti-Adriaanse.

Link:

Ouve lá ó Mister – Nacional

Señor Lopetegui,

Ainda estou mal disposto por causa do jogo a meio da semana e não me parece que passe tão cedo. Pedi-te duas coisas muito simples: tenta ganhar e não inventes. Abdicaste da primeira por causa da segunda e deste-me uma azia que só vai passar quando receberes o troféu de campeão nacional das mãos do Proença ou seja lá quem for que te vai colocá-lo nas mãos. É que não há outra oportunidade para ti, meu caro, que não a vitória nesta prova. Tudo o resto, para lá de uma hipotética conquista da Europa League (sonha, Jorge, tu sonha bem alto, rapaz!), só vai ajudar a soletrar mais um enorme falhanço dos objectivos e um pontapé no rabo para daqui a uns anos escreveres as tuas memórias e ocultares este período.

Hoje, mais uma viagem à ilha. E se a última vez que foste a uma ilha apanhaste no pandeiro, espero que não lhe tenhas tomado o gosto porque esta ilha, apesar de diferente em hábitos e costumes, também fala numa língua esquisita e é malta que bebe bem e do bom. Um amigo meu diz que tu bebes uns chupitos antes do jogo e depois passas os noventa minutos todo zurdinado e por isso é que tomas as decisões que tens tomado recentemente. Não sei, francamente, mas vou voltar a pedir-te o que fiz antes do jogo contra o Chelsea, desta vez com maior assertividade porque o adversário é mais fraco: ganha o jogo e por favor não inventes. A sério, pá.

Sou quem sabes,
Jorge

Link:

Baías e Baronis – Chelsea 2 vs 0 FC Porto

306148_galeria_chelsea_x_fc_porto_liga_dos_campeoes.jpg

Uma frase que não magoa ninguém e que só constata o óbvio: não foi em Londres que saímos da Champions, mas em casa contra o Dínamo. E é infeliz que sejamos eliminados com um pecúlio final de dez pontos, algo raro mas não impossível e que nos vai ficar na memória. Acima de tudo é mesmo esta a grande lição da Champions deste ano: não chega ganhar alguns jogos. É preciso ganhar todos os que se conseguir. E não o conseguimos por mérito alheio mas acima de tudo por demérito próprio. Vamos a notas:

(+) O esforço dos jogadores. Não os posso censurar por terem corrido. Era um jogo decisivo, onde a honra manchada na jornada anterior poderia ter sido salva com uma exibição acima da média e um bocadinho de sorte. Bastava trabalharem para isso e foi o que fizeram. Nenhum correu menos do que conseguiu, todos que estiveram em campo colocaram tudo na relva, entre carrinhos e disputas de bola na relva até voos pelo nada tépido ar de Londres, os rapazes de camisola branca (eu digo sempre que dá azar, ninguém me ouve…) lutaram com as forças que tinham para ultrapassar um obstáculo difícil mas não impossível. E não o conseguiram por algum azar, pouca clarividência ofensiva (culpa não deles mas do que lá os pôs) e por culpa própria, por terem perdido contra o Dínamo no jogo anterior. Hoje tentaram salvar a pele e o coração. Conseguiram, mas com fel na boca.

(+) Brahimi. Tenho muita pena que tenhas trabalhado tanto para conseguir produzir tão pouco na linha da frente, Yacine. Raios, a tua jogada mais perigosa foi a que acabou com o apito do árbitro, muito por culpa do teu mister que te pôs numa posição onde tinhas em média mais ingleses à tua volta que uma adolescente de mini-saia numa happy hour no centro de Sheffield. Lutaste como um louco, tentaste tudo o que conseguias e fizeste com que o Miguel Prates e o Freitas Lobo te estivessem prestes a oferecer um jantar de lagosta. Piadas aparte, bem fizeste por o merecer.

(+) Danilo. Ele bem tentou, com cargas rijas e confrontos de titãs a meio-campo contra uma formiga agressiva e o equivalente à Torre dos Clérigos em versão sérvia. Danilo usou o corpo, a cabeça e a alma em todas as jogadas em que esteve envolvido e não se lhe podia pedir mais. Questiono-me se não servirá melhor os interesses da equipa tê-lo a jogar como puro trinco, “à antiga”, com Ruben um pouco mais adiantado com uma táctica mais assente na rotação pura da bola a meio-campo…ah, já percebi, o Julen é que não quer.

(-) Vamos lá inventar mais um bocadinho. Um treinador do FC Porto que vá jogar a Inglaterra e não invente uma táctica louca ou coloque peças imprevisíveis em campo não é digno do seu nome. E Julen Lopetegui pode adicionar o seu nome a uma longa galeria de nomes que colocam meia-dúzia de quixotes a tentar lutar contra moínhos imaginários mas sem o Rocinante nem o Sancho nem sequer uma lança para impôr respeito. Não acredito que esta táctica tenha saído do ar ou da imaginação do treinador a vinte minutos do início do jogo. Acredito que tenha sido testada (contra pinos, nos treinos) e que até poderia ter funcionad…não, não podia. Não podia porque a equipa não está rotinada para jogar NA SUA TÁCTICA NATURAL, QUANTO MAIS NESTA MERDA DESTE HÍBRIDO QUE ATÉ O CHAPMAN SE CÁ ESTIVESSE ERA CAPAZ DE DIZER: “OH FUCK OFF, SIR, YOU ARE MENTAL!”. E insistimos nesta parvoíce, neste constante mudar de peças e rotinas, desagregando uma equipa que lutou até não aguentar mais e que cai, mais uma vez, pela ausência de uma consistência de jogo central que permita uma transição pacífica defesa-ataque e que faça com que a aposta nas laterais seja uma demanda por um Graal qualquer que só existe na cabeça do técnico. Apoiam os laterais, descem os médios, há espaço a mais no centro; sobem os médios, os laterais também, fica a zona seis desprotegida; descem os avançados para recolher a bola, os laterais não sobem com medo, os médios idem e a bola rola para os defesas, os três que afinal eram cinco e que, durante várias trocas de bola do Chelsea, pareciam não ser nenhum. Táctica? Para as urtigas.


Repito: saímos por demérito próprio. Mas isto não significa que desistamos de procurar bons resultados na Europa. Amarguras aparte, sem termos feito um grande jogo, espero regressar à Europa em Fevereiro. E espero que o FC Porto também regresse.

Link: