Mais de dezanove mil pessoas estiveram hoje no Dragão. Sofreram, tal como eu, com a inoperância ofensiva da equipa, que novamente mostrou que não o é. É um conjunto de jogadores atirados para um relvado com um plano imperceptível de abordagem a um jogo que se transformou numa trincheira do Soma, tal é a dificuldade que temos em saber o que fazer e como o fazer. Somos, neste momento, um alvo fácil para qualquer formação que nos apanhe pela frente porque entre a incapacidade no ataque, a má cobertura na defesa e a fragilidade do meio-campo, não somos uma equipa. Por muito que possam esticar a definição, não cumprimos os requisitos. E pagámos por isso. Notas abaixo:
(+) Maxi. Lutou muito, apesar de pouco produtivo. Foi dos poucos que, naqueles momentos Maxi de “sai da frente ou arranco-te os olhos com o dedo mindinho” em que arrisca o amarelo mal sai da posição, tentou por alguma forma tirar a bola aos jogadores do Rio Ave que passeavam alegremente no nosso meio-campo. Fê-lo sem grandes excessos mas pelo menos fez alguma coisa para combater a letargia que se apodera da equipa durante tanto tempo.
(+) Brahimi. Ele bem tenta…mas as coisas raramente saem bem. Mas tenta e não consigo tirar-lhe o mérito por pegar na bola e enfrentar dois, três, vinte adversários sozinho e sem movimentações de colegas que o ajudem a sair do poço onde infelizmente acaba por se enfiar. Algumas boas jogadas, pouco mais.
(+) O público, durante quase todo o jogo. Aguentaram-se bem (e eu, que como sempre gritei para os jogadores ao mesmo tempo que me forçava a aplaudir e incentivar as jogadas mais banais) até ao final da partida e a pressão psicológica que sofreram às mãos daqueles rapazes de azul-e-branco teve a resposta da bancada com aplausos sofríveis e quase ausência de assobios. Os sócios fizeram a sua parte, apoiaram Lopetegui e tentaram levar a equipa (ainda que timidamente) para diante. E eles, o que fizeram? Um manguito.
(-) Uma não-equipa liderada por um não-líder Ninguém acredita. Ninguém. Vê-se no olhar dos jogadores, na quantidade absurda de passes laterais que insistimos em fazer. Nota-se na atitude, no medo do meio e na busca das alas, na forma como vêem os adversários trocar a bola com incrível facilidade no nosso meio-campo sem que entendam como a tentar recuperar. A pressão, sôfrega e mal estrurada, aparece ao fim de uns segundos de tiki-taka-foda-se onde a bola rola e os olhos reviram. O ataque, ténue, delicado como um nenúfar a ulular na superfície de um bucólico lago estival, onde os remates tocam ao de leve na superfície das águas e deslizam para a sombria tristeza do rápido esquecimento. Os passes laterais, ah, esses malandros, que criam a matriz força/altura para que nunca seja resolvida pela mente humana como se de um paradoxo se tornasse. De Guaríns a Bolattis, é o que temos e a culpa não é só deles. Também é, porque são frágeis, porque não aprendem, porque não entranham as ideias do treinador. Quais ideias? Alguém vê uma onça de evolução na equipa? Reparam em trabalho feito durante a semana ao olhar para o campo? Notam as triangulações, os movimentos meticulosamente calculados, as desmarcações delineadas no papel e transferidas para a relva? Percebem os cantos sempre bem marcados em grande arco para a inevitável intercepção adversária? Ou será a subida de Maxi solitário pelo flanco? Ou Brahimi, quixotescamente enfrentando moínhos que afinal estão lá rijos e muitos? E Aboubakar, que tira o pé e corre só em zonas onde não precisa? Ou um meio-campo depauperado de força, alma, vitalidade e vontade de ganhar? É isto que o treinador transmite aos jogadores? E eles, ouvem-no? Um mudo a falar para surdos. Perdi mais um naco de alma hoje no Dragão.
Saí do Dragão com a cabeça baixa. Continuo sem conseguir perceber como vamos conseguir subir de produção e evoluir para um patamar aceitável. E com Lopetegui ainda menos.