- É impossível acreditar que este tipo de entrevista possa ser pura, aberta e sem condicionantes. Um Presidente de um clube que é sócio maioritário (ou dono) do canal onde é entrevistado responde ao que quer, como quer. Não digo com isto que o Júlio tenha recebido as perguntas de antemão, mas a acutilância das perguntas fica sempre aquém do que a maioria do povo gostaria. Digo o mesmo quando acontece com outros presidentes noutros canais com as mesmas condições, como é lógico.
- Peseiro foi a primeira opção. Não acredito. Que tenha havido um telefonema em paralelo com alguns outros telefonemas feitos para outros treinadores, até faz algum sentido (há que apalpar terreno antes de avançar para um negócio), mas não tenho dúvidas que houve outras opções que reuniram maior consenso de um ponto de vista politico-estratégico.
- PdC dá uma imagem de old-timer em relação às redes sociais, como era expectável. Nada que me surpreenda, não é ele que tem de se modernizar. Aliás, nunca seria ele, não tem perfil e soaria estranho que PdC começasse a enfiar likes em fotografias de cãezinhos vestidos como o Ruben Neves. É e será sempre um presidente à antiga, que não se vai modernizar. E só ainda não lhe veio morder no rabo a falta de vontade de mainstreamizar a postura porque a base eleitoral é de tal maneira vasta (e a oposição física, até ver, inexistente) que nem precisa de fazer campanha.
- A forma como reduziu Lopetegui a um treinador que não se adaptou ao nosso futebol ao fim de um ano e meio foi infeliz. Infeliz pelo timing, não pela forma, porque se demorou todo esse tempo para finalmente se aperceber que a adaptação foi lenta, talvez tenha de repensar a maneira de seguir a equipa principal de futebol. Mas foi muito inteligente na forma como fez a vénia aos adeptos por não criticarem os jogadores mas o modelo. Quase que posso imaginar Lopetegui a roçar-se todo no sofá enquanto pergunta: “Mas foste tu que apostaste no meu modelo, carago!”. Só por essa, aposto que se vai recandidatar à presidência.
- [modo ironia ligado] Olha, vai mesmo haver recandidatura. Raios que essa é que me surpreendeu! [modo ironia desligado]
- PdC lidou com a sugestão de nepotismo de uma forma pior que Thomas More com as acusações de traição. Ou Cavaco com o bolo-rei, para trazer a metáfora para mais perto. E o resto das perguntas sobre finanças e negócios ficaram por fazer, não foi, Júlio? Claro que foi.
- Mas estou a criticar o Júlio sem grandes motivos. Esteve bem nas perguntas sobre o Adrián e o resto dos negócios absurdos em que nos enfiámos. Andou pela rama, como esperava, mas ainda pôs os pés um bocadinho no pântano. Doyen…doyen…
- O Suk, se souber falar português em condições, deve ter estado a ouvir e pensou: “Mas onde raio me vim meter? Vá lá, o novo mister gosta muito de mim porque eu já cá estou, caso contrário mandava-me para o PAOK ou para o Rapid do Brunei de Baixo mais depressa que eu consigo dizer ‘Passa a bola, Brahimi!'”
- Ah, e que bela patada no Ferrari que é o Imbula. Foi dos poucos momentos em que gostei, apesar de ter a certeza que o rapaz ainda vai correr menos a partir do primeiro treino de amanhã.
- PdC já prometeu tantas vezes que os jovens vão evoluir para a equipa principal que já ninguém acredita. E o Rafa não vai fazer parte do plantel coisa nenhuma. Vai provavelmente fazer o estágio de pré-época, mas garantias para o plantel ninguém tem. Nem ele.
No fundo, uma boa entrevista dentro do que é possível nestes moldes. Respondeu a tudo não respondendo a grande coisa. Mas houve ali um pedacinho de nostalgia por um passado não-tão-recente em que Pinto da Costa saía da zona de conforto e passava ao ataque. Desta vez não houve ataque mas gostei de ver alguma humildade pública. Se foi verdadeira? Oh amigos, cresçam!