Ouve lá ó Mister – Benfica

Camarada José,

Ando com fome, homem. meti-me a ver se faço uma dieta para mandar abaixo os pneus e esta merda mexe com o raciocínio, a boa disposição e estou convencido que está a fazer de mim mais burro do que já era. Efeitos secundários de bolachinhas de água e sal ou de chá de adenóide de gafanhoto ou lá o que caralho é que metem nas ervas, o que eu sei é que me andam a roer por dentro e por fora. E ainda por cima mandam-me correr e fazer exercício e andar por aí feito retardado a ver se consigo calcar mais alcatrão que uma pêga na circunvalação. Não gosto disto. E como não gosto, quem leva és tu porque o Maicon é bem maior e era menino para me rebentar o focinho, senão mandava-me a ele.

O jogo de hoje não é só um jogo. É uma batalha, um confronto de gigantes, uma luta sem tréguas que dura há umas dezenas de anos e que tu acompanhaste desde que começaste a obrar no pote. Francamente não sei se és portista ou benfiquista ou se gostas mais é do berlinde, mas aqui ninguém perdoa quem entra para estes jogos sem a noção do que eles significam para a alma da nossa gente. Pergunta ao Co e ao Lope, eles dizem-te. E depois do jogo de Domingo estamos todos meios acagaçados com o que pode vir por aí, mas se falares com qualquer portista, TODOS te vão dizer: “é para ganhar, mister!”. Seja com o Chidozie, o Jaime Magalhães ou o Deco, só há uma vontade: ganhar o jogo.

Tens opções complicadas para tomar hoje, mas não as tornes mais difíceis do que já são. Tenta ganhar e não te vão censurar. Se fores para lá para não perder, lixas-te com eles e connosco. A escolha é tua.

Sou quem sabes,
Jorge

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O jogador falhou mas o homem quebrou.

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Estávamos aí aos 15 minutos de jogo, quando Maicon recebe a bola de Helton e segue com a redondinha controlada pelo lado direito do centro da defesa, o “seu” lado em qualquer jogo. Arranca com a pelota na sua frente, lento, hesitante, sem linhas de passe visíveis e a pedir que os colegas se movimentem para criar qualquer tipo de jogada ofensiva com um mínimo de coerência. Herrera está tapado, Defour longe, Lucho ainda mais. Varela colado à linha direita, Josué e Jackson a duzentos quilómetros de distância. Maicon olha e vê Danilo, como um desiderato tão perto de atingir, ali mesmo à beirinha da relva, uns meros vinte metros entre ele e o descanso mental, a recuperação da posição e a injecção de moral que precisa para não se preocupar mais nos próximos dois, três segundos. Trinta e tal mil no estádio viram o que se ia passar a seguir. Maicon não viu. Não viu que havia um fulano de vermelho e branco prontinho para lhe sacar a bola com um ou dois passos ao lado, tal foi a facilidade com que interceptou o passe longo (rasteiro) que o brasileiro tentava endossar ao compatriota.

We’ve been down this road before.

Foco-me em Maicon porque foi o elemento principal daquela tragédia que vimos no Domingo à noite. E o brasileiro foi a personagem principal, o Hamlet do nosso Shakespeare, o Tyler Durden do Palahniuk, a Blimunda do nosso Saramago. E foi-o mais uma vez, ao fim de seis longos anos em que teve muitos altos e outros tantos baixos, sem que nunca conseguisse mostrar com consistência aquilo que um jogador de futebol ou de qualquer outro desporto precisa para se manter no topo: evolução. Maicon continua a ser o mesmo puto que cá apareceu no verão de 2009. Sim, aprendeu a marcar livres directos e tem mais uma meia-dúzia de tatuagens e filhos, mas no fundo é o mesmo. É o mesmo gajo que faz passes longos em demasia quando ninguém lhe exige esse exagero durante uma partida. É o mesmo gajo que tenta fazer túneis, picar a bola ou fintar o adversário ou se refugia num cantinho de onde não tem saída quando os oponentes o pressionam. E é um comportamento recorrente que o faz mudar durante um ou dois jogos depois de uma assobiadela enorme dos seus próprios adeptos, para rapidamente regressar quando os tempos estão mais macios. Não houve nenhum treinador que o conseguisse mudar e que fizesse dele um central prático, simples, sem invenções. E logo ele, que já passou por momentos complicados, desde uma lesão complicada até à famosa utilização como lateral direito às mãos de Vitor Pereira, ele que é capitão de equipa e que cresceu com a equipa e a par dela, é um dos elementos mais antigos do plantel e usa uma braçadeira que simboliza liderança.

Um líder não pode ser isto que vimos no Domingo. Um líder não pode ter a atitude que Maicon teve, abandonando os “seus” jogadores em campo e deixando-os sem leme, sem voz de comando, sem cabeça. Maicon falhou como todos podemos falhar em qualquer altura, mas em vez de enfrentar as falhas de peito erguido permitiu que a falha fosse a última gota que fez transbordar o copo da sua aparente frágil psique. Compreendo mas não aceito. Não aceito que um capitão de equipa mostre tão pouca fibra em campo. Não aceito que se passe jogo após jogo a cometer os mesmos erros e que não se melhore essas falhas. Compreendo o homem que quebra, o homem que vê uma montanha a cair sobre a sua cabeça e que cede psicologicamente a uma adversidade que parece encomendada só para si por um Deus que lhe quer mal. Compreendo tudo e tenho pena da forma como o homem Maicon se estará a sentir. Mas o jogador? Não. O jogador não aceito e quando esse jogador é capitão, ainda aceito menos.

Maicon pode ser o elo mais fraco na cadeia de culpa do que se vindo a passar este ano. Mas o que fez (ou deixou de fazer) no último jogo retira-o moralmente de qualquer lista de opções para o treinador para os próximos jogos. O tempo dirá se perdemos o jogador para sempre.

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Baías e Baronis – FC Porto 1 vs 2 Arouca

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imagem retirada do zerozero

Temos uma equipa partida. A alma está desfeita, o espírito dilacerado, as pernas em estado de decomposição. Pensei que as melhorias dos últimos jogos pudessem ter servido para animar um pouco mais os rapazes, para servir para que a moral deles não se abatesse com qualquer mínima contrariedade (como no jogo do Estoril, onde começámos a perder e recuperámos para uma boa vitória) e continuasse a puxar o barco para a frente, sempre para a frente. Acontece que o meu tradicional pessimismo, colocado de parte nos últimos tempos, estava bem alinhado. Infelizmente. Notas aqui em baixo:

(+) Danilo. Talvez o único que saiu da noite chuvosa de hoje com algum brilho e reconhecimento de bom trabalho por parte dos adeptos. Tremendo na intercepção, aguentou todo o meio-campo enquanto teve pernas para isso, mesmo depois de se ter agarrado à virilha num lance casual que todos no estádio temeram poder significar o adeus ao rapaz por um bom par de meses. Nada disso, Danilo voltou à luta e rapidamente regressou a força ao meio-campo e a única peça capaz de lutar com pernas e cabeça no sítio. Infelizmente não serviu de exemplo aos colegas.

(-) Formatar o sistema dá nisto. Imaginem que têm um computador usado que estão a pensar em usar de novo. Olham para ele e decidem formatá-lo, limpar o sistema operativo existente e instalar todos os programas que costumam usar, mas em vez daqueles com que estavam habituados a trabalhar, optam por pegar em coisas novas com melhores funcionalidades. E procedem a limpar aquilo tudo, mesmo com um disco antigo e um conjunto de memórias lentas e longe do topo da sua performance. O resultado é evidente: demoram tempo até que possam criar uma apresentação com gatinhos para mandar aos primos ou de actualizar o vosso CV. E é algo parecido que se nota neste FC Porto. Notou-se pouco depois do início da segunda parte e bem antes do segundo golo do Arouca. A equipa está partida, incapaz de produzir em zona adiantada, a tremer contra mais uma equipa em modo “firewall” (já chega de metáforas tecnológicas, não, Jorge?!) e com índices físicos assustadoramente baixos. Volto ao mesmo: uma pré-época em tempo de competição não dá jeito nenhum…e demora o seu tempo até que consiga produzir resultados. Tempo, esse é que não temos.

(-) Maicon. Não me surpreende o que fez durante o jogo. Afinal tem vindo a fazer exactamente o mesmo tipo de coisas há vários anos e este tipo de azares já deixaram de o ser há muito tempo. São marcas de personalidade competitiva, do jogador que entra em campo para uma posição onde sabe que nunca pode falhar e que deliberadamente procura todas as oportunidades para o fazer. Maicon não aprende e nunca pareceu querer aprender porque passou por vários treinadores e quando parece estar a melhorar um poucochinho nos lances como os que mostrou hoje, com os domínios de bola à Ricardinho ou as fintinhas no eixo da defesa com pressão adversária, cedo lhe acontece algo do género e perde a bola. Normalmente não dá golo. Hoje deu. E, como um exemplar vivo da Lei de Murphy, na pior altura. Mas surpreende-me e fiquei estático a tentar perceber o que os meus olhos viam quando reparei que “inventou” uma lesão e procedeu a sair de campo sem dar cavaco aos colegas, enfiando-se no banco sem falar, preso à memória da sua própria idiotice. Nunca pensei, em todos os anos que acompanho o FC Porto, de ver o seu capitão de equipa a ter a atitude que Maicon teve hoje, porque se errar é humano, não assumir os seus erros de peito erguido é infantil e indigno. Se dependesse de mim, Maicon perderia hoje a braçadeira de capitão e seria colocado em tratamento num sofá em conversa com um psicólogo e em baixa durante o tempo suficiente até se recuperar da enxurrada de imbecilidades que fez hoje e que tem vindo a fazer nos últimos anos. E depois era vendido. Não invejo o trabalho de recuperação mental do jogador, capitão, homem. Mas foi ele que fez a casa desabar por cima da sua cabeça, por isso terá de viver com isso. Longe da equipa, de preferência.

(-) Angel. Fraquíssimo. Um Ezequias espanhol. Incapaz de subir com confiança pelo flanco e cada vez mais inútil nos cruzamentos, parece quase impossível que mantenha um lugar no plantel tendo em conta o que tem vindo a fazer desde que cá chegou. Não tem nível para jogar no FC Porto e se vier algum clube dos distritais chineses que nos ofereça meia ovelha preta e uma mão-cheia de couscous para o levar, amanhã de manhã aviso o meu chefe que chego tarde e vou levá-lo ao aeroporto.


O campeonato terá ido de vez com esta derrota, mas preocupa-me que sigam outras competições pelo cano. Se no ano passado fomos à Luz depois de apanhar seis em Munique, este ano vamos lá depois de uma derrota humilhante em casa. E depois seguimos para Dortmund. Vão ser duas semanas giras, vão sim senhor.

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Ouve lá ó Mister – Arouca

Camarada José,

Esta treta de ter dois jogos por semana está para durar, rapaz. E que depois da Taça da Liga e logo a seguir a Taça de Portugal e não tarda nada vem aí a Liga Europa, por isso essa malta que vá fazendo a “tua” pré-época em condições para poder aguentar das perninhas porque os próximos tempos não prometem abrandar o ritmo. E vê lá se pões a malta boa das canetas porque os jogos que aí vêm, upa upa, vão ser durinhos! Bom trabalho em Barcelos, fizemos exactamente o que era esperado: acabaste com as esperanças do Gil logo na primeira mão e puseste os rapazes com a cabeça limpa para os próximos encontros. Muy bien, vamos a isso.

Tenho vários amigos que nasceram na cidade de onde vem o clube que hoje nos visita. Malta porreira, bem disposta, sempre pronta a beber um fino ou a discutir onde estão as naves dos nazis no lado escuro da lua ou a probabilidade de pequenas moscas da fruta terem câmaras escondidas pelo SIS para espiarem o Marcelo em Belém. Coisas normais do dia-a-dia, como compreendes. E estão sempre a tentar convencer-me a ir lá visitar os passadiços por cima do rio ou no meio do monte ou seja lá onde aquilo está espetado, com a inegável cenoura à frente do burro a tomar a forma de uma estupenda vitela arouquesa no fim do trilho. E nada me daria mais prazer que fazer a visita com eles drapeado na minha melhor camisola do FC Porto, anunciando ao mundo: eu comi em Arouca mas antes já tinha comido o Arouca!

Faz por isso. Diz que a vitela é mesmo boa e eu não quero desperdiçar nem uma garfada. Nem lá nem aqui.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – Gil Vicente 0 vs 3 FC Porto

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Um jogo normal. Tinha saudades de poder dizer isto porque os últimos meses tinham sido tudo menos normais. Derrotas caseiras na Champions contra equipas de valia inferior, derrotas longe de casa com equipas de valia MUITO inferior, empates humilhantes e exibições paupérrimas. E ontem foi normal. Apenas mais um jogo de uma equipa grande contra um adversário do escalão abaixo, numa competição a eliminar apesar de ainda faltar um jogo e em que era expectável, em condições normais, que a vitória fosse natural. E foi. E tinha saudades disto, francamente. Vamos a notas:

(+) O envolvimento ofensivo da equipa. É das mudanças mais notadas (e acrescentaria notáveis) na equipa desde a chegada de Peseiro. A quantidade de jogadores que aparece em zona de finalização é suficiente para levar os adeptos a ficarem entusiasmados com qualquer lance de ataque depois do futebol enfadonho de Lopetegui. Há muitas oportunidades para lances individuais, de entendimento e triangulação com apoio central, avanço dos laterais e passes de ruptura pelo meio. O futebol assim acaba por ser mais interessante e acutilante…mas tem o seu ponto perigosamente negativo (ver abaixo). Ontem não houve negativos, ainda bem.

(+) Danilo. Parece mais seguro no duplo pivot do que Ruben, que jogando com um companheiro lateral não consegue fazer a bola rodar como já mostrou que sabe fazer. Danilo recuperou muitas bolas na zona defensiva mas foram as subidas com bola controlada e passe certeiro que o destacaram durante o jogo, ajudando a manter o jogo controlado e o resto do meio-campo e ataque bem subidos. Bom jogo.

(+) Varela. De vez em quando surpreendes-me, Silvestre. Não fosse a tua aparente incapacidade de controlar uma bola de primeiro sem que pareça que estás a jogar com uma bola de ténis num campo de cimento e até era menino para apostar em ter-te no onze mais vezes. Dinâmico pelo centro e muito útil nas combinações com Layún, Varela foi um dos jogadores mais em foco (I shit thee not) durante o jogo, criando oportunidades e entrosando-se bem no jogo ofensivo da equipa. Parecia…motivado. É isso, motivado! O Euro está à porta e pode ser que tenhamos o melhor Varela até ao fim do campeonato. Pelo menos que me obrigue a fazer um acto de contrição quando disse que não tinha lugar no FC Porto. Anda, contradiz-me!

(+) Layún. Mais um valor seguro que é titular em qualquer equipa do nosso campeonato e só peca por ser macio a defender. Sobe com força, com vontade e com a visão de produzir lances perigosos de uma forma consistente, não apenas como faz o seu agora concorrente directo (falo do Angel, não me referia ao Indi), que se limita a subir e a cruzar para o outro flanco. Literalmente. Layún é o meu novo Fucile. Quando cá chegou em 2006, entenda-se.

(-) As transições defensivas Aqui é que a Carolina rabiosca a cauda. Tanta gente na frente não é sinónimo de eficácia e quando se perde uma bola em zona de recuperação defensiva, é o cabo dos trabalhos para recuar em condições. Não me entendam mal, não é impossível que aconteça, mas é inviável e muito complicado conseguir equilibrar um ataque com muita gente com uma solidez defensiva adequada. Não é problema único e decorre da mentalidade do treinador, mas quando via o Avto a romper pelo flanco ou o Vitor Gonçalves pelo centro, bem apoiados pelo Vagner em velocidade…houve alguns arrepios de cagaço, não duvido. E vai demorar até que os jogadores consigam esse equilíbrio, não tenho dúvidas. Raios, o Peseiro anda nisto há umas décadas e as equipas dele ainda não conseguiram…

(-) Ruben no duplo pivot O nosso menino fica preso sem a liberdade (perdoem-me a redundância) de movimentos que vem de um controlo maior da zona central e isso não o favorece. Falha mais passes e acima de tudo tenta fazê-los de uma zona mais adiantada para a frente de ataque, algo que não está a conseguir calibrar em condições. A presença física de Danilo também serve como ponto de comparação infeliz, porque Ruben perde em grande para Danilo nesse campo e perderá sempre. A rever.


Ora a não ser que aconteça alguma catástrofe no jogo da segunda mão, estamos de viagem marcada para o Jamor. E até pode ser que consigamos ganhar alguma coisa este ano! A somar ao campeonato, claro… (fingers crossed!)

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