Ouve lá ó Mister – Gil Vicente

Camarada José,

Não é uma pausa. Isto não é uma pausa. Não ajustem o televisor, o mundo não vai acabar e os Sams Smiths deste mundo vão continuar a ganhar prémios. Hoje há meia-final da Taça no Dragão e podemos chegar à final cinco anos depois. É motivo de boa disposição mas de algum cuidado, só para evitar que a malta que saia do estádio aí pelas onze da noite não comece a disparatar e vá pilhar o Dolce Vita devido à frustração. Vamos com calma, portanto.

Temos três golos de vantagem. Três. Contra uma eqiupa da segunda divisão ou liga chinesa ou lá como se chama agora aquela cena que os Bês já estiveram mais perto de ganhar mas que ainda estão bem dentro da corrida. E se temos uma equipa toda rotinha até aos ossos, também é verdade que tens à tua disposição alguma malta que fica muito contente por poder calçar nestes mesmos jogos. Usa-os. Usa-os, Zé, aproveita a vontade férrea de mostrarem serviço e suga-lhes o suor todinho. Enfia para lá o Sérgio e o Victor, o André e o Ruben. A juventude e a irreverência e, sejamos honestos, as pernas. Põe-nos a mostrar que têm lugar no plantel e que vão ser mui importantes na luta até ao fim.

E já agora vê lá se ganhas o jogo. Aposto que vão estar poucos no Dragão (eu fico fora desta vez, espero que não fiques chateado comigo) e é chato estragar a noite da malta.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – Belenenses 1 vs 2 FC Porto

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Estou cansado. Os sprints do Brahimi, as movimentações do Herrera, as subidas do Maxi e as cavalgadas do Marega (patinadelas incluídas) puseram-me de rastos e estou aqui a tentar escrever para afastar a núvem de exaustão que paira sobre a minha cabeça. Estes jogos matam-me e também parecem querer matar os nossos jogadores, que não aguentam um jogo inteiro ao mesmo ritmo e hoje notou-se bem que o risco corrido na pressão a campo inteiro acabou por desfazer o resto da capacidade física da equipa na segunda parte. Valeu pelo esforço e os três pontos (que poderiam perfeitamente ter-se transformado em apenas um) são nossos. Ufa. Notas, para relaxar, já abaixo:

(+) Casillas. Parece estar a gostar de defender em Lisboa, porque depois da exibição na Luz segue-se mais uma segura partida num estádio à beira do Tejo. Os bons guarda-redes aparecem nos momentos mais importantes e Casillas tem sido um dos nossos nomes mais brilhantes nos últimos tempos, a garantir vitórias mesmo com golos sofridos e tendo de enfrentar uma das defesas mais porosas da nossa história. Muito bem, Iker.

(+) Brahimi. Finalmente um bom jogo do argelino, com criação sucessiva de lances ofensivos durante a primeira parte e a ser o único indivíduo que conseguiu receber a bola na frente de ataque na segunda. Marcou um bom golo, podia ter marcado o segundo numa jogada semelhante e foi um dos jogadores mais activos em campo. Uma pena a lesão, espero que não seja grave.

(+) Herrera. Mais um bom jogo do mexicano fora do Dragão, que me leva a pensar que se deixa afectar um bocadinho pelos assobios que o pobo dele lhe destina quando falha um ou dois passes e demora aqueles seis ou sete anos até passar uma bola. Hoje foi o Herrera do 80, a rodar bem a bola e a aparecer em zona de último passe na perfeição. Há que poupar o rapaz para a recta final do campeonato.

(+) A entrada de Evandro. Foi perfeito, Zé. Aliás, as substituições foram simples e eficazes e não fosse o Marega ter uma combinação de ausência de talento e sabrinas nos pés e teríamos morto o jogo bem antes dele ter terminado. Evandro acalmou o jogo a meio-campo como era a sua função, servindo para que o FC Porto disparasse em termos de posse de bola nessa zona (aposto que até aí, na segunda parte, devíamos ter qualquer coisa como 10 ou 20% de tempo com a bola nos nossos pés…) e serviu para lançar alguns contra-ataques que Marega e Suk conseguiram desfazer. Mais um rapaz muito importante para o final do campeonato.

(-) As pernas, senhores, as pernas! A estratégia era arriscada e ousada, porque a pressão a campo inteiro depois de um jogo europeu quatro dias antes podia estourar com os rapazes bem cedo. E os dois golos (obrigado, Tonel!!!) ajudaram imenso a que a equipa conseguisse descansar com bola durante umas dezenas de minutos até que o Belenenses, com a força alimentada pela vontade de ganhar ao FC Porto (não tenham dúvidas, basta ver a forma como estes rapazes jogaram contra o Benfas que contra nós pareciam onze Eowyns contra onze Nazguls de branco), começaram a carregar no meio-campo e a partir daí…era só olhar para Danilo, habitualmente mexido, estava já em modo “vou-esticar-as-pernas-para-chegar-à-bola-porque-correr-tá-quieto-que-já-não-dá”. Peseiro mexeu bem e mesmo que Brahimi não se tivesse lesionado, creio que Varela tinha entrado para o seu lugar mais minuto menos minuto. Proponho usar a equipa B toda contra o Gil Vicente para que estes estejam em condições para o jogo de Braga. Vamos precisar de ainda mais pernas do que hoje.

(-) Corona. Houve alturas em que pensei que estava a ver Tello em vez de Corona, tal a inoperância e incapacidade de controlar uma bola que aparecia pelo ar. Ou pela relva. Ou de qualquer maneira que aparecesse, porque Jesus, tu hoje fizeste um jogo que encheria de orgulho um escaravelho-bosteiro. Mau no passe, no drible, no arranque, no controlo da bola. Mau em tudo, rapaz. Vai para casa, dorme bem e volta em condições, fazes favor.


Três grãos de cada vez, lá vamos enchendo o estômago com pontos que no ano passado fomos desperdiçando pelos lados da capital. Estamos longe, mas não ficamos mais longe e até nos podemos aproximar. Está a ficar giro, sim senhor.

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Ouve lá ó Mister – Belenenses

Camarada José,

Mais uma semana, mais uma voltinha na montanha russa que tem sido esta época. E ninguém está imune a críticas, nem presidente nem jogadores e obviamente nem tu, meu caro, que estás aí há umas semaninhas mas já percebeste que nesta naçom todos criticam e raramente aparece alguém com razom. Sim, eu sei, mas foi para rimar, nem fica assim tão mal. Tom mal. Whatever, siga.

O jogo de hoje é disputado quase todos os anos tirando aquelas alturas em que o Belém desceu de divisão. E há sempre a cerimónia da coroa de flores em homenagem ao Pepe (mais uma vez, para os mais distraídos, não é o do Real Madrid) e as boas relações entre os dois clubes, com o devido alheamento do súbdito vermelho que parece continuar a mandar no clube mais azul de Lisboa. As viagens à capital estão a ser mais vantajosas este ano e a última vez que aí fomos ao burgo saímos com o papo cheio e um sorriso rasgado. Mas no ano passado, na partida que disputámos neste mesmo estádio, fomos empatar depois de noventa minutos do pior futebol que me lembro de ver uma equipa do FC Porto praticar e garanto que estou a incluir estágios de pré-época contra equipas de carteiros e limpa-chaminés no meio da Holanda. No ano passado os únicos dois jogadores a quem dei notas positivas foram Óliver e Jackson. Pois. O resto foi qualquer coisa como isto: “Todos os jogadores pareceram encarnar figuras de menor relevo do nosso passado. Alex Sandro em modo Rubens Júnior, Ruben como Bolatti, Herrera à Valeri, Brahimi como Alessandro, Maicon como Stepanov e Quaresma parecido com Tarik durante o Ramadão.“. Estás a ver o que te espera se as coisas correm mal? Especialmente depois de teres atirado com o jogo do Dortmund para o lodo?

Pois é, rapaz. Há que ganhar, não é? Sempre!

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – FC Porto 0 vs 1 Borussia Dortmund

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“And when they seek to oppress you
And when they try to destroy you,
Rise and Rise again and again
Like The Phoenix from the ashes
Until the Lambs have become Lions
and the Rule of Darkness is no more“

Maitreya The Friend of All Souls
The Holy Book of Destiny

Amigos, estamos nas trevas. Notas abaixo:

(+) Danilo. Não desistiu. Chateou-se quando não lhe passavam a bola enquanto tentava furar a fortíssima estutura do meio-campo alemão, com aquelas montanhas amarelas a obstruirem-lhe o caminho. A incapacidade dos colegas em posicionarem-se à sua frente (e ao seu lado, e atrás dele…) tornava-o cada vez mais frustrado, arrancando até onde podia antes de conseguir enviar a bola para um colega estragar o que fazia de bom. Foi dos que menos mereceu a derrota.

(+) Marcano. Nunca se deixou ficar no confronto directo com os avançados do Dortmund e procurou sempre antecipar-se pelo chão, pelo ar, a meia-altura, inconformado com o que parecia ser uma verdade tão dogmática como evidente: eles eram melhores. Mas Ivan não quis saber e nunca se atemorizou com as investidas dos fulanos de amarelo, ao contrário do colega à sua esquerda.

(-) Peseiro. Perdi um bocadinho de respeito por ti hoje, Zé. Compreendo que os teus rapazes não consigam lutar com um saco de algodão doce sem que os fios de açúcar dêem a sensação que têm cinturão negro nas artes do esbofeteanço sucessivo, mas a forma como escolheste o onze não bate certo com o que vieste a dizer durante a semana. Não podes andar a dizer que queres vencer o jogo e espetar com o Varela no ataque e o Layún no centro da defesa. Não quero saber se tens medo de estrear o Verdasca ou de fazer cair para lá o Danilo, mas as tuas escolhas fizeram com que os jogadores entrassem em campo sem pensar em vingar-se da derrota da primeira mão, mas a racionalizar o que seria uma tarefa mais complicada que empurrar um Pedro Guerra coberto de vaselina desde a Covilhã até à Torre. E essa racionalização lixou-os e lixou o resto dos adeptos todos, que mal viram o onze perceberam que não iam ver mais uma noite épica do FC Porto na Europa. Faltou tudo à equipa hoje e tu sabias disso, talvez por isso tenhas optado por colocar esta competição de lado. E o público percebeu isso, eu percebi isso, toda a gente ia percebendo isso à medida que o tempo ia avançando, percebíamos que os alemães estavam vários graus de magnitude acima de nós em força, fibra, organização e determinação. Mas fica a questão: será que os teus jogadores perceberam isso? A resposta tem de ser dada no Domingo, caso contrário desperdiçaste uma boa oportunidade de mostrares aos adeptos que estamos vivos depois de estarmos no limbo tantas vezes antes e depois da tua chegada. Hoje, Zé, hoje foi uma bela merda.

(-) Angel perante Aubameyang. Numa simples frase: deixar-me-ia mais descansado ver o Briguel de cadeira de rodas como titular no FC Porto em vez do Angel.


Três competições com “Liga” no nome já lá vão. A terceira está amarrada com arames mais fracos que uma anémona pisada por um rinoceronte. A época está triste e eu triste com ela.

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Ouve lá ó Mister – Borussia Dortmund

Camarada José,

Acabei de ir ver as odds para o jogo num dos sites de apostas mais famosos por aí fora. Dão-nos 3.40 para ganhar o jogo, o que não é mau, tendo em conta que o Dortmund está com 2.10. Era giro sacar um guito simpático para pagar a casa e/ou comprar um Bentley (o carro, não o David), mas não sou gajo de apostar. Sigo com aquela estranha dicotomia que coloca a fé e o pessimismo em pratos opostos da balança, onde acreditar é um elemento comum mas que diverge nas vertentes pelas quais se manifesta.

Por um lado, o portista ferrenho, orgulhoso e moderadamente pragmático no meu ombro esquerdo diz-me que não há motivo para que não consigamos passar. Os gajos são bons, sim, mas não são imbatíveis, longe disso, e não vamos enfrentar uma versão do Brasil de 1970 com calções pretos, longe disso. Temos de de ir para cima deles com a força de dezenas de anos de história cheia de glórias e feitos julgados impossíveis e escrever mais uma página épica no nosos livro de recordaçoes.

Do outro lado, o sacana do portista pessimista e cínico sussurra-me pornografia estatística ao ouvido direito. Virar uma eliminatória com 0-2 é quase impossível, ainda por cima estes são alemães e nunca lhes vamos ganhar nem que seja a contar feijões porque os gajos até invadem a Polónia para ir buscar mais feijões só para não ficar mal. E o Aubemayang vai virar o Maxi do avesso e o Myhthtesaarian ou lá como se escreve (o pessimista não é bom em línguas, não precisa, só de números) vai espetar duas ou três nas trombas do Casillas e o resto deles vão celebrar em pleno Dragão enquanto urinam no relvado e comem as balizas ali mesmo com um bocadinho de tabasco e um fininho.

I say: fuck’em. Não temos nada a perder e se tentares ganhar o jogo ninguém te censura se o perderes. Jogar como na primeira mão deixou de ser uma opção, por isso força nas canetas, manda os rapazes enojar o amarelo, dá dois biqueiros no Reus e siga a rusga. Vêmo-nos no sorteio dos oitavos!

Sou quem sabes,
Jorge

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