A proverbial pá sempre estava lá no poço. E nós, trabalhadores incansáveis na demanda de enterrar a nossa própria alma num local mais profundo, sempre mais profundo, logo tratamos de cavar a terra amolecida com as lágrimas dos adeptos e penetrar mais um recanto de tristeza que agora podemos trazer cá para fora sem qualquer problema. E mesmo hoje, num jogo em que estivemos aí uns doze mil pontos percentuais acima do que tínhamos feito contra o Tondela, acabámos por perder sem grande mérito para o adversário, apenas demérito nosso. No ataque, no meio-campo e mais uma vez na defesa. Suspiro por tempos melhores, só não sei é quando é que vão aparecer. Notas, abaixo:
(+) Sérgio Oliveira. Tentou construir quando os adversários procuravam destruir e conseguiu-o pela intensidade e empenho que colocou em cada lance em que esteve envolvido. Caiu de produção na segunda parte e muitas vezes parece proteger a bola com os olhos em vez de usar o corpo, mas quando pega na bola sabe o que fazer com ela e tenta fazê-lo bem. O facto da titularidade ter vindo num momento em que metade do meio-campo está no estaleiro não o ofuscou e continua a trabalhar com afinco. E só não marcou por algum azar porque tentou o golo mais vezes que o resto da equipa toda junta.
(+) Danilo. Foi dos poucos que mostrou ser rijo, mais uma vez. Parece um jogador tão diferente dos demais pela forma como usa o corpo para proteger a bola, pela maneira como procura arrastar o jogo da zona de construção defensiva e atirar a bola para os mais-que-mortais jogadores pela sua frente. Pena que haja poucos como ele no FC Porto 2015/16.
(-) A defesa de manteiga, seja por que lado for. Ou é Maxi fora da posição, ou Layún a cortar para os pés dos adversários, ou Chidozie a falhar a intercepção ou até Indi a ficar expectante nos lances aéreos. Não se aproveita um lance colectivo de uma defesa que não parece feita para jogos competitivos contra qualquer tipo de equipa que consiga trocar a bola e que apareça em zona de finalizar com o mínimo de oportunidade e vontade de marcar. O que outrora já foi o nosso ponto forte é agora um dos muitos pontos fracos. Talvez o maior.
(-) Ineficácia no ataque. Se somarmos o desnorte defensivo à incapacidade ofensiva temos uma receita para este triste terceiro lugar que ocupamos actualmente, que todos compreendem e ninguém pode dizer que é injusto. Porque criámos poucas oportunidades em condições, porque o futebol é pobre e triste e pouco envolvente, porque aparecemos mais vezes com os laterais na área que os médios e os extremos e porque, para ser muito directo, desaprendemos de marcar golos. Aboubakar ficou de fora para dar lugar a um Suk que está mais vezes em fora-de-jogo que McCarthy, com bem menor nível de álcool no sangue; um Corona que sabe tanto e mostra tão pouco; um Brahimi que só consegue uma ou duas das vinte fintas que procura durante o jogo e um Varela que…bem, que é tão Varela como foi nos últimos anos. Safou-se o André, que continua a entrar em campo nas piores alturas possíveis e que nem sorte tem tido apesar de se posicionar e movimentar bem melhor que qualquer um dos outros avançados que temos. Se isto não pede uma mudança radical no esquema de jogo ou nas peças a usar…não sei o que mais possa servir.
(-) Grande-área vs Meio-campo. Aquela imagem do Suk a ser agarrado vai-me ficar na memória algumas semanas. E pode ser verdade que um árbitro na Premier League não marcaria o penalty a não ser que o coreano fosse pontapeado nas têmporas, mas se um árbitro português, a apitar em Portugal, marca todas as faltinhas a meio-campo com o mesmo nível de agressividade, gostava tanto de saber porque é que não o faz quando a falta acontece dentro do rectângulo vital. Não compreendo, a sério que não.
Aparentemente qualquer equipa que nos defronte com mínimo pinguinho de amarelo na camisola tem uma excelente probabilidade de nos bater. Do Arouca ao Dortmund, passando pelo Tondela e agora o Paços. Dizem que o amarelo é a cor da loucura. Diria que está mais para o desespero.