Ouve lá ó Mister – Sporting

Companheiro Nuno,

Um arranque de temporada destes tinha de culminar com o jogo mais complicado do ano, pelo menos no plano teórico. Não, não é o jogo na Luz que considero o mais difícil, por muito que os gajos sejam tricampeões, porque podiam ter quarenta e sete (cruzes, canhoto e um dildo com rebites no esfíncter) e não me lixava tanto as contas como jogar em Alvalade. Há qualquer coisa naquele campo que me desinquieta e me deixa de alma nas mangas e coração a roçar a úvula de cada vez que lá vamos, porque parece que os gajos se exaltam todos contra nós e gostam mais de nos ganhar do que o Rochemback gostava de picanha ou o Cadete de Vidal Sassoon. É uma loucura quando lá vamos e como ainda por cima têm saído por cima há vários anos, habituaram-se a esta boa vida e não querem outra coisa.

NO MORE. Estou farto disto e estou farto de lá ir e sair a pingar dos olhos e a desejar que houvesse um buraco onde me pudesse enfiar cheio de vergonha de estar vivo. Ouviram, Janelas, Furas, Mini, Barros, Perguntas, Zé e outros imbecis verdes-e-brancos com quem partilho a minha vida pelo menos duas horas todas as semanas a jogar futebol? (já viram a minha cruz?!) It ends today, bitches!!!

Sou quem sabes,
Jorge

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O regresso de Óliver

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Em vez de espetar aqui com uma conversa floreada sobre as virtudes do nosso re-novo trinta, vou fazer um pequeno apanhado de conversas floreadas que já publiquei sobre ele, em particular os jogos em que recebeu Baías. Não quer dizer que nos outros jogos tenha estado mal, mas nestes destacou-se mais. Nada mudou entretanto e a minha opinião mantém-se, só espero que regresse ao mesmo nível que saiu. Vamos a isso:

É um jogador diferente, sem dúvida, e quando está em campo nota-se na perfeição a diferença que mostra em relação aos colegas. Raramente há passes falhados, desconcentrações na construção de jogo e desatenções defensivas. Pode trazer muito ao meio-campo (mais que na ala, creio) quando colocado a jogar por detrás do ponta-de-lança e preferia vê-lo sempre como dez recuado em vez de colocado na linha. Em forma, é titularíssimo.

  • 30 de Setembro de 2014, empate a dois golos contra o Shakhtar onde Óliver, só para me lixar, não esteve bem:

Óliver foi apenas ingénuo, a tentar controlar a bola numa zona em que merecia que o treinador entrasse em campo e lhe desse dois tabefes na hora para entender que num jogo deste nível é imperdoável achar que aquela era uma atitude interessante e de grande jogador. Dezanove aninhos, dezanove sapatadas de mão aberta em rabo ao léu. E ficávamos conversados.

Impecável na zona defensiva em apoio à primeira fase de construção, perfeito na labuta do centro do terreno e trabalhador como poucos na altura de pressionar o adversário, parece estar a atravessar um bom momento e a jogar com a confiança que esperávamos desde o início da temporada. Excelente capacidade técnica, toque de bola de primeiro nível e uma inteligência táctica acima da média fazem dele titular na frente de Quintero e uma peça essencial do estilo de Lopetegui. Excelente jogo.

O motor da equipa mostrou hoje o quão importante é para a manobra ofensiva em campo, pela dinâmica que transmitiu aos colegas, a constante procura da bola, a simplicidade de movimentos e de endosso da bola pela melhor zona possível, com uma tremenda facilidade de encontrar soluções que tem naqueles minúsculos pés sobre os quais assenta o seu também minúsculo corpo. Mas minúscula não é a capacidade de criação de jogo e de manipulação das zonas tácticas no plano de ataque da equipa, onde Óliver, quando deixado sozinho, é rei. Puto, sim, mas um puto cheio de talento.

Para lá do golo, que é um deleite só de observar em qualquer estádio do mundo, é a forma como se mostra sempre disponível no meio-campo para receber a bola de Casemiro ou Herrera e procede a construir o resto das jogadas, seja com passes curtos ou longos, com rotações naquele baixíssimo centro de gravidade que aproveita tão bem, ou com assistências cruzadas com a tradicional conta, o perfeito peso e a adequada medida. Parece adaptado a jogar neste nosso campeonato onde há pancada a mais e jogadores a menos e onde Óliver, pelo talento e capacidade técnica, se destaca bem acima de tantos outros. Jogas tanto, puto.

Foi dos poucos que procurou jogar de uma forma mais vertical e de romper pelo centro aproveitando o centro de gravidade tão baixo que tem e que usa com inteligência para passar pelos adversários. Alguns bons pormenores e várias desmarcações fizeram dele o homem mais activo no meio-campo. Não era complicado, admita-se.

  • 8 de Junho de 2015, resumo da época 2014/2015 onde recebeu um duplo Baía (sim, eu invento patamares de prémios, so what?):

Um pequeno génio, com e sem a bola. A maravilhosa visão de jogo, dinamiza o jogo e põe o talento a trabalhar para a equipa. Volta, niño!

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Sorteios e a bafienta fortuna

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Os sorteios da Champions são sempre um monte de nervos com muito brilho, um ou outro decote e sete ex-jogadores de fato a tentarem dizer alguma coisa de jeito, raramente conseguindo passar das banalidades que lhes são exigidas pelos mediáticos da praça. Um ou outro video a passar nas televisões, muitas imagens antigas e golos bonitos e tal. Ninguém fala dos jogos tramados na Rùssia no inverno ou nas deslocações à Grécia ou a Chipre ou até dos joelhos esfolados da UEFA perante os clubes que mais dinheiro lhes dão a ganhar. Uma feira de vaidades onde meia-dúzia de imbecis fingem gostar do desporto e o resto dos quinhentos que estão na sala preocupam-se com o amarelo sorriso que darão para a câmara quando reparam que calharam em sorte contra o Barcelona ou o Bayern. Todos os anos é a mesma coisa e o cinismo, que paira baixinho por cima deste post, é crescente.

Mas…há sempre um mas…eu gosto daquela merda, pá. Gosto, que diabos. Fico nervoso, excitadíssimo por ouvir o hino e exaltado quando o adversário que sai da bolinha não é o pretendido. Este ano não foi bem o caso mas há sempre um certo desrespeito pela solenidade da ocasião quando olhamos para um nome escrito em letras gordas num mini-papelinho e vemos que era exactamente aquele que não queríamos que calhasse. Como foi com a Roma no play-off, onde muita malta na sala comum lá no trabalho ficou a saber do nosso oponente simplesmente ao ouvir a minha reacção. Coisas da vida de um doente, é o que é.

O sorteio foi simpático mas não vamos cair na ilusão de dizer que é fácil. Fáceis são os APOELs e os Artmedias que nos tramam quando baixamos a guarda e nos empalam com uma vara cheia de rebites ao primeiro sinal de fraqueza. Dos grandes não tenho medo. Respeito, mas nunca medo. Dos pequenos a história é diferente, jogam motivados, especialmente os que nos apanham em sorte porque depois das palavras de circunstância mais trivial que uma entrevista na passadeira vermelha dos Óscares, logo procedem a elevar os níveis de garra e nos defrontam como iguais, raramente o sendo. Os grandes não, puxam o lustro à arrogância e só não se tramam mais vezes porque, enfim, costumam ser melhores. Quando não o são, costumamos ser nós a ser os infra-homens que os elevam como dizia Torga há muitos anos, numa frase que continua a ser tão actual como era à época.

Não vou ousar fazer uma análise séria do grupo. O Leicester ainda se vai reforçar até fechar o mercado e tem a equipa que todos passamos a conhecer desde a metade da época passada, com mais ou menos Kantés, Vardys ou Mahrezes; não conheço quase nada do Copenhaga, vá lá que sei que o treinador tem o mesmo apelido que um grupo holandês que em conjunto com uma das minhas bandas preferidas de sempre fez um dos meus álbuns de estimação daqueles que se leva para ilhas desertas; pelo mesmo caminho vai o Brugge que também sei que é treinado pelo Preud’Homme, um estupendo guarda-redes que me enervava quase tanto como o Schmeichel porque…porra, porque era muito bom. Apenas sei que o Bruno Prata se vai esforçar imenso por dizer Brúgue para mostrar que percebe muito de flamengo ou neerlandês ou lá qual é a raiz da palavra.

Venham eles. Lá estarei.

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Baías e Baronis – AS Roma 0 vs 3 FC Porto

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Fui Huno durante duas horas e festejei a vitória como se fosse uma conquista. Precisava desta sensação de triunfo, algo que não sentia com o meu clube há tempo demais e que me deixou a gritar para o céu como se tivesse acabado de vencer um troféu qualquer. A noite romana transformou-se num festival de Baco com menos vinho mas com níveis de celebração a condizer e apesar de não ter sido um jogo genial (ficaram a nu muitas das dificuldades que vamos sentir durante o ano contra adversários mais rijos e mais dinâmicos em campo), já se conseguiu ver muito bom trabalho táctico no meio-campo, vontade de vencer e esforço compensado com uma vitória que fica para a história. Vamos a notas:

(+) Felipe. É ESTE o Felipe que quero ver sempre e era este rapaz que me dá vontade de gostar dele e de esperar que cá deixe a sua marca. Mas das boas, ao contrário de outro central brasileiro que andou por aí a socar portas. Adiante. Excelente no jogo aéreo e muito prático nas bolas rasteiras, esteve impecável na primeira parte porque para lá da brilhante cabeçada que deu o golo foi um defesa quase intransponível. Com Marcano também bastante seguro ao seu lado, Felipe jogou simples, sem inventar e apenas uma ou duas entradas pelas costas (não duras, apenas desnecessárias) são motivos para preocupação e melhor discernimento. Para lá disso foi um imperador em Roma (habituem-se, vai haver várias destas ao longo do texto).

(+) Pressão no meio-campo. Olha que bela estrutura que se arranjou aqui, hã? Os nomes podem mudar mas a disposição das peças é muito útil para jogos grandes como este e o 4-2-3-1 mostrou que pode funcionar se houver entre-ajuda e capacidade de cobertura da zona central quando é necessária. Os três homens que jogaram mais subidos, somados a André Silva (hoje um pouco em baixo mas também pouco apoiado pelos alas), foram pivotais na forma como controlaram o centro do terreno e enervaram a Roma e os seus centuriões (eu avisei) não conseguiam soltar-se a não ser usando o físico, que fizeram mais vezes do que deviam e com intensidade absurda (ver abaixo). Tivéssemos nós mais um ou dois Danilos e faríamos lembrar um meio-campo de equipa francesa, com a mesma força mas com mais qualidade. Assim, fico-me pela qualidade…se for para manter.

(+) Os dois golos mexicanos. O primeiro foi uma pequena obra de arte de gestão de movimentação brusca, persistência e visão de baliza, com o timing perfeito para aproveitar a imbecilidade do Szczesny (onde ias tu, meu menino?) e ultrapassá-lo para depois rematar. Textbook perfection. Já o Jesus…só me fez lembrar Hulk no Calderón contra o Atlético em 2009 (lembro-me pela camisola, acreditem ou não) num jogo que acabou…acertaram, 0-3. Finta para um lado, finta para outro e balázio de pé esquerdo. É este o Corona que podemos ver até ao final da época? Oh, Júpiter queira.

(-) Aqueles minutos entre a segunda expulsão e o segundo golo. Ora foi a única coisa que me enervou hoje e que fez com que a minha filha aprendesse mais algumas palavras que jurarei a pés juntos que só pode ter aprendido no colégio. Um golo de vantagem e dois gajos a mais em campo…e a equipa tremeu. Tremeu porque ficou surpreendida e não se conseguiu adaptar rapidamente a essa nova e estranha realidade? Tremeu porque achou que estava tudo ganho e podia deixar o resto da legião romana atacar à vontade? Tremeu porque as pernas não responderam e optaram por descansar um pouquinho até aguentar o final da partida? Não sei, mas aborreci-me com a atitude até que tudo estabilizou com o golo de Layún e a equipa começou (finalmente!) a trocar a bola e a forçar o adversário a correr atrás dela. Algo que teria sido obrigatório fazer logo depois de Emerson ter ido para o balneário e algo que o próprio Nuno provavelmente tentou forçá-los a fazer, sem resultados práticos. Não caiu mal ao mundo…mas…e se a Roma tivesse empatado? Ia ser bonito, ia…

(-) Il sont fous, ces romains! Não consigo perceber a forma como De Rossi e Emerson entraram daquela forma durante um jogo tão importante. Se Emerson ainda é um rapaz jovem, já o italiano abusa deste tipo de jogo viril e raramente é punido, por isso apesar da surpresa que é ver dois adversários expulsos em casa no mesmo jogo (venham agora dizer que somos sempre os coitadinhos da Europa, que estão todos contra nós e yadda-yadda-outras-coisas-provincianas-que-eu-também-já-disse-no-passado-yadda-yadda…), nada há a dizer quanto à justiça das decisões. E o que me deixa parvo é a forma como fomos nós que os levamos a isso, pela forma como conseguimos enervar aquela malta tão arrogante e sabedora. Pois façam o favor de ir mostrar o vosso futebol de Adónises brutos às quintas-feiras que a correr bem não voltamos lá este ano.


Um dos grandes obstáculos da época foi ultrapassado se não com brilhantismo exibicional, ao menos com uma elevadíssima dose de pragmatismo e sentido de responsabilidade. Lucrámos com a estupidez da excessiva agressividade e aproveitámos muito bem para entrarmos na Champions. Não sei do que se queixam os turistas. Foi bem bom ir a Roma em Agosto!

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Ouve lá ó Mister – Roma

Companheiro Nuno,

Depois da partida da passada quarta-feira lamentei as indecisões e as mudanças tácticas que surgiram aparentemente apenas da tua cabeça mas como faço neste tipo de coisas, dou-te o benefício da dúvida apesar de não concordar contigo. É certo que os gajos são bons, que têm uma estrutura e umas rotinas que os teus (ainda) não têm, que há ali talento e alternativas bem simpáticas que nos acabam por tolher as esperanças e te fazem olhar para o banco sem saber muito bem o que fazer. Percebo tudo isso. Mas não me roubam a esperança e nem os factos do jogo passado me tiram a vontade de ganhar.

O jogo vai ser complicado, ah vai. Ninguém está à espera que chegues ao Olímpico e enfies sete batatas nos gajos, mas estamos à espera que tentes. Estamos todos, os que aí vão estar nas bancadas e os que por aqui vão ficar a ver o jogo pela televisão (acho que dá na RTP, com os comentadores bem oleados no escárnio e na crítica rápida a ti e aos teus…já sabes do que a casa gasta, a nossa e a deles…), com vontade de acreditar em ti. De olhar para uma equipa que não é mais que uma amálgama insegura de jogadores, alguns com traquejo e outros que ainda tremem das perninhas nestes palcos, vestir a camisola e saltar para cima dos italianos como se fossem a Monica Bellucci de vestido curto.

Dizem que em Roma se deve ser romano. Nada disso. Em Roma, sê dragão. Fogo nas ventas e mandar aquela merda abaixo à Nero. Um remake, como está na moda. Força!

Sou quem sabes,
Jorge

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