Primeira coisa, logo para começar: o Sporting ganhou bem. Foi melhor na luta do meio-campo, aguentou com mais força durante mais tempo, aproveitou as nossas falhas defensivas e a permissividade do árbitro para impôr um jogo mais duro que nós e conseguiu ficar com a bola em momentos-chave da partida. Saímos de Alvalade sem pontos mas houve uma pequena luzinha que não se apagou ao contrário do que tinha acontecido noutros anos em que parecíamos ajoelhados a um místico poder verde sobre nós. Não temos ainda equipa, mas estamos a caminho. Estamos a caminho, meninos. Esperem pela volta. Vamos a notas:
(+) Voltamos a jogar em Alvalade para ganhar. Nos últimos três anos que visitamos a sanita mais conhecida do país, saímos com um ponto no total, com apenas um golo marcado (nesse mesmo jogo, há dois anos). As exibições foram incrivelmente frouxas, sem vontade e garra, sem força física e acima de tudo mental para bater o adversário em jogo de tripla. Desta vez não vi essa ausência de alma. Vi uma equipa que deu o que tinha e lutou para conseguir um resultado positivo apesar da ausência de opções válidas em sectores importantes e da ineficácia que é fruto da falta de rotinas. Vi um grupo de homens que não são de combate porque não têm físico para isso mas que tentaram o que puderam (e o que lhes deixaram) para vencer o jogo. E nestas circunstâncias não posso pedir mais que isso. Dizem-me que estamos demasiado confortáveis com a perspectiva da não-vitória este ano, mas pelo que tenho visto até agora, há algo de novo: vontade. E pela amostra dos últimos anos, é um passo em frente.
(+) Pressão alta no meio-campo, enquanto houve pernas. Mais uma vez afirmo o que já disse no passado recente: não temos andamento para estas coisas, pelo menos por agora. E notou-se que quando os homens do centro quebraram (André² e Herrera deram o litro que para eles anda aí pelos 674 mililitros) houve um recuo na equipa e a pressão, que até aí tinha funcionado, desmoronou-se e o Sporting tomou a dianteira para não mais a largar. Nuno mexeu (tarde, mas compreensível tendo em conta a pouca profundidade de opções centrais lutadoras no banco) mas não conseguiu elevar a equipa a melhores níveis e a pressão desapareceu. Boa tentativa, de qualquer forma.
(+) Danilo. Não foi gigante mas fez tudo o que conseguiu para evitar que o Sporting subisse em bloco pelo meio-campo fora e não fosse o facto de estar sempre bastante recuado no terreno e teríamos conseguido ser mais assertivos na recuperação da posse de bola. Ainda tentou algumas vezes sair com a bola controlada sem grande sucesso e por isso acabou por recuar e tentar jogar de trás para a frente deixando os colegas para o trabalho mais subido. Precisávamos de outro Danilo lá mais para a frente…mas não temos nem teremos.
(-) Falta de força no meio-campo. Podemos exigir trabalho, equilíbrio táctico e colocação de peças em campo por forma a taparem linhas de passe ou construção avançada do adversário. Podemos exigir que passem bem a bola, que sejam práticos e eficientes durante o jogo. Mas não podemos exigir que o André ganhe em corpo ao William ou o Otávio ao Marvin. Isso é quase impossível e por muito que tentem forçar o contacto vão perder 99 em cada 100 vezes. Como se resolve isso? Fácil: ter a bola e rodá-la entre os nossos e quando a perdermos, conseguir interceptá-la mais depressa que o adversário a conseguir passar. Fácil, não é? É, pois, mas precisamos de trabalhar exactamente esses vectores, porque uma equipa pequena e franzina tem de saber os terrenos que ocupa de uma forma mais inteligente do que uma que usa canastrões (com beneplácito arbitral, ainda por cima) para levar a sua avante, sob pena de perder todas as bolas e ficar de braços no ar a pedir falta, que aconteceu hoje por várias vezes sem grande motivo.
(-) Falhas defensivas nos golos. Ambos os golos foram absurdos e foram a prova evidente que ainda há trabalho a fazer, especialmente na mioleira da malta. O primeiro golo surge porque a equipa ficou estática no recuo para apanhar uma bola perdida, com os centrais a abanarem os braços a pedir uma mão que pode ou não ter acontecido…mas o que aconteceu de facto foi um alheamento do lance para tentar pedir uma falta, o que não faz sentido a este nível. Não podemos (e ao que parece cada vez menos) estar dependentes de árbitros, minha gente! Já o segundo golo foi pior, porque o corte de Felipe foi o contrário do que deveria ter feito, independentemente da bola ter ou não ido ao braço do adversário. Rapaz, ouve lá, uma bola daquelas corta-se para o ar. Pões a mona debaixo da trajectória da bola e quando ela embater no teu crânio tem de subir. É dinâmica básica de objectos, tens de jogar mais snooker em vez de andares a ver gajas na net e vais ver que percebes do que falo!
(-) Arbitragem, logicamente, em Alvalade. Não é nada de novo e não me parece que alguma vez o seja: o árbitro lixa-nos em Alvalade, de uma forma ou de outra. Falemos das mãos nas bolas ou bolas nas mãos. Não me parece evidente nenhum dos lances à vista desarmada e é só assim que consigo ver o jogo, porque essa imbecilidade de ver os lances com repetição e analisá-los a posteriori é uma bela duma trampa…mas também é verdade que o próprio Sporting anda a reclamar o video-árbitro desde que o Sansão foi ao corte e que me enfiem sete SCUDs no rabo se pelo menos um daqueles lances não seria considerado que a mão ou o braço desviou a trajectória da bola. Com mísseis anais ou não, passemos às trancadas. Sim, amigos, porque o Sporting as deu com mais força que um proverbial vizinho num apartamento com paredes finas. Bruno César, que tem a boca aberta mais vezes que uma pêga na Via Norte, tratou de andar a arrancar raízes de amarelo vestidas durante todo o jogo, Slimani e William adoraram os queixos dos nossos rapazes e se o Adrien pode andar a dar patadas à vontade, também devíamos ter uma palavra a dizer sobre isso. São estas as arbitragens que nos lixam e que dão cabo dos jogos, aquelas que deixam passar tudo para um lado e o outro raramente tem um free pass. Se um certo polaco que visitou Roma há uns dias tivesse estado hoje em Lisboa, garanto que o Sporting não teria acabado o jogo com onze. Nem dez. Talvez nove. Talvez.
Ninguém morre depois de perder em Alvalade. O campeonato ainda está no arranque e se a única derrota da época tiver acontecido à terceira jornada, não me faz comichão nenhuma. Há que recuperar a malta durante a pausa para a Selecção e voltar em grande na próxima ronda. Força, rapazes.
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