Baías e Baronis – FC Porto 1 vs 1 Copenhaga

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Se há uma coisa que podemos tirar da surpreendentemente amena noite de hoje no Dragão é que ainda não estamos lá. Talvez ainda consigamos chegar lá, mas ainda não estamos. Lá. E onde é “lá”? Lá é um patamar de futebol consistente onde a bola se mexe mais que os jogadores e onde as posições são ocupadas em conveniência perante as dificuldades da partida, onde as rupturas acontecem sem pensar e as movimentações são fluidas e naturais. Como vimos, ainda não estamos lá. Estamos a caminho, mas com muitas curvas e poucas rectas. Vamos a notas:

(+) Danilo. Dos poucos que jogou a um nível superior esta noite, foi um dos principais responsáveis pelo combate no meio-campo e nunca se alheou dessa responsabilidade. Apesar do golo ter surgido depois de se deslocar da sua posição para lutar pelo ar contra um dinamarquês, pareceu-me que a culpa não lhe pode ser imputada porque não houve (mais uma vez) cobertura adequada para a sua ausência e Danilo tem recebido críticas que na minha opinião são injustas exactamente por isso: falta de cobertura dos colegas. Foi rijo, foi físico e foi o único a fazê-lo. Um dos únicos que consegue, é certo, mas fez o que pôde.

(+) O lance do golo. Recuperação de bola adiantada? Check. Bola para o avançado? Check. Tabelinha de costas para o médio que aparece em zona de remate? Check. Pum cá vai disto mete a mão ó guarda-redes se conseguires? Check. Would that it were so simple…

 

(-) A estratégia de acordo com a capacidade física. Não tenho dúvidas que Nuno sabe o que tem e o que não tem. Sabe que tem um meio-campo com enorme talento e potencial para trocar a bola como uma equipa grande. Sabe que os laterais podem ajudar a fornecer largura quando o jogo se tornar demasiado concentrado no miolo. Sabe que tem um avançado ágil e inteligente que se mexe bem entre as linhas e que busca a desmarcação com instintos Inzaghianos. Sabe também que o médio de cobertura é o único elemento com capacidade para lutar contra adversários fisicamente mais fortes e que sabem usar essa força. Isto para dizer que percebo a estratégia de abdicar da pressão alta e de permitir que o adversário troque a bola até os últimos 30/35 metros em frente à nossa baliza. Nuno assume que se tiver de lutar com hobbits contra orcs, os grandalhões vão levar tudo e não pagam a conta, por isso há essa atitude mais passiva de não tentar com todas as forças recuperar a bola porque os rapazes são pequenos e não tão combativos quanto isso. O jogo do FC Porto só funciona, em condições normais, quando a equipa tem a bola na sua posse. Aí sim, podemos rodá-la entre os homens do meio-campo com o apoio do(s) avançado(s), sejam dois na frente ou o tridente de hoje, acompanhados dos laterais. É o que consigo entender da forma passiva como o FC Porto 2016/2017 olha para o jogo: se não consegues bater-lhes no jogo deles, espera que falhem e aproveita. É conservador e até um pouco humilhante para um clube habituado a outros voos, mas é a forma como Nuno conseguiu contornar o problema de não ter elementos rijos no meio-campo. Mas a equipa não pode ser tão passiva. Não pode depender do adversário para pautar o seu jogo, tem de ser mais solidária na pressão, tem de ocupar mais espaços e fazê-lo de uma forma mais consistente e planeada. Não pode recuar depois de marcar um golo e jogar continuamente na espera das jogadas de ruptura para aparecer em 1×1 contra o guarda-redes contrário. Vendo o FC Porto assumir esta postura não me dá garantias de qualidade. Só me dá a imagem de um treinador que faz o que pode com o que tem. E o que tem, pelo menos por agora, é curto.

(-) Os laterais. Um jogo para esquecer de Layún e Telles, que não só tiveram de defender a dobrar pela pouca ajuda que Otávio e Corona lhes prestaram, mas especialmente porque a abertura de jogo pelos flancos fez com que estivessem em evidênvia pela incapacidade de construir jogo em condições e de cruzar a bola acertadamente para a área durante todo o jogo. Pareceu-me que tinham instruções para não bombear a bola à louco e assim cair na armadilha dos bisontes escandinavos mas a forma indecisa como Layún chegava perto da área e tentava o 1v1 quase sempre com maus resultados ou como Telles cruzava larguíssimo para o segundo poste ou directamente para as pernas dos defesas a cobrir o primeiro foram enervantes.

(-) A (natural) falta de rotinas. Há uma jogada na primeira parte que mostra bem do que falo. A bola está do lado direito, em Herrera (mais um belo jogo para emoldurar e enviar abaixo da sanita) ou Layún e aparece Corona e André Silva a fazerem diagonais…ao mesmo tempo, para o mesmo lado. Se André não tem culpa por ter o mexicano a fazer o mesmo nas suas costas, também Corona não pode ser culpado porque estava a deslocar-se para o “seu” sítio. Mas ainda falta muita comunicação entre sectores e ainda se nota mais quando essa comunicação não parece existir no mesmo sector. Tempo, precisa-se de tempo para os homens se entrosarem e é coisa que não há para gastar à toa.


Uma parte de mim acha que o empate se deveu ao facto de não ter tido tempo de tomar café no Bom Dia porque o trânsito estava impossível e cheguei mesmo em cima da hora ao estádio. Não é uma grande parte mas existe. Sim, sou tolinho, é o que temos.

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Ouve lá ó Mister – Copenhaga

Companheiro Nuno,

Descobri uma coisa recentemente e quando digo recentemente é coisa de vinte segundos: sou disléxico a escrever o nome da cidade de onde vêm estes moços que hoje jogam contra nós. Tenho de pensar bem e olhar para o que estou a escrever para não sair, e não estou a brincar: Compenhaga. O dedo desloca-se ali para o “m” como se fosse uma gaja boa no cinema e estivesses a tentar açambarcar o encosto do braço ao mesmo tempo que ela. Mais dedo menos braço, a verdade é que não consigo escrever o nome em condições. Vou atribuir a este comportamento o facto de não ser um hábito escrever o nome da cidade (nem do clube) porque, convenhamos, nem um nem outro estarão habitualmente nas bocas do mundo.

Mas essa é uma atitude arrogante que temos de saber contrariar, por muito que possa parecer natural tendo em conta a diferença de histórico. Porque já houve vários Artmedias no nosso passado e foram suficientes para percebermos que nada é ganho à partida e que tens de fazer pela vida para conseguires desfazer estes e os outros que por aí virão. Sejam dinamarqueses, bretões, gauleses, hunos ou powatan. Entrar em campo com mentalidade de vitória, cabeça focada no desafio e noção que pelo menos no arranque são todos iguais. Ódespois os resultados terão de ditar as diferenças.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – FC Porto 3 vs 0 Guimarães

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A vitória é incontestável e surgiu de forma relativamente tranquila e sem grandes preocupações. Mas…a verdade é que os golos foram obtidos num lance de bola parada, num remate com ressalto fortuito e num auto-golo, tudo depois de um golo anulado porque um mocho pousou numa lâmpada em Middle Earth e rezou sete Avé Verums o que fez com que Jorge Sousa visse algo que mais ninguém viu. Magia, só pode. Ainda assim houve futebol interessante a espaços e a noção que há ali muito talento para ser trabalhado, múltiplas opções tácticas e aparentemente pouca necessidade de extremos puros em grande parte dos jogos. Em suma: há material de qualidade, falta criar uma equipa. Notas aqui em baixo:

(+) Óliver. É uma diferença enorme ver Óliver a controlar a bola e a rodá-la para os colegas e ver Herrera a esforçar-se para conseguir progressão no terreno. Ocupando sensivelmente as mesmas zonas, o espanhol consegue transmitir uma confiança muito alta a um meio-campo que precisa da bola para poder impôr o seu jogo (mais sobre isto em baixo) e quando estiver em forma pode ser vital para o que a equipa consiga ou não fazer em campo. Raios, nem está em forma e já foi o que se viu! Bom primeiro jogo a titular.

(+) Danilo. Quando a equipa entrou em campo, organizada num 4-4-2 diferente, sem extremos mas com médios construtores e que se pretende que troquem a bola entre eles com facilidade, é natural que a equipa se incline para a frente e permita alguns espaços na rectaguarda. É aí que aparece Danilo, impondo a força física que os outros não têm e marcando a diferença por isso. Continua a precisar de uma melhor leitura dos espaços que tem de tapar mas é uma peça importante na equipa e sem substituto à altura para as mesmas características. Ou seja, se Danilo sair da equipa, o esquema pode ter de mudar para sobreviver.

(+) Marcano. Bom jogo do central, com um golo e várias boas intercepções, subindo sempre que necessário e ajudando a equipa nas bolas paradas. Parece confiante e apesar de já lhe conhecermos o histórico (a primeira falha raramente morre sozinha) está na equipa para ficar, o que é um bom sinal para o futuro próximo. Tens de esperar um bocadinho, Boly.

(+) Aquele contra-ataque do André Silva. Que prazer me deu ver aquilo. André Silva, a meio da segunda parte, recebe a bola depois de um ataque do Guimarães (canto? já não me lembro) e parte para o contra-ataque pelo lado esquerdo. Pela sua direita aproxima-se um autocarro de vestes negras em toda a velocidade em rota de colisão. KABOOM, vai o autocarro contra André, que sofre o impacto e logo se levanta para prosseguir a investida em rotação cada vez mais elevada, acabando por passar a bola para um colega que sofre falta para amarelo. É esta a garra que quero ver em todos os jogadores! Que se lixem as entradas a medo, André²! Para trás, Corona, quando não meteres o pé! Afasta-te Herrera quando perdes uma bola dividida! Olhem para o puto e lutem como ele. Nunca serão assobiados se o fizerem.

(-) Pressão alta ineficiente. Lembram-se dos tempos do Fonseca, em que o guarda-redes e os defesas ficavam sem saber muito bem o que fazer quando eram pressionados? Pois o Guimarães optou pela mesma estratégia, a troca de bola entre keeper, centrais e laterais como forma de construir pausadamente e apenas soltando-se da pressão dariam início ao ataque. Acontece que tínhamos lá dois homens a fazer pressão, Depoitre e André Silva, com André², Otávio e Óliver a espaços a subirem pouco mais para lá do meio-campo. Não chegou e nunca chegaria porque eram poucos para muitos. A pressão cansou-nos e não trouxe absolutamente nada de produtivo para o nosso jogo. Nuno, se é para fazer pressão então por favor, mete-os todos na frente! Ou em alternativa podes permitir que a outra equipa leve o jogo até à linha central e depois não passa nada. Ficar a meio é que não.

(-) Demora a entrar no jogo. A táctica era diferente, mais uma vez. Táctica não, talvez a disposição das peças em campo, porque não havia extremos mas os laterais estavam bem subidos, os dois médios mais recuados tinham funções diferentes e os outros dois na sua frente (Otávio e André², cognonizado como “capitão capitão” por um amigo na cadeira ao lado) iam vagueando pelo campo à procura de espaços que raramente apareciam. A tendência de bolas longas da parte dos centrais, aproveitando a presença de Depoitre, pareceu exagerada e pouco produtiva e a forma como se previria que o Guimarães reagisse às incursões pelo centro, fechando-se e criando espaços nas alas, nem sempre funcionou. Houve demasiada lentidão nos processos e um jogo demasiado previsível e com passes errados a rodos, com o resultado prático a ser a criação de lances perigosos apenas por bolas paradas e aéreas. Na segunda parte, depois do segundo golo, o futebol teria de ser diferente e acabou por ser, com um jogo bem mais rasteiro, inteligente e com boas trocas de bola. Mas não podemos perder tanto tempo até chegar a uma posição de conforto, dando ideia que navegamos uma maré que não somos nós a criar. Eu quero criar a maré, pronto.


A melhor resposta possível depois da derrota de Alvalade e numa altura em que já se sabiam os resultados dos “grandes”. O caminho faz-se caminhando, yadda yadda, vitórias em casa sempre e tal. Quarta-feira há mais do mesmo.

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Ouve lá ó Mister – Guimarães

Companheiro Nuno,

Finalmente! Estas paragens de campeonato para a Selecção (que os ingleses chamam “interlull”) são uma seca do caraças e um gajo fica entediado de tanta nação à pancada que mais vale ver um filme de guerra para desenjoar. Mas também não perdemos nada pela espera porque vem aí o Guimarães e dá sempre gosto jogar contra estes meninos. Desde que se ganhe, está claro.

Será o primeiro jogo depois da primeira derrota. Nada está perdido mas aqueles três pontos nunca mais ninguém nos dá, isso é certo. E até houve luta e esforço e tal…mas parecemos quase sempre inferiores aos gajos, na organização, na luta e na ratice. Já começas a refamilaz…refilimilia…a habituar-te outra vez a esta que foi a tua casa durante tanto tempo e que, se as coisas correrem bem, pode ser que seja tua durante muitos anos. Quem dera, rapaz, para ti e para nós! Mas para isso acontecer tens de levantar o pé do travão e carregar no acelerador, porque depois deste vem Champions e depois outro complicado e depois Champions e por aí fora. Nada que não tenhas passado em Valência, mas aqui é mais coiso. É azul-e-branco, pá, é melhor!

Estou curioso para ver a equipa que vais enfiar em campo. Óliver, Jota…Brahimi. E eu apostava no Ruben a jogar a 6, mas tu pensa lá pela tua cabeça e vê a melhor forma de ganhar o jogo. Soa a stalker mas podes estar descansado: vou estar lá a ver e quero aplaudir!

Sou quem sabes,
Jorge

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Dragão escondido – Nº40 (RESPOSTA)

Bem mais fácil que a anterior, eis a resposta:

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O primeiro esloveno (oficialmente, já que o país foi refundado em 1991) a jogar pelo FC Porto, Zlatko Zahovic foi um homem que deu tremendas alegrias ao clube enquanto cá esteve, chateou a cabeça dos adeptos quando quis sair e arreliou (ma non troppo) ainda mais a malta quando se juntou aos cromos vermelhos lá de baixo. Chegou de Guimarães no Verão de 1996 e em três épocas ao serviço do clube, Zahovic esteve em 118 jogos e marcou 42 golos. Jogando quase sempre na posição de médio ofensivo, foi o principal elo de ligação entre o meio-campo e o ataque portista, com um estilo bem próprio de serpentear pelos defesas e com uma visão de jogo e técnica acima da média. Acabou por sair em 1999/2000 para o Olympiacos e foi substituído na equipa por um miúdo que acabou por ter ainda mais impacto na equipa (e no clube) que ele. Deco, acho que era assim que o chamavam. Era jeitosito, vá.

Esta fotografia foi tirada num dos jogos mais enervantes que guardo na minha memória: a famosa vitória do Boavista nas Antas por dois golos contra zero na época de 1998/99, onde Timofte marcou um golaço e onde o FC Porto não conseguiu fazer…bem, não conseguiu fazer nada e onde os adeptos terminaram o encontro a aplaudir o Boavista. Eu sei, parece estranho mas aconteceu mesmo porque eu estava lá e fiz o mesmo. Na foto, da esquerda para a direita, temos Zahovic, Capucho, Mário Silva e Jorge Silva (estes eram os bonus points, como podem ver pela atribuição do vencedor, no fundo do post).

Entre as diversas tentativas falhadas:

  • Argel – Só chegou ao FC Porto na época seguinte.
  • Artur – Ainda estava no plantel mas foi pouco utilizado e acabaria por sair em Janeiro para regressar ao Brasil. Não esteve neste jogo.
  • Barroso – Esteve no clube nos dois anos anteriores e em 1998/1999 estava a mandar balázios pela Académica.
  • Chippo – Uma maravilhosa sugestão que conseguia transformar a imagem em “Chippo & Dale” (sic do comentário). Fucking lovely. Apesar de fazer parte do plantel, não esteve presente neste jogo.
  • Domingos – Estava a jogar nas Canárias ao serviço do CD Tenerife.
  • Doriva – Esteve presente e saiu aod 71 minutos para dar lugar a Miki Fehér (RIP, puto).
  • Drulovic – Titular, jogou 90 minutos neste jogo.
  • Edmilson – Fez parte dos plantéis de 1995/1996 e 1996/1997. Por esta altura estava a mostrar a cabeleira loura em Alvalade.
  • Folha – O nosso actual treinador campeão pelos Sub-19 estava no plantel mas fez apenas dois jogos durante a época.
  • Jorge Costa – Titular, levou um amarelo aos 56 minutos por, espero, ter pontapeado “acidentalmente” o Martelinho (já não me lembro destes pormenores, carago!)
  • Kostadinov – *suspiro*
  • Paulinho Santos – Titular, esteve em campo toda a partida.
  • Rui Filipe – Faleceu em Agosto de 1994…quatro anos antes (RIP tu também, puto).
  • Wetl – Saiu do clube no Verão de 1998.

É o regresso em grande do Nuno Moreira, com a resposta certa a ser dada via twitter às 7h57…mas a resposta COMPLETA foi dada pelo Carlos Martinho, também via twitter, cerca de uma hora e meia mais tarde. Bonus points, bro!

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