Baías e Baronis – FC Porto 3 vs 0 Arouca

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Estes são os jogos que ajudam a criar equipas, que rotinam os jogadores e as movimentações pela tentativa, erro e tentativa subsequente com ligeiras diferenças em relação à primeira. Sim, o adversário foi fraco, mas a equipa mostrou-se empenhada, apesar de algo emperrada nalgumas alturas do jogo mas sem nunca facilitar nem travar em demasia. Gostei de ver, mesmo com a chuva que me encharcou à chegada e depois da saída. Pobre Iker, a apanhar aquela tromba de água sem ter nada para fazer. Notas, bem molhadinhas, já de seguida:

(+) Danilo. Foi o principal responsável do ritmo da equipa se manter em alta e da bola estar quase em permanência no meio-campo do Arouca, tantas foram as bolas que recuperou em posições chave no meio-campo. Óliver esteve bem a criar, menos bem a lutar, ao passo que Herrera parecia ter, passo a citar o meu amigo da cadeira ao lado, “duas posições no intensiómetro”, porque não conseguia fazer passes normais. Mas Danilo esteve acima de todos e só tenho pena que a sua presença acabe por sentar Ruben no banco, mas numa altura em que a equipa precisa de músculo, jogo aéreo e um homem que cubra vastos terrenos para tapar o miolo, Danilo está a ganhar aos pontos.

(+) Jota cria, André mata. Adorável o entendimento destes dois moços, que começam a assinar uma parelha que só não me vai chatear ver desfeita porque imagino que irão ambos sair no fim do ano e ninguém fica a chorar por cá. É muito interessante ver a forma como Jota deambula pelo campo como segundo avançado que por vezes parece um box-to-box, a arrastar o jogo para a frente e a ser um elemento importante na construção ofensiva tanto pelas possibilidades de tabelinha com Óliver e André Silva mas também pela velocidade que imprime ao jogo. Já André, depois de mais um jogo esforçadíssimo (o homem ainda corria aos 90 minutos e corria bem) soma mais dois golos com duas assistências de Jota e mostra que um ponta-de-lança nem sempre se compra. Às vezes pode-se mesmo formar.

(+) Aqueles talentos, bem aproveitados… As duas jogadas que começaram e terminaram o encontro são paradigmáticas do que temos e do que podemos vir a agradecer aos céus de ainda termos. São lances que definem partidas, que mostram que a capacidade técnica, criatividade e audácia podem gerar frutos e trazer alegrias enormes ao povo e à equipa. O lance de Corona é prova da audácia em pouco espaço, com o trabalho do “twinkle-toes” mexicano que depois de um domínio de bola complicado consegue passar por dois homens e vê o poste a abanar o dedo indicador naquele tradicional gesto de “não, não, meu menino, ainda não vai ser desta”, um azar que impede um dos golos do ano de se concretizar. Já o golo de Brahimi é a audácia em velocidade, em drible contínuo e sem medo, fugindo de uma locomotiva arouquesa e desfazendo rins alheios para enfiar a bola lá dentro, isto depois de perder dois ou três lances quase idênticos. E Brahimi, já chateado pelos assobios que já começaram a vir da bancada (*suspiro*), lá fez a vontade ao povo e marcou um belo tento. Estes dois homens podem ser vitais até ao final da época, é só quererem.

(-) As limitações de Telles. O rapaz até se esforça, não me levem a mal. E é tecnicamente interessante no controlo de bola pela linha, suficientemente forte pelo ar para ganhar duelos e empenhado na defesa do 1×1. Mas é tão exasperante vê-lo a cruzar bola atrás de bola com força a mais ou a menos, nunca com o arco, o efeito e a força certas para criar perigo. E é limitado (ou limita-se, talvez) na forma como não faz as diagonais “à Alex Sandro” que nos habituamos a ver e que são tão importantes no futebol actual. Percebo que Nuno o use quase como ala à antiga, quando a equipa se transforma naquela espécie de 3-5-2 na construção ofensiva enquanto a bola está nos flancos, mas esperava que fosse um rapaz menos…limitado. Não encontro um termo melhor, desculpem as repetições.


Trabalho feito, mais três pontos e definitivamente recuperada a derrota em Alvalade na classificação. Passo a passo, amigos, passo a passo.

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Ouve lá ó Mister – Arouca

Companheiro Nuno,

Ufa que lá nos safámos na terça-feira pelas pontinhas dos cabelinhos, rapaz! É sempre engraçado polvilhar alguma emoção nestes jogos da Champions contra as equipas mais fracas por isso compreendo perfeitamente a entrada em jogo e as deliberadas desatenções defensivas, somadas à inépcia no meio-campo e ataque, tudo bem calculado para que a partida tivesse aquele soupçon extra de emotividade, foi um plano muito bem delineado e executado e de certeza que as audiências subirão em flecha, porque sabe-se lá o que faremos prá semana? Auto-golos? O Felipe pode ajudar-te nisso, mas talvez seja melhor limitar o entusiasmo do povo, afinal há muito mais para jogar e é preciso balancear os batimentos cardíacos para aguentar o resto da época sem o miocárdio a rebentar-se todinho.

E agora que vem o Arouca, pá…que diabos, aqui há uns anos se me dissessem que vinha aí o Arouca, o mais provável era responder: “Estes jogos da Taça contra equipas mais pequenas podem ser lixados”. Mas agora não, anda tudo ao mesmo nível e temos mesmo de lhes ganhar com a noção de que não tarda nada estamos a jogar contra o Gafanha na primeira divisão. Enfim, sic transit gloria mundi e coisas que tais. Ao menos não jogas de amarelo e azul! Hoje!

Vamos a isso, uma vitória tranquila para não enervar mais a malta. Quero uma noite de sábado descansada, pá!

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – Club Brugge 1 vs 2 FC Porto

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Não se faz, amigos. Isto é jogo para um gajo misturar emoções como uma bruxa a fazer um feitiço naqueles caldeirões gigantes que têm nos filmes, praí comprados no Witches’R’Us ou qualquer outra loja da especialidade. Nervosismo, fúria, consternação, entusiasmo, euforia. Isto não se compra, minha gente, e mesmo um jogo contra uma equipa fraquita (e até as equipas fraquitas parecem sempre trocar a bola melhor que nós, a sério que me chateia ver isso em campo) dá para elevar a alma e ficar a gritar em total silêncio às duas da manhã, com os braços erguidos e uma expressão de vitória e alívio na face. Se acham que sou doente por pensar e viver assim, estão no vosso direito. Fico bem de qualquer maneira. Vamos a notas:

(+) As entradas de Brahimi e Corona. A equipa pedia extremos desde o início do jogo e notou-se bem que a entrada destes dois homens revolucionou a forma de jogar e adicionou mais-valias nas zonas onde eram mais necessárias. Nenhum dos dois fez um jogo extraordinário mas Corona acabou por sofrer o penalty que deu o golo da vitória e Brahimi trouxe a imprevisibilidade que Otávio nunca tinha conseguido injectar no jogo e só faltou soltar a bola um pouco mais cedo para ter tido mais impacto. Mas Yacine será Yacine, toujours.

(+) Danilo. Foi um jogador forte quando precisávamos de um jogador forte. E usou bem a capacidade física para recuperar algumas bolas no meio-campo mas acima de tudo para arrastar o jogo umas dezenas de metros para a frente quando a maior parte dos colegas pareciam travados e presos em eternas auto-rotações (Óliver), demandas solitárias (Otávio) ou whateverthefuckhewasdoing (Herrera). Deve ter acabado o jogo exausto.

(+) O penalty. Lembro-me de um penalty de Figo no Estádio das Antas perante dezenas de milhares de adeptos ensopados depois de um jogo em que tudo corria mal, frente à Holanda. Lembro-me do homem partir para a bola, depois de Portugal ter reduzido para 1-2 e o penalty daria o empate à equipa. Nunca mais me esquecerei desse momento, onde milhares de vozes gritavam, ganiam, tremiam pelo golo que estava mesmo ali à frente dos olhos mas que ninguém garantia que fosse uma certeza. E só pensava no homem que começava a correr para a bola e na pressão que devia estar a sentir. André, meu menino, parabéns. Eu tinha-me borrado todo mal pusesse a bola na marca e começasse a recuar.

(-) A confirmação. O FC Porto ganhou apesar de Nuno. Porque se este jogo serviu para mais alguma coisa, para lá do guito e dos três pontos que desesperadamente precisávamos, foi para confirmar que o nosso treinador é, de facto, um cagarolas. Talvez seja uma palavra demasiado forte. É um medroso. Sim, eufemizemos para mais tarde recordar com menos excitações. A estratégia para o jogo foi montada por forma a conseguirmos ter a bola mas não fazer grande coisa com ela, para encharcarmos o meio-campo de jogadores onde não havia espaço para passar um fio de norte pelo rego da Kate Upton e apenas lá prós sessenta minutos é que Nuno optou por voltar ao 4-3-3. Sim, jogos diferentes podem exigir equipas diferentes e o 4-4-2 (ou 4-1-3-2, como quiserem) não está ainda cimentado para altos voos. Mas a minha crítica é independente da táctica, porque há uma ausência de surpresa na forma como a equipa muda de velocidade (como já se tinha visto em Leicester) e que coloca a equipa exposta ao risco, algo de que Nuno parece ter mais medo do que o André² de uma bola dividida. Se há risco para nós, também existe para os outros e Nuno prefere um 1-0 a um 4-3. O problema é quando o 1-0 é para eles…

(-) Herrera. Ah, Hector, mais um, não é? Mais um jogo lento, sem capacidade para rupturas, movimentações ousadas, corridas…eh pá, ao menos que andes em campo a um ritmo ligeiramente acima do trote de um cavalo numa prova de ensino e eu já ficava razoavelmente satisfeito. Mas não consegues e assim não consigo dar-te notas em condições. Mais uma vez.

(-) Otávio. Teve um jogo para esquecer, sem conseguir ser o jogador criativo que a equipa precisava, muito por culpa da forma como teve de andar minutos a fio emparedado por belgas. Mas sempre que pegou na bola mostrou-se pouco prático, complicativo e pouco lutador.

(-) Continuamos mansinhos. O golo do Brugge é apenas mais um exemplo da nossa forma mansa de estar em campo e que ainda não conseguimos despachar e não vejo possibilidade no horizonte dessa mentalidade mudar. A forma como permitimos que o adversário recupere bolas atrás de bolas em qualquer zona do estádio é de fazer um gajo querer começar a pingar sangue pelo recto e se o 1×1 físico e aéreo é algo a que não podemos aspirar a sermos melhores (tenhamos em conta que Óliver e Otávio são pouco mais pesados que hobbits), já na intercepção e controlo da zona defensiva temos muito a melhorar. Não somos mais fortes? Temos de ser mais rápidos.


Faltam três jogos. Faltam nove pontos. Afinal ainda dá para salvar esta merda.

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Ouve lá ó Mister – Club Brugge

Companheiro Nuno,

Quando descobri que o Timmy Simons ainda jogava no Club Brugge, uma fantástica nostalgia caiu sobre mim e dei comigo a regressar ao início do século e a jogos vespertinos (que se esticavam pela madrugada fora) no antiguinho Championship Manager, quando este rapaz era um dos meus esteios do meio-campo, um trinco rijo como cornos mas que aparecia muitas vezes na vizinhança da baliza adversária, marcando e dando a marcar. Um herói nas minhas temporadas ao comando do Club Brugge (que terminou com vários campeonatos apesar da pouca glória europeia) que terminou com a saída amigável por forma a abraçar um novo desafio, ao lado, no PSV. Era um treinador inteligente mas firme com os jogadores, uma espécie de math savant com poucos dotes sociais que exigia o máximo da sua equipa e era capaz de sacrificar o jogo bonito pelo sentido prático. E era também um líder que ficava chateado com brincadeiras e que não gostava de baixar o ritmo mesmo quando estava a vencer por cinco ou seis.

Não mudei muito desde essa altura, pelo menos a nível futebolístico. Continuo a cerrar os dentes e a querer que a equipa jogue sempre no limite, até ao fim. Claro que já permito alguma gestão mas nunca em excesso, mas este jogo não exige menos do que absoluta entrega e concentração. Temos um ponto em dois jogos e se acham que é possível arranjar um milagre que nos faça ganhar os jogos todos da segunda fase quando não ganhámos nenhum na primeira, estão bem enganados. É para ganhar e para arranjar alguém que consiga, em campo, dizer ao Timmy Simons que ele pode ser um gajo porreiro mas o antigo treinador dele está do outro lado e não vai facilitar. Desculpa, Timmy, mas tem mesmo de ser.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – Gafanha da Nazaré 0 vs 3 FC Porto

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Podia ter sido um jogo giro, daqueles de taça a sério, num campo pequeno cheio de lama e apanha-bolas caseiros, com o colosso a tremer sempre que o adversário, aguerrido e apoiado pelo seu público que vê um grande a jogar na sua terra-natal, arranca pelo terreno como gauleses perante romanos. O futebol moderno não quis que assim fosse e assim sendo foi apenas mais um jogo normal com um resultado normal. E nunca estas coisas ficam para a história, infelizmente. Notas já a seguir:

(+) Marcano. Uma assistência e um jogo rijo, sem invenções, sem preocupação com mais nada senão o sentido prático de retirar a bola da sua zona e de recuperar a bola de uma forma bem mais activa do que é habitual. Foi o melhor jogador em campo, o que pode parecer parvo num jogo contra o Gafanha da Nazaré, mas é o que temos.

(+) Otávio. Enquanto esteve em campo foi o jogador mais inteligente com a bola nos pés e o elemento mais perigoso sempre que recebia a bola do seu lado. Um golo que resolveu o jogo da melhor forma, com um serpentear impecável pelo espaço que lhe foi dado dentro da área, a mostrar que contra equipas teoricamente inferiores é sempre melhor fazer as coisas com cabeça e não com o coração.

(+) O entendimento Jota/André Silva. Continuo a gostar da forma como conseguem jogar juntos há relativamente pouco tempo mas parecem estar em sintonia na grande maioria das jogadas de conjunto. Se o FC Porto vai continuar com o 4-4-2, é com estes dois fulanos na linha da frente.

(-) Herrera. Muito lento, sem vivacidade e a falhar passes como um Stepanov de olhos tapados. E ainda conseguiu quase lixar a equipa ao conceder um livre directo mesmo na meia-lua da área por mais uma imbecilidade e lentidão na execução. Ao olhar para o banco e vendo lá Sérgio Oliveira, questiono-me do porquê de termos recusado uma oferta de x milhões pelo mexicano.

(-) Óliver. Complicou demais o jogo no meio-campo e nunca conseguiu furar a defesa do Gafanha com passes verticais. Quando pressionado fechava-se e fazia as rotações do costume mas raramente saía com a bola controlada. Melhorou depois do segundo golo.

(-) Brahimi. Podia ser um dos melhores do mundo porque tem talento para isso. Mas não lhe apetece e então nestes jogos ainda menos. Raramente conseguiu passar por jogadores do Gafanha da Nazaré. Está tudo dito.


Prova superada, sem grande necessidade de dispender esforço suplementar. Na terça-feira espero poder dizer o mesmo.

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