Baías e Baronis – Boavista 0 vs 1 FC Porto

Fui um dos milhares de portistas que estiveram hoje no Bessa a assistir a mais um derby da Invicta. E foi um espectáculo tradicional de derby, com luta intensa ao longo de todo o jogo, espírito de luta mostrado por todos os jogadores, dividido bem entre o nosso espírito e a luta por parte do Boavista. O típico instinto de lenhador boavisteiro foi mais uma vez dominador na mentalidade agressiva à Jaime Pacheco e só um FC Porto muito empenhado conseguiu sacar os três pontos. Contra tudo e todos. Vamos a notas:

(+) Mais de dez mil adeptos portistas num jogo fora do Dragão. Estive no topo norte do Bessa e apesar de não estar habituado a deslocar-me aos jogos fora do FC Porto, senti-me à vontade. As conversas coincidiam, a forma de ver o jogo era a mesma e a emoção assolava todos da mesma forma. Foi genial ver grande parte do estádio ocupado com as nossas cores num estádio que não é nosso e ver e ouvir o nosso povo, o nosso brilhante povo, a conquistar terreno alheio e hostil de uma forma tranquila, usando apenas as armas mais correctas: a voz e as cores que adornaram o espectáculo e o tornaram num momento a recordar mais tarde. Invasão!

(+) Soares. Muito lutador e empenhadíssimo na maneira como conseguiu encontrar espaços no meio dos centrais do Boavista durante todo o jogo, aparecendo até em zonas mais laterais sempre que foi preciso. O golo é um excelente movimento de Óliver e Corona e a finalização na mesma baliza onde há tantos anos Paulinho César tinha enviado a bola para o céu foi a metáfora perfeita para o que deve ser um avançado: um goleador. Vai com cinco jogos consecutivos a marcar para o FC Porto. É obra.

(+) As três intervenções maravilhosas de Marcano, Boly e Casillas. Casillas fez uma defesa extraordinária e salvou-nos num dos poucos remates do Boavista na primeira parte; Boly tirou a bola da cabeça de um avançado contrário e salvou-nos de um dos poucos lances de verdadeiro perigo na nossa área na primeira parte; Marcano conseguiu salvar um mau corte de Boly que isolou o avançado do Boavista e com um carrinho conseguiu desviar a bola da baliza. Se conseguimos três pontos no Bessa, devemos a estes três rapazes.

(-) Boavista. Pacheco está vivo e ainda está no Bessa. Uma cambada de empurradores, pontapeadores e imbecis em geral, com uma constante pressão física em cima dos nossos jogadores, entradas a rondar a tentativa de assassinato e uma permanente, enervante e enojante forma de estar em campo, procurando agredir antes de cortar, puxar antes de interceptar e bater antes de jogar. E uma palavra para Alfredo, aquele idiota que conseguiu fugir a levar com um autoclismo nos dentes há muitos anos naquele mesmo estádio (também estava lá e lembro-me desse momento como se fosse hoje), ao defender o seu menino que tentou acabar com a carreira do Corona, já tinha idade para ter o juízo que nunca mostrou ter como jogador. Um homem à imagem do clube que representa.

(-) Arbitragem.  (NOTA: não vi repetições de lances na televisão. Para alguns dava jeito, para outros nem foi preciso). Fábio Veríssimo foi aquilo que muitos parecem mostrar ser sem que se consiga perceber muito bem como. Explico. A grande maioria das más arbitragens, as que sempre critiquei desde que comecei a ver futebol, não são as que se escusam a marcar penalties ou que deixam passar foras-de-jogo de quilómetros. São aquelas que empurram uma equipa para trás, que não as deixam sair do seu meio-campo para criar oportunidades na área oposta, que seleccionam as faltas a marcar e oscilam o critério com critério. Sempre com mau critério. Sempre a permitir calcadelas, empurrões, puxões, encostos, permissividade excessiva para com uns e autoritarismo sujo para os outros. Foi assim que depois da natural subida de forma do Boavista a roçar o final da primeira parte, um fulano com quadrados na camisola enfiou os pitões no tornozelo do Corona e recebeu um cartão amarelo. Amarelo. E outros tiveram entradas não tão duras mas punidas sem critério nas faltas nem nos cartões. Ah, e o Maxi foi expulso. Expulso. Leram bem. Expulso. Ao fim de uma espécie de travessia no deserto onde Maxi procurou durante anos a fio receber um cartão daquela cor, conseguiu-o finalmente com um duplo amarelo em que no primeiro fiquei com a sensação de ter sido travado e no segundo foi um puxão igual a vários outros feitos por jogadores boavisteiros (nas mesmíssimas situações) que não foram punidos. Extraordinário.


Mais uma semana, mais três pontos. Já vamos em sete vitórias consecutivas e esta tem sempre o sabor especial de poder empurrar o Boavista mais lá para o fundo. Sweet, sweet taste of victory.

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Baías e Baronis – FC Porto 0 vs 2 Juventus

Ao ver o treino da Juventus, só me surpreendia com a potência dos remates. A colocação dos disparos. A facilidade com que a bola ia parar de jogador a jogador com uma assertividade acima da média. Muito acima da média. E essas impressões foram facilmente confirmadas durante o jogo, onde recebemos uma bela lição de futebol a sério, que nos fez perceber que não se pode falhar a estes níveis da forma como o fizemos. Fomos bravos, tentamos o que podíamos, mas dois murros bem dados nos dentes fizeram cair por terra aquilo que na cabeça de alguns ainda era um bonito sonho. Vamos a notas:

(+) Juventus. É só olhar para eles e vê-se logo que é outra safra diferente da nossa. São homens, atletas com qualidades físicas largamente superiores às nossas, com um desenvolvimento de jogo na relva quilómetros acima do nosso, onde cada jogador sabe o que fazer, quando fazer e como o fazer, com uma dinâmica a meio-campo assustadora e que mostra bem o que é ser uma das melhores equipas do planeta. Notava-se a paciência na construção dos lances, mesmo contra dez jogadores, como quem acaricia um gato e sussurra: “Calma, meu doce, isto vai lá devagar, não é preciso andarmos a voar de um lado para o outro”. Fizeram um jogo sólido, inteligente, tecnicamente sem falhas, tacticamente olímpico. Daí não ter saído do Dragão triste mas resignado. Afinal de contas, eles são muito melhores que nós.

(+) O esforço dos nossos. O ponto anterior parece indicar que não jogámos nadinha, o que não é verdade. Sim, a Juve esteve por cima mesmo com onze jogadores do nosso lado, mas as coisas ainda podiam correr bem com muito suor e alguma sorte. Pois a sorte foi mandada ao charco quando o Telles teve aquela segunda paragem cerebral (já a primeira tinha sido bem rijinha e o cartão podia bem ter tido outra cor) e ainda nos calcaram a sorte quando um dos melhores jogadores do FC Porto 2015/2016 ofereceu o primeiro golo e se esqueceu de defender no segundo. Os nossos, mortais perante colossos, lá tentaram e o espírito de solidariedade foi imenso mas não chegou. Não creio que chegasse mesmo com onze. E com sorte. Mas fizeram por isso.

(+) O público. Nunca baixou os braços, manteve-se constante e ruidoso no apoio à equipa e mesmo que muita gente tenha começado a sair bem antes do jogo terminar, a verdade é que não houve assobios nem críticas. Houve apenas compreensão para com um grupo de miúdos-quase-adultos que fizeram o que sabiam e tentaram usar as armas que conseguiam e que lhes deram para contrariar a melhor equipa que passou no Dragão este ano. Muitas palmas, muitos cânticos, muita pressão sobre a Juventus e o árbitro. Não chegou.

(-) Outplayed, outclassed, outnumbered, outgunned. Não temos pernas. Não temos ossos. Não temos pulmão. Não temos músculos. Não temos altura. Não temos calo. Tudo lugares comuns mas tudo aplicável ao FC Porto 2016/2017, uma equipa cheia de rapazes com talento, que aqui no nosso campeonato conseguem até resultados decentes e exibições aceitáveis, mas que não pode pensar em fazer frente a equipas que estão num nível competitivo vários degraus acima do nosso. Homens contra miúdos, atletas contra amadores, arranjem o duelo que acharem mais conveniente, mas a verdade, difícil de aceitar mas fácil de provar, é que não temos estaleca para isto. Nuno parece ter gostado do que viu em Guimarães e assumiu uma postura mais defensiva, de contenção, com Herrera a tapar a direita, Brahimi solto entre a esquerda e o meio e dois médios-centro que oscilavam verticalmente. Sem organizador de jogo porque seria difícil manter a bola, a opção prendia-se no envio de bolas directas para Soares ou pelas alas, quer por Herrera quer por Brahimi. Mas o facto de usar Herrera naquele lado é sintomático da falta de opções que temos e se pensarem bem, com as características para arrancar com a bola no meio-campo e a transportar para a frente, para Nuno se manter fiel à estratégia poderia escolher o mexicano…ou o outro mexicano. Não há mais. Notou-se sempre que havia défice de construção mas a ideia era essa. Resultadista, cínica, triste, mas essa. E ser italiano contra italianos raramente funciona.

(-) Todos os mexicanos. Pode soar um bocado “trumpish”, mas as mudanças mexicanas que Nuno promoveu acabaram por não conseguir qualquer resultado prático, porque Layún “deu” o primeiro golo e facilitou imenso para o segundo, Herrera não funcionou nem na ala (demasiado lento a pensar e agir) nem no meio (perdido no meio de camisolas brancas) e Corona…bem, Corona é um caso de estudo, porque se convertesse aí uns 30% do talento que tem em empenho e esforço e mentalidade competitiva…provavelmente não estaria cá. Os três estiveram mal.

(-) Telles. Rapaz, tu tens de ir ao médico. Acredito que estejas sempre empenhadíssimo no jogo e focas-te no que tens a fazer enfiando umas tábuas ao lado dos olhos e só vês o adversário e aquelas perninhas prontas para serem colhidas como uma foice humana a segar erva. E até nem és mau nisso, mas fazê-lo duas vezes seguidas? Depois de teres levado um amarelo na primeira? Rapaz, tens de ir ao médico. Pede-lhe que te receite uma treta qualquer para acalmares os nervos e para pensares um bocadinho mais antes de te mandares como um demente atrás da bola, em particular quando ela está atrás das pernas de um adversário. É que parecendo que não, deste cabo de tudo. A culpa não é só tua, mas lá que empurraste a bola de neve que causou a avalanche, lá isso…


E agora? É difícil ganhar em Turim? Dou a palavra a Anthony Hopkins em frente a Tom Cruise, em MI:2, quando lhe diz: “This is not mission difficult, it’s mission impossible”…

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Ouve lá ó Mister – Juventus

Companheiro Nuno,

Só vi a Juventus uma vez ao vivo. Foi há quinze anos, ainda nas Antas, onde Del Piero, Buffon e companhia vieram dar cá um saltinho num jogo bem engraçadito, cheio de lances perigosos em ambas as balizas, numa visão quase contrária ao que é uma equipa italiana a jogar fora de casa. Ora vê lá se ainda te lembras:


Porto – Juventus (0-0) 10.10.2001 por juventusmemories

E esta Juventus é um pouco diferente da norma italiana que nos habituamos a colar às equipas lá da terra desde há muitos anos. São mais dinâmicos, mais fantasistas e mais agressivos (sim, mais) na disputa da bola. São gajos perigosos no ataque, rijos na defesa e compactos na organização. São uma equipa de topo mundial, Nuno, não preciso de cantar mais elogios aos cabronnes. Por isso, não temos nada a perder. Talvez o orgulho ferido se perdermos o jogo ou meia-dúzia de camisolas rasgadas em caso de frustração por não conseguirmos o que queremos. Mas não temos nada a perder e é exactamente por isso que vamos cair em cima deles como se fossemos mongóis a invadir a China. Dragão Khan, carago!!! Não há Deco mas há Óliver, falta um Capucho mas há um Brahimi, não trocava o Danilo de agora pelo Costinha d’altura e entre Pena e Soares, fico com o último. As saudades que me dão ao ver aquela malta vão ser ultrapassadas pela alegria da memória deste jogaço! Vamos a isso, Nuno, faz com que aquele moço que esteve na baliza (e hoje por lá andará novamente) queira lembrar-se do primeiro jogo e não do último!!!

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – FC Porto 4 vs 0 Tondela

Um jogo em que o resultado é melhor que a exibição, em particular na primeira parte, onde fomos pouco soltos no meio-campo e quase incapazes de manter um ataque apoiado em condições de princípio a fim. Algum facilitismo que foi transformado em amarelagem geral, um penalty que francamente não me parece penalty nenhum (já nos roubaram tantos na primeira volta bem mais claros que este e não gosto de compensações tardias), uma expulsão justíssima que só peca por tardia e um jogo que se tornou fácil depois destes lances e que ainda nos brindou com três golaços e uma segunda parte bem jogada. Vamos a notas:

(+) Os golos. Não sei qual deles o melhor, tirando o penalty que por acaso até foi bastante bem marcado. O míssil de Ruben é estupendo pela colocação e acima de tudo pela confirmação da vontade que eu tenho que este moço jogue mais vezes (já vamos em dois golos de fora da área com remates dos…trincos, algo que raramente acontece com qualquer outro elemento da linha mais avançada) e o faça enquanto usa a braçadeira; uma bela jogada de entendimento colectivo, com Óliver a assistir André Silva de cabeça (!) e este a amortecer para um balázio de pé esquerdo de Jota; e a cerejinha em cima do muffin com aquela Ronaldinhada do Soares, como que a perguntar ao guarda-redes: “ah é aí que a queres? pumbas, já está!”. Um prazer.

(+) Ruben Neves. Começou recuado e acabou a subir bem mais no terreno, o que me deixa sempre a pensar se não seria mais útil experimentar jogar com Danilo na posição que hoje Ruben ocupou e colocar Ruben um pouco mais subido. Eu sei, ele não é um transportador de jogo para conseguir jogar a “8”, mas é um desperdício tão grande vê-lo no banco, um homem que joga de cabeça levantada, que roda a bola para o local certo e que pode dar tanto mais ao clube em campo do que fora dele. É o nosso Gerrard e era tão bom que ficasse cá tanto tempo (e tivesse tanta influência na equipa e no próprio clube) como o Steven ficou em Merseyside…

(+) Corona. É raro achar que Corona está bem em campo. Talvez exija mais dele do que faço com alguns outros jogadores, mas um jogador que tem um toque de bola como ele, que controla uma bola recebida pelo ar a quarenta metros de distância e a cola às botas como se fosse gelatina, tem de conseguir complementar o gesto técnico na continuação da jogada. E hoje esteve quase sempre bem, a tentar assistir os colegas, a jogar de frente para o defesa, sem medo, sem invenções excessivas. Hoje gostei de o ver, gostava de gostar de o ver mais vezes.

(-) O eixo dos amarelos. Facilitou-se demais naquela zona central e o facto de termos ambos os centrais e o pseudo-trinco com cartões ainda na primeira parte podia ter dificultado a tarefa. O Tondela tem malta muito rápida e tanto Felipe como Ruben deixaram-se ultrapassar com demasiada facilidade e tiveram de se amarelar para evitar situações de perigo mais claro para Casillas. Felipe, com este amarelo, falha o Bessa. E teve sorte de não falhar umas dezenas de minutos hoje, porque vi ali uma falta que podia ter levado ao segundo…

(-) Linhas pouco juntas na primeira parte. Foi notória a falta de cobertura de espaços na zona do meio-campo desde que começou o jogo e a culpa foi repartida por André² e Otávio, incapazes de se coordenarem em condições para surgirem em momento de apoio para criar linhas de passe e receber a bola no centro depois de Soares ou André Silva a recolherem na frente. Melhoraram bastante na segunda parte, com mais espaço e acima de tudo menos prisão táctica a um modelo que, francamente, não creio que nos favoreça. Jogar com dois médios que sobem alternadamente mas não conseguem cobrir o espaço necessário para proporcionar linhas de assistência aos avançados acaba por partir a equipa e não fosse o bom trabalho dos avançados e seria ainda mais complicado de conseguir romper a defesa do Tondela.

(-) Muitos golos falhados. Podíamos ter assassinado o jogo à facada no arranque da segunda parte, onde tivemos pelo menos três lances de golo fácil e conseguimos desperdiçá-los a todos. Otávio, André Silva e Corona tiveram o golinho nos pés e nenhum deles conseguiu enfiar a bola lá para dentro numa altura em que o Tondela abriu um pouco e arriscou acabar logo com a partida. Quarta-feira, contra a Juventus, peço a qualquer que seja o santo responsável pela eficácia no futebol (praí o São Müller, tem de ser alemão, né?) para dar cá um salto e abençoar a nossa malta…


E agora, no sofá, a cantar alegremente: “Oh meu Braga onde a eterna mocidade!”…

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