Ouve lá ó Mister – Braga

Companheiro Nuno,

A matemática começa a apertar e os números são cada vez mais fáceis de contabilizar. Os alinhamentos das últimas jornadas fazem com que seja acessível perceber que uma derrota em qualquer ponto daqui até ao final do campeonato pode ser uma sentença de morte para as aspirações que todos temos e por isso se usa aqueles termos absurdos de “x finais até ao fim”. É duro, é letal, mas é o que temos.

Este jogo em Braga é sempre complicado. Os estupores lutam como dementes para sacar todos os pontos em disputa e se não nos acauletarmos em condições, vamos ficar pelo caminho antes do que pretendemos. Hoje temos de fazer uma exibição suficiente para ganhar. Não quero saber se é bonito, se é elegante do ponto de vista técnico ou táctico, mas temos de vencer o jogo. Não há tempo sequer para pensar noutro resultado e se queremos estar nos Aliados em Maio temos de vencer todos os jogos, em casa ou fora. E o Braga é só mais um desses jogos. É tramado mas é só mais um.

Entra em campo com vontade de vencer. Tenta marcar cedo e explorar o contra-ataque quando puderes. Não abuses do jogo mastigado no meio-campo, sê rápido e prático, apoia os flancos e roda a bola com certeza. Joga em condições. Joga com os olhos na outra baliza. Ganha o jogo. E depois preocupamo-nos com as outras finais.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – FC Porto 3 vs 0 Belenenses

Ninguém se engane: continuamos na luta. Mas seguimos em frente com uma exibição fraquita, recheada de nervosismo e ansiedade que se compreende e se aceita mas que custa a engolir perante o que já foram tantas e tantas equipas do FC Porto no passado que aguentaram facilmente esta pressão de ter de vencer todos os jogos. Mas é o que temos neste momento e se mesmo em jogos onde não estamos inspirados conseguirmos tirar de lá os três pontos…no fundo é o que interessa neste momento. Dispensavam-se os nervos mas acabo por ficar contente com mais uma vitória que nos deixa de novo em primeiro lugar à condição. Vamos a notas:

(+) Brahimi. Yacinodependência. Brahimizição. Argelinificação. Esta não que faz lembrar o outro idiota. Mas há uma espécie de desleixo competitivo por parte de vários jogadores do FC Porto que se esquecem que Yacine Brahimi é um jogador estupendo mas que não pode pegar na bola a cinquenta metros da baliza e criar perigo constante. Vai perder mais bolas, vai desperdiçar mais lances de ataque e vai enervar a equipa ainda mais. Mas. Mas. Mas o cabrão normalmente consegue mesmo criar mais perigo do que a maioria dos colegas, com a notável capacidade de drible e de rotação a desequilibrarem os defesas mais rijos e rápidos. Brahimi é actualmente o jogador do FC Porto em melhor forma e a sua recuperação física e acima de tudo mental faz com que a equipa seja melhor. Mereceu totalmente o golo que marcou e foi o MVP com muitos quilómetros de distância, tantos quanto correu.

(+) A entrada de Corona. Que diferença fez a entrada de um homem fresco e capaz (quando quer) para a equipa, estruturando-a de uma forma bem mais elegante e firme num 4-3-3 mais clássico, com dois homens nas alas e um no meio. Sem adaptações, sem gente descaída a desempenhar papéis que não lhes pertencem e com homens certos nos lugares certos. Corona não fez um grande jogo mas assistiu Soares na perfeição e foi responsável por uns bons 10/15 minutos, bem mais oleados do que até então se tinha visto.

(+) Maxi. Apesar de ter um corredor enorme à sua frente, raramente teve apoio em condições por parte de André Silva, que parece tão adaptado a jogar descaído na direita (algo que fez muitas vezes na B, curiosamente) como eu a trabalhar com um tear mecânico. No entanto, o uruguaio foi dos jogadores mais lutadores e apareceu várias vezes em posição de assistir os colegas para golo e se as bolas não entraram não foi por culpa dele.

(-) Novamente a ansiedade. Os jogadores do FC Porto por vezes assemelham-se a criancinhas. Pequeninos em estatura, nervosos e distraídos, pareceu-me que entraram em campo sem grande capacidade de movimentação e desfocados do objectivo de vencer a partida. A hibridização táctica que Nuno enfia na equipa tem destas coisas e foi um fartote ver os braços esticados durante o jogo a pedir que jogador X fosse para o lugar Y para receber a bola do colega Z. O meu pai, que estava a ver o jogo num café à beira-mar, enviou-me uma mensagem logo após o segundo golo levantou o nevoeiro que até então tinha inundado a zona que o acolhia. E no estádio, apesar do nevoeiro estar longe, pareceu também sair de cima dos jogadores uma tremenda dose de desconfiança e começaram a ficar mais soltos e menos nervosos. Mas esta também é uma forma de ver as coisas estranha tendo em conta o passado não-tão-recente do clube: se a malta entra tão nervosa e descomprime de tal maneira depois de alguns golos que começa a fazer parvoíces atrás de parvoíces, os sinais de maturidade não são visíveis. Muito pelo contrário, só me diz que esta equipa ainda precisa de caminhar muitas estradas sinuosas até começar a ter o calo que precisa e que os adeptos exigem. Tempo? Isso é que não há…

(-) Óliver. É raro achar que Óliver está mal em campo porque mesmo que não esteja muito interventivo, mal a bola lhe chega aos pés há um salpicar de magia naquele relvado e fico com os olhinhos cheios de corações como uma tween a ver os One Direction. Mas hoje nada correu bem. Escondido do jogo durante muito tempo, sempre que se soltava era como se uma parede aparecesse em campo, tamanha foi a quantidade de vezes que serviu como ponto de ressalto imediato para um colega. Falhou passes em demasia e nunca pareceu confortável com a bola. Um jogo muito fraco, ao contrário do que costuma acontecer.

(-) André Silva. Upa, que trapalhão estiveste hoje, rapaz! Se é verdade que não gosto nada de o ver descaído para uma ala, não ajudou o facto de não conseguir arrancar em drible de uma forma consistente e de não conseguir criar linhas de passe decentes para os colegas lhe atirarem a bola. Pareceu cansado e temos mesmo de começar a recuperar o Corona para Braga, porque não vejo esta táctica a funcionar sem um homem expedito a jogar naquele flanco. De facto, neste momento, entre André Silva e Corona no lado direito…prefiro o Jota.


Tanta conversa tive eu com a bandeira e acabei por não a ver. Ia rasgar o Belenenses de cima a baixo mas como estava parcialmente distraído na entrada das equipas em campo (nem cantei o hino desta vez, ultrage!), não reparei se entraram com ela ou não. Alguém me esclarece?

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Ouve lá ó Mister – Belenenses

Companheiro Nuno,

Acompanha-me num exercício, se fizeres o obséquio. Vamos tentar fugir um bocadinho da normalidade semanal da bola portuguesa. Procuremos o alheamento dos insultos, das tiradas sarcásticas, da forma truculenta com que os intervenientes se tratam uns aos outros e onde o que parece normalmente é. Fujamos pois para um mundo mais calmo, pacífico, com nuvens brancas passeiam descansadas na frente de um céu azul e sorriem para os comuns mortais cá em baixo. Estamos em paz, olhamos para o futuro e para o horizonte com um sorriso nos lábios, um copo de boa cerveja e amena cavaqueira, enquanto ouvimos o Dark Side of the Moon e sonhamos em chegar lá ao fundo com mais um poucochinho de tranquilidade nas nossas almas.

E será assim no Dragão hoje à tarde, quando o Belenenses entrar no estádio com a nossa bandeira a ser transportada por alguns dos seus jogadores, preservando a tradição que começou há tantos anos e que já cumprimos na primeira volta do campeonato, no Restelo, com a coroa de flores depositada com solenidade aos pés do mini-mausoléu erguido a Pepe. Será mais um dos raros momentos de sintonia extra-futebol, da união das massas por um bem maior e que nos puxa, mesmo que apenas por alguns minutos, para fora deste lamaçal competitivo que nos inunda o dia-a-dia.

Depois…venham eles. Caiam eles. Fiquemos nós de pé, prontos para mais uma boa tarde de sábado e que a vitória nos sorria. Esqueçamos o jogo da semana passada. O que conta é sempre o próximo, Nuno!

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – Benfica 1 vs 1 FC Porto

Não foi um mau resultado. Afinal de contas jogamos no estádio mais complicado do país, contra o actual tricampeão, num ambiente difícil onde nos vimos a perder com meia dúzia de minutos jogados. E não desistimos, conseguimos um empate interessante numa partida onde o Benfica fez talvez o melhor jogo do ano e onde se notou a diferença entre um futebol mais cerebral e outro mais directo, onde tradicionalmente nestes jogos a equipa que é mais prática e incisiva acaba por vencer. No final, os maiores responsáveis pelo empate foram os guarda-redes, num jogo rijo e intenso que acaba com um resultado justo. Não era o que precisávamos mas não merecíamos mais. Vamos a notas:

(+) Maxi. Meu maravilhoso cabrão, que sofreste os meus insultos e sempre os encaraste de peito estoicamente empinado para a frente durante anos a fio, chegou a tua hora. A forma como celebraste o golo foi uma enorme prova da forma como vives e te empenhas pela equipa, seja qual for a camisola que defendas. És bruto, feio, duro, mas és um lutador e creio que morrerás como um lutador. Estou a ver-te a empurrar um pobre enfermeiro que te vá cateterizar quando tiveres os teus noventa anos, ou a pontapear a ceifeira nos cojones quando chegar perto de ti. É este espírito de luta de um homem que já passou os seus melhores anos mas que só vira a cara à luta de uma forma literal, se a luta lhe fizer frente. Escreveste uma página na tua história com a nossa camisola e fizeste-o no momento certo e acima de tudo no estádio certo. Só tenha pena que não tivesses arrancado uma orelha do Jonas à dentada, mas pouco mais se podia pedir.

(+) Casillas. Iker gosta de grandes jogos e hoje esteve mais uma vez em estupendo nível, um pouco à imagem do que tinha feito no ano passado neste mesmo estádio. Extraordinário em várias defesas consecutivas, muito bem a sair dos postes e acima de tudo com o timing certo a controlar o tempo de jogo (vês, Bruno Varela? é assim que se perde tempo com nível!). É um dos que mais mereceria ser campeão e se conseguirmos lá chegar será um dos mais satisfeitos com isso. Incrivelmente.

(+) André². Lutou como um touro no meio-campo e só não saiu porque estava a ser tão importante como primeira parede no meio-campo que Nuno optou por refrescar os três avançados e manter o meio-campo consistente. Com Danilo preso nas movimentações de Rafa e Óliver a tentar soltar-se para criar (também um jogo muito esforçado do espanhol, atenção!), foi André que mais se mostrou na defesa e no lançamento do contra-ataque, onde falhou alguns passes mas procurou sempre a melhor opção para manter a bola controlada. Fez um excelente jogo.

(-) A entrada em jogo. Os piores dez minutos do FC Porto aconteceram logo no arranque. E foi pena que o Benfica tivesse tido exactamente a atitude oposta entrando estupendamente em jogo, agressivo no meio-campo, intenso e subido para recuperar a bola em zonas onde procurávamos ainda descobrir linhas de passe primárias que raramente existiram. O penalty acabou por ser um infeliz corolário a alguns minutos de intensa pressão e o Benfica fez por merecer isso. E já agora, sobre o penalty. É perfeitamente normal que Xistra tenha assinalado a falta mesmo que depois da repetição se veja que é Jonas (mais sobre este imbecil abaixo) que acerta em Felipe e não o contrário, porque em jogo corrido é natural que Xistra veja uma falta que parece existir. Quando assim é não há nada a dizer e se eu em directo penso que até eu marcaria aquele penalty, não seria capaz de criticar o árbitro por tomar a mesma decisão. De qualquer forma, a entrada do Benfica foi muito melhor que a nossa e acabou por condicionar uma boa parte do primeiro terço do jogo. Felizmente conseguimos recuperar a moral e a rapaziada não se foi abaixo. Ufa.

(-) Jonas. É um bom jogador. Muito bom. Tecnicamente, tacticamente, é uma enorme mais-valia para o Benfica e para a nossa Liga. Mas é um enorme imbecil, um jogador sujo, vil, porco, um nojo. É daqueles gajos que dá vontade meter o guarda-redes suplente a defesa central a alguns minutos do fim do jogo e dizer-lhe: “vais ali ter com ele e cospes-lhe direitinho nos olhos e quando ele reclamar, dás-lhe um pontapé a sério nos tomates e enfias-lhe uma beringela no rabo. depois podes começar a pontapear-lhe as têmporas, sem pressas mas com comvicção. vai, rapaz, vive um bocado!”. Se os lances de arremesso para o relvado não fossem suficientes (o penalty que tenta sacar na segunda parte e que mereceria um cartão amarelo é só ridículo), aquela atitude que teve com Nuno era digna de levar quatro murros nos dentes e ficar a comer sopa passada durante uns meses. É simples: Jonas agrediu o treinador do FC Porto. Não há outra forma de ver o lance onde Jonas salta ostensivamente para empurrar Nuno e causar confusão perto do banco do FC Porto. Foi deliberado e é a imagem de um jogador que merecia ser castigado severamente ainda durante o jogo e fora dele, porque fê-lo com a única perspectiva de provocar o adversário, levar a que a malta se exaltasse e causasse uma ou outra expulsão. Foi um acto nojento de um homem nojento e que provou que continua a ser um dos jogadores mais protegidos do nosso campeonato em vários vectores.


Não dependemos apenas do nosso próprio esforço e suor para ganharmos esta treta. Temos um calendário mais complicado e uma equipa menos consistente. Mas temos alma, carago, temos vontade de lutar até ao fim e é isso que temos de fazer. Sempre.

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Ouve lá ó Mister – Benfica

Companheiro Nuno,

É hoje, rapaz. O jogo que está nas nossas cabeças desde há várias semanas e que parecia nunca mais chegar. É hoje. Vais entrar para noventa dos minutos mais difíceis da tua vida e com a certeza que o resultado vai ditar muito do futuro dos teus rapazes e, convenhamos, também do teu. É hora de juntar a malta no balneário, sentar toda a gente e começar a conversa. Não é tempo para medos, receios, cagufa. Não é tempo para arrogância, sobranceria, gabarolice. É tempo de trabalho, de suor e de esforço. E é acima de tudo tempo para tomateira bem rija e bem grande.

Não há estádio mais complicado em Portugal que este que hoje vais pisar com os teus rapazes, se excluirmos o nosso. É um ambiente pesado, com dezenas de milhares nas bancadas a torcerem contra ti e a desejarem que pises excremento sempre que mexeres os pés. Vão estimar que a tua mãe fornique babuínos, que os teus filhos sejam alvo de bullying com prumos e maçaricos e que os teus cães faleçam em acidentes envolvendo fogo e metal derretido. Vão insultar-te, aos teus e ao teu clube. Vão fazer tudo para que não consigas ganhar o jogo. Não te deixes ir abaixo. Não cedas à pressão do medo fácil e mesmo que o sintas, não o transmitas aos teus rapazes. Para eles, tanto como para ti, é um jogo em que só homens resistem e só homens conseguem vencer.

Ninguém te pede uma vitória e tu sabes disso. Mas pedimos-te que sejas audaz, que sejas inteligente e que consigas fazer a gestão do jogo de uma forma esperta, com os timings certos e a dose correcta de cinismo e sentido prático que precisamos para vencer este jogo. Tens de tentar vencer. Tens de tentar vencer. TENS. DE. TENTAR! E depois, seja qual for o resultado, cá estaremos para apanahr as canas ou, em alternativa, rebentar os dedos com o resto dos foguetes. Força, Nuno! Força, equipa! Força, Porto!

Sou quem sabes,
Jorge

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