Ao intervalo, vantagem de cá. E uma vantagem completamente merecida, depois de um jogo em que apesar do onze inicial poder indicar que fomos a França jogar para o empate, a verdade é que estivemos sempre com o jogo controlado e raramente houve problemas para a nossa defesa de uma forma consistente. E foi com a bola em nossa posse que estivemos em campo quase todo o jogo, com uma estratégia diferente do habitual (as alas mais recuadas com os laterais em apoio e dois médios de pensamento mais defensivo e estruturante) mas adequada à competição e à importância da mesma no desenrolar da época. Em suma: foi um jogo chatinho mas os três pontos assentam bem. Vamos a notas:
(+) Ruben Neves. Não quero começar a entrar para a carneirada que elogia o rapaz a cada toque que dá na bola. Mas a inteligência é inegável e se o primeiro teste a sério (a estreia absoluta) foi muito positivo, o segundo teste a sério (estreia na Champions) foi ainda mais positivo, com o jovem portista a fazer um jogo quase perfeito, com bom posicionamento a meio-campo e uma excelente capacidade de rotação de bola no momento certo para o sítio certo. Técnica acima da média, consciência adequada ao ritmo que o jogo vai apresentando e a noção de risco fazem dele um Gerrard em potência. Se continuar a jogar assim nem sequer chega a calçar na equipa B.
(+) Alex Sandro. Um jogo a fazer lembrar o “velho” Alex de 2011/2012. Rápido pela linha, sempre muito atento às subidas dos franceses pelo flanco e quase sempre bem a dobrar no centro (perdeu no posicionamento num cabeceamento de Corchia e não me lembro de mais nenhuma falha), foi sempre superior aos adversários, jogando bem com o corpo e apoiando bem o ataque sempre que era preciso. Mas foi precisamente na defesa que o rapaz mais brilhou, a transmitir segurança aos colegas com uma atitude prática, simples, de jogador feito. Finalmente. Danilo esteve bem do outro lado mas o colega de selecção (parabéns, malta!) foi superior.
(+) Um conjunto que promete. Não há nem pode haver qualquer dúvida acerca do talento que Lopetegui tem à sua disposição. Mas é também na articulação das peças, especialmente do meio-campo para a frente, que as grandes mais-valias do FC Porto 2014/2015 podem aparecer em grande e trazer a estrutura forte que desejamos, especialmente em jogos grandes. O adversário é mais físico? Bota Ruben ao lado de Casemiro, espeta Óliver/Quintero/Brahimi nas alas. O adversário só joga em contra-ataque pelas alas? Crava Brahimi ao meio, Quaresma e Tello na linha. Há uma variedade enorme de opções e alguma facilidade em rodar os “mecos” para agilizar a estratégia da equipa e traduzir o futebol da forma mais produtiva. Só precisamos que haja uma boa gestão individual, de egos e vontades…
(-) O exagerado recurso ao jogo directo. Continua a obsessão de Maicon com as bolas longas. Desde Zé Carlos que não temos um central que consiga colocar bolas longas com precisão mas a demanda continua e Maicon (com Indi a somar-se e Casemiro também a não querer ficar atrás) insiste em posicionar-se de lado para lançar bolas para Jackson…ou neste caso também para Óliver e Brahimi, que quais hobbits ficavam a ver a banda passar, incapazes de reter a posse de bola. Com tanto talento no meio-campo não é necessário recorrer a estes lances.
(-) Lille. Mas que belo bando de brutinhos que me saíram estes fulanos. Se é isto que o terceiro classificado do campeonato francês tem para oferecer à Champions League, começo a considerar uma questão de honra eliminá-los. Pancada a rodos no meio-campo, facilidade tremenda em usar os braços para empurrar (ou para puxar, como no penalty que ficou por marcar a nosso favor) e um tremendo cagaço em sair do meio-campo defensivo a não ser em três ou quatro oportunidades de contra-ataque quando o FC Porto facilitou um bocadinho na cobertura defensiva. Mantenho o que sempre disse: todas as equipas francesas têm de ser consideradas elimináveis, excepto o PSG.
(-) Quaresma. Quando vi a equipa que ia jogar pensei que o Lopetegui estava maluco. Tirar Quaresma é uma decisão interessante, de um gajo que os tem no sítio, metaforica e fisicamente, porque o Ricardo é menino para lhe dar um pontapé nos ditos se entrar em modo amuadinho. Entrou aos 88 minutos. Andou a passear em campo, não passou a bola a ninguém, fez uma falta e mais nada. Não o vi sequer a agradecer aos adeptos (pode ser culpa da reportagem televisiva) e ficou-me a ideia que estava a fazer um favor a todos. Depois do jogo simpático contra o Marítimo, Quaresma mantém-se bipolar. O último a ter mão nele foi Adriaanse, espero que Lopetegui consiga colocá-lo a jogar para o grupo e não para o seu próprio umbigo. É que este ano há muito mais opções válidas e não me choca mesmo nada se Quaresma for colocado de lado se não souber aprender a ser um jogador de conjunto. Não me choca. Mesmo. Nada.
Está tudo bem alinhado para um jogo tranquilo no Dragão, mas nunca fiando. A defesa ainda não está com a estabilidade necessária e um erro pode deitar tudo a perder…e em jogos de Champions, mesmo contra equipas fracas como o Lille, um erro pode ser fatal.