O país futebolístico está agitado com as declarações de Vítor Baía a uns miúdos numa escola.
Contextualizando, para aqueles que ainda não ouviram ou leram, ficam aqui:
“Se a carreira que fiz tivesse sido feita no Benfica ou no Sporting, a repercussão teria sido outra”
“O F.C. Porto é um clube muito fechado em si próprio. Não faz tudo o que está ao seu alcance para potenciar a imagem dos seus jogadores antigos”
“Posso voltar, claro. Há uma ligação muito forte entre as duas partes. Espero ainda ser muito útil ao meu clube.”
Foram estas duas frases que alvoroçaram a blogosfera (mais a não-portista que propriamente a nossa, admita-se) que se lançaram imediatamente em teorias porque está feito com Pinto da Costa, dizendo mal do clube para se distanciar e se tornar um candidato à FPF, e porque blá blá yadda yadda e o costume.
Hoje, Vítor veio a público novamente, e as frases foram um bocadinho diferentes:
“O F.C. Porto está no meu sangue e, sim, tenho ainda muito para dar ao clube”
“Tenho momentos marcantes na minha carreira que por eu ser jogador do F.C. Porto não tiveram o destaque merecido por parte de alguns órgãos de comunicação social, que são rápidos e não olham a espaços para destacar os feitos de companheiros de profissão de outros clubes”
“(…) as conquistas internacionais poderiam ter sido potenciadas de outra forma”
“Em relação à política desportiva conduzida pelo presidente, sempre a defendi, e os resultados assim o comprovam”
Compreendo que o pessoal fique chateado. A luta permanente do FC Porto contra as influências dos clubes da capital sobre a imprensa, sobre uma comunicação social que permanentemente minimiza e rebaixa as vitórias do nosso clube é exactamente disto que se alimenta, destas pequenas questões e declarações que fogem um pouco da estrutura monolítica de uma só voz que o FC Porto manifesta (e bem) para fora, da união que habitualmente mostramos, da solidez do discurso e da estoicidade da nossa postura.
E é exactamente por isso que nos caiu tão mal aquela primeira frase! Pois se lutamos contra um centralismo amordaçante, se nos revoltamos contra uma imprensa que salienta os podres em vez de enaltecer as virtudes, se por muito que façamos e ganhemos raramente vamos ter o reconhecimento que outros conseguem apenas por respirarem…o facto de um dos nossos principais ícones falarem desta forma é uma derrota antecipada, uma manifestação que nada há a fazer senão baixar os braços e reduzir-mo-nos à insignificância a que somos constantemente votados!
Tenho uma admiração especial por Baía, admito. Fui o autor do primeiro site Português de homenagem ao rapaz há mais de 10 anos e sempre foi um símbolo do clube. Não o conheço pessoalmente, falei apenas com ele uma meia-horita, por isso não posso dizer se é boa ou má gente. Não o tenho por arrogante nem mal-agradecido e acredito que não tenha ficado satisfeito com a forma como saiu do clube, quer por querer fazer mais (ou diferente) lá dentro ou por algum tipo de incompatibilidade com a gestão vigente, mas não gostei de ler o que disse.
Fica mal a um símbolo do clube anunciar ao mundo, ainda que com o mínimo de interesse em prejudicar a instituição que tudo lhe deu, que teria tido uma vida melhor se tivesse jogado por outros clubes. Acredito que Baía não quis dizer que preferia ter jogado nesses clubes, mas que não lhe fica bem, lá isso não fica. E não cai bem em nenhum Portista ver um dos que muitos ainda consideram um futuro presidente do FC Porto a elogiar a capacidade de captivação mediática de outros clubes em desprimor do seu. Até pode ser verdade, mas não fica bem.
É de experiência que digo que ninguém está imune a críticas, mesmo aqueles que admiramos. Os ícones muitas vezes têm pés de argila mole e se acham que estou a exagerar, vão perguntar ao pessoal que deu o dinheiro ao Pedro Caldeira para ele investir em nome deles. Pois.
PS: Agradeço os oportunos (e brincalhões) comentários no post anterior sobre a eventual necessidade de mudar o nome da rubrica de análise dos jogos. Não o farei por vários motivos mas principalmente porque Baía foi, é e continuará a ser o melhor guarda-redes (e um dos melhores jogadores) que já passou pelo meu clube. E só por isso, como já ouvi dizer, até pode atropelar velhinhas que o pessoal aplaude. Por isso obrigado, malta, mas para mim, Baía continuará a ser Baía. Mesmo que por vezes lhe saia um ou outro Baroni da boca…
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