Ouve lá ó Mister – Sporting

Mister Paulo,

Que sejas muito bem vindo de volta ao burgo! Estamos todos prontos para fazer a digestão da enormidade de comida que nós, os sortudos, enfardámos neste período natalício e que melhor maneira para enfiar os bolos todos na memória que um jogaço do FC Porto? Nada, meu caro, nadinha mesmo!

Devo dizer-te, logo para arrancar, que fiquei um pedaço desiludido com a convocatória. Estava à espera de olhar para a lista e ver algumas caras novas, diversidade de nomes e de ficar já com uma imagem mental de vários gajos com números de NBA a jogar em pleno relvado de Alvalade. Compreendo que muitos tiveram jogo dos Bês na Trofa (que vi e achei muito interessante, como vários outros jogos que já vi dos putos. Tens ali material para trabalhar, Paulo, tens mesmo…), mas ver gajos com cinquentas e setentas e oitentas nas costas a roçar-se na lagartada como se os estivessem a foder em seco era algo que me podia animar a noite de Domingo, especialmente enquanto tento digerir mais uma dose de farrapo velho que insiste em sobrar para as minhas próximas refeições. Isso ou lançar-lhes o Josué. Parece que, mais uma vez, vamos apostar na Taça da Liga sem apostar de facto na Taça da Liga. Às vezes incomoda-me um bocadinho esta sinusóide de intenções, mas como não sou eu a mandar, só posso mandar a minha posta e deixar-me ficar por aí.

Assim sendo, estão os grandes menos o Helton e o Quintero. Nada mau. Ia-te pedir para dares alguns minutos aos rapazes menos rodados, mas parece que do grupo que escolheste só o Ghilas e o Kelvin é que se enquadram nesse grupo. Tu os escolheste…agora mete-os em campo!

Sou quem sabes,
Jorge

Link:

Ouve lá ó Mister – Olhanense

Mister Paulo,

Ouço Pink Floyd enquanto te escrevo estas palavras. Há tanta pequena coisa que te podia escrever, sobre a qualidade do nosso futebol, a facilidade com que a nossa defesa parece abrir brechas do tamanho das trincheiras dos campos cinzentos de Verdun ou pela ineficácia do nosso ataque, qual nerf gun defensiva apontada ao lombo de um elefante em investida perante o teu indefeso corpo. Não me apetece forçar o pensamento triste, Paulo, a constatação que a época não está a correr como todos desejávamos e a involuntária vontade que todos temos de olhar para o que temos vindo a fazer e perceber que não temos estado à altura do clube que amamos e que tu aceitaste defender desde que assinaste contrato. Não vou alinhar por esse caminho, hoje não vou chorar as nossas tristezas. Ouço a voz do Gilmour e a sibilante melodia que ecoa da guitarra do Waters e descanso, como sempre faço quando os ouço.

E vou para o estádio, a sonhar com tempos melhores. Vou para lá como tantos outros, numa fria noite de sexta-feira em que findo uma semana de trabalho intenso, cansativo, pesado para os olhos e para a mente, e imagino que vou ver um jogaço. Que vou entrar no estádio e verei um equipa de azul-e-branco a brilhar na verde relva que ocupa a zona central do Dragão. Vejo um pseudo-Milan do outro lado. Vejo um Balogun, um Diakhité e um Dionisi e penso que vejo Gullit, Rijkaard e Van Basten a praticar do melhor futebol que os automatismos de Sacchi trouxeram ao mundo. Vejo um ogre de preto e vermelho a ameaçar o nosso destino, mas olho para as nossas cores e imagino-os a triunfar com genialidade, garra, querer, raça. Vejo um Porto à Porto, vejo vitória e audácia. Quero sair do Dragão a ouvir cânticos de glória, um regresso a um passado tão recente em que cantei, gritei, vibrei.

E a voz de Gilmour continua a cantar o Fearless, com a guitarra do Waters em fundo a soar tão bela nos meus ouvidos. E só penso que o último jogo do ano tem de ser em grande. Anda lá, Paulo, ouve comigo, canta comigo e vence para mim.

Sou quem sabes,
Jorge

Link:

Ouve lá ó Mister – Rio Ave

Mister Paulo,

A derrota em Madrid deixou-me a pensar um bocadinho, a contemplar o que raio te haveria de dizer depois desse jogo, e o facto de ter andado mais ocupado que uma putéfia com sete pachachas me impede de continuar as lides. Além do mais, ando com a sinusite a bater-me nos cornos, um mundo de muco na penca e um farrapo em geral. Se a isso somares as bolas ao poste, o penalty falhado e a falta de garra da equipa, está tudo, mas tudo bem fodidinho.

E hoje vai ser mais um desses jogos em que temos de aturar uma equipa com um treinador que já usou as nossas cores na camisola e que por hábito nos dão a água p’la barba. Ainda por cima se estiver vento lá na Vila, upa upa, mais complicado se torna. Se os rapazes não estiverem com vontade de correr, xissa penico que nos vemos tramados. E se se começarem a armar em parvos como no ano passado e botarem fora vantagens perfeitamente decentes porque um demónio lhes falou ao ouvido…então aí vou ter de me chatear. E nesta altura, começo a ficar como a versão cartoonizada do Givanildo: “Don’t make me angry. You wouldn’t like me when I’m angry”.

No fundo, tenho defendido a equipa até um certo ponto. Acho que a táctica é desajustada, acho que tu não mostraste pulso suficiente para lhes dares dois tabefes quando é preciso, acho que o Varela é mais inconstante que uma mulher alcoolizada e acho que o Lucho está a jogar fora do lugar dele. Acho também que o principal problema é mental e não táctico, é moral e não técnico, é psicológico e não estratégico. Mas começa a ser difícil segurar esta premissa quando vejo que não consegues dar a volta a isso. A mudança, mais uma vez, está nas tuas mãos. E aproveita este jogo que o Tarantini não pode jogar. Por favor.

Sou quem sabes,
Jorge

Link:

Ouve lá ó Mister – Atlético Madrid

Mister Paulo,

Aqui há três anos fomos dar um salto a Madrid para um jogo da fase de grupos da Champions (Dios mio, que eu era tão idiota naquela altura). Vencemos por três golos de vantagem e mostrámos que tínhamos uma equipa com tomates para chegar longe, exibimos bom futebol e despachámos os moços com um golo de Bruno Alves, outro de Falcao e um balázio de Hulk a fechar as contas do grupo D, onde terminámos no segundo lugar. Depois disso veio mais uma eliminatória contra o Arsenal onde depois de uma vitória por 2-1 em casa, com uma anedótica exibição de Fabianski, lá fomos a Londres apanhar as habituais bojardas nas trombas que os bifes nos habituaram a enfiar. Ah, e perdemos o campeonato para o Benfica ao fim de quatro anos de vitórias consecutivas. Dos rapazes que jogaram no Vicente Calderón sobram Helton na baliza, Fucile na defesa, Fernando no meio-campo e Varela no ataque. Ou seja, não sobra quase nada.

Hoje tens a oportunidade de limpar a imagem de cinco jogos semi-miseráveis que compõem até agora a tua carreira europeia. E já sei que não dependemos apenas de nós, que temos de esperar que a equipa desse mesmo rapaz que em 2009 enfiou um tiraço na baliza do Asenjo consiga hoje perder ou empatar contra os austríacos para podermos sonhar em passar em frente. E tudo depende de ti, Paulo, de ti e dos teus. Não tens nada a perder. Não sei se o Lucho pode jogar ou não, por isso inventa o que quiseres no meio-campo, no ataque, na defesa. Age como se a tua vida dependesse disto porque te garanto que se não passares não vem mal ao mundo e seguimos resignados para a Liga Europa…mas se passares, pá…se passares, os adeptos vão-te olhar com outros olhos. E se ganhares o jogo e mesmo assim não passarmos…ao menos saímos de pé como as árvores.

Bora lá. Estarei a ver e a sofrer.

Sou quem sabes,
Jorge

Link:

Ouve lá ó Mister – Braga

Mister Paulo,

Começa a ser complicado arranjar o que te dizer para conseguires mudar a cabeça daqueles rapazes. E imagino que ainda seja pior para ti, que os vês do banco com uma letargia que começa a confundir a cabeça de muito portista porque dá logo para um gajo começar a questionar coisas. Coisas. Cenas. Tralhas. Tudo. E eu não sou gajo para essas merdas, só exijo trabalho, esforço, empenho, garra, vontade. E vejo-te sem ideias, vejo-os sem ideias e vejo toda a gente de mão na cabeça como se fossem um monte de miúdos que começaram agora a jogar à bola. Não percebo isso e não percebo que admitas isso.

É por isso que estou convencido que vamos ganhar ao Braga. Pá, posso estar a ser excessivamente confiante, mas acho mesmo que lhes vamos cravar dois ou três na pá e nem os vamos deixar passar muito do meio-campo a não ser uma ou outra corrida do Alan ou do Rafa. E mesmo assim tenho a certeza que o Danilo lhes vai tirar a bola facilmente e o Josué vai meter duas coxinhas seguidas ao Luiz Carlos (esse gajo não te parece o Fester Addams com uma tez mais escura?). E sei que o Jackson vai receber bem as bolas que o Varela lhe vai mandar, o Lucho não vai falhar uma tabelinha nem o Mangala facilitar um dedo mindinho do pé. Nada vai correr mal, tudo vai correr bem, amanhã de manhã senta-te na posição de lótus e pensa comigo: “esta merda é para ganhar. esta merda é nossa. esta merda é toda nossa. allez. allez. volta ao início, esta…” e continuas assim umas horas. Não tenho tempo para fazer o mesmo, por isso contenta-te com o apoio a partir da bancada. Vamos a isso, caralho!

Sou quem sabes,
Jorge

Link: