Señor Lopetegui,
Tenho muitos amigos sportinguistas e creio que deve ser um recorde no rácio entre amigos que partilham um campo todos os sábados e uma vida no resto dos dias da semana. Juntamo-nos na futebolada há dezanove anos (já viste a coincidência do númbaro?) e há sempre lagartagem ao barulho. Uns mais ferrenhos, outros menos, outros ainda que não conseguem dizer qual foi o onze do Sporting na temporada 2001/2002, que em circunstâncias normais os deveria fazer ruborizar de vergonha mas que é tolerado pelo resto da malta porque, para ser sincero, poucos são os que sabem essas coisas, seja de que clube forem. Mas o grupo é composto por mais de dez amigos e seis são do Sporting. Seis. No Porto e arredores. Somemos a essa comandita o meu chefe. É sportinguista. O meu chefe, Julen, o gajo que me avalia o desempenho, que me orienta o trabalho e que serve como bússola profissional nos tempos que correm. Lagarto de fé e alma, pouco praticante mas ainda assim verde até aos ossos. Estou, no fundo, rodeado desse povo estranho no trabalho e na camaradagem.
E dou-me bem com todos eles. Os amigos, como é evidente, com quem partilho um elo metaforicamente umbilical de curso e percurso, mas também o chefe, que é um tipo porreiro. És és, oh, deixa-te lá disso, as pessoas estão a ler, vamos lá. Partilhamos dia após dia as amarguras e exaltações de um trabalho complexo mas gratificante que se faz na secretária do emprego ou no relvado sintético com a bola a rolar ou à mesa com um bom conjunto de finos pela frente.
Mas garanto-te, Julen, que nada me saberia melhor que poder chegar na 2a feira ao trabalho ou no próximo sábado ao salutar convívio semanal com o gangue, de peito feito a poder dizer: “Então, gostaram do jogo? Quando entrou o terceiro não quiseram saber se já tinha começado a novela? E o quarto, foi giro? Reclamem do penalty, agora, que tal? E aquele túnel duplo a meio da primeira parte? E os cruzamentos perfeitos? E que tal as mudanças de flanco criteriosamente por cima do lateral? E as cabeçadas para a rede? Gostaram de tudo? A vingança é fodida, não é? É ou não é? O rabinho dói, não dói? Queres uma almofadinha para as nádegas, que devem estar todas rebentadinhas das marradas de piroco que foram apanhando! E um chá? Um chazinho quentinho, qualquer coisa para acalmar os nervos? Não serve? Não se metam com os grandes, caralho, que quando picam o bicho, este não pica de volta. Este enche-vos de sémen até ao duodeno! Todo lá dentro!!!”
Deixa-me poder dizer isto aos gajos. Anda lá, garanto que também te vai saber bem!
Sou quem sabes,
Jorge