Ouve lá ó Mister – Varzim

Señor Lopetegui,

Já não falávamos há que tempos, hombre! “Falar” não será o termo mais adequado a estes meus solilóquios que nem sempre vão parar aos teus ouvidos, facto que não me impede de prosseguir com eles. E hoje é um dia especial porque é a primeira vez que escrevo um texto neste espaço com referência ao Varzim. E é sempre interessante abordar uma partida que tem tanto para poder correr mal como para ser pouco memorável. Explico.

Um jogo de Taça contra uma equipa de um escalão inferior é sempre um pau de dois bicos. Un pao con dos biqueros, se o meu espanhol não me falha. Se ganhas, ninguém quer saber, apareces nas notícias depois da surpreendente derrota do Gil Vicente contra o Arraiais de Baixo e a maior parte do povo nem sabe que jogaste. Se perdes…upa upa, capas de jornais, títulos a bold em tudo que é site, torrentes de tweets a insultar-te e aos teus, assobiadelas garantidas no próximo jogo e um sabor a humilhação que mais parece que estiveste a fumar charutos de estrume durante umas horas. Por isso aprovo o facto de teres mantido uma convocatória moderadamente estável para não recomeçares mal depois das selecções, especialmente com o Benf…perdão, o Maccabi aí à porta.

Dá alguns minutos a moços que não os podem ter habitualmente. Tive pena que não chamasses o Sérgio mas sei que ainda lhe podes dar minutos na Taça da Liga. Mas podes enfiar lá o Tello e o Varela, até o Osvaldo e o Lichnovsky para ganharem mais rodagem. Não deites é tudo a perder com invenções em demasia. Mantém a estrutura base, muda uma ou outra peça e deixa-os descansar depois do jogo estar ganho. Vai estar vento e chuva e o jogo é mesmo à beira-mar, por isso vê lá se os rapazes não pensam em praia antes de rodarem no lodo. É para ganhar.

Sou quem sabes,
Jorge

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Ouve lá ó Mister – Belenenses

Señor Lopetegui,

Aqui há uns anos fui ver o Belenenses às Antas com um amigo. O rapaz, acabado de chegar de Lisboa e adepto portista ferrenho, tinha comprado um pacote de pastéis lá da terra destes rapazes e começamos o jogo a “brindar”, cada um com o seu pedaço de céu com massa folhada à volta, na perspectiva de um jogo que nos trouxesse a alegria que merecíamos e que estávamos certos que nos seria entregue nos noventa minutos que se seguiam. Hélas, porque nos foi entregue um sensaborão empate, o total oposto do naco de felicidade com creme que tínhamos degustado no início.

Hoje espero que a sorte esteja do nosso lado e que consigamos melhor resultado que nesse infeliz encontro há vários anos atrás. Que se mantenha a tradição e que o nosso adversário entre em campo com a nossa bandeira bem aberta nas mãos dos seus jogadores. Não deixes morrer a boa onda como aconteceu depois do jogo contra o Benfica, em que abandonaram as boas fortunas desse jogo naqueles dois pontos que abandonámos no Minho. Vence a partida e imagina que vêm aí umas semanas desinteressantes de futebol de selecções que interessam a poucos. Manda os gajos votar de manhã (tu também, Ruben, agora que já o podes fazer, seu adulto!) e depois é enfoque certo para vencer o jogo sem problemas. Se a lógica funcionasse…ano passado deste quatro ao Paulo Sousa e ele esta semana enfiou outros tantos no Belém. Não peço oito, um ou dois já chega, mas ganha lá isso sem chatices e depois podes-te rir com os resultados das eleições. As nossas, rapaz.

Sou quem sabes,
Jorge

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Ouve lá ó Mister – Chelsea

Señor Lopetegui,

Ainda tenho um mau gosto na boca da passada sexta-feira, porque quando já tinha erguido os braços ao alto a celebrar a vitória que parecia iminente, eis que aquele grupo de rapazes lhes deu outra vez para me lixarem a paciência e o fim-de-semana e lá foram mais dois pontinhos para o Minho. Dois na Madeira, dois no Minho, tenho de começar a contabilizar as terras começadas com M para saber onde é o próximo jogo em que vamos abdicar da vitória de uma forma tão idiótica e trazer mais nervosismo e combatividade ao campeonato. Ou me viro para aí ou começo a ficar tão fodido com os jogos que me deixa de dar prazer e aí as coisas viram para o lado negro.

Hoje não me parece o dia ideal para poderes trazer a equipa de volta. Ia começar aqui em grandes frases de louvor mas a verdade é que ainda não vi nada de especial este ano. E pelos vistos parece que vou ter de esperar mais um bocado, porque estes jogos contra Mourinheiros são sempre uma filha da puta duma carga de trabalhos para conseguir ganhar que só de pensar neles lá atrás até me vem logo uma lágrima ao olho de tentar segurar a vontade de lhes obrar em cima. Sure, os gajos têm meia-dúzia de gajos de talento mundialmente reconhecido, tanto na destruição como na construção, mas há dois tipos que tens de manter tapadinhos: o Hazard e o Matic. Não sei se vai jogar o Willian mas esse gajo chateia-me porque tem o cabelo parecido com o David Luiz só que com as pontas todas espigadas por isso não me mete medo. Já o belga e o sérvio são gajos para me encherem de trampa até aos olhos e de me lixarem a noite toda. Casca nos dois, protege a zona defensiva e não os deixes subir muito. Se fosse a ti apostava no Ruben no meio-campo. Se vamos jogar ao nível deles, não ouses espetar dois troncos de sequóia no nosso centro contra outros tantos do lado deles. A força pode ser útil mas a rotação de bola é muito mais!

Acima de tudo mostra que queres ganhar o jogo depois de teres desperdiçado dois pontos em Kiev que nos podem vir a fazer falta. Sim, o filme já se repetiu. E não foi nada bonito.

Sou quem sabes,
Jorge

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Ouve lá ó Mister – Moreirense

Señor Lopetegui,

O Boavista de verde. É este o adversário de hoje que nos vai tentar lixar a vida e a moral depois da vitória de Domingo nos ter elevado um bocadinho o espírito. Nestes jogos, ainda por cima sabendo que na próxima terça-feira vais apanhar Mourinho e companhia no teu estádio, é normal que os rapazes se distraiam e que facilitem num jogo que lhes pode parecer mais fácil. Ainda por cima numa sexta à noite com bom tempo e noite limpa que se prevê para hoje, ainda pensam que é verão e estão num qualquer resort em Cuba a beber mojitos e a olhar para o mar, que de Moreira de Cónegos só se vê na imaginação dos mais crentes. Não deixes os putos cair nessa esparrela, é cair nos gajos desde o início e quando estiverem aviados é que se descansa um bocadinho.

E vê lá se corriges aquele meio-campo que na primeira parte contra o benfas me ia dando uma coisinha má ao ver que dos dois médios mais recuados até à linha de ataque ia um espaço tão grande que mais parecia a terra de ninguém na primeira guerra. O André anda cheio de moral mas não dá para tudo e se o Brahimi continuar a bater em paredes e a rodar para trás, se o Corona andar como um tolinho sem saber o que fazer e o Abomba estiver longe de tudo e todos, torna-se mais complicado. Assume a ofensiva, vai para cima dos fulanos e impõe o futebol que gostas, de posse e trocas curtas, mas em cima deles! No meio-campo deles! Sem misericórdias, sem brincadeiras nem conversas de treta. Joga simples, joga prático e ganha o jogo. Só depois pensas no Chelski.

Sou quem sabes,
Jorge

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Ouve lá ó Mister – Benfica

Señor Lopetegui,

Tudo porreiro? Espero que sim. Dormiste bem? Espero que sim. Estás pronto para um pequeno-almoço tranquilo? Espero que sim. Logo vais ganhar o jogo? Espero mesmo que sim.

Tem sido um arranque de temporada simpático, com jogos razoáveis e outros menos conseguidos, mas tens levado a nau a um porto agradável, sem Adamastores a tentarem copular com as tuas velas, Bigfoots a rasgarem-te a pele ou gigantescos abutres que te amarrem a uma rocha para te comer o fígado à espera que ele cresça de volta. Não creio que haja bichos no teu armário ou monstros debaixo da tua cama e garanto-te que os palhaços, por muito assustadores que possam parecer, não são tão Stephenkinguescos como mostram nos filmes. Não há papões, Julen, acredita. O que há é um adversário de nome e de talento, com um futebol que pode ser mais ou menos consistente do que no ano passado e que aparece aqui no Dragão com vontade de nos sacar os três pontos que podem e devem ser nossos. Não há que ter medo, não há que urinar pelas pernas abaixo nem esconder por detrás da mini-saia da mãe (porque a mãe, nesta história, até é bem jeitosa e tem umas coxas que prendem a atenção) à menor dificuldade. É um jogo diferente, não tenhas dúvida. É um jogo de tripla, como se diz por cá, onde as possibilidades de vitória são quase iguais para cada um dos lados. Mas tens uma coisa do teu lado: os cinquenta mil que vão estar nas bancadas que te vão dar o apoio todo que conseguirem se tu e os teus mostrarem que estão aí para ganhar o jogo. Nada mais te peço, Julen. Ganhar não é o único resultado possível, mas é o único que te vai reabilitar aos olhos de muitos adeptos que ainda não te vêem como um homem ganhador.

Muda-lhes a mentalidade. Ganha o jogo e deixa-nos dormir descansados hoje à noite com a noção de dever cumprido. Parece complicado mas eu sei que está ao teu alcance.

Sou quem sabes,
Jorge

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