Há uma imagem que me vai ficar na cabeça deste jogo, para lá da excelente jogada de envolvimento que deu o golo de Varela. Há um lance a meio da segunda parte em que durante mais uma das jogadas em que a bola rondou a baliza de Helton, um dos defesas (sinceramente já me esqueci quem foi) que está a entrar na pequena área na direcção da baliza, na altura a ser pressionado por um dos esforçados jogadores do Rio Ave, olha para o nosso guarda-redes e vendo-o perto da linha de golo…atrasa-lhe a bola na direcção da baliza. Este desnorte, fruto sabe-se lá do quê, está a contagiar toda a equipa e é perigoso porque está a colocar por terra a imagem que tínhamos vindo a criar no país e no mundo nesta temporada. Três pontos foram ganhos, objectivo “mínimo dos mínimos” conseguido. Uff. Venham as notas:
(+) Varela Teve um início forte e rápido pela ala, num arranque de jogo em que o FC Porto trocou repetidamente as posições do ataque, com Hulk a vaguear do centro para a ala e Varela a surgir muitas vezes como ponta-de-lança. Foi aí que apareceu num cabeceamento “textbook” (ou “como mandam as regras”, como se diz cá), acabando por fazer a diferença. Mais alguns bons arranques na primeira parte, acabou por perder força e pernas depois do intervalo.
(+) Sereno É um exemplo pela dedicação, agora que está mais calmo. Se continuasse como no início da temporada, não conseguia de certeza terminar um único jogo com as nossas cores, mas parece que aprendeu a jogar com mais calma e a manter a mesma determinação que mostrava e que estava claramente a ser mal direccionada, quer pelo nervosismo quer por inadaptação. Sabe que não sabe muito e como sabe que não sabe, não inventa. Surgiu bem pelo flanco e não fez melhor porque, sinceramente, não podia.
(+) James Tenho ouvido muitas críticas ao jovem colombiano. É o que acontece com todos os “boy wonders” que já aparecem com um rótulo de craque e que aos olhos de muitos não correspondem às expectativas. James é um exemplo perfeito dessa dualidade entre a imprevisibilidade da adaptação a uma vida nova e a necessidade de vincar a diferença na sua profissão. James tem talento, é inegável, e na minha opinião está a justificar a titularidade na ausência de Falcao. O toque de bola é bom, o remate é forte e bem colocado e a visão de jogo parece acima da média. Continua-lhe a faltar calo, mas isso só se ganha jogando. Vejo boas coisas para este rapaz no futuro de azul-e-branco.
(-) Fernando Desde que regressou da lesão é possível contar pelos dedos de um mau marceneiro os bons jogos que Fernando fez pelo FC Porto. Hoje, à semelhança do que tinha acontecido na quarta-feira contra o Benfica, fez asneira atrás de asneira com passes para o adversário, falhas posicionais e de acompanhamento das jogadas e uma insuportável tendência para caminhar mais com a bola do que deve, o que levava quase invariavelmente a enfiar-se num buraco onde só havia gajos de verde e branco. Pelo que já vimos de Guarín este ano, Fernando não está a merecer ser titular.
(-) Ruben Micael Mais um jogo, mais uma oportunidade perdida para marcar pontos pela titularidade. Não sei o que se passa, sinceramente, mas começo a perder a paciência com o madeirense. É provável que a culpa seja um pouco derivada da minha exigência como adepto. Enquanto que com jogadores como Guarín ou Mariano, os níveis de qualidade mínima são mais baixos do que com jogadores como Ruben, Moutinho ou Fucile. Quando já se mostrou qualidade e quando reconheço que o rapaz pode e deve fazer muito melhor, o patamar exigível sobe e perdoo menos algumas falhas ou maus comportamentos. Ruben está actualmente a ter o mesmo efeito no jogo da nossa equipa como um camião cheio de estrume tombado numa auto-estrada.
(-) Hulk ao meio. Novamente. Já por várias vezes falei disto, mas continuo a bater na mesma tecla. Não quero acreditar que há problemas pessoais entre Villas-Boas e Walter porque seria pura especulação da minha parte. Até posso perceber o uso de Hulk ao meio proporcionando a James e a Varela a capacidade de criação de jogadas ofensivas. Mas Hulk não rende nem metade naquela zona do que poderia render numa ala e Villas-Boas está a insistir numa solução que não é a melhor. Pode achar que “dá para safar”, mas não dá. E continua a chatear os adeptos quando não escolhe Walter sem explicar porquê. Não chega, André.
(-) Intranquilidade A súbita inércia e letargia que invadiu as mentes e almas dos jogadores portistas nos últimos tempos é estranha e assustadora. Jogadores que mostraram excelente futebol, organização táctica e solução diversas para se soltarem da grande maioria dos problemas que nos foram colocados…fizeram o jogo que viram hoje. A minha cara-metade, sábia na questão da psicologia empírica (sem ironias, a miúda é daquelas pessoas que tem o dom de ler bem as pessoas), diz-me que lhe parece que os nossos putos estão desabituados de perder e que a derrota com o Benfica lhes abanou a cabeça. Ela é benfiquista, mas não diz isto por mal. E não lhe quero dar razão…mas que me parece correcto, lá isso…
É verdade que os momentos que vão ficar para a história deste jogo se reduzem a um resultado: 1-0. É pouco para uma equipa com o nosso talento e com a capacidade de gerar futebol bonito e vistoso como já fez este ano. Mais importante ainda, é estranho para os adeptos que se habituaram a ver jogadas fluidas e bem engendradas a transformar-se num conjunto de jogadores amorfos, nervosos e pouco confiantes. Todos estes problemas começam a compôr um quadro complicado quando vemos que a baixa de forma que se verificou em Janeiro se está a estender e até a agravar em Fevereiro. Vem aí o Sevilha e nesta altura devíamos estar a jogar bem mais do que estamos a mostrar…