Baías e Baronis – Benfica vs FC Porto

 

 

foto retirada de MaisFutebol

Antes da festa, houve jogo. E houve um jogo que não vai desaparecer tão cedo das mentes de um portista que se preze, porque a vitória de hoje foi o limpar de uma imagem que tinha sido deixada após o confronto da Taça no Dragão que perdemos (e muito bem) por 2-0, e que fora explorada até exageros de proporções bíblicas pela imprensa e seus doutos opinadores. Foi um jogo em que mostrámos em campo, na relva, que somos os melhores. Somos os melhores porque quisemos vencer mais do que o adversário o quis impedir. Porque usamos a arma que nos tinha ferido com gravidade (a pressão alta) contra o Benfica, magoando-o sem opção de recobro. Porque houve garra, luta, espírito de sacrifício, capacidade de auto-controlo perante a ridícula exibição de Duarte Gomes, numa das piores arbitragens que me lembro desde Paixão em Campo-Maior, com erros para ambos os lados mas em claro prejuízo da nossa equipa. Porque vencemos em casa do adversário quando o adversário, no ano passado, não o conseguiu fazer. Foi essa vontade, essa alma, que me conquistou. Parabéns, malta! Notas abaixo:

 

(+) Otamendi Se este é o Nico que vamos ter até ao fim da época, se calhar vendemo-lo no Verão. Esteve brilhante em todo o jogo, especialmente no lance do penalty, em que não perdeu a cabeça depois de ver a decisão aberrante de Duarte Gomes mas continuou a trabalhar, a cortar bolas fundamentais e a sair bem com a bola controlada, só para ser novamente injustiçado pela besta de preto num amarelo infundado por uma falta que não existiu e que só no futebol português é que alguma vez se podiam lembrar de marcar. Rolando, ao seu lado, joga melhor, o que não é dizer pouco, já que Rolando só joga bem quando tem ao lado um central melhor que ele. Está tudo dito.

(+) Varela Foi o jogador que mais gostei de ver, especialmente porque mostrou inteligência, astúcia e uma capacidade física que não o via a exibir há meses. Foi brilhante na subida pelo flanco de Airton, aproveitando a inadaptação natural do rapaz à posição de defesa-direito mas não só, porque recebia bolas em zonas mais recuadas, porque esperava pelo apoio de Álvaro na altura certa e na proporção correcta. Foi o principal homem do ataque portista hoje na Luz e saiu por questões tácticas, cansado mas de certeza ciente do papel fundamental que teve no jogo.

(+) Moutinho O maestro da equipa está de volta às boas exibições. Encheu o campo na primeira parte com o empenho e a inteligência da pressão que ia orquestrando e na segunda parte foi o principal autor da troca de bola que levou o Benfica a cometer erros atrás de erros e só não fez com que o FC Porto marcasse mais golos por clara inépcia de Falcao hoje em Lisboa. Arriscou no final numa entrada a pés juntos que podia (e talvez devesse) ter levado um vermelho e não um amarelo, o que censuro mas compreendo. Afinal, quando se sai do Sporting para ser campeão, o rapaz faz tudo para ganhar logo à primeira.

(+) Helton Brinca muito. Finta os avançados. Pica a bola por cima dos adversários. Queima tempo. E então? É o nosso capitão, campeão e líder de balneário. À defesa que faz ao remate de Aimar ainda na primeira parte somam-se mais algumas intervenções seguras no segundo tempo e a certeza que a confiança estava em alta (o que nem sempre é bom com o nosso keeper, né moleque?) e que essa mesma confiança se transmitia para os colegas. Excelente.

(+) Villas-Boas Muito, mas muito bom. A conferência de imprensa, onde surgiu um treinador feliz, sorridente, que parecia ter saído de um banho de espumante que aposto levou no balneário, mostrou o que significa ter um treinador portista a celebrar um título no Estádio da Luz. O que significa, acima de tudo, ter um treinador portista. Devia ter gravado o raio da emissão.

 

(-) Passividade do Benfica Fiquei surpreendido e até um pouco decepcionado com a atitude do Benfica. Muito à imagem do que o FC Porto tinha feito no jogo da Taça, foi um Benfica amorfo e que parecia desinteressado em impedir, como lhes era exigido, que pudéssemos ser campeões na Luz. Foi uma fraca exibição e acima de tudo foi uma exibição abaixo do que podem fazer. Mérito para a nossa equipa porque a pressão alta fez com que não houvesse espaços para circular a bola para a frente e obrigou a atrasos sucessivos para o guarda-redes, mas não explica tudo. O orgulho que tive na minha equipa em Março de 2010, quando forçámos a que o Benfica tivesse de sair do Dragão sem o título no bolso deve ser equiparado à desilusão do lado dos adeptos vermelhos pela forma como permitiram que o campeonato fosse entregue no seu próprio campo ao principal rival.

(-) Duarte Gomes Se colocássemos uma couve-lombarda a apitar este jogo, era mais provável que a nota fosse positiva. É evidente que o jogo era do mais difícil que podia haver, mas para o futuro tenho de guardar as decisões que tomou e que vão obviamente ser escondidas pela imprensa nos próximos dias. Para lá da quantidade absurda de cartões amarelos exibidos, fica o penalty marcado a Otamendi onde não há falta; o amarelo a Roberto no penalty contra o Benfica é curto; o segundo amarelo a Otamendi é absurdo, porque não há falta; Aimar deveria ter sido expulso logo nos primeiros dez minutos de jogo por várias entradas violentas; idem para Coentrão; idem para Javi; idem para César Peixoto. Podia continuar aqui a falar de Duarte Gomes por horas e horas. Não vou gastar nem mais um segundo.

(-) Apagões, bolas de golfe e animalices Condeno a atitude do Benfica, até porque já fiz o mesmo depois de ver alguns comportamentos do género no meu próprio estádio. Tanto a nível de segurança como de fair-play, é neste tipo de situações que podemos ver que os comentários de João Gabriel e Rui Gomes da Silva são prova do ridículo em que as pessoas acabam por cair quando criticam a postura contrária e se alheiam de olhar para a sua própria casa, para além das bolas de golfe e bilhar que choveram nos pontapés de canto. O apagão, em termos de segurança, é mau. Em termos de fair-play, não é mais do que estava à espera.

 

 

Hesitei entre correr os jogadores todos com notas positivas mas raramente sou dado a atitudes salomónicas e tal far-me-ia perder a isenção e a forma crítica como julgo os jogos do FC Porto. Mas fiquei tentado, porque quase todos jogaram bem hoje à noite. Sei que não há tempo para celebrar em grande porque há outros jogos muito importantes para disputar, o primeiro dos quais já na quinta-feira no Dragão contra o Spartak. Mas o campeonato, aquela prova que nos envolve todo o ano e a única que verdadeiramente interessa vencer todos os anos (já que as provas europeias são utopias pontuais)…essa, já cá canta!

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Baías e Baronis – FC Porto vs Académica

 

O meu habitual intervalo no Dragão passa por um telefonema para o meu pai. Isto quando ele não está lá comigo, como é lógico, senão era deitar dinheiro fora e não estamos em tempos dessas coisas. Mas de qualquer maneira a conversa nos últimos tempos tem sido qualquer coisa como:”Oh pá, estes gajos são uns nabos! Aqui na televisão estão tão lentos, parece que não querem saber disto! Que vergonha!”. O meu pai é um pessimista, é verdade. Mas eu também sou, e estas primeiras-partes deitam-me abaixo com muita facilidade. Chamem-me homem de pouca fé, mas não acredito em dar avanço às outras equipas, pronto. A diferença é que este FC Porto pode subir de produção quando quer contra equipas deste calibre e tem aliado a sorte à vontade de marcar, ao nível de um campeão quase anunciado. Vencemos com facilidade depois de um ou outro susto mas não fomos coerentes ao longo de todo o jogo. Notas abaixo:

 

(+) Belluschi O mais inconformado dos nossos rapazes. Entregou-se ao jogo com tudo que tinha e voltou a agarrar um lugar que lhe tinha fugido há alguns jogos, com a chegada de rompante de Guarín ao onze. Belluschi continua a ser um abnegado de trabalho este ano e dá a entender que se dá muito bem com Otamendi porque parece que descobriu as entradas de carrinho para recuperar as bolas defensivas. O rapaz luta, dá energia e motivação à equipa e é um jogador fundamental no FC Porto. Só continua a precisar de melhorar o último passe…

(+) Fernando Foi o único jogador clarividente na primeira parte portista. Para além de tapar a grande maioria dos lances de ataque do adversário, tentou sempre sair com a bola controlada para o ataque. Só teve um problema: é que poucos se mexiam à sua frente para criar linhas de passe minimamente decentes para ele conseguir furar pelo pouco espaço que tínhamos no meio-campo da Académica. Saiu quando era preciso outro jogador para rodar a bola e porque o adversário já não criava perigo por aquela zona. Gostei de o ver, mais uma vez.

(+) Fucile Subiu bem pelo flanco e ajudou na defesa sempre que pôde. Hoje foi menos brincalhão do que é costume e ainda bem, porque com Addy na primeira-parte ia-se vendo lixado da vida. Subiu de produção na segunda parte (mais um) e criou um flanco direito com Belluschi e Varela que desfez a defensiva da Académica.

(+) Subida de produção na segunda parte Parece fácil a forma como o FC Porto consegue crescer em velocidade, em agressividade, em força e em futebol. Contra uma Académica que esteve menos mal na primeira parte mas que só causou chatices por inépcia nossa, a segunda parte foi novamente o oposto da primeira, com a subida de Guarín, a velocidade de Varela e a irreverência de Belluschi a rodarem a bola 20 metros à frente do que tinham feito antes. A Académica nunca mais conseguiu passar do meio-campo com organização. Point-Set-Match.

(+) Público Mais de quarenta e seis mil espectadores (com a particularidade da malta que escolhe o último número ter adivinhado que Guarín iria ser o marcador do primeiro golo) estiveram hoje no Dragão. Aposto que muitos, como eu, usaram os dois convites gratuitos que estão incluídos nas benesses de quem tem Dragon Seat. Vi o jogo noutra bancada (longe da Porta19, admito) e reparei em muitas caras novas. É uma boa forma de trazer gente à bola e espero que o povo goste de ir ao Dragão. Quem é que não gosta?!

 

(-) Primeira parte de avanço, mais uma vez Sei que é a Académica. Sei que os nossos rapazes andam cansados e que este era o terceiro jogo em sete dias. Sei que o campeonato está quase ganho. Mas também sei que detesto olhar para o resultado no Dragão e ver que os gajos da direita tem um algarismo mais alto que os da esquerda. E custa, rapazes, custa muito. Se a culpa fosse nossa, se fôssemos uma equipa fraquinha, ainda percebia. Mas só podemos descansar DEPOIS do jogo estar ganho. Malta, vamos lá, não custa assim tanto e o povo fica contente!

(-) Hulk Não está num bom momento, é verdade. Corre muito mas as fintas e os passes não saem. Nem remata tantas vezes como dantes, vejam lá. Mas precisa de acalmar, o nosso super-herói. Precisa de meter na cabeça que não é com lances como o que teve na segunda parte com o resultado em 2-1, quando rematou de letra quando podia tê-lo feito com o pé direito. Não está a ser eficaz como o foi no início da temporada e a equipa ressente-se disso. Rapaz, relaxa, as coisas vão melhorar!!!

(-) Maicon Parabéns pelo golo, Maicon, foi um bom salto e uma excelente cabeçada. O resto do jogo? Uma sucessão de jogadas nervosas, domínios de bola periclitantes, passes forçados e mudanças de flanco ridículas. À imagem do compatriota pseudo-verde, não parece conseguir acalmar enquanto está em jogo e as jogadas parvas sucedem-se uma atrás da outra. Parece estranho que este seja o mesmo jogador que o que começou a temporada, mas é o que temos. Rolando é o melhor central do FC Porto e depois vem Otamendi. Muito atrás estão Maicon e Sereno. É a minha opinião.

 

 

Faltam 3 pontos (ou apenas um, dependendo da performance do Benfica em Paços) para confirmarmos o campeonato. Parece que ainda ontem estávamos a começar a temporada e cautelosamente anunciava o meu apoio à contratação de Villas-Boas mas sempre colocando as vírgulas em termos da qualidade do plantel e sobretudo da organização que seria necessária implementar num plantel que estava moralmente desfeito, que tinha acabado de perder algumas peças-chave e que poderíamos precisar de remendos urgentes ou então de uma recuperação demorada. Hoje, apesar da primeira-parte fraca (talvez devido à primeira-parte fraca e à subida na segunda), vi que temos equipa. Vi que os jogadores sabem quando crescer, quando subir, quando parar, quando acelerar. Vi que temos estrutura montada e que apesar de não praticarmos um futebol extraordinário, temos um jogo estabilizado e seguro. E por agora, está muito bem.

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Baías e Baronis – FC Porto vs CSKA Moscovo

 

Ao contrário do jogo da passada segunda-feira, em Leiria, que fez um filme de Manoel de Oliveira parecer uma obra de Jerry Bruckheimer tal foi a lentidão dos processos e movimentações dentro de campo, este foi um espectáculo muito mais intenso, com futebol diferente e que apenas não enervou mais os jogadores porque as alterações tácticas de Villas-Boas conseguiram parar a velocidade do ataque russo à custa do FC Porto mais defensivo e controlador da temporada. O que interessa nestes jogos não é propriamente o bom futebol, não são as jogadas vistosas que dão vitórias nem os remates em arco que fazem passar eliminatórias. É o esforço, a atenção ao pormenor e, por muitas vezes, a capacidade de conseguir impedir um adversário que não sendo mais forte, acabou por nos dificultar muito a vida. Ganhámos bem, passámos bem e venha o próximo. Vamos a notas:

 

(+) Fernando Para mim, o jogador da noite. Aposto que os russos, ao chegarem perto da área, pensavam logo: “Oh, pronto, lá vem esta besta roubar-me a bola!”. Sempre atento, sempre rijo, sempre a interceptar e quase sempre a sair bem com a bola controlada, o Patrick Vieira de Goiás fez mais um jogo a grande nível e mostrou o porquê de ser titularíssimo na nossa equipa.

(+) Defesas centrais Fizeram ambos um jogo incomparavelmente melhor do que tinha acontecido em Moscovo. Agressivos e bastante mais concentrados, tanto Rolando como Otamendi foram quase perfeitos a defender a zona frontal da área. A equipa russa raramente jogou pelo ar (a não ser depois da entrada de Necid, por diante conhecido como “o armário checo”) mas tanto Rolando como Otamendi estiveram impecáveis no corte e na antecipação. Continuo a pensar que Otamendi terá que melhorar o passe curto e Rolando o passe longo, mas se continuarem a defender desta forma já não me chateio muito.

(+) Guarín Produziu pouco a nível ofensivo mas usou sempre o corpo para vencer as bolas no meio-campo. O golo foi algo fortuito mas é valiosa a subida no terreno, apesar de quase não ter rematado à baliza durante todo o jogo. Mas lutou, ajudou a defender a zona central, fez vários passes extraordinários (mudanças de flanco com o pé esquerdo a 30 ou 40 metros, para dar um exemplo. Sim, foi Guarín que as fez. Não estou a inventar, foi mesmo ele!), sacou várias faltas ao adversário e sempre que pegava na bola era o único, juntamente com Hulk, que obrigava os russos a descer no terreno. Muito útil, confirma-se que rende muito mais na posição 8 do que na 6.

(+) O exemplo do segundo golo Uma obra 100% colombiana, com James a aproveitar a atrapalhação de Akinfeev depois de um atraso do defesa russo. James, inteligente, a não desistir e a conseguir um cruzamento largo que Falcao não chegou mas Guarín apareceu no sítio certo para enfiar a bola na rede. Tudo porque o puto não desistiu, lutou contra a natural inércia de recuar para a sua linha e o seu posicionamento natural e esforçou-se aquele bocadinho extra, aquele pequeno nada que foi tanto. É nestas atitudes que se faz um jogador, que se ganham afectos da bancada e que se conquistam vitórias.

(+) Villas-Boas À imagem do que tinha feito noutros jogos, Villas-Boas soube ler o jogo e perceber que o facto de ter entrado com a mesma equipa para a segunda-parte não iria funcionar porque o CSKA começou a pressionar ainda mais alto e as bolas perdiam-se uma atrás da outra. O nosso treinador pode ser inexperiente mas sabe que estes jogos se decidem por pequenos pormenores, por isso decidiu (e bem) colocar mais um elemento no meio-campo, retirando um ala que estava a ser inoperante. O jogo mudou e os 32 mil no Dragão viram o FC Porto mais defensivo da época, a estruturar um 4-3-3 que era mais um 4-5-1, com Hulk a defender a ala direita e Belluschi na esquerda, matando o jogo. O CSKA nunca mais conseguiu criar perigo e o jogo foi ganho nesse momento. Boa leitura de jogo.

 

(-) James Continuo a não gostar de o ver a jogar na ala. Não é rápido, distrai-se facilmente, não tapa o flanco, não acompanha as subidas do lateral adversário e não tem força para avançar ombro-a-ombro contra o defesa que lhe aparece à frente. Hoje foi exactamente isso, um jogador inócuo, sem efeitos práticos, com excelente toque de bola mas pouca produtividade. Nota-se que está mais solto, com maior vivacidade e com a confiança em alta, mas não chega para substituir Varela. Para Domingo, apostava em Rodríguez no seu lugar.

(-) Falcao Lento, exageradamente previsível, nunca conseguiu ser uma mais-valia muito por culpa da pressão do meio-campo defensivo e dos centrais adversários, já que sempre que conseguia receber a bola era rapidamente rodeado por dois ou três fulanos de branco que não brincavam em serviço e faziam a desfeita de lhe roubar a redondinha. Não era justo, pensaria Radamel, mas o que é certo é que nunca teve apoio para soltar rapidamente a bola. Lutou, mas não foi possível usá-lo na estratégia natural do FC Porto porque não estava a resultar e a substituição era previsível.

(-) Fucile Antes do jogo, mandou uma piada ao seu estilo. Qualquer coisa como “pode vir o Honda, o Kawasaki, o Mitsubishi”. Ora não foi o Honda que marcou o golo, mas esteve envolvido na jogada e o nosso Jorginho, que quando abre a boca normalmente sai uma tirada porreira como esta, apesar de estar a defender dois rapazes dada a inoperância de James (que estava à sua frente mas que não fechava o flanco) bem tentou recuperar e subiu de produção na segunda parte. Mas fica ligado (só por culpa dele) ao golo que Helton sofreu ao fim de umas largas centenas de minutos e devia levar um par de estalos do brasileiro. Ou então obrigá-lo a ouvir música brasileira durante 4 dias seguidos, que talvez seja punição suficiente.

Despachamos o segundo CSKA da época para chegar aos quartos mas ainda podemos apanhar pelo menos um russo ou um ucraniano, a somar a dois portugueses (não quero nenhum, obrigado), um espanhol e dois holandeses. Ou seja, lendo as coisas da minha maneira, não havendo alemães, italianos ou ingleses e se os espanhóis não forem o Real ou o Barca…há sempre hipótese de vencer a prova. Estamos a jogar bem mas acima de tudo estamos com uma estrutura tanto táctica como individual que nos permite pensar em vencer qualquer adversário que nos apareça à frente. Mas…primeiro temos um campeonato para ganhar. No Domingo vem aí a Académica e alguns destes rapazes vão ter de descansar um bocadinho porque a seguir vamos dar um saltinho a Lisboa. Pois.

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Baías e Baronis – União Leiria vs FC Porto

Nem o talento de cinquenta Shakespeares intensamente drogados com substâncias que expandem a mente conseguiriam transmitir emoção sobre este jogo. Foi um jogo-treino num relvado que parecia musgo contra uma equipa paupérrima, a defender no máximo 4 ou 5 metros para lá da sua área, que contou com a perspectiva de um descanso do adversário que já estava a pensar no próximo jogo de quinta-feira para a Europa League. Safámo-nos, depois de muitas não-jogadas, passes falhados e em geral uma peladinha a campo inteiro, através da pata, mais uma vez, de Guarín. Um petardo de fora da área ajudou a acabar o jogo aos 59 minutos. Ponto. Pouco mais se passou no resto da partida e deu para descansar com bola. Limpinho, direitinho. Notas abaixo:

 

(+) João Moutinho Tanto a “8” como a “6”, foi o melhor jogador em campo. Sempre com tino a passar a bola, sempre com a perspectiva quase perfeita da criação de jogo ofensivo pausado e bem construído, como de costume. Não é brilhante como Belluschi, nem extraordinário como Hulk. Mas é o fiel da balança do nosso meio-campo e lidera a equipa como vi poucos homens a fazer no FC Porto.

(+) Laterais Num jogo em que um extremo do Leiria era apenas mais um médio-ala defensivo, tanto Fucile como Álvaro estiveram muito presentes e sempre pressionantes. Fucile foi mais eficaz que o colega do outro lado e apesar de tanto um como outro terem falhado vários cruzamentos, o facto de estarem em permanência no meio-campo contrário ajudou a empurrar ainda mais (o que era quase impossível) a equipa da casa para a sua área. Gostei.

(+) Belluschi Continua a ser o contra-peso não literal de Moutinho, já que os dois numa balança não devem chegar ao número que marca naquela infeliz peça de tecnologia quando eu lá me ponho em cima. Falha passes a mais, inventa fintas para enfiar a “cueca” aos adversários e nunca conseguirá ser um jogador consistente. Mas quando atina com os passes a rasgar e as desmarcações dos colegas, é bonito de ver. Há um passe para Falcao lá para o meio da segunda parte que o nosso nove não consegue meter a bola na baliza que é uma coisa linda de ver.

(+) Guarín Não fez um jogo ao nível de Moscovo, mas foi seguro no meio-campo. Esteve bem no campo físico e quando passou a jogar no vértice direito do losango da segunda-parte, cedendo a posição recuada a Moutinho, mostrou muito mais serviço e acabou por marcar um golaço ao seu estilo. Titular? Depende do jogo.

(+) Adeptos do FC Porto Noite fria, chuvosa, estádio demasiadamente arejado e qualquer coisa como 39 adeptos do Leiria, incluindo o banco de suplentes. O resto? Portistas, sempre a cantar e a apoiar a equipa. Foi bonito de ver e não fossem os habituais e perenemente absurdos petardos, tinha sido perfeito.

 

(-) União Leiria A inovadora táctica de 9-1-0 adoptada por Pedro Caixinha deixa qualquer adepto de futebol a salivar com a perspectiva de um festival de futebol de ataque. Se somarmos a esse audaz esquema a inépcia técnica dos rapazes que entraram em campo com camisolas todas brancas, qualquer cego veria que o jogo ia ser emocionante. Fraquíssimo. São estas equipas que fazem do nosso campeonato uma prova fraca a nível europeu.

(-) Maicon Fez pouco, é verdade. Mas de cada vez que um leiriense se acercava dele, tremia como um chihuaha à chuva na Islândia e deixou-se quase sempre antecipar pelos fracos avançados contrários. Não compreendo a titularidade.

(-) Varela Mais uma nulidade do nosso Silvestre hoje em Leiria. Não está a conseguir atinar nem com a bola, nem com o relvado, nem com os cruzamentos, nem com o mais simples bloco de construção do futebol: o passe. Muito fraco, não está a merecer a titularidade.

O jogo foi um tédio, é verdade. Mas nem todos os jogos podem ser entusiasmantes como o do CSKA, principalmente porque do outro lado estava uma pseudo-equipa que entrou em campo para não perder. Onze rapazes atrás da bola não serão o melhor adversário para uma formação que pretendia vencer sem se cansar e estar fresca (dentro do possível) para o jogo importante de quinta-feira contra os russos. Esse sim, é o jogo vital da semana. Quanto ao resto, os 13 pontos de avanço no campeonato tratam de fazer com que cada jogo até ao FC Porto ser matematicamente campeão seja uma demonstração de relax excessivo e muito pouco apelativo para o público. Por isso venham daí os moscovitas!

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Baías e Baronis – CSKA Moscovo vs FC Porto

 

foto retirada de MaisFutebol

Sem ilusões: o resultado é bem melhor que a exibição. Vencer na Rússia não é fácil para nenhuma equipa e enfrentar um CSKA em início de época, com o físico em alta e a moral no mesmo sítio…ainda é mais complicado. Jogadores como Vagner Love ou Honda são perigosíssimos e conseguir contrariar aquele jogo que parece lento, adormecido, retraído, pausado quando não tem a bola…e que se transforma num vendaval de futebol ofensivo veloz como o vento dos Urais, com passes a rasgar, desmarcações quasi-instantâneas e avançados serpenteadores (e a ganhar ressaltos como se Estaline estivesse a assinar a ordem de gulaguização à vista deles), é uma tarefa só ao nível dos melhores. Vencemos porque estabilizamos o nosso jogo, porque aproveitamos o nosso melhor momento para marcar e para acalmar o adversário que quebrou fisicamente nos últimos quinze minutos, onde podíamos e devíamos ter assassinado a eliminatória. Assim…no Dragão voltamos a falar. Notas abaixo:

 

(+) Guarín Ao contrário do que estava a discutir com o autor do Dragão Crónico, que me disse que eu teria de fazer a penitência de dar um Baía ao colombiano, é com todo o gosto que o incluo no topo da lista. Resolveu o jogo como tinha feito em Sevilha mas ao invés de entrar para ganhar um ressalto e atirar para uma baliza semi-deserta, desta vez Guarín dominou a bola à entrada da área, fez uma finta de corpo para tirar o defesa da frente e rematou com força e colocação para fora do alcance de Akinfeev. Sim, foi Guarín que fez tudo isto, ele que depois de uma primeira parte muito esforçada mas pouco produtiva apareceu mais solto, (ainda) mais guerreiro e muito mas muito mais eficaz na segunda. É uma figura peculiar, este tipo. Parece tosco mas consegue jogadas como a do golo; assemelha-se a uma preguiça no ramo de uma árvore quando pensa no que quer fazer mas avança como um leopardo esfomeado quando vê que tem espaço para furar, como fez na primeira parte em que depois de ganhar um ressalto, fintou um russo e espetou um passe de 50 metros para o flanco esquerdo. Está a ser muito útil esta época, principalmente em jogos como este em que o físico se tem de impôr à técnica. Guarín? Presente!

(+) Segunda-parte Mas que diferença fez o intervalo, minha gente! A segurança que faltou dos 0-45 apareceu dos 45-90, com uma mentalidade mais ganhadora, mais assertiva, mais calma e acima de tudo com uma noção táctica mais controlada. A equipa distribuiu-se pelo campo com um posicionamento que frustrou os russos vez após vez e que permitiu uma fracção das jogadas de transição que tinham ocorrido na primeira parte. Se haverá mérito no reposicionamento e na putativa lição táctica de Villas-Boas ao intervalo, o facto dos jogadores se adaptarem melhor ao relvado e às condições do jogo também deverá ter ajudado, mas seja como fôr os rapazes de amarelo subiram exponencialmente de produção e impuseram um futebol mais bonito e eficaz que levou a um resultado bastante positivo.

(+) Helton Se durante o jogo não tivesse andado a fintar adversários e a fazer-me esbranquiçar o pouco cabelo que ainda tenho, tinha ficado mais satisfeito. Mas perdoo o nosso capitão porque foi ele a última e intransponível barreira defensiva do FC Porto hoje no Luzhniki. Amorteceu o desnorte dos colegas que jogam à sua frente e defendeu tudo o que conseguiu, salvando a equipa várias vezes na primeira meia-hora de jogo. Mas pára lá de fazer as fintinhas, pá, palavra de honra que um dia destes vai-te correr mal a brincadeira e depois levas um Baroni que te lixas. Ah pois é.

(+) Fernando Foi, a par de Helton, o único jogador a fazer uma primeira-parte positiva. Nunca complicou e tentou sempre arrastar o jogo para a frente com muitos passes diagonais para a frente e a tapar no que podia em frente aos centrais. Com o meio-campo mais poroso que uma meia de rede e Moutinho+Guarín a não conseguirem suster os atacantes russos, foi Fernando que muitas vezes limpou a bola da nossa zona defensiva, sempre com sentido prático acima da média da equipa. Muito bem.

 

(-) Primeira-parte Foram 45 minutos de pressão intensa nas cabeças de todos os portistas que estiveram a ver o jogo. Os russos, agressivos e com transições rapidíssimas, lixaram de tal maneira a mona aos nossos defesas que nem Sapunaru nem Rolando conseguiram perceber o que deveriam fazer até chegarem ao balneário. Foram tantas as vezes que Honda, Love, Doumbia e companhinski passaram por eles que comecei a pensar que tinham o cérebro enregelado. Para além disso, a saída da defesa era quase impossível a não ser em bolas longas para Hulk, inepto desde a entorse logo no início do jogo, ou Falcao que tentava dominar a bola rodeado por gajos com camisolas do Chaves, ou James que andava empenhado mas meio perdido no meio-campo contrário. A somar a este desterro, Moutinho não conseguia acertar dois passes seguidos, Guarín tentava mas não saía nada e o único que se safava era Fernando que jogava mais prático e por isso com menos riscos. Foi uma tremideira que felizmente acalmou na segunda-parte, mas tivemos muita sorte em não ter sofrido pelo menos um golo.

(-) Adaptação ao relvado Acredito que os relvados na Rússia dêem mais jeito serem sintéticos até porque se torna complicado manter a relvinha bem viçosa quando caem toneladas de neve anualmente. É lá e na zona norte de Lisboa, onde o Sporting quer fazer o mesmo. Pensem novamente. Guarín e Hulk são vítimas de um tapete de cimento em côr castanho/esverdeada em que o resto da nossa malta bem pode agradecer aos anjinhos azuis que lá de cima lhes puseram a mão por baixo e impediram que se partissem todos.

Terminado o jogo, bebido o resto do segundo fino (um por parte para não encher mais a pança), descansei. Foi um jogo de nervos, uma batalha em Moscovo contra uma equipa muito forte que joga num estilo que me enerva pela incapacidade dos nossos rapazes se adaptarem à velocidade dos cruzamentos e das transições. O resultado é melhor que o conjunto das duas partes que foram tão antagónicas que parece estranho terem feito parte do mesmo jogo. Trememos na primeira, controlamos na segunda e conseguimos um golo que nos pode qualificar para os quartos-de-final de uma competição que parece cada vez mais ao nosso alcance. Não vai ser fácil o jogo daqui a uma semana no Dragão e não podemos descansar com uma vantagem tão curta, mas é possível marcar pelo menos mais um golo a estes russos enervantes. E cortem aquelas tranças de alien avatárico do Vagner Love, por favor. Nem que seja à lapada.

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