Baías e Baronis – Pêro Pinheiro 0 vs 8 FC Porto

foto retirada do MaisFutebol

A festa da Taça, yadda yadda yadda. O resultado não foi nada que não se estivesse à espera mas como já por várias vezes tivemos amarguíssimos de boca com equipas deste nível, não sabia se o FC Porto, regressado depois de um absurdo intervalo de duas semanas e apresentando uma equipa com dois habituais titulares, poderia tornar o jogo fácil como era a sua obrigação. O ritmo foi baixo e alguns rapazes insistem em brincar demais com as situações simples (ouviste, Souza?), mas até isso era admissível para o nível da ameaça colocada pelo adversário. Fica na memória a quase impossibilidade estatística: todos os oito golos marcados por jogadores com apenas seis letras no nome. Damn it, estou a ver desporto americano a mais. Vamos a notas:

 

(+) Walter Quatro golos são quatro golos, seja contra o Pêro Pinheiro ou contra o Barcelona. Se bem que quatro golos contra o Barcelona é hercúleo, por isso esqueçam a expressão, foi infeliz. De qualquer forma, Walter mostrou que para lá do peso e da lentidão com que executa a grande maioria dos lances, surge pronto para marcar nos sítios certos e descai muito bem para a lateral quando precisa de apoiar a equipa no início dos lances de ataque. Walter parece genuinamente melhor, com mais força, mais empenho e acima de tudo uma melhor integração no jogo da equipa. Com Kléber a regressar na quarta-feira (we hope, we hope), felizmente teremos outro avançado para servir como alternativa nas competições internas, já que na Champions…só numa eventual segunda fase. Ainda assim gostei e fico à espera de mais, porque me lembro dos golos que Farías marcou contra o Sertanense…e nunca o achei opção válida para titular no ataque…

(+) Belluschi Para lá da genial jogada do segundo golo (qualquer defesa tinha muito provavelmente caído naquela finta, fosse na terceira divisão portuguesa ou na primeira italiana), o nosso capitão esteve excelente na criação de jogadas ofensivas e na rotação de bola no meio-campo. Merecia ter marcado um golo, mas como hoje era evidente que só poderiam marcar golos jogadores que tivessem seis letras no nome, a bola nunca poderia entrar na baliza. Na segunda parte baixou um pouco a produção mas nunca parou de jogar de  uma forma inteligente e de rodar a bola para os pontos certos, muito à imagem de Defour, que falhou alguns passes a mais do que é habitual.

(+) Mangala Os jogadores do Pêro Pinheiro não eram propriamente vedetas de classe mundial, mas o francês conseguiu mostrar que é soluçao para primeira alternativa aos titulares (Rolando e Otamendi continuarão a ser os dois melhores centrais do plantel), bem à frente de Maicon. Certo, rijo, sem inventar, sem facilitar, a passar a bola simples e directa e a dar garantias de segurança lá atrás. Gostei do facto de não sentir necessidade de impôr o lado físico para ganhar bolas mas sabendo-o usar só quando não tem outra hipótese.

(+) Varela Talvez pela pouca qualidade do adversário, Varela destoou do que tinha vindo a fazer esta temporada até hoje e esteve bem. Inteligente, a jogar de forma pausada mas sempre com o olhar levantado e a observar a movimentação dos colegas para lhes colocar a bola jogável. Gostei, especialmente porque não estava à espera tendo em conta o passado recente.

 

(-) Maicon Não comecem a dizer que eu tenho qualquer coisa contra o rapaz, ele é que me provoca. Insiste em arrancar com a bola nos pés e enfiar-se nos buracos mais complicados e onde há mais jogadores adversários, para depois ter de fazer passes para a linha (literalmente, em que o colega só consegue dominar a bola se estiver a pisar a divisória) e dificultar a vida aos companheiros. Em alternativa, o passe longo, quase sempre para o corte fácil de qualquer jogador com camisolas diferentes da dele. Ah, depois lembra-se também de escorregar em situações difíceis. Começo a perder a paciência contigo, rapaz.

(-) Alex Sandro É verdade que o puto é novo e ainda se está a habituar a isto. Mas enquanto via o rapaz a jogar, só me lembrava de dois outros defesas esquerdos que passaram pelo FC Porto nos últimos anos: Benitez e Ezequias. O primeiro porque era viril em demasia quando não era necessário. O segundo porque chegava persistentemente tarde às bolas. Não querendo estender a comparação porque me parece exagerado abusar deste tipo de lembranças, Alex Sandro é um rapaz que parece ter bom toque de bola mas que precisa de ter mais calma e entender que temos cá muitos árbitros que gostam mais de amarelo que o gajo que desenhou os equipamentos do Estoril.

(-) Luís Freitas O animal do jogador do Pêro Pinheiro teve uma atitude absurdamente provocatória quando cortou uma bola ostensivamente com um pontapé forte direitinho ao banco do FC Porto. Teve os seus 15 segundos de glória quando a câmara da SportTV apontou para o rapaz e se viu o ar gozão de quem pensava: “Embrulhainde!”. Precisava de passar outros quinze segundos de glória…mas numa sala fechado com um escorpião mutante carregado de anfetaminas.

 

Foram oito mas podiam ter sido dezasseis. O jogo foi fácil, sem grandes chatices, com os jogadores a tirarem o pé a muitas jogadas divididas, algo perfeitamente compreensível tendo em conta a quantidade de jogos que por aí vêm, bem mais importantes que este. Acima de tudo foi uma vitória, que em jogos a eliminar é a única coisa que interessa. Felizmente deu para perceber que há alternativas disponíveis no plantel, mas terão de confirmar esse estatuto com uma equipa de nível superior a estes simpáticos rapazes (menos o outro que mandou a bola contra o banco do FC Porto, que merecia um pontapé na traqueia). A Champions vem já aí na Quarta-feira e esse jogo vai ser bem mais complicado…

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Baías e Baronis – Académica 0 vs 3 FC Porto

foto retirada de fcporto.pt

Nervoso. Aparentemente só eu é que estava nervoso a ver o jogo, porque quem olhasse para o campo via uma equipa que estava mais calma do que eu, como se o jogo de São Petersburgo não tivesse abanado a estrutura mental dos jogadores. Vi um FC Porto mais igual ao que nos habituou, com um jogo mais estabelecido a meio-campo ainda que a espaços se tenha voltado a ver alguma displicência e falta de tranquilidade, com passes exageradamente rápidos e longos, várias perdas de bola e lentidão excessiva na construção de jogo até chegar ao meio-campo adversário. Mas é um FC Porto melhor que o da Rússia, que pode ter visto em Coimbra um acréscimo de confiança que tanta falta tem feito à equipa. Vamos a notas:

 

(+) Fernando Foi mais uma vez o melhor jogador do FC Porto. Apesar da posição que ocupa ser eminentemente defensiva, foi a partir das intercepções e recuperações de bola do “Polvo” que a equipa conseguiu estabilizar o jogo e dominar por completo a partida. Continua a não saber muito bem o que fazer quando sai de bola controlada para lá do meio-campo mas habitualmente toma a opção certa e roda a bola para o colega mais próximo ou para o lateral do lado onde está. Serve como complemento perfeito à menor mobilidade de Moutinho nestes dias e enquanto Guarín aguenta a pressão mais acima, Fernando mantém-se observador, posicional, astuto e controlador. Numa altura em que a equipa está tão necessitada de força física como de confiança no seu talento, Fernando funciona como a perfeita descida à Terra quando recupera uma bola e faz funcionar o ataque posicional de uma forma tranquila mas sempre em posse. Que continue assim.

(+) Helton Em pontos fulcrais do jogo foi sempre o guarda-redes que precisávamos. Brilhou pouco mas foi eficaz a tapar a baliza quando Éder lhe apareceu sozinho, a voar para defender um grande remate de Adrien e a agarrar alguns cruzamentos de Sissoko e Diogo Valente. É isto que uma equipa grande necessita sempre: um rapaz lá no fundo da equipa que não precisa de defender muito, só precisa de defender tudo.

(+) Walter O golo foi meritório, não tenho dúvidas. Acreditou que a bola (muito bem centrada) de Hulk iria ficar mesmo ali no intervalo entre os dois centrais e deu o toque perfeito como um ponta-de-lança deve fazer. No resto do jogo esteve esforçado ainda que pouco eficiente, mas a maior contribuição que deu à equipa acabou por ser a festa que os jogadores lhe fizeram aquando do golo, porque são estes gestos que indicam que o ambiente está bom e acabam sempre por mater as conspirações pela raiz. E exigem-se sempre golos a um ponta-de-lança, mas acima de tudo também precisa de ser mais móvel, mais rápido e estar mais em jogo. Só estranho que a última não aconteça mais vezes, porque pelo conhecimento que tenho da gravidade, a bola deveria ser mais atraída para Walter que para qualquer outro jogador…

(+) Apoio nas bancadas Sempre a gritar, sempre a apoiar, sempre presentes. Os nossos adeptos deram mais uma vez um sinal evidente que estão presentes nos bons e nos maus momentos, prontos a levar os rapazes aos ombros se tal fosse necessário e hoje em Coimbra viu-se mais uma vez que a malta está pronta e de gargantas bem afinadas com a equipa. Portistas unidos em prol da vitória e da continuação do sonho de ser campeão, porque não nos podemos deixar abater por resultados menos conseguidos quando sabemos que podemos fazer muito mais. É esta confiança que transmitimos para o terreno, este tipo de força que passamos para os jogadores e só podemos esperar que nos retribuam em golos e conquistas.

 

(-) Medo de falhar Se há alguma coisa que posso apontar à equipa hoje é o receio com que vi um grande número de jogadas a serem desperdiçadas com passes longos excusados e muito vagar na execução. Nota-se que alguns jogadores caminham como faquires inexperientes em camas de pregos novos e parece-me evidente que a confiança necessária para um tipo de jogo mais “nosso” ainda está longe de ser alcançada em pleno. Moutinho, Álvaro, Fucile mas sobretudo Guarín (que já de si não é em condições normais o jogador mais calmo do plantel) continuam a mostrar insegurança a mais nos lances em que estão envolvidos, ao ponto de fazerem Fernando, que joga mesmo ali ao lado deles, parecer um paladino da tranquilidade. Tempo, melhor condição física e resultados positivos farão com que eles regressem ao nível do ano passado, mas até lá vamos ter de suportar algum excesso nos recuos para o guarda-redes, nas trocas de bola entre os centrais sem que um médio venha buscar a bola, ou remates de longe que parecem não ter intenção de entrar para a baliza. Temos de ter paciência.

(-) Otamendi Um jogo muito fraco do argentino hoje em Coimbra. Ao contrário do que é habitual nunca conseguiu lidar com a velocidade de execução de Sissoko e Éder e deixou-se cair com uma consistência assustadora nas fintas dos adversários, especialmente quando os encarava em lances individuais, onde foi batido até me deixar enervado. Se somarmos os passes longos absurdos que davam quase sempre lançamentos laterais para a Académica, a produtividade hoje foi negativa. Valeu-lhe Helton por várias ocasiões porque do lado dele hoje passava quase tudo.

(-) Relvado Não sabia que no futebol profissional em Portugal eram permitidos relvados em gravilha pintada de verde. A bola saltava como se estivéssemos num sintético, e houve vários jogadores Portistas (Hulk e James, principalmente) que se viram lixados com a incapacidade de controlar a bola e colocá-la a rolar em condições, o que não parecia acontecer com os jogadores da Académica, provavelmente mais habituados ao estado do terreno. Para o estilo de jogo que temos é complicado manter a bola a rodar entre os jogadores de uma forma estável quando não se sabe se o passe vai parar onde previsivelmente deveria chegar, mas é um problema que os nossos meninos têm de conseguir resolver no futuro, porque a incapacidade técnica que parece disseminada no nosso plantel acaba por impedir um jogo simples como gostamos.

 

Não foi a exibição fabulosa que estaríamos à espera, mas foi suficientemente boa para manter o primeiro lugar antes desta absurda paragem de duas semanas, intercalada com um jogo da Taça. É preciso rezar para que nenhum dos nossos muitos seleccionáveis não chegue a casa com uma ou outra lesão muscular ou mesmo (knock on wood) traumática, porque o plantel é extenso mas não em todas as posições e como temos ainda alguns rapazes no estaleiro, temos de esperar que daqui a quinze dias possamos voltar em grande. Até lá vamos descansar, analisar alguns pormenores e perceber que Vitor Pereira precisa ele também de algum tempo para entender a melhor forma de jogar e quem são os melhores à sua disposição. Insisto, vamos ter paciência, minha gente, porque o trabalho tem sido atribulado mas sério e este grupo tem potencial para nos dar muitas alegrias. Cá as esperamos.

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Baías e Baronis – Zenit 3 vs 1 FC Porto

foto retirada de MaisFutebol

Antes de mais, há que dizer que o FC Porto não foi hoje banalizado em São Petersburgo. O FC Porto, por culpa própria, do treinador até aos jogadores, acabou por se banalizar. E fê-lo numa altura em que as musas conspiram para que a lei de Murphy seja levada ao extremo, porque quando tudo o que pode correr mal assim acontece, ao nosso clube actualmente acaba por acontecer, como diz o corolário, na pior altura possível. Não bastando a lesão de Kleber seguiu-se a estupidez de Fucile e algumas opções questionáveis de Vitor Pereira, qualquer um destes factores suficientes para abanar uma equipa. Mas o pior de tudo foi mesmo a forma como encaramos este jogo, lentos, conformados, pouco lutadores, sem alma nem espírito de luta, de conquista, de esforço e sacrifício. O Zenit é uma boa equipa mas nem precisava de ter o talento que mostrou porque a maneira como chegava sempre primeiro às bolas e interceptava constantemente os passes fracos e com pouca convicção fez com que o FC Porto saísse da Rússia pior do que lá tinha chegado e deixasse os adeptos ainda mais preocupados. Vamos a notas:

 

(+) Fernando, na primeira parte Complicado, muito complicado arranjar pontos positivos para este jogo. Pensei em dar um auto-Baía, pela capacidade inusitada de sofrimento que aguentei ao ver o jogo num café e a abafar os gritos animalescos e recheados do melhor vernáculo que conheço para evitar ser corrido de lá para fora, mas não me parecia correcto. Fernando, por seu lado, esteve bem na primeira parte, a interceptar a maioria das bolas que conseguiu e a servir como tampão na frente da área, obrigando o Zenit a descair sempre para as laterais. Na segunda parte não esteve nada bem mas as atenuantes são grandes para a fraca exibição: não sabe mais. Fernando é um jogador para aquilo e nada para lá daquilo, já o mostrou uma montanha de vezes nos últimos anos.

 

(-) Falta de garra / Má condição física Imaginem um caracol asmático e sifilítico a correr ao lado do Usaín Bolt. Foi aproximadamente essa a imagem que o FC Porto deixou transparecer hoje no Estádio Petrovsky. Lentos, sem força, sem intensidade competitiva sequer para a Taça da Liga, quanto mais para a prova mais importante de clubes a nível europeu, os nossos rapazes hoje desistiram de lutar por razões que só podem ser reduzidas a três hipóteses prováveis: alheamento total da imagem que passam para o exterior, com uma arrogância e soberba que os levou a assumir que este jogo seria fácil; incompreensão do modelo de jogo; ou a terceira…falta de pernas. Não aceitaria a primeira nem me pareceu tal coisa, porque vi os jogadores de braços caídos (a imagem de Álvaro quando é ultrapassado por Danny no final do jogo, numa altura me que pensei: “vais-lhe dar uma charutada e és expulso”, só para ver o uruguaio a lamentar a corrida mais intensa do número dez do Zenit) e se fosse esse o caso, o mais provável seria começarem a entrar em pequenas vinganças como Guarín na final da Supertaça. A segunda parece-me possível, tendo em conta a rotação de plantel e esquematização táctica que tem vindo a ser praticada. A terceira…custa-me a entender, mas é a mais provável de todas. Ainda assim, com todas as limitações físicas do mundo, não há nada que justifique a atitude que vi durante o jogo, com jogadores que representam o meu clube a desistirem de bolas fáceis, a optar pelo jogo directo para jogadores como Hulk ou Varela em vez de escolher o caminho mais difícil mas muito mais lucrativo que é o que sabemos fazer desde há um ano, a posse, a troca de bola entre os jogadores do meio-campo com envolvimento lateral simples e que acima de tudo obriga o adversário a correr atrás do esférico. Mas dá trabalho. Dá muito mais trabalho e é muito mais exigente que mandar um pontapé para longe. O rant vai longo e já merecia um post só dele, por isso termino com isto: é visível que os rapazes estão fisicamente em baixo. O que fazer? Aceitam-se sugestões.

(-) Fucile Já tentei e continuo a não conseguir perceber o que é que pode passar pela cabeça de um jogador profissional experiente para fazer uma estupidez daquela magnitude. Palavra que não consigo. A maneira como Fucile tenta dominar a bola já é sintomática de uma perspectiva permissiva e pouco empenhada no gesto que está a desempenhar. E depois: o regresso à tenra infância, numa mão que tem tanto de absurda como de desrespeitosa para com os colegas, o treinador e os adeptos. É o acto de um jogador que não está bem, que voltou a ser aquele Fucile de duas caras que nos habituamos a lamentar ver em campo porque não é de confiança e nunca se sabe o que vai fazer quando a bola chega perto dele. Sapunaru, como já o disse no passado, é neste momento a melhor opção para o lugar de defesa-direito. Mesmo lesionado.

(-) Vitor Pereira O jogo não foi fácil, como se previa. Mas Vitor Pereira mais uma vez atirou com dois ou três toros de madeira para uma fogueira que estava a crescer sem bombeiros à vista. A entrada de Varela para a saída de Kleber é uma ideia razoável, tendo em conta que o avançado alternativo para manter o esquema de 4-3-3 seria sempre Hulk, e não mudava grande coisa. Até aí, apesar da forma de Varela me fazer pensar que o rapaz está com vontade de fazer tudo menos jogar futebol, não me incomodei. Mas ao intervalo, a saída de James para entrar Souza e acima de tudo desviar Fernando para a direita, o único que percebia e conseguia manter a agressividade a meio-campo, é uma má opção. Compreendo o que quis fazer, mas discordo. A partir daí Moutinho e Belluschi continuaram a houdinização do meio-campo e Fernando, perdido na lateral, servia mais para colocar os avançados russos em jogo do que para ajudar a equipa. A desagregação que se tinha visto contra Feirense e Benfica manteve-se e em campo estava uma imagem tuberculosa do FC Porto, sem interacção entre sectores e com uma disposição táctica que ninguém conseguiria manter estável e unida. Foram mais algumas apostas que correram espectacularmente mal e continuo com a ideia que Vitor coloca fé demais nos jogadores e na sua capacidade em jogo. Não chega simplesmente dizer-lhes: “vais fazer A ou B”, porque a grande maioria das vezes não é o que acontece. A pressão que tem colocado em cima de si é exagerada e a culpa é em grande parte dele próprio.

 

Os cento e dezoito anos de história do FC Porto não se fizeram só de grandes vitórias e de passeios triunfais por Portugal e pela Europa. Há também momentos como o de hoje, em que tudo corre mal e nada parece ser possível fazer para melhorar o estado mental e físico dos jogadores que representam o nosso emblema. É nestas alturas que temos de dar a volta por cima e procurar soluções para os diversos problemas que hoje são visíveis e que aqui há duas semanas pareciam não existir. Vitor Pereira tem de descobrir a melhor forma de reanimar uma equipa que está de rastos, concreta e metaforicamente, e cada vez tem menos tempo e oportunidades para o fazer.

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Baías e Baronis – FC Porto 2 vs 2 SL Benfica

 

foto retirada do MaisFutebol

 

É uma crónica difícil de escrever, tanto como foram difíceis de aguentar os onze minutos finais do jogo, descontos incluídos. A ruptura física e emocional da equipa foi penosa de ver e à medida que o relógio avançava para esse infeliz minuto 82, havia uma sensação de insegurança como há muito não sentia num clássico, que poderia ser perfeitamente plausível caso o jogo tivesse sido muito complicado, o que não tinha acontecido até então. O Benfica entrou defensivo mas bem estruturado e o 4-4-1-1 deu-nos muito trabalho a quebrar, mas quebramos. E depois de mais uma parvoíce levar ao empate, lutamos para passar de novo para a frente, e conseguimos…e a partir daí, a equipa desfez-se como um castelo de cartas numa tempestade tropical. Não vale a pena reclamar com o árbitro, porque apesar de achar que houve algum exagero nos amarelos e dualidade pontual de critérios, a verdade é que o empate deve-se a mérito do Benfica como a demérito nosso e por muito que possa custar admitir, o jogo não devia ter acabado assim. Só faltou concentração, alguma inteligência emocional, mais alguma força nas pernas e acima de tudo calma e confiança, que parece estar em baixo. Vamos a notas:

 

(+) Fernando Foi o melhor jogador da equipa. Não chegam os dedos que tenho nas mãos e nos pés para contar as intercepções e excelentes posicionamentos defensivos que o “Polvo” hoje mostrou no relvado do Dragão, cortando lance após lance de investida atacante do Benfica, tanto no meio como na ajuda aos laterais. Era evidente que com Aimar em campo a jogar em apoio a Cardozo, Fernando ia ter trabalho intenso e a verdade é que o argentino viu-se pouco por culpa dele, provando que para jogos a sério quando é preciso alguma estrutura no meio-campo enquanto não funciona a rotatividade entre os membros do sector, a utilização de uma âncora inteligente e firme é essencial.

(+) Guarín Deve ter saído chateado. Eu sei que sairia, porque depois do jogo que fez merecia ter acabado a partida. É verdade que falhou algumas bolas no ataque e vários passes triviais que Fredy insiste em transformar em remates laterais mas a forma como ajudou Kleber na pressão a Luisão e especialmente a Garay foi bonita de ver. Jogou solto, como deve jogar, em apoio defensivo bem alto, e se houve algum elemento que impediu Javi e Witsel (bom jogador esta besta) de fazerem o que bem queriam no nosso próprio meio-campo, esse rapaz foi Guarín. Ia marcando um golo fenomenal num chapéu a Artur de pé esquerdo, mas o brasileiro estava atento.

(+) Otamendi O golo é de raiva e de esforço mas ainda assim saliento o trabalho defensivo, porque foi o mais certinho, apesar dos golos sofridos. Saiu sempre com a bola controlada e só por falta de apoio não conseguiu desiquilíbrios maiores, já que sempre que aparecia a correr pelo meio-campo dentro, parecia que o resto da equipa (tirando Hulk, mas como estava inconsequente acabou por não ajudar muito) ficava tão surpreendida que simplesmente não lhe dava o auxílio necessário e perdemos fulgor com isso. Bom no corte, aguentou o amarelo que levou muito cedo (correctamente) sem qualquer problema e foi o melhor jogador atrás de Fernando.

(+) Ambiente nas bancadas Por muito que tenha achado piada à galinha no ano passado, este foi um clássico mais digno. Não houve problemas com público, com pedradas, bolas de golfe ou bilhar ou bowling ou lá o que raio alguns animais gostam de levar nos bolsos. A polícia fechou tudo o que tinha para fechar, controlou bem a área e o ambiente, apesar de tenso como é natural para estes jogos, não teve a força negativa que no ano passado. Não fica na memória, mas por bons motivos.

 

(-) Desconcentrações Se o segundo golo nasce de falta de pernas e de intranquilidade defensiva, o primeiro é pura estupidez e falta de sentido prático. Não consigo compreender como é que Hulk perde a bola, Fucile fica a olhar e Cardozo aparece sem qualquer problema para encostar lá para dentro. Se Robson tivesse visto este golo mandava-os todos correr à volta do estádio durante uma hora, tal foi a falta de sentido prático e de concentração na tarefa que mostraram durante a segunda parte.

(-) Artur Aquele pé no ar é a imagem que me fica deste fulano, que fez com que lhe perdesse o respeito vocalmente com excelente vernáculo nortenho. E Guarín (ou Kleber, a memória falha-me) só não teve a clarividência de continuar e ir contra a pata da besta para ver se o animal falhava o pé de apoio com medo que lhe marcassem um penalty e caísse redondo na relva. Por vezes, caro neandertal brasileiro, são atitudes dessas que levam a que um jogo normal acabe num arrojo de pancada. E ainda bem que a malta se controlou, porque se dependesse de mim era bem capaz de chamar a brigada da braguilha e fazer de ti o primeiro guarda-redes do Benfica a levar um golden shower em pleno Dragão. Merecias.

(-) Hulk Inconsequente, foi uma pobre exibição ao nível das que fazia quando cá chegou em 2008. Parecia sempre complicar as coisas fáceis e estranhei que não tivesse rematado mais vezes, ainda que em má posição. Mas não, hoje Hulk passou o jogo todo a discutir com Fucile sobre o que presumo fossem regras de condução, porque fez dezenas de gestos com as mãos a simbolizar um “força, passe, minha senhora” e ainda agora não percebo o porquê de tanta conversa; perdeu bolas fáceis com fintas parvas; desperdiçou oportunidades de remate para fazer oh-só-mais-uma-fintinha-e-já-está; e pareceu apático com a presença de Emerson ou Gaitán no ataque pelo flanco. Volta rápido, Givanildo.

(-) Fucile Tu não aprendes, Jorge. Convences-te que és jeitoso e depois acabas por fazer jogos destes, e olha que já não é o primeiro monte de trampa que sai dos teus pés este ano, rapaz. Foi muito mau, homem, mau demais, e se tens desculpa para algumas bolas em que apanhaste com dois em cima, não te perdoo perderes bolas para aquele anão espanhol do Nolito, pá, o jogador mais sobrevalorizado desde que o Skuhravy chegou a Lisboa. Falhaste muito e em alturas importantes, moço, e só te pergunto: porquê? Qual é a necessidade de fintares gajos na linha quando podes ser prático e chutar contra eles para ganhar um lançamento? Porque é que tentas sempre fazer a coisa mais complicada quando a simples é mais melhor boa? Desiludes-me assim desta maneira? A mim que sempre te apoiei? Não se faz, Jorge, não se faz…

(-) Vitor Pereira Não me junto à turba que se parece ter formado à minha volta no Dragão, com gritos de “este gajo não percebe nada de futebol” e “és uma vergonha, caralho, era despedir-te já”. Bullshit. O que me faz dar uma nota negativa ao nosso treinador foi a forma como não conseguiu coordenar a equipa e elevar-lhe a alma quando era evidente para todos que havia ali uma desagregação iminente, tanto física como táctica. Talvez os jogadores não tenham pernas, talvez não gostem do estilo, mas algo se passa que está a roubar a alegria aos nossos putos. Hoje, tirou Kleber porque estava lesionado, como o ouvi a dizer na conferência de imprensa enquanto estava no trânsito. Mas não podia alterar a forma da equipa jogar e principalmente manter o Varela em campo, que já não tinha pernas para aquelas andanças. Mas optou por colocar o Hulk ao meio, mesmo vendo-o a complicar tudo que parecia fácil e apostaste num rapaz que cruzou duas ou três vezes sem sequer olhar para quem lá estava e que não consegue manter uma bola controlada na relva nem que lhe apontem um taser ao testículo esquerdo. E Guarín, tirar o Guarín e pôr lá o Belluschi em vez dele foi mais uma decisão que não entendi. O meio-campo estava em igualdade mas era preciso um rapaz para cobrir uma ala, MANTENDO uma pressão intensa pelo centro…e mantém-se o Varela que era um zombie no flanco, com o Belluschi a jogar enfiado entre Javi e Witsel? Não compreendi, palavra. O problema que Vitor Pereira enfrenta é complicado e estes últimos dois jogos serviram para perder mais algum capital de confiança perante muitos sócios que ainda aqui há uns meses viram a equipa a jogar como raramente tinham visto nos últimos anos e só pensam: “Mas só saiu o Falcao e o Villas-boas, que mais pode ter mudado?”…e vão-lhe começar a apontar o dedo. É um selo difícil de tirar e as vitórias terão de começar a aparecer rapidamente, caso contrário a vida pode começar a ser muito difícil para o treinador do FC Porto.

 

Depois de passar o jogo, é fácil perceber que perdemos dois pontos e o Benfica ganhou um. Fomos mais fortes durante boa parte do jogo mas fraquejámos nos momentos mais importantes, quando tínhamos de reter a posse de bola e trocá-la com confiança e atitude altiva de campeões, evitando que o Benfica, que tem jogadores tecnicamente melhores (Por favor: Fucile, Moutinho e Guarín, são capazes de trocar a bola pelo chão sem ser aos saltinhos? Agradecido.) e estava a jogar no erro como fez quando cá veio vencer para a Taça, pegasse na bola e fizesse o jogo rápido de transições que costuma aplicar aos adversários. Não conseguiu e tal como nesse jogo sofreu dois golos perfeitamente evitáveis. Bottom line? Um empate em casa é mau, contra o Benfica é uma desilusão. Mas não deixamos de estar na luta, muito longe disso, e o campeonato ainda vai dar muitas voltas, por isso vamos com calma que amanhã é um novo dia. E só pode ser melhor que a noite de hoje.

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Baías e Baronis – Feirense 0 vs 0 FC Porto

Quando me sento para ver um jogo do FC Porto, raramente estou à espera de uma vitória folgada. É o pequeno pessimista cá dentro que nunca me dá um momento de descanso, que mesmo quando estamos a ganhar por três me força a pensar num canto perigoso ou num contra-ataque rápido que pode dar um golo…e depois outro e outro. E assim vou vivendo. Num jogo como este, aqui o rezingão residente começou cedo a chatear. “Mas porque é que eles não correm?”, dizia-me. “Porra, não passes a bola agora! Pronto!”, exclamava. “Espera, pára o jogo, não chutes que ele nunca mais a apanh…ora f***-se.”, cuspia. Foi um jogo inteiro de parvoíces. Desde bolas perdidas no meio-campo, bolas perdidas na defesa, passes a trinta metros com a força de remates e acima de tudo um ritmo lento demais para ser aceitável e uma falta de agressividade como há muito não via. Foi uma regressão intensa a alguns jogos de 2009/2010, em que nada saía direito e onde os jogadores baixavam os braços à primeira adversidade. E não, não chega dizer que faltava Hulk e Álvaro, porque hoje em Aveiro faltou muito mais que isso. Faltou empenho para ganhar o jogo, porque se tivéssemos jogado com um terço da vontade que os rapazes do Feirense jogaram, tínhamos saído de lá com três pontos. Vamos a notas:

 

(+) Mangala Num jogo em que é complicado arranjar gente que tenha feito uma exibição positiva, destaco o francês. Bom pelo ar, a jogar simples para os colegas e rápido com a bola controlada. Gostei que tivesse conseguido um jogo em que quando colocado frente a avançados trapalhões mas rápidos, nunca se deixou desanimar e conseguiu sempre manter um nível acima da média da equipa. Basta dizer que não senti a mesma intranquilidade que costumo sentir em Maicon. Pode ser um bom jogador para o futuro.

(+) Sapunaru Foi dos poucos que lutou com velocidade e conseguiu subir pelo flanco e até chegou a aparecer na área em algumas oportunidades. Como a maioria dos ataques do Feirense aconteceram pelo centro ou pela direita, esteve mais à vontade para apoiar o ataque e infelizmente como não é um portento de técnica acaba por não conseguir fazer o suficiente para ser decisivo. Mas hoje pelo menos vi-o a tentar com alguma inteligência, o que com alguns colegas quase não aconteceu.

 

(-) Inversão de ritmo e estilo Ora vamos lá. O que me custa mais a entender neste jogo é a falta de empenho dos jogadores, ponto final. Chamem-me velho resmungão mas não entendo como é que se encara um jogo do campeonato em que estão sempre pontos em disputa com a falta de nobreza competitiva que o FC Porto hoje mostrou em Aveiro, em que parecia estarem a passear sem objectivo e a facilitar em quase todos os lances como fizeram na primeira parte. Depois do intervalo a equipa melhorou mas não muito e era penoso ver o ritmo a que os nossos jogadores levavam a bola para a frente, sem estrutura de jogo nem mentalidade ganhadora. Não entendo, juro. A somar a este desterro de vontade temos outro vector de falhanço que foi a diferença no estilo de jogo quando comparado com os jogos que o precederam. Ao passo que contra Leiria, Setúbal ou Shakhtar (para dizer a verdade, desde Novembro de 2010 que tentamos jogar da mesma forma com sucesso evidente) o jogo era pausado, calmo, de pé para pé, de ritmo controlado com homens suficientes para trocar o esférico entre eles sem a perder, hoje vimos um FC Porto a jogar com os elementos do meio-campo para a frente sempre muito longe uns dos outros o que impossibilitava a rotação da bola de uma forma tranquila. Os passes saíam sempre longos, mal orientados e nunca com a força certa para chegar ao destino, Guarín nunca conseguiu fazer a rotação de bola no centro, Belluschi apareceu meio perdido e Moutinho muito distante dos colegas. Some-se James que perdia as bolas todas, Cebola sem as conseguir controlar dentro do terreno e Kleber perdido atrás de espaços na área sem que a bola lá chegasse. Foi pouco FC Porto, muito pouco FC Porto e se foi esse o jogo que Vitor Pereira quis colocar em campo, falhou rotundamente. Se os jogadores não quiseram saber e decidiram que assim é que ia correr bem, ainda pior.

(-) James A expulsão é inadmissível. Noventa minutos de jogo e por causa de uma falta a meio-campo (que o árbitro até marcou) mostrou a todo o mundo que o talento que pôs em campo nos últimos jogos está presente juntamente com uma boa dose de imaturidade. Para além dessa ridícula reacção fez um jogo horrível, cheio de quedas sem necessidade e uma enorme falta de clarividência ofensiva para conseguir colocar a bola jogável para os colegas. Comparado com os três jogos anteriores o James que esteve em Aveiro foi o anti-James e a equipa, sem ver Hulk em campo, continuava a mandar-lhe bolas para que tentasse fazer alguma coisa de jeito, o que nunca aconteceu. James tem de perceber que nem sempre a vida pode correr bem. Mas tem de continuar sempre a tentar.

(-) As displicências de Fucile, Guarín e Cª Foi enervante ver os jogadores do FC Porto a perderem bolas para os do Feirense, especialmente pela forma como aconteciam. Durante noventa minutos vi Fucile a tentar passes que nunca poderiam resultar, tabelas com jogadores que não estavam lá e desmarcações directamente para fora. Guarín perdeu várias bolas enquanto preparava remates durante segundos intermináveis em que proteger a bola era tarefa para um qualquer duende que por lá andasse, ao passo que Fucile ou Rodriguez se deixavam antecipar no acto e no pensamento pela velocidade dos adversários, ou Belluschi que ao tentar cortar uma bola pela relva se lembra de atrasar fraco para Helton em vez de atirar para fora. Mente fraca em corpos mais ou menos sãos, dá nisto.

 

Não é uma catástrofe mas custa perder pontos num jogo que estava ao nosso alcance. Ainda chateia mais perceber que este tipo de resultados, que acontecem casualmente quando as equipas têm azar nos remates ou apanham um guarda-redes que faz o jogo da vida dele, ocorreu por culpa exclusiva dos nossos jogadores pelo pior dos motivos: preguiça. Preguiça de jogar com inteligência e tranquilidade, preguiça de correr tanto como o adversário. E se voltarmos à época passada e virmos os empates com Guimarães, Sporting ou Paços, percebemos que nenhum deles teve esta configuração. Contra o Vitória porque descansámos com o resultado feito; frente ao Sporting porque fomos surpreendidos pela agressividade de uma equipa que até aí nada tinha feito nesse sentido; em casa com o Paços porque já éramos campeões, tínhamos acabado de passar à final da Liga Europa e estávamos e poupar até lá chegar…e porque Pizzi fez três golões. Empatar com o Feirense não é, mais uma vez, uma catástrofe. Mas sempre que fizermos jogos deste nível não podemos esperar mais senão perder pontos.

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