Baías e Baronis 2011/2012 – Os guarda-redes

A partir de hoje vou juntando a minha às milhentas análises que já têm vindo a ser escritas desde que acabou o campeonato, porque interessa sempre olhar para trás a frio, agora que acabou a contenda e o caneco está deste lado. Dividindo para conquistar, como um João Bartolomeu ao serviço das forças do bem, arranco pelos guarda-redes. Vamos a isso:

HELTON

De longe o melhor guarda-redes do plantel e talvez continue a ser o melhor que alinha no nosso campeonato. Dá confiança à defesa, joga muito bem com os pés e tem aquele carisma extra que faz dele um dos preferidos dos adeptos em qualquer circunstância. A época foi boa, com poucas oscilações, começando em grande na Supertaça Europeia contra o Barcelona e com mais alguns excelentes jogos no campeonato, alternando com uma ou outra exibição menos conseguida mas sem falhas absurdamente gritantes. Não foi a sua melhor época mas parece-me evidente que não foi por sua culpa que sofremos a grande maioria dos golos que entraram na nossa baliza. Lidou particularmente bem com a situação da inusitada e acima de tudo inesperada mudança de capitão a meio da época, sem barafustar em público, fazendo com que a transição fosse feita sem grandes polémicas para lá das que foram criadas pelos perenes maldizentes do costume. Helton continua a ser um símbolo e a putativa renovação que ainda requer confirmação pública será bem-vinda.

Momento Baía: A Supertaça Europeia contra o Barcelona, evitando uma goleada de Messi & Cª; o jogo na Ucrânia contra o Shakthar como que a limpar a imagem deixada na partida em casa; a vitória na Madeira frente ao Nacional, onde salvou a equipa numa segunda parte de massacre na nossa área.

Momento Baroni: Poucos, talvez o frangalhaço contra o Shakthar no Dragão.

Nota final 2011/2012: BAÍA

 

BRACALLI

Vir para o FC Porto para ser suplente de Helton é uma espécie de Baiização de um guarda-redes. Bracalli sabia no que se estava a meter e só em caso de lesão ou de um afundamento de forma titaniquiano faria com que o ex-Nacional viesse a ser titular para lá da competição que está reservada para o guarda-redes secundário. Ainda assim Bracalli não comprometeu nos jogos em que participou, apesar da média superior a um golo sofrido por jogo ser sempre um ponto negativo, mas as atenuantes da composição alternativa dos defesas à sua frente, conjugada com alguns jogos em que estivemos particularmente fracos no sector recuado fizeram com que sofresse mais do que merecia e Bracalli não teve culpa disso. É notoriamente fraco com os pés mas é elástico na baliza e coloca-se bem nos remates de longe. Não pode estar desapontado por ser campeão no primeiro ano de azul-e-branco.

Momento Baía: Não houve muitos, mas lembro-me de algumas boas defesas no jogo contra o Setúbal na Taça da Liga.

Momento Baroni: Sem dúvida o jogo da Taça em Coimbra. Não teve culpas nos três golos sofridos mas a verdade é que fica marcado com a derrota. Qualquer altura em que tenha de jogar com os pés é relativamente desconfortável para um adepto portista, admita-se.

Nota final 2011/2012: BAÍA

 

Uma nota também para KADU, que teve ao todo dezassete minutos de competição divididos entre o campeonato e a Taça de Portugal. Esteve bem, sem comprometer. Terá a sua oportunidade mais tarde, com alguma sorte. Não leva nota, como era de esperar.

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Baías e Baronis – Rio Ave 2 vs 5 FC Porto

foto retirada de desporto.sapo.pt

As expectativas não eram altas. Mas as únicas e quase inacreditáveis condições para este jogo tornaram-no especial, querido, adorável. Muitas mudanças em relação ao onze habitual, um clima de paz e de tranquilidade nas bancadas e em todos os adeptos à volta do mundo que viram a partida, um jogo à tarde, com sol, calor e luz natural…todos estes estranhíssimos condimentos que prepararam esta última jornada do campeonato juntaram-se numa amálgama perfeita para uma tarde bem passada. Não fui a Vila do Conde mas lamento não o ter feito, porque tinha valido a pena saciar a curiosidade sobre as corridas dedicadas de Djalma, a sobriedade de Danilo, a reencontrada garra de Varela, a inteligência no passe de James e o fraquíssimo jogo de pés de Bracalli. Desculpa, Rafael, mas é verdade. A somar a isto ainda valeu pelo constatar que pelo menos um dos moços que hoje jogou de verde e branco para o ano tem obrigatoriamente de fazer a pré-época trocando o verde pelo azul: Atsu. Quanto mais não seja para entrar na lista de “mais um extremo que vamos aproveitar durante dois meses e depois cuspir para o Braga ou para qualquer outro lado”. Bem, vamos lá às últimas notas portistas do ano:

 

(+) Varela Ah grande Silvestre! Então esperas pelo último estuporado do último jogo para fazeres o teu melhor jogo de todos?! Que rapaz misterioso e sagaz me saíste, meu caro! Mas já não foi nada mau, lutaste e empenhaste-te cheio de vigor e de energia para mostrar aos adeptos que estás cá para impôr a ordem de Varela na próxima temporada! Ou talvez não e apenas te apeteceu sair do clube que te reprojectou para o mundo da bola com um agradecimento por três anos de variável produtividade. Não sei. Mas obrigado pelo jogo, valeu a pena.

(+) Kleber E sai mais uma imagem direitinha da Twilight Zone. Apresento-vos o caso de Kleber, o homem que no último jogo da temporada marca metade do número de golos que até lá tinha apontado. É tão curioso ver a forma atabalhoada como o brasileiro parece movimentar-se na área mas contrastar essa aparente inépcia com o bom domínio de bola e remate pronto. Quase sempre torto, mas pronto. Ninguém esperaria tanto deste moço hoje à tarde e só queria tê-lo visto a mexer-se tanto e com tanta eficácia desde Novembro. Não se pode ter tudo.

(+) Vitor Pereira Dois pequenos grandes gestos. Escalpelizo: a colocação de Hulk ao banco e a entrada de Iturbe e Kadu. A primeira porque mostra ao mundo que tem a perfeita noção acerca do que deve consistentemente transmitir para fora, que a equipa é mais importante que as individualidades. Quer Hulk saia, quer não, será sempre a “parte” que terá de submeter ao que o “todo” exigir e Hulk sabe disso mas não faz mal nenhum mostrar a todos que é assim que tem de ser. O próprio Hulk percebeu e não “espingardou”. E o facto de ter colocado Iturbe em campo para os adeptos verem quarenta e cinco minutos de infrutíferas e ingénuas tentativas de um rapaz que pode ter vontade mas que ainda lhe falta muito para conseguir jogar na Europa a um nível aceitável foi exactamente isso, uma prova que ele sabe o que está a fazer. E no caso de Kadu foi justo, simplesmente justo. E merecido para um rapaz que nunca saberá se vai de facto ter uma carreira no FC Porto ou não. Mas já fez por merecer olhar para trás daqui a umas décadas e dizer: “já fui campeão”.

(+) Atsu, quando olhamos para Iturbe Rápido, prático, eficaz, objectivo, audaz, vivo, inteligente, irreverente. Certinho no plantel 2012/2013. Pelo menos na pré-época. Este pequeno parêntesis sobre um jogador deles que afinal é nosso e que até nos marcou um bom golo é simples: temos valor em casa. Por favor vamos aproveitá-lo em condições.

 

(-) Iturbe, quando olhamos para Atsu Complicativo, inconsequente, ineficaz, triste, tosco, lento, fraco, mortiço. Não sei se fica no plantel 2012/2013. Parece fácil avaliar as coisas ao fim de 45 minutos mas a imagem que passou foi esta. É lógico que o que vimos não é Iturbe, não pode ser Iturbe. Ou melhor, Iturbe não pode ser aquilo. Tem de crescer e a jogar é que vai aprender a evoluir e a adaptar-se a um futebol que parece tão distante para ele como Quinzinho de Falcao. Mas o tempo urge e Iturbe tem de começar a mostrar serviço. Será na próxima temporada, estou com fé que sim.

 

Fechámos bem o pano e os rapazes vão de férias com todo o mérito. Excluindo os que ainda estarão no Euro ou nos Olímpicos, o resto do povo vai pousar as chuteiras no armário, guardar as meias e as ligaduras, desligar o despertador e avançar para as terras-natais com um sorriso completamente merecido. E nós, os que ficam deste lado, podemos descansar um bocadinho também. O tempo é de balanço, de recuperação mental e de acalmia nos comentários histéricos dos últimos meses. Vão de férias, dragões. Todos estamos a precisar de parar um bocadinho…só que as competições não param e o Euro está a chegar e depois os Olímpicos. Raios partam o calendário.

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Baías e Baronis – FC Porto 2 vs 0 Sporting CP

Uma festa é sempre bonita quando a celebração do título é feita em nossa casa. E contra o Sporting ainda parece que acrescenta qualquer coisa à alegria, porque ver aqueles moços a fazer pela vida dá-me uma vontade enorme de ganhar o jogo e empurrá-los para fora da Champions, como aconteceu. Que diabos, se fizeram uma carreira tão vistosa na Liga Europa, com um ferrolho tão grande como as portas do templo de Salomão, para o ano vão ter hipótese de repetir a piada. Quanto a nós, continuaremos na prova onde merecemos estar, mas não a 100%. Para ser uma equipa de Champions temos de ser muito melhores, mais consistentes, mais fortes, mais eficazes, mais…tanta coisa. James e Varela têm de ser mais dinâmicos. Alex Sandro mais atento. Janko mais eficaz. Otamendi mais certeiro. Hulk mais prático. Mas não foi mau, especialmente num jogo em que houve mais tinta branca na cara dos nossos moços que nos bastidores do Batatoon. Enfim, vamos às penúltimas notas da época:

 

(+) Hulk Sete golos nos últimos quatro jogos, uma dinâmica incrível dada ao ataque, alguns assobios, dezenas de sprints, outras tantas de bolas perdidas, assistências para golo, remates fortes…the works. É o grande jogador do FC Porto 2011/2012 a vários quilómetros de todos os outros e continua a fazer por merecê-lo. É curioso perceber que Hulk tem a noção correcta da influência que tem perante os sócios que o apoiam e vaiam em momentos distintos do mesmo jogo e só precisa de tentar encontrar um melhor equilíbrio entre o timing certo para rematar e para passar. Nem sempre o consegue e perde várias jogadas de perigo dessa forma…mas depois sai-se com golos como o segundo de hoje, pleno de inteligência e capacidade física depois de 80 e muitos minutos a jogar em alto nível, a rasgar pela depauperada linha defensiva do Sporting como se fosse um berbequim a furar gelatina. Grande jogo.

(+) Maicon Perfeito no corte, no controlo da zona defensiva e no autoritarismo com que lidou com Van Frunkelstrinkel. Manteve-se constantemente atento, vivo, mexido, ágil e agressivo nos momentos certos com posicionamento perfeito, intercepções atempadas e domínio de bola prático e eficiente. Para quem não percebeu e pensa que estou a gozar com a tropa, esta secção refere-se ao número quatro do FC Porto, Maicon de nome, defesa-central de posição. Está a melhorar muito em relação ao Maicon do ano passado e é talvez o melhor produto saído das mãos de Vitor Pereira. Uma espécie de anti-Varela, pronto.

(+) A saída de Fernando depois da expulsão O maior. Foi uma simbiose perfeita com os adeptos, que cantam o seu nome depois de um início de temporada que enervou toda a gente pelo desconhecimento da sua permanência ou não no plantel. Para quem não viu ou não reparou, depois de Fernando ser expulso (bem, apesar do primeiro amarelo ser completamente escusado pelos protestos exagerados) mandou um pontapé na bola para a bancada e procedeu a sair de campo a incentivar o público para continuar a gritar e a apoiar, gesticulando como se estivesse a dançar com uma data de miúdos num ATL. Brincou, o nosso Fernando, ao contrário do que fez em campo, onde fez mais um bom jogo, firme e seguro contra um meio-campo adversário bem mais dinâmico e mexido. Aplaudi-o de pé. Mereceu.

 

(-) A frustrante e contínua incapacidade técnica É uma enorme frustração ver que jogadores do nível dos nossos, que são campeões (alguns bi, outros tri, até chegar a um que é hexa, vejam lá!), titulares de uma das maiores equipas de Portugal e da Europa…e tratam a bola como se ela fosse um daqueles maços de ferro antigos com esferas cheias de picos. Sei que todos os homens são iguais mas uns são mais iguais que outros por isso apercebo-me que nem todos podem ser Messis. Mas não precisamos de tantos Marianos, porra! Fernando raramente consegue controlar a bola de primeira, Varela insiste em fazê-la saltar doze vezes antes de a colocar na relva, Otamendi passa a bola com mais força que Belluschi a rematava e Janko não acerta na baliza a mais de três metros da linha. Só com treino é que se vai lá, teoricamente, mas começo a perder a esperança de alguma vez poder ter uma equipa tecnicamente ao nível da de Mourinho em 2004. Será pedir demais? Talvez. mas continuo a pedir.

 

Mais um jogo para acabar esta treta. Em Vila do Conde estaria disposto a ver uma equipa com Kadu, Iturbe, Djalma, Kleber, Mangala, Danilo…e mais alguns juniores. Estes rapazes não fizeram a melhor temporada da vida deles mas já podem ir de férias. O dever foi cumprido, com maior ou menor brilho, e ainda hoje conseguiram dar a imagem de uma equipa lutadora, empenhada, séria. E o que é certo é que marcamos dez golos nos últimos cinco jogos e sofremos…zero. Vencemos 14 pontos em 18 possíveis contra os “grandes”. É um resultado muito bom e é a marca de uma equipa que se conseguiu erguer e ser mais consistente que as outras. E os campeonatos ganham-se assim.

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Baías e Baronis – CS Marítimo 0 vs 2 FC Porto

foto retirada de desporto.sapo.pt

A impressão que este jogo me deixa é de uma intensa ambiguidade. Por um lado a vitória é justa num campo difícil, com dois penalties limpinhos bem aproveitados ao contrário de outras situações (menos que o costume) de jogo corrido que não foram tratadas com a mesma eficiência que esses pontapés a onze metros sem barreira. Pelo outro lado, o meu lado mais cínico, fiquei com a impressão que o FC Porto fez o que pôde para não ganhar o jogo na Madeira, tal foi a quantidade de perdas de bola a meio-campo, facilitismos a meio-campo e a contínua saga do “porque é que o James raramente joga em condições quando entra de início?”. Mas lá conseguimos aguentar a não-muito-intensa pressão que nós próprios criamos, como tem sido há tantas jornadas e vai continuar a acontecer mesmo até ao fim, a não ser que o Rio Ave seja grande amiguinho. Vamos a notas:

 

(+) Hulk É impossível pensar no FC Porto 2011/2012 sem Hulk. Não só pelos golos e pela braçadeira de capitão que usa no braço, mas acima de tudo pela flexibilização táctica que permite à equipa e ao treinador que a gere. Hulk é o “joker” ofensivo que Vitor Pereira usa sempre em jogos onde prevê que a movimentação no ataque é essencial para que a frente criativa e finalizadora seja o mais versátil possível e fá-lo sempre ao abdicar do ponta-de-lança fixo para pôr Hulk a vaguear pela frente. E o homem faz sempre jogos esforçadíssimos, chega ao final das partidas a suar em bica e com um ar visivelmente desgastado mas é quase sempre o melhor em campo. Hoje foram mais dois golos mas em nenhum dos penalties foi ele o causador. Mas em várias outras jogadas (aquele falhanço do Lucho…) foi o principal elemento ofensivo do FC Porto por mérito próprio e que se notou ainda mais pelo apagamento de James e Varela. Ou seja, o normal. Se conseguirmos ser campeões, devemos o título em grande parte a Hulk.

(+) Lucho Concordo com Freitas Lobo: foi o melhor jogo de Lucho pelo FC Porto…desde Janeiro de 2012. Esteve empenhadíssimo, lutador nas bolas divididas, criativo nos passes longos, perfeito na construção de jogo e no equilíbrio do meio-campo, foi o elemento mais inteligente (esteve bem melhor que Moutinho hoje à noite) da equipa e se não tivesse falhado aquele golo feito depois de mais uma facada de Hulk na defesa do Marítimo, tinha sido o homem do jogo.

(+) Maicon Tentando-me alhear de mais uma sessão orgásmica do Freitas Lobo nos comentários durante a emissão da SportTV sempre que falava de Maicon, a verdade é que o brasileiro fez mais um bom jogo. Apenas uma paragem cerebral (quando hesitou entre atrasar ou não para Helton e viu o adversário a roçar a bola, quase ficando isolado em frente ao nosso keeper) durante o jogo todo e alguns excelentes passes a meia-distância que funcionaram como válvula para libertar a pressão na nossa área. Esteve bem, como tem sido hábito nos últimos tempos.

(+) Sapunaru Mais um bom jogo do romeno, a tapar as subidas de Ruben pelo flanco e a ajudar sempre ao meio quando era necessário. Não tendo sido tão interventivo no ataque como noutros jogos, não inventou na zona mais recuada e ajudou a manter a defesa com a estabilidade que era necessário. Esteve bem e safou-se do amarelo por isso está disponível para jogar contra o Sporting. Boa, precisamos de alguém que espete um murro no Insúa.

 

(-) O cagaço Começou com Vitor Pereira mas era evidente que se iria arrastar para o campo. A decisão de sobre-povoar o centro do terreno e deixar Djalma e Hulk na frente (com Lucho a aparecer no meio dos dois) não me agradou. É uma perspectiva resultadista e compreendo a necessidade de apelar ao realismo, percebo que na 28ª jornada não é altura para afirmar a grandeza de uma equipa e também consigo intuir que a capacidade autoritária de mandar no jogo depende directamente da força física e mental dos intervenientes no decorrer da uma partida…mas foda-se, Vitor, e se tivesses sofrido um golo? Um mau atraso, uma desconcentração, uma bola que foge das mãos…then what? Ias para a frente como uma locomotiva sem travões? Pois, eu percebo, mais vale dar a bola aos outros gajos e garantir que eles não podem causar perigo. Jogar como fez o Chelsea em Nou Camp, portanto. Mas a diferença é que o Marítimo não é o Barça. Pronto, Jorge, deixa lá isso, correu bem. Mas podia não ter corrido.

(-) James Estou farto. Palavra que estou. Se não queres jogar à bola durante noventa minutos, porreiro, mas não impeças os outros de o fazer, miúdo. E alguém me explica como é que um jogador com o talento que este rapaz tem para jogar futebol tem tanta dificuldade em manter a bola estável no relvado e o primeiro instinto dele quando recebe uma bola aérea não é o de a colocar parada na relva mas deixá-la a pinchar como uma miúda num trampolim?! Não percebo, palavra, e estou a perder a paciência com o puto, porque a produtividade tem de começar no momento em que o jogo arranca e não só quando lhe apetece. Não se chama Ricardo Quaresma e ainda não tem estatuto para isso.

(-) Briguel Já há vários anos que vejo futebol e já acho normal se de vez em quando me enervo com alguns jogadores adversários. Javi Garcia, João Pereira, Filipe Anunciação, André Leão, Nuno Assis, todos eles fazem parte de um grupo de “pet-peeves” meus, nos quais está incluído o actual capitão do Marítimo. Nutro tanta simpatia por este madeirense como pelo presente que deixei há pouco no vaso sanitário onde tive um alívio em formato sólido há alguns minutos e aposto que uma grande parte dos adeptos da bola partilham esta opinião. Não conheço o rapaz mas admito que seja um tipo porreiro fora do campo. Duvido, mas admito. Ainda assim, quando o vejo no relvado há algo dentro de mim que sobe à superfície e sempre que o gajo abre a boca, toca no peito, reclama com o árbitro, insulta os colegas, apetece-me ir a casa do João Pereira e pedir-lhe desculpa por tudo que já lhe chamei. Porque enquanto Briguel estiver em actividade no nosso futebol, é talvez o jogador mais sobrevalorizado da nossa Liga. E sabem qual é o mais engraçado nessa sobrevalorização? Toda a gente continua a achar que ele é uma merda de um jogador. Go figure. De qualquer forma, este foi mais um jogo à Briguel. Só fez borrada no flanco direito, deu pancada em tudo e todos, acertou em Varela, Moutinho, James, Hulk, Djalma, Lucho. Quantos mais viessem à frente e mais levavam. Os colegas Rafael Miranda ou Olberdam (no primeiro minuto, sem amarelo) fizeram o mesmo. E este monte de estrume tem a distinta lata de vir reclamar do árbitro, juntamente com o treinador? Não há ninguém que o encontre na rua e lhe mije na boca?

 

Estamos quase lá, minha gente. Um campeonato que não é fácil quando começa e que nós, fruto de muita parvoíce, más decisões e fracas performances, conseguimos tornar ainda mais complicado. Mas conseguimos também levantar a moral em alturas complicadas e este jogo no Funchal fez-nos passar a barreira do check-in para o controlo de segurança e estamos já com a porta de embarque à vista. Só falta mesmo chegar às escadas, escolher o lugar, ouvir o piloto a explicar sucintamente o plano de voo e…acabar com metáforas sobre aviação que já enjoa, sinceramente. Estamos quase lá, minha gente. Estamos quase lá.

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Baías e Baronis – FC Porto 3 vs 0 Beira-Mar

Depois do jogo contra o Braga, disse: “são estes jogos, nas circunstâncias em que são disputados, com a relva nos dentes e os olhos raiados de vermelho-sangue, que fazem ou desfazem campeonatos”. Mas também são importantes os jogos em que o adversário é matreiro, agressivo sem a bola e rápido com ela. E a imagem que fica da primeira parte é de um FC Porto forte mas sem objectividade, com pouca rotação no meio-campo e aquela exasperante lentidão na troca de bola. Moutinho a falhar muitos passes, Otamendi…a ser fiel à imagem que tem de “louco”, Hulk a perder a bola, Janko trapalhão e James desparecido. Mas, pela enervésima vez, a segunda parte foi bem melhor e os primeiros vinte minutos foram de um nível completamente diferente, com a equipa solta, viva, dinâmica, com excelentes combinações, os laterais a brilhar, Hulk prático, Janko a marcar e até James a jogar e a criar jogo. Foi uma boa noite no Dragão. Vamos a notas:

 

(+) Hulk Dois golos e uma assistência não deixam margem para dúvidas: foi o jogador mais importante da partida. E para além do que produziu e será deixado para a posteridade em bases-de-dados por esse mundo fora, é a forma como é visto e continua a ser visto dentro da equipa e até pelos adeptos. Porque é o “go-to guy” da equipa e assume esse fardo como vi poucos a fazer. Talvez Quaresma, nas alturas em que lhe apetecia, mas nem sempre. Hulk perdeu pelo menos quatro bolas em tentativas de fintas e arranques pelas laterais. Perdeu as bolas limpas para o adversário directo, que saiu com a bola para a frente. Hulk, dessas quatro que me lembro, recuperou-as todas porque assumiu a culpa da jogada perdida, perseguiu o malandro que lhe tinha roubado o esférico e usando força e velocidade transformou uma jogada defensiva noutro ataque do FC Porto. Gostei ainda mais dessas quatro jogadas que dos dois golos.

(+) Sapunaru Mais um excelente jogo de Sapunaru, ele que está a ser um dos grandes nomes da segunda volta do FC Porto. Seguro a defender, afoito a atacar, parece andar em campo como um miúdo de vinte anos a tentar garantir um lugar na equipa principal, tal é o entusiasmo com que faz todo o flanco, apoiando Hulk ou James no ataque e aparecendo na área com uma vontade de marcar que raramente se vê num homem que já está estabelecido no plantel há anos. Está a ser um prazer vê-lo a jogar desta forma, tão diferente do que vimos dele no início da temporada. Se calhar anda a beber menos. Ou mais. De qualquer forma, o romeno é um jogador fundamental para o resto da temporada e nem o regresso de Danilo lhe deveria tirar o lugar.

(+) Alex Sandro Foi o primeiro “jogo” que vi de Alex Sandro e gostei muito do que vi. Não parecia o tolinho distraído que fez vários cameos esta temporada, mas mostrou concentração, inteligência com a bola, agressividade no corte pela relva e pelo ar, para além de ser eminentemente prático em situações complicadas de pressão adversária. Várias vezes recuou a bola para Helton quanto viu a vida a dificultar-se pelo flanco, que revela um sentido prático que por vezes parece faltar a alguns dos outros jogadores da zona recuada (ouviste, Otamendi?). Nota-se que é um jogador mais “verde” que Danilo (se bem que no nosso caso talvez seja adequado usar a expressão “azul-céu”) e ao passo que Danilo parece um jogador mais completo e maduro, Alex Sandro ainda terá bastante para aprender e crescer. Mas estou a começar a ver o futuro do nosso flanco esquerdo com algum optimismo.

 

(-) A displicência do costume É o Beira-Mar, está certo que não mete medo como um Manchester City. Aliás, nem este devia meter medo, mas enfim, foi a fibra que tivemos durante longos períodos este ano. Ainda assim incomodam-me algumas parvoíces de Otamendi com cortes falhados por displicência na aproximação ao lance, os falhanços de Janko em golos quase feitos (aquela cabeçada por cima da trave…du spinnst, Marc!) ou a quantidade inusitada de passes falhados de Lucho e Moutinho quando tentavam a todo o custo furar a barreira adiantada do adversário com passes que toda a gente via que não iam chegar ao destino, todos estes são factores que me enervaram um bocadinho. Não deu para me chatear, mas enervou-me. E apesar de compreender que a partir do terceiro golo houve um abrandamento notório do ritmo de jogo, não me tinha aborrecido mesmo nada se em vez da “onda” nas bancadas que só serve para animar gente que vai à bola sem gostar de futebol, tivesse havido aplausos para mais um ou outro golito. Perderam mais uma oportunidade de dar uma alegria aos adeptos à saída do Dragão, nós que temos saído tão poucas vezes do estádio plenamente satisfeitos com o que vimos. Porque queremos sempre mais, porque somos exigentes, apesar de sabermos todos que o que interessa mesmo é ser campeão. Mas gostava de ser campeão e ver uma ou outra goleada, especialmente quando há condições para isso.

 

Faltam duas vitórias. Ou uma vitória e dois empates. Isto se o Benfica não perder pontos, porque se vencermos o Marítimo na próxima jornada e o Rio Ave se lembrar de fazer uma brincadeira e roubar pontos ao segundo classificado…então já podemos fazer a festa. Continuo sem perceber como é que vamos conseguir ser campeões com um futebol aos empurrões mas parece-me cada vez mais provável que consigamos chegar ao fim em primeiro lugar. Ainda bem. Mas é preciso continuar a ser sério e o jogo da próxima semana, na Madeira, é muito importante para podermos chegar ao final e abrirmos as botelhas de espumante com toda a alegria. Faltam três jogos. Três. Míseros. Jogos. Nunca mais é Sábado.

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