Uma exibição quase perfeita contra uma equipa absurdamente má. É verdade que tudo correu bem, as combinações saíam com naturalidade, subidas apoiadas pelos flancos, troca de bola com tranquilidade no centro do terreno, overlaps inteligentes nas laterais, jogo de área razoável e uma vontade de marcar mais golos do que é normal nestas circunstâncias. Mas também é verdade que o FC Porto fez por isso, mostrando a uma casa fraca no Dragão que quando se quer jogar à bola em condições e a cabeça está empenhada num objectivo, a qualidade tende a vir ao de cima. E hoje, mais uma vez, mostrámos que somos uma equipa à imagem do treinador, com construção cuidada, sem atropelos, de ritmo pausado e acelerações cuidadas e bem direccionadas, em que a técnica recebe o mérito e a velocidade só existe quando é necessário. A meio da segunda parte a posse de bola esteve 83% contra 17%. Estivemos muito bem, portanto. Vamos a notas:
(+) Danilo. O melhor jogo com a nossa camisola, sem dúvida. Sempre a inclinar para o meio, como de costume, aproveitou o espaço para marcar um bom golo e arrancar aplausos a todo o estádio, tal era a vontade dos adeptos de ver um dos maiores investimentos de sempre a render ao nível que todos esperam. Excelente no arranque das jogadas, continua a ser um jogador bastante diferente de Alex Sandro, porque enquanto que o esquerdino gosta do 1×1 e aproveita essas oportunidades, Danilo prefere receber a bola em movimento, à larga, com relva pela frente. Não baixou o ritmo na segunda parte e foi sempre um perigo a aparecer perto da área. E, mais uma vez, mostrou que é a médio-interior que preferia jogar…mas vai mesmo continuar a lateral. Só precisa de ser inteligente e perceber que mesmo na lateral consegue fazer a diferença se tiver cabecinha.
(+) Defour. Mais um excelente jogo de Defour, que até começou a um nível menos bom, com alguns maus controlos de bola e um falhanço à beirinha da baliza. Não é e nunca será um extremo mas acaba por jogar numa posição de interior, funcionando quase como segundo avançado ao lado do ponta-de-lança. Corre quilómetros, raramente desiste de uma bola e é acima de tudo um tipo de jogador certinho, que raramente será genial mas está sempre em bom nível. Uma espécie de Paulo Ferreira belga e mais versátil. Grande simulação e ainda melhor remate no golo que marcou, totalmente merecido.
(+) Moutinho. As jogadas de ataque do FC Porto não podem passar sem ele. Diria que toda a estratégia de criação de lances ofensivos passam por ele não só de uma forma literal, porque retém a bola durante o tempo necessário a que a equipa se posicione melhor para a receber, mas porque é ele que funciona como o metrónomo da equipa. É Moutinho que decide quando avançar, por onde e a que velocidade. É Moutinho que orienta a bola para o centro, a endossa para o lateral ou recua para o trinco. É Moutinho que mexe e faz o FC Porto mexer. É imprescindível e só espero que esteja no Olival a treinar na próxima sexta-feira, umas horas depois de fechar o mercado…
(-) Gil Vicente. À saída do relvado do Dragão, imagino o que estariam a sentir os jogadores do Gil. Dever cumprido? Trabalho bem feito? Esforço suficiente para honrarem a camisola e a profissão que praticam? Não creio, nenhuma delas. Não consigo compreender, por mais que tente, como é que uma equipa de futebol se desloca ao estádio de uma das equipas mais fortes do Mundo (sem hipérboles, afinal estamos ou não nas dezasseis melhores da Europa neste momento?) e apesar de sofrer dois golos em dez minutos, a atitude sempre foi um melindre absurdo de abdicar da posse de bola para ficar atrás, a ver jogar. Literalmente, porque as percentagens de posse de bola, sempre nos oitentas, só subiam a favor do Gil quando havia um lançamento ou uma fugaz troca de bola entre os centrais. Não entendo, palavra. O que há a perder? Arriscariam perder por cinco, seis, doze?! Dizia-me o colega do lado que na rádio diziam que o FC Porto tinha valores de posse de bola ao nível do Barcelona. Mas os culés nunca jogaram contra o Gil Vicente. Era para bater recordes, não duvido.
(-) O amarelo de Mangala É um bom exemplo para se perceber que uma displicência chateia muita gente, mas várias chateiam muito mais. Mangala viu um cartão amarelo tão escusado como um retrato a óleo do Manuel Vilarinho de corpete a dançar o can-can, tudo porque decidiu não proteger a bola de uma forma conveniente e permitiu que o jogador do Gil lá chegasse primeiro. Viu-se obrigado a fazer falta para evitar que o rapaz corresse para a área e causasse perigo, e bastava ter tido a mesma inteligência no posicionamento defensivo que teve em centenas de outros lances idênticos, e este amarelo era poupado. E daqui a uns jogos, quando as suspensões começarem, vamos ver os amarelos que podíamos ter evitado. Aposto que muitos serão deste estilo.
WE’RE NUMBER ONE! WE’RE NUMBER ONE! WE’RE NUMBER ONE! Serve de pouco, é verdade, mas ainda assim é engraçado perceber que este campeonato, a correr normalmente até ao jogo contra o Benfica no Dragão, parece encaminhar-se para um festim semanal de diferenças entre golos marcados e sofridos, ou no caso do Record, “dos critérios assumidos por esta redacção”. Continuemos em primeiro, pois, até ao fim.