Baías e Baronis – FC Porto 2 vs 1 Rio Ave

foto retirada de fcporto.pt

Houve alturas a meio do jogo que me enervaram, especialmente na primeira parte, quando a equipa parecia estar a pedir ao público para ser insultada. Ainda me chateei mais quando vi que poucos pareciam querer mudar o rumo do que vinte ou trinta e tal mil pessoas estavam a ver: uma exibição medonha, com onze jogadores distraídos, pouco concentrados, alheios à vontade de chegarem depressa a uma vitória que podia e devia ter sido atingida sem qualquer problema, muito menos depois dos problemas que eles próprios criaram. Poucos se salvaram, apesar da vitória, e o que me deixaram foi uma amarga sensação de dever cumprido mas o receio que possamos perder este campeonato por exageros neste tipo de jogos. Vamos às notas:

(+) OtamendiFoi o único que se safou de início a fim porque nunca desistiu. Porque se manteve quase impecável com algumas falhas humanas no meio daquele oceano de desleixo generalizado. Muito bem na antecipação aos avançados do Rio Ave, especialmente ao canastrão do Tope, que se lixou quase sempre contra o Nico, que lhe aparecia sempre a roubar a bola antes do moço lhe poder tocar. Foi um patrão, como tem sido, e apesar de Mangala ter estado em grande nos últimos tempos, o facto de dar mais nas vistas talvez esteja a esconder a excelente época de Otamendi em 2012/2013.

(+) Jackson, na redençãoDevo ter sido o único animal na minha bancada que disse: “Tem de ser o Jackson a marcar!”, quando Soares Dias apitou para o segundo penalty (o primeiro é evidente e o segundo é o rapaz do Rio Ave que se arrisca com os braços esticados. deixo ao critério do árbitro, como sempre). E todos protestaram comigo, mas não me importei, nunca me importo quando começo com as alarvidades do costume. Mas acredito na redenção do Homem, na penitência depois do erro, na tentativa de salvar a imagem e o afecto dos adeptos que o apoiam, que torcem por ele e são felizes se ele for feliz…e Jackson correspondeu. Podia ser qualquer um mas tinha de ser ele a marcar. Tinha. E o segundo golo também, com uma recepção e remate perfeitos.

(-) Esta merda não se admite!Intolerável. Simplesmente intolerável. A forma como quase chegávamos ao intervalo a perder, graças um golo que tem tanto de inteligência do avançado como de permissividade defensiva de Helton (e levantares os braços, não?!) e Maicon (sim, continua a passar pelo gajo, de pé e tudo…), foi quase insuportável. Tudo era mau: passes, remates, cruzamentos. Tudo era lento: movimentação, desmarcações, construção. E a pior parte…os jogadores estavam desconcentrados, distraídos, sem vontade de jogar, sem empenho. As jogadas sucediam-se a um ritmo muito fraco, exageradamente fraco, um total oposto ao que se viu no jogo contra o Málaga. E ninguém podia iconizar a exibição como Jackson naquele primeiro penalty. Não tenho a certeza porque nunca estive num balneário em dia de jogo, mas estou convencido que deve haver um varão, fixo ou portátil. Afinal, são jogadores da bola, todos homens de sangue quente. E a primeira coisa que devia ter acontecido ao nosso ponta-de-lança à chegada ao balneário…era levá-lo “ao poste”, if you know what I mean. E depois tinha de marcar golos suficientes para se safar da estupidez. Foi o símbolo maior de uma equipa que nunca quis jogar este jogo e voltou a baixar o nível em demasia, como já aconteceu este ano várias vezes. E agora? Que FC Porto vamos ter em Alvalade?

(-) MaiconUm jogo muito infeliz de Maicon. E ainda pior do que a infelicidade, na sucessão de falhas, de desconcentrações e descoordenações, foi a forma como Maicon nunca conseguiu sair do fosso em que se tinha enfiado e continuou, penosamente, a afundar-se na miséria do jogo que estava a fazer. E os passes longos falhavam, perdia a noção do espaço, “roubava” bolas a Helton, esquecia-se do homem que estava a marcar…era o Maicon que cá chegou, nervoso, aterrorizado, sem confiança, triste…

(-) A reacção do público a Maicon…e o público pressionava o rapaz como se fosse um adversário! Ouviam-se gritos quando Maicon tocava no esférico, assobios quando demorava mais de dois segundos com a bola nos pés (muito embora raramente tivesse uma linha de passe decente), insultos quando o rapaz fazia algo que fosse contra o que as pessoas gostavam. É assim que querem apoiar os vossos jogadores? Quando as coisas estão a correr mal e vêem que um dos jogadores que conhecem há quatro anos, que já nos deu troféus atrás de troféus, que marcou o golo que deu a vitória na Luz no ano passado…quando vêem que esse rapaz, que perdeu a titularidade depois de uma lesão, está a ter um mau momento…o que optam por fazer é insultá-lo!? Nunca vou perceber este tipo de atitudes de alguma gente, palavra.


Continuamos em primeiro, mas a que custo? Para os adeptos menos habituados a este tipo de jogos, ainda vale a pena deslocarem-se ao estádio para verem este tipo de espectáculos? É só isto que o FC Porto pode prometer, especialmente depois do que fez na terça-feira contra o Málaga? Só vale a pena ir ver os jogos grandes? Ouvi vezes demais a frase: “para que raio é que vim à bola?”. Eu sei que vou porque gosto, porque sou portista e porque abdico de outras coisas para ver o meu clube. Eu. Eu faço isso. Muitos outros não o farão.

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Baías e Baronis – FC Porto 1 vs 0 Málaga

foto retirada de MaisFutebol

É uma vitória. É uma boa vitória. É uma magra vitória. É uma vitória. Foi um jogo tenso, como tantos outros que já vi em confrontos europeus, com o FC Porto sempre a controlar o jogo, ofensiva e defensivamente, frente a um Málaga que optou por um jogo mais recuado para que pudesse aguentar um resultado positivo e na segunda mão mudar um pouco a atitude. E quase que o conseguia, não fosse Moutinho, mais uma vez o melhor em campo, a matar (mais) um trabalho estupendo de Alex Sandro, com raça, querer, luta, empenho. Foi a imagem mais digna de uma equipa que lutou por um resultado melhor mas que se pode queixar de um Málaga muito seguro na defesa e de muita ineficácia na frente da baliza. Jogos de Champions são outra coisa, não haja dúvida. Vamos a notas:

(+) Moutinho. Já começa a ser complicado falar de ti sem que me comece a babar e a agradecer a Deus e ao Sporting por te ter “despachado” para o nosso seio. É um prazer ver-te a jogar, João, palavra que é, porque és tudo que eu sempre gostei de ver num jogador moderno de futebol. Porque sabes exactamente quando rodar e quando prender a bola. Porque esperas mesmo até ao segundo certo para veres o colega a passar por ti e sabes que é a ele que vais entregar o jogo. Porque comandas, de trás para a frente, sem arrogâncias nem tiques de vedeta. Porque tentas sempre jogar pelo melhor caminho, pelas estradas mais limpas e mais seguras. Porque dás estrutura ao meio-campo e organizas o jogo como poucos vi a fazer. Por isso tudo, obrigado, rapaz. Quando via o Jardel, pensei que nunca mais ia aparecer outro no meu clube até que chegou o Radamel. E o mesmo acontece contigo, depois do Deco.

(+) Alex Sandro. A meio da segunda parte dizia-me o Rui, um dos meus colegas de bancada desde 2004: “Este moço custou metade do Danilo e é o dobro do jogador!”. Não vai receber qualquer contestação da minha parte. É um rapaz curioso, este Alex. Parece magrinho mas usa muito bem o corpo e aguenta o choque como um Jorge Costa. Tem excelente noção de arranque, bom salto, brilhante técnica individual e não cruza mal. Mas é quando sobe pelo flanco em apoio, recebendo a bola no espaço vinda de Moutinho ou de Marat, quando aparece nas costas dos defesas, dos médios, dos alas adversários, é aí que Alex brilha ainda mais. Já conquistou os adeptos e cada vez estou mais certo que será o futuro titular do Brasil. E a continuar assim, vamos precisar de outro defesa-esquerdo para o ano que vem…

(+) Fernando e o resto dos pressionadores. A pressão que temos de exercer é alta e só pode ser alta, para roubar espaço ao adversário e impedir que saiam com a bola controlada. Mas a equipa do FC Porto hoje foi excelente na recuperação da bola no meio-campo contrário, com Moutinho, Fernando, Lucho, até Jackson e Marat, todos eles a esticarem a perna, a forçarem o erro adversário, a sacar um turnover quando o oponente menos esperava. Fomos rápidos, felinos, inteligentes, lutadores, como devíamos sempre ser mas nem sempre precisamos de fazer. Fernando destacou-se acima dos outros pela forma como conseguiu livrar-se muitas vezes de uma pressão alta forte do adversário, rompendo pelo centro quando era preciso e enviando a bola para o colega mais bem colocado. Muito bem, atrás e à frente.

(+) O público. Quarenta e tal mil vozes no Dragão, incluindo aí umas três mil andaluzas. E quão diferente é um espectáculo quando o adversário provoca, puxa, incita à rivalidade saudável como os Malaguenhos (com M grande) fizeram hoje no Dragão, e levaram resposta à altura (com alguma estupidez brejeira e ridiculamente nacionalista que perdoo porque, francamente, a maioria não sabe outra conversa que não aquela) do resto da malta, que sentiu sempre que a equipa tinha a ganhar com a nossa voz, com o nosso cantar, com a goela a guinchar como loucos (ou turcos, ou gregos se quiserem) no apoio das nossas cores. O futebol devia ser sempre assim.

(-) Ineficácia perto e dentro da área Mas nem tudo são rosas sem espinhos. Continuamos a falhar em demasia à entrada da área, porque os passes saem curtos quando devem ser longos e versa-vice. Há muito nervosismo naquela zona, demasiada ansiedade pelo remate que raramente sai direito, poucas opções de velocidade em espaços curtos e ainda menos capacidade de colocar a bola na perfeição para Jackson ou qualquer outro ponta-de-lança poder empurrar para a baliza. E estes problemas agravam-se quando se encontra uma defesa como a do Málaga, com um Demichelis quase perfeito, um Antunes certinho e prático e um Sergio Sanchez que é melhor do que parece (não é rápido mas tem um timing de corte impecável). Creio que é o principal ponto a melhorar na nossa equipa, e nota-se imenso a diferença para outros grandes clubes em jogos deste nível. Não se pode criar tanto jogo para depois falhar tantos passes sem sequer conseguir tentar produzir um remate ou um lance claro de golo. Em Málaga, se continuarmos assim, vamos sofrer e bem.


Há uma diferença muito grande entre jogar contra uma equipa defensiva portuguesa e outra “europeia”. As nossas, as dezenas de -enses que por cá gravitam e sobrevivem época após época na Liga, jogam em casulo, uma espécie de igloo recuado e emparedado em trinta metros de espaço. Lá fora, como vimos hoje, há equipas que também são defensivas, que usam o ataque de forma esporádica, rápida, sem gosto pela bola mas com objectividade maior que um arqueiro com a seta apontada ao alvo. Só que o fazem de uma maneira ampla, dinâmica, ao campo todo, rijos mas bem posicionados, técnicamente hábeis mas com sentido prático elevado. E defendem até onde podem, mas bem, esperando que o adversário não consiga furar a barreira. E hoje, quase o conseguiram. Venha a segunda mão. Estou ansioso.

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Baías e Baronis – Beira-Mar 0 vs 2 FC Porto

foto retirada de desporto.sapo.pt

É sempre uma chatice jogar antes de uma jornada europeia. Palavra que deviam acabar com estas tretas e permitir que os jogadores tivessem uma semana só de treinos antes dos jogos europeus, ou então fazer com que pudessem repetir os jogos depois de ir passear à Europa. Mas o calendário existe por um motivo (nem sempre perceptível, é verdade) e temos mesmo de passar por estes mini-calvários de arriscar perder pontos em jogos onde a concentração nunca pode ser a mesma contra um adversário que, francamente, não merece estar na maior divisão de futebol do país. Como tantos outros. Valeram os jogaços de Mangala e Marat, o golaço de Jackson e uma segunda parte bem melhor que a primeira, que entreteu adeptos e creio que até alguns dos próprios jogadores. Foi um bom aperitivo para terça-feira, no fundo, que é o dia para onde todos os portistas já estão a olhar. ‘Bora lá a notas:

(+) Mangala. Este moço está a ficar um jogador do carago, está sim senhor. É verdade que ainda tem muito a polir, o choque ainda sai por vezes fora de tempo, a saída com a bola controlada pode ser melhor e o jogo de cabeça tem de ser mais certeiro. Não há jogadores perfeitos, mas Eliaquim está a fazer uma progressão excelente no ano e meio desde que chegou da Bélgica e continua a ser titular sem o mínimo de contestação. E lembrem-se que é Maicon que está no banco, o homem que conquistou os adeptos a pulso! Foi expulso depois de aparecer na pequena área numa jogada de bola corrida, e que Xistra considerou que tinha sido a terceira ou quarta falta consecutiva que o francês fazia. Aceito o critério e Mangala talvez já devesse ter levado o segundo por reincidência em faltas anteriores…mas não deixo de achar ridículo que um lance em que tenta jogar à bola seja a razão por que finalmente levou o segundo amarelo. É parvo, um bocado como o próprio Xistra. E não me fodam…Mangala vai levar o mesmo número de jogos de Cardozo. Pois. De qualquer forma, para refocar a atenção no talento do rapaz…os meus parabéns, moço. Estás em grande.

(+) Marat. Quem diria que o russo conseguiria aguentar noventa minutos, ainda por cima sem jogar colado a um flanco e a rodar por trás de Jackson durante toda a segunda parte?! Tem uma técnica individual que faz muita falta naquela frente de ataque (quando o comparo com Varela ou Atsu a esse nível…é quase triste pensar que só é titular porque James está agora a reentrar na equipa), mas é na inteligência posicional e na criatividade que fez com que o jogo fosse muito positivo. Apareceu em zonas perfeitas para as tabelinhas, com Danilo e Jackson, Lucho e Moutinho, fosse quem caísse para o seu lado, Marat lá estava prontinho para receber a bola e para a endossar de novo para o colega. É pequenino, o cabrão, mas sabe muito bem o que fazer com a bola e não desiste…pelo menos enquanto tiver pernas, espero que continue.

(+) A crescente audácia de Danilo. Tenho gostado de ver Danilo a subir pelo flanco, com muito menos tiques “centralistas” que mostrou durante 2012. Parece mais sólido de um ponto de vista mental, mais calmo e mais inteligente, com timings mais correctos a deslizar pela linha e a aparecer em zonas de cruzamento de uma forma bastante mais útil e pensada. Tem de melhorar nesses mesmos cruzamentos, mas está a subir de produção.

(+) O golo de Jackson. Grande assistência. Grande controlo. Grande finta. Grande remate. Grande jogador.

(-) Alex Sandro e Cª, nas saídas da defesa. O golo que sofremos contra o Olhanense, apesar de fruto de um excelente trabalho do Targino (aposto que nunca mais volta a correr 60 metros em alta velocidade com a bola controlada e um panzer núbio atrás dele a pisar-lhe os calcanhares), nasceu de uma parvoíce de Alex Sandro. Hoje, o mesmo ia sucedendo, não só com Alex mas com Danilo, Otamendi e Fernando, que insistem em sair com a bola excessivamente descontrolada na saída da área e na criação da jogada de ataque que surge depois da quase inevitável oportunidade desperdiçada pelo adversário. Assusta-me ver este excesso de confiança, muito mais que assusta os próprios jogadores que a exibem, como tem vindo a ser notório nos últimos jogos…


Ninguém poderia esperar um grande jogo mas a primeira parte parecia entrar naquele túnel cárpico de passes infelizes, jogadas inconsequentes e falhas técnicas…até que Atsu se lembrou de rematar com força e não-tanta-colocação-como-Freitas-Lobo-orgasmizou-em-directo, mas o suficiente para matar o jogo logo ali, pouco depois da meia-hora. O Beira-Mar nunca colocou problemas e só Xistra animou a malta, como de costume. Mais três pontos, mais um jogo vencido fora de casa e menos noventa minutos de distância do título. Mas agora…o que interessa é o jogo de terça!

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Baías e Baronis – FC Porto 1 vs 1 Olhanense

Acabei por não sair de casa e fiquei a sofrer ainda mais pela televisão. Impedido de gritar, gesticulava como um doido e punha as mãos na cabeça como se estivesse novamente com febre. E lentamente me ia apercebendo que este era um resultado há muito adiado porque até este jogo tudo corria bem. Porque entre trezentos e tal passes por jogo, um ou dois ou até mais saíam em condições e direitinhos para o avançado que não falhava, ou para o extremo que não cruzava para a bancada, ou até para o médio que rematava certeiro. Mas este resultado, mesmo com os 39 remates fruto de 67 ataques, há muito que era esperado. Tinha de haver um momento em que o futebol rendilhado não funcionasse, quando as opções fossem minúsculas (Tozé e Sebá são bons na B, ainda não suficientemente bons para a A) e o terreno bem ocupado, quando o adversário fosse agressivo e nada corresse bem. Um desperdício que espero não nos venha a custar caro, porque nestas corridas a dois importa mais a moral que a bagagem que se leva. Vamos a notas:

(+) Moutinho. Foi o melhor jogador em campo do FC Porto (do outro lado Bracalli esteve em grande) e mesmo depois dos noventa penosos minutos pela selecção a meio da semana, notou-se que era dos poucos que tinha cabeça para ali andar e aguentar. Izmaylov ajudou-o enquanto pôde, mas Lucho esteve abaixo do que sabe e pode fazer e Fernando teve um jogo fraco. Moutinho foi, mais uma vez, Moutinho. Não chegou.

(-) Ineficácia. Não só no remate Falhar um penalty, Jackson? Não pode. Falhar mais dezanove remates, por cima ou contra Bracalli? Não pode. Pecamos por não marcar mas pecamos também por enormes falhas técnicas que se notam há meses nesta equipa e para as quais já avisei há muito tempo. Demasiados passes falhados, cruzamentos imbecis, remates tortos…tudo elementos fundamentais do futebol que a nossa equipa continuamente descura ao longo de vários anos e que tanta gente se surpreende quando vê Defour a fazer um domínio de bola perfeito, questionando o porquê de tal desiderato. É treino, senhores. E se os nossos fizessem mais vezes esse tipo de treino, talvez os passes de Varela não fossem quase sempre parar ao guarda-redes, ou os cruzamentos de Danilo não fossem parar ao antigo sucateiro das Antas. Talvez.

(-) As displicências Houve vários jogadores a quem todos devemos apontar o dedo e gritar: “SHAME!”. Porque houve alturas em que me pareceu que o granizo que caiu na primeira parte não o era mas sim bolinhas de vodka congelada que os nossos rapazes procederam a engolir com dedicação, só para ficarem levemente alcoolizados e baixarem a guarda ainda mais do que é costume. Fernando com passes inaceitáveis para o centro, Danilo passava bolas para trás sem ver se o receptor lá estava, Alex Sandro tentava fintar meio Olhão sem perceber se tinha o flanco coberto por um colega, Mangala (et tu?!) levava a bola para a frente uns 30 ou 40 metros sem a proteger só para ser desarmado pelo adversário…foi um sem-fim de parvoíces, distracções e facilitismos que fizeram com que o FC Porto tivesse não só não marcado, como também sofrido. E era total e completamente desnecessário.


Dois pontos que desaparecem como o granizo que ficou na trampa de relvado que, continuando a levar com este tipo de pragas divinas, tarde ou nunca se endireitará. Dois pontos como os de Barcelos, que me ficam atravessados na garganta porque temos mais futebol do que isto e temos obrigação de mostrar muito mais do que fizemos hoje. Tivemos algum azar, não questiono isso, mas houve acima de tudo uma enorme falta de concentração para colocar a bola no sítio certo e no local certo na altura certa. E quando isso falha…normalmente perdem-se pontos. Espero que não volte a acontecer este ano, porque a margem é curta demais para nos darmos a estes luxos.

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Baías e Baronis – Vitória Guimarães 0 vs 4 FC Porto

Não estava à espera de um resultado tão desnivelado, tenho de admitir. Mas foi merecido pela atitude, pela postura de campeão com que entrámos em campo e mostrámos sem margem para qualquer questão do mais perverso ou absurdo que seja, que sabemos jogar muito bem à bola. E sabemos fazê-lo com nível, com classe, usando todos os jogadores num câmbio de velocidades e de ritmos, em bailados com a bola a fluir alegremente entre os colegas de equipa, que se unem para proporcionar aos adeptos, aos bravos adeptos que acompanharam a equipa a um terreno que é ligeiramente menos hostil para as nossas cores que Berlim para um negro homossexual nos anos 40, um espectáculo digno de uma grande equipa num campeonato fraco. Foi um excelente jogo e só tive pena que não tivéssemos sido eficazes. É verdade, queixo-me da eficácia, mas pouco. Porque hoje é dia para ir dormir a pensar: “que bom que é ser portista”. E sorrir. Vamos às notas:

(+) Jackson. Porque marcou um hat-trick. Porque fê-lo num jogo que até parecia estar a ser marcado por alguma ineficácia em frente à baliza, depois de vários lances em que não conseguiu bater Douglas mesmo estando frente-a-frente com ele. Porque sabe o que fazer no espaço à procura da bola mas acima de tudo sabe muito bem o que fazer depois de a reter no seu seio, de a capturar no seu campo de forças colombianas e afastando o adversário com uma finta com ou sem bola, a acaba por endossar sempre na melhor direcção para que o ataque continue. Porque na semana em que finalmente vê uma opção no banco que não o faça rir como a que via antes de Liedson chegar, lembra-se de marcar três golos e fazer mais uma fantástica exibição. Porque é um avançado que vale o dinheiro que se paga por ele. Por isto tudo…um Baía e a minha vénia, Jackson. Já fazes parte da família.

(+) O resto da equipa. Este FC Porto que aparece no arranque de 2013 tem vindo a mostrar que está forte. E hoje deu mais uma prova dessa força com a capacidade de se transcender do estilo mais lento e arrastado de alguns jogos e aparecer pressionante, forte, altivo, com trocas de bola tão práticas e ao mesmo tempo tão inteligentes e bem trabalhadas, com um fio de jogo que me põe na memória momentos de Deco/Maniche/Costinha, tal é a facilidade com que os elementos do meio-campo se interligam entre as linhas, com harmonia e um único propósito: a vitória. À imagem de Zahovic ou de Jardel (que ia ficando sem cabeça neste mesmo estádio em 1997, se Neno lhe tivesse conseguido acertar na mona numa saída com o pé à altura da moleirinha do brasileiro) quando fizeram o mesmo resultado neste estádio aqui há dezasseis anos e que nos deu o primeiro “tri”, a felicidade de ver os jogadores a gostarem do que fazem é tremenda. Desde Alex Sandro, a rasgar pelo flanco, Marat com inteligência a desmarcar o avançado, Moutinho a pausar o jogo no momento certo, Mangala fortíssimo na defesa, Otamendi igual a seu lado, Fernando e Varela a assistirem para golo, cada um à sua maneira…foi alegria, foi perfeito, foi futebol de grande nível e foi acima de tudo a certeza que podemos fazer tanto melhor do que fizemos no ano passado e mesmo até agora neste ano que atravessamos. A este ritmo, com este futebol…faltam 13 vitórias para sermos campeões. Keep your eyes on the prize, boys!

(-) Vitória de Guimarães. Fraquinho, mais uma vez, incapaz de dar a volta a um resultado e a uma equipa que lhe eram superiores em tudo, com transições mais directas que o Stoke de Tony Pulis, alguns nomes que são pouco mais que isso e uma equipa em permanente construção. A derrota era expectável. O que não é expectável é que um punhado de jogadores que fazem a equipa do Guimarães insistam em defender resultados negativos em jogos que disputam em casa, seja contra que clube fôr! Não me façam começar a ignorar o vosso nível, porra, se um clube se torna tão indiferente a este tipo de situações, se se transforma em mais um pobre e infeliz coitado que nada consegue para lá de três ou quatro pontapés para a frente e bola para o poste que está na área e rezo aos deuses das bolas paradas para ver se conseguimos lá enfiar um chouriço…aí ficam a ser só mais um clube, e desses temos muitos. Nunca gostei do Vitória, admito, há qualquer coisa de visceral na relação entre mim e aquele clube que os coloca ao nível do desprezo que tenho pela couve-flor, a palavra “corrimento” e o vocalista dos Keane. Não saiam desse restrito lote, por favor, que um gajo precisa sempre de algo para desgostar, senão a vida perde o sal. Sejam vivos, lutem, dêem-nos cabo da cabeça nos jogos, façam com que nos vejamos à rasca para aí ir ganhar e dêem-nos motivos para vos continuar a desprezar. E já agora parem de atirar cadeiras ao Acácio, fazem favor.


Continua o cá/lá entre FC Porto e Benfica, com três pontos à frente (à condição) mas ainda muitos jogos que podem fazer com que tudo se inverta. E esta vitória deu um gozo bestial por ser contra o Guimarães, mas acima de tudo pela maneira como aconteceu. Simples, com arte, com saber, com valia. Com Porto. Lindo, meus amigos, foi lindo.

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