Baías e Baronis – Académica 0 vs 3 FC Porto

Só vi o jogo depois de chegar a casa, com a recta alcoólica a descer abruptamente depois de um dia em que andou a flutuar por valores bastante mais altos que o expectável para o final de Março. Assisti ao jogo já sabendo o resultado, porque é impossível tentar esconder tudo de toda a gente e há sempre alguém que está pouco interessado no diferido mesmo que não possa ver o directo, por isso a forma como o vi foi mais relaxada, com muito menos stress que o normal e deu para perceber melhor o estado anímico da equipa e a forma como isso influencia o desenrolar de jogadas ofensivas, a concentração nas defensivas e, acima de todas estas teorias…é tão fácil perceber como anda a cabeça de Danilo quando o homem acaba de marcar um bom golo e não festeja. Vamos a notas:

(+) A facilidade da vitória. Foi tão simples, tão fácil, que me deixa sempre a questionar porque raio não se consegue fazer isto todas as semanas, ou pelo menos partir de uma base tão simples como esta. Jogo prático, sem inventar muito, com facilidade de troca de bola mesmo contra um adversário ultra-defensivo. É a imagem de marca de 80% do nosso campeonato e não conseguir contrariar este estilo só nos deixa na mão dos nossos oponentes directos, como aconteceu este ano, especialmente quando perdemos pontos frente a este tipo de equipas. Jogámos bem, sem brilho mas com eficácia, sentido prático e facilidades criadas por nós e não cedidas pelo adversário. Safámo-nos bem.

(+) Castro, pelo golo e pelo seu significado. É irresistível elogiar o rapaz pelo golo, mas acima de tudo pela celebração. Depois de Danilo, no segundo golo, ter mostrado que nem sempre um golo chega para arrebitar a moral de um jogador que sabe que pode fazer muito mais e não corresponde às expectativas dos adeptos, temos no outro extremo o golo de Castro. Foi o terceiro, o ponto final de um jogo banal, sem grandes motivos para excitações, com uma exibição à imagem da equipa. E mesmo esse terceiro golo aparecendo quase aos noventa minutos, em final de festa, foi celebrado por Castro como se fosse um game-winning goal na final da Taça de Portugal. Castro sorria e os adeptos sorriam com ele, porque representou o que tantos portistas estão a ver desaparecer jogo após jogo: o portismo dos jogadores, que para lá do profissionalismo, é um desejo de todos. Parabéns, puto. Podes não participar tanto quanto querias, mas sempre que o fazes a malta sorri.

(+) Moutinho. Há ali um passe na segunda parte em que Moutinho recebe a bola de Fernando ou Danilo, esqueço-me agora quem foi o remetente. João, com meio segundo de tempo disponível para olhar à sua volta e descobrir uma linha de passe antes que Wilson Eduardo (ou Edinho, mais uma vez não posso garantir…mas também não interessa muito à questão, acreditem) lhe caia em cima e lhe tire a bola dos pés, faz um passe de trinta metros direitinho para o caminho de Alex Sandro, que tem o corredor à sua mercê para atacar a área adversária pelo lado esquerdo. E o número oito faz isto repetidamente durante um jogo, de uma forma natural, como se nada o abanasse, com uma confiança que parece estar sempre em alta. Excelente.

(-) O ricochete do desânimo. Vou abordar este tema daqui a uns dias, mas parece-me evidente que nem o apoio das claques (até elas resistentes ao futebol que adormece tanta gente mas que os parece conseguir manter em força no apoio à equipa…e ainda bem!) pode esconder alguma desilusão dos jogadores para com a equipa. Parece fácil pensar que os rapazes vão entrar em campo com a confiança de Thor com o martelo nas mãos, mas a verdade é que se nota que há uma tristeza latente na forma de jogar, no passe, até no festejo dos golos e dos lances mais bem conseguidos. Os jogadores parecem unidos e se há alguma divisão no plantel, não creio que passe cá para fora. O que passa é uma espécie de infelicidade exteriorizada que consigo entender na perfeição, mas que mais uma vez não compreendo o porquê de se terem deixado chegar a este ponto. Danilo foi o expoente máximo dessa tristeza. No final de um excelente lance de ataque, onde Lucho aproveita a subida do lateral para rasgar a defesa, contrariar o movimento de quatro adversários e coloca a bola direitinha nos pés do brasileiro que só precisa de encostar para marcar, o que faz na perfeição pelo meio das pernas de Ricardo. A celebração deste banquete futebolístico? Um punho levantado, a cabeça caída, os abraços dos colegas, que compreendem o desânimo do companheiro e continuam a festejar sem chama, sem entusiasmo. Se não conseguirmos ser campeões, esta é uma das imagens que me vai ficar na memória.


Preparem-se para mais umas semanas de sofrimento, meus caros. Os jogos continuarão a ser vencidos (ou assim esperamos), e os três pontos não parecem falhar aos moços de vermelho. A culpa de todo este desterro é total e completamente alocada a nosotros, por isso não nos podemos queixar do destino ou da performance de terceiros. Insisto que se tivéssemos marcado dois penalties, estaríamos em primeiro lugar com um jogo no bolso se conseguíssemos vencer o Benfas em casa daqui a uns tempos. Enfim, assim vão as glórias por-agora-adiadas do nosso mundo…

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Baías e Baronis – Marítimo 1 vs 1 FC Porto

foto retirada de desporto.sapo.pt

O FC Porto não vence este jogo por um simples e inequívoco motivo: falhou um penalty. E já sei que não jogou bem, compreendo que temos vários jogadores lesionados, outros em baixo de forma física (e acima de tudo mental) e outros ainda que sempre que entram em campo fico a pensar no porquê da selecção do jogador…e especialmente do jogador na selecção. Sim, estou a falar de Varela. Mas o FC Porto empata porque Salin defendeu o penalty de Jackson e acima de tudo é essa a grande verdade do jogo. Mas se olharmos para lá do penalty falhado vemos que os jogadores não estão bem. Não parece haver vontade e inteligência suficiente para conseguir mandar o infortúnio para o caralho, não vejo discernimento em quantidade que nos permita alegrar pelo menos com o entusiasmo, senão com o resultado. Não vi nada. Só vi resignação com a perda da autonomia e da auto-dependência para ser campeão. Só. Vamos a notas:

(+) Defour. Parecia que se queria redimir da expulsão na Andaluzia e até um certo ponto foi-o conseguindo, com esforço, com suor e o sentido prático que já nos habituou a ver-se em todos os lances em que se envolveu. Fez a assistência para o golo e apesar de não conseguir nunca substituir Moutinho, a verdade é que fez o jogo que lhe era pedido, apoiando todo o meio-campo a par de Fernando, deixando Lucho e James mais libertos para construir. Esteve bem.

(+) Castro. Foi dos menos maus, numa altura em que ainda conseguiu mexer com a equipa, recuperar bolas e fazer o que quase ninguém tinha feito até à altura…rematar à baliza. Não foi feliz mas fez por isso, ao estilo dele.

(+) Salin, o keeper do Marítimo. Claro, contra os grandes estes cabrõezinhos fazem sempre jogos fabulosos. Talvez esteja a ser injusto porque Salin já há algum tempo se tem mostrado como um guarda-redes com capacidade, seguro sem ser genial, firme sem ser maravilhoso. Aquela defesa à cabeçada do Jackson na segunda-parte…estupendo. Seu estupendo filho da puta, que nos roubaste dois pontos. Se não formos campeões, espero que te compremos e te ponhamos a rodar a jogar no Aleppo FC. Sim, o da Síria.

(-) Otamendi. Já não levava um Baroni há montes de tempo, por mérito próprio. Mas hoje, Nico tirou o dia. Exibiu-se sempre com falhas ridículas no approach à bola, falhando tacticamente como o Pepe na altura do Del Neri mas ainda pior foram as falhas técnicas, os controlos de bola fracos que permitiram a Heldon isolar-se duas vezes na cara de Helton. A sério. Duas vezes. Esteve distraído e foi incapaz de se concentrar até ao fim do jogo. Foi um jogo muito mau, talvez pela primeira vez este ano.

(-) Varela. Curto, grosso e directo: em Março de 2013, Varela tem tanta utilidade na equipa do FC Porto como uma saca plástica cheia com água salgada no meio do Oceano Atlântico. Pensei em metaforizar com um cacto no meio do deserto, mas mesmo parado e inconsequente ainda pode ajudar a tapar vento ou a dar sombra para proteger do Sol.

(-) Penalty falhado. Mais um. Há mérito para o guarda-redes, que adivinhou o lado e evitou que a bola entrasse. Mas é o terceiro penalty falhado por Jackson, pelo que pergunto: será ele o mais indicado a ser o marcador de penalties? Mesmo? Não há mais ninguém? Nada?

(-) Quando o corpo *pum*, a mente vai atrás. Somos neste momento incapazes de aguentar um jogo intenso, incapazes de viver as emoções de um jogo como homens que se esqueçam das infelicidades e que ganham força com os minutos, que insistem e puxam e agarram e comem a relva até conseguirem o objectivo a que se propuseram umas horas antes. Estamos lentos, previsíveis, horizontais, sem propósito, sem alma, sem força. Os rapazes estão lá, tentam, falham, mas não voltam a tentar para falhar melhor. Ou para terem sucesso, sei lá, já vi tanto a acontecer que acredito em tudo. Vejo um Danilo que é incapaz de fazer um jogo decentemente adaptado ao flanco. Vejo James a simular para roubar faltas. Vejo Alex Sandro à rasca das pernas a centrar para o primeiro poste com uma consistência newtoniana. Vejo Varela sem se mexer. Vejo Lucho a falhar passes consecutivos na desmarcação. Vejo Jackson a rematar torto vezes demais. E vejo-os a fazer tudo isto e a ficarem impassíveis quando lhes são marcadas as faltas, quando os remates vão ao lado ou os passes ao fundo. Vejo-os amorfos, sem alma, sem convicção. E não consigo perceber o porquê desta inversão de moral, não sei se são as lesões, se é Moutinho, se é Vitor Pereira ou a sua incapacidade de os motivar em condições. Só sei que não percebo como é que se abdica de ser campeão nacional.


Enquanto escrevo, o Benfica vai vencendo em Guimarães, com um penalty marcado. Marcado. Às vezes são estas as pequenas merdas que fazem a diferença. Good for them. Estão a aproveitar consistentes deslizes de uma equipa que sabendo não poder deslizar, mostrou algum empenho mas nem perto do nível suficiente para poder chegar ao tasco, bater com as botas na porta e dizer: “Mas que merda é esta? NÓS É QUE SOMOS CAMPEÕES, CARALHO!”, ganhar os três pontos e ficar com uma bebedeira na fila de check-in no aeroporto. Parabéns, rapazes. Conseguiram pôr-me chateado convosco.

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Baías e Baronis – Málaga 2 vs 0 FC Porto

Na segunda-feira à tarde fiquei indisposto. Fui a um casamento no sábado e a máquina deve ter ficado abanada ao ponto do almoço de segunda me desengrenar o sistema e me pôr às portas da morte, como um homem normalmente fica quando está doente. Passei a terça-feira a trabalhar de casa, como se tivesse levado uma carga de pancada de quatro Mozers e dois Paulinhos Santos. E o jogo de hoje foi mais um pontapé na virilha a juntar-se ao molho que o meu corpo está a aguentar nos últimos dias. Vi um FC Porto amorfo, incapaz de lidar com um ritmo vários níveis acima do nosso, sem força nem capacidade física e mental para conseguir dar a volta a uma equipa que não nos é superior, numa competição que devia continuar a ser nossa e da qual saímos por culpa própria e sem nos podermos queixar de grande coisa. Jogámos mal, merecemos perder e fiquei com a ideia clara que a ilusão que tinha aquando do jogo da primeira mão, que conseguiríamos aguentar a vantagem mesmo contra as desventuras do jogo fora, não passou mesmo disso, de uma ilusão. Vamos a notas:

(+) Mangala e Otamendi. Não estiveram perfeitos, longe disso. Ninguém esteve perfeito hoje em Málaga. Raios, ninguém esteve *bem* em Málaga hoje à noite. Mas estes dois moços foram dos poucos que me conseguiram dar alguma réstia de esperança que a equipa não tinha caído naquele poço de infortúnio em que se baixam os braços, se agarram os joelhos e se pede a Deus que nos ajude. Tanto um como outro foram lutadores, esforçadíssimos e acima de tudo nunca desistiram, nunca viraram a cara nem os pitões à luta e tentaram de trás para a frente mudar um resultado que era justo pelos noventa minutos mas que, nas suas cabeças, não fazia sentido. Não conseguiram mas ninguém se pode queixar que não tentaram.

(+) Defour, até à expulsão. Tem de haver algum tipo de conspiração divina que faça com que o FC Porto tenha várias vezes uma expulsão absurda, ainda que totalmente merecida. No ano passado foi Fucile com aquela enorme estupidez de tentar segurar a bola com a mão em S.Petersburgo, este ano é este tolo a lixar a vida à equipa. E ainda por cima estava a fazer um jogo bem jeitoso (eu que tinha dito ainda durante a tarde que o belga ia ser titular, em conversa com amigos) na posição que o treinador lhe mandou jogar ou em qualquer uma das posições em que andou a percorrer enquanto esteve em campo. A expulsão é merecida, ainda que o acto que levou ao segundo cartão me tenha parecido fruto de algum desnorte…

(-) A diferença de ritmo. Hoje, como em várias outras oportunidades, senti nas minhas entranhas uma sensação de pequenez que já é habitual e que com o meu sempre latente pessimismo tende a tornar-se crónica. Esta equipa, que me iludiu a pensar que podia ser mais e melhor do que é, não o é. E em grande parte não o é porque não conseguiu lutar contra as adversidades de um árbitro amarelador, uma equipa contrária mais agressiva e um jogo em que pouco corre bem. Na Luz, depois do 0-1 virar 1-1 e do 1-2 se transformar em 2-2, pensei que essa mentalidade estaria longe, mas não está. Reparem bem na diferença de ritmo entre as duas equipas, na quantidade de vezes que Fernando perdeu bolas no meio-campo quando pressionado; nas vezes que Varela e Danilo, que é como quem diz “todo o flanco direito da nossa equipa”, se atiraram para o chão clamando por faltas que não existiram; na irascibilidade de tantos que percebendo que o oponente chega primeiro à bola, optam pela falta em vez de tentar batê-lo em velocidade e em poder de choque. Somos fracos nesse aspecto, muito fracos, inesperadamente fracos. Preferimos a falta à luta, reclamamos quando Toulalan abalroa Lucho mas não pensamos que Fernando tenha a lentidão do argentino. Mas tem. Insurgimo-nos quando Defour é pisado, mas não estranhamos quando Varela domina mal a bola e o adversário lá chega primeiro. Temos uma mentalidade baixa, débil, pobre, que é arrumada para o lado nestes jogos como já foi em Londres, em Liverpool, em Manchester, em Milão, em tantos outros estádios por essa Europa fora onde fomos jogar com alguma vantagem e a perdemos. Olhamos para os outros como sendo sempre mais fortes que nós, e nunca assumimos que somos ou podemos ser mais fortes que eles, só porque eles jogam todas as semanas contra equipas que lhes dão luta e nós temos de nos desamanhar contra Moreirenses e Nacionais. Somos fracos, amigos, e a grande maioria dos jogos europeus que perdemos a isso se deve. E sabem o que é mais frustrante? É perceber que lá no fundo…bem lá no fundo…somos bons. E custa-me que os nossos jogadores não joguem com essa altivez, com essa arrogância tão positiva que ganha jogos. Porque quando o fez…foi sempre longe. Mas a pensar assim…cai nos oitavos contra o Málaga e contra qualquer outro Málaga que apanhe.

(-) Sub-rendimento de peças-chave. Moutinho fez uma primeira parte sofrível até ser substituído com dores. Lucho raramente conseguia meter o pé nos lances divididos. James perdeu mais tempo a rodar sobre si mesmo que a prosseguir com o jogo para a frente. Fernando fez passes consecutivamente maus, parecendo que tinha perdido em meia-dúzia de minutos a noção táctica que ganhou em cinco anos. Danilo não acerta um passe em condições e perdi a conta à quantidade de vezes que Joaquín apareceu nas costas de Alex Sandro. Não há equipa que aguente e se Jackson se pode queixar da ridícula quantidade de bolas longas que foi obrigado a lutar contra jogadores mais fortes e talhados para aquele tipo de lances, também Vitor Pereira se pode queixar do facto de nenhuma equipa aguentar tantos passes falhados e tanta inconsequência ofensiva dos mesmos jogadores que sufocaram este mesmo Málaga na primeira mão. Ponham Iniesta, Xavi, Busquets, Dani Alves e Messi em baixo de forma e atirem-nos para o campo contra uma equipa mais rápida e mais agressiva. Acontece-lhes o mesmo e não há maneira de dar a volta ao assunto.


Estou triste, mas não desisto. Abatido, mas nunca derrotado. Ou melhor, derrotado, mas nunca vencido. Estes rapazes têm muito mais para dar do que isto, apesar da excessiva dependência de algumas peças-chave que, quando em dias maus como o de hoje não surgem em patamares condizentes com o seu talento, fazem com que a equipa não consiga funcionar em pleno e se desmorone sem capacidade para se transformar na equipa de guerreiros que todos gostávamos de ter. Não caímos de pé como as putas das árvores. Caímos redondos no chão, de cara na relva, sem um ramo ou uma mão amiga para nos ajudar a levantar. Não tem mal, amigos como dantes. Venha o campeonato e voltemos às vitórias já na Madeira, para continuar com o principal objectivo, resignados a uma temporada em que devíamos ter feito mais na Europa mas que, por culpa própria, não conseguimos. Mais uma vez.

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Baías e Baronis – FC Porto 2 vs 0 Estoril

Deve haver uma expressão melhor que a habitual para este tipo de jogos. “Serviços mínimos”, francamente, não consegue transmitir em pleno o tipo de partida que assisti nesta noite no Dragão. “Consultoria em secagem de tinta”, talvez. “Sleep-cardio”, também pode ser. Foi um bocejo gigantesco, intercalado por algumas boas conversas entre portistas que se dão bem e só se encontram ali mesmo no estádio, no meio do público que estava tão interessado no jogo como um touro que vê bandarilhas a dirigirem-se para o lombo. O jogo entrou numa espécie de estado de coma pelos quinze minutos, altura do penalty bem marcado (sem panenkadas) por Jackson, e raramente despertou desse estado vegetativo, com alguns espasmos lá pelo meio a animar o povo. A vitória foi tão fácil que terminámos com um meio-campo composto por Fernando, Castro e Izmaylov. Sim, leram bem. Vamos a notas:

(+) Lucho. Enquanto esteve em campo foi dos melhores jogadores da equipa pela simples razão de jogar com a cabeça levantada enquanto que a maioria dos colegas parecia procurar lentes de contacto perdidas na relva do Dragão (que pareceu melhorzinha, ainda bem!). Melhor no passe que nos últimos jogos, recuou bastante para construir o jogo a partir de zonas mais atrasadas, mas conseguiu sempre encontrar as melhores linhas para os quase-imóveis-colegas. Saiu para descansar porque vamos precisar de um Lucho em condições na quarta-feira.

(+) Maicon. Já antes do jogo tinha pensado que era um jogo importante para o rapaz, especialmente depois da última exibição no Dragão lhe ter valido uma data de assobiadelas dos atrasados que insistem nessa parvoíce. Uma pequena redenção, nada de mais, que a malta quer é que se jogue em condições e que jogadores como Maicon não tentem emular Madjers ou Futres. E foi exactamente isso que fez, jogou simples, prático, a aliviar para fora, para longe, para cima, sempre que foi necessário. O golo fez com que voltasse a receber aplausos, totalmente merecidos.

(+) Defour e Atsu, na primeira parte. Defour tem o que poucos conseguem ter em todo o plantel do FC Porto: inteligência no controlo da bola. Atsu também tem algo que poucos conseguem ter no plantel do FC Porto: velocidade. E ambos puseram estas duas características em prática, com o belga a rodar bem a bola de uma forma horizontal no meio-campo, um pouco à semelhança de um Meireles dos bons tempos, ao passo que o ganês surgiu várias vezes pelo flanco esquerdo do ataque, sem o apoio de Alex Sandro (que jogo de trampa, homem!) mas a conseguir safar-se muito bem da marcação rija dos defesas do Estoril. É importante que estas “segundas escolhas” (que acabam por ser “primeiras” uma grande parte das vezes) continuem a jogar e a dar garantias que temos alternativas para as lesões e abaixamentos de forma dos titulares. Baixaram de produção na segunda parte, mas gostei dos primeiros quarenta e cinco minutos.

(-) Pronto, joguem devagar. Mas não tanto! Se Sir Bobby tivesse estado no Dragão hoje à noite, decerto teria chegado ao final do jogo e perguntado: “I don’t perceber, isto foi um match?”, e mandava pôr pinos no relvado para começar o treino. É verdade que a equipa até entrou bem, com força e vontade de resolver o jogo, o que logo aí me faz questionar o porquê de não o fazer em todos os jogos…mas isso são outros meios-milhares. Mas a partir do momento em que o segundo golo entrou na baliza de Vagner…a equipa travou. Era expectável para qualquer portista que siga o calendário e a evolução da equipa durante a época e ninguém estranhou que o nível baixasse. Mas…e há sempre um mas…foi um exagero. Mesmo. Alex Sandro começava a correr sozinho sem soltar a bola e perdia-a consistentemente; Fernando “picava” a bola por cima dos oponentes para depois a ir buscar a seguir, nem sempre com sucesso; James ficava à espera que a bola lhe chegasse aos pés, não se mexendo e esperando que o adversário fizesse o mesmo, o que raramente aconteceu; Otamendi falhava intercepções, Danilo estava miserável no passe e inexistente no ataque. E a vontade de jogar só apareceu de novo com Castro, que naquele estilo nervoso que contagia os adeptos com mais nervosismo ainda foi dos poucos que abanou com a malta. Nem Izmaylov nem Varela conseguiram trazer dinâmica à equipa, que atirava a bola para Jackson, então perto do círculo central, para que a dominasse e recuasse para atrasar a bola a um qualquer colega dez metros ao lado. Não houve brio de mostrar aos adeptos algo que fizesse da noite mais interessante do que a simples, fria e estática certeza que a vitória era nossa, sem brilho nem grande alegria. Será daqueles jogos, como tantos outros, que nem no rodapé da história ficará, mas já vi dezenas de jogos que antecipam importantes confrontos europeus…e este entra sem dúvida para a lista dos piores.

(-) James. Está mal e não vejo evolução nos últimos jogos. Sim, veio de lesão, mas já reapareceu há alguns jogos e continuo a não ver nem um brilhozinho do James da primeira volta. Lento demais, desconcentrado, com pouca acuidade no passe e num estado de quase permanente descompressão física e táctica. Precisamos do James que rasgou defesas com passes perfeitos, que driblava fácil e passava simples. Precisamos desse James, caso contrário o modelo de jogo da hibridização estrutural ataque/defesa deixa de fazer sentido nos moldes actuais.

(-) A imagem de um campeonato desiquilibrado. O FC Porto não jogou sequer a passo, deixou-se estar sem cansar, sem arriscar lesões, sem preocupações excessivas com pressão e posse de bola. O Estoril começou a pressionar quase em todo o campo e manteve essa pressão o jogo todo. Quantas situações de verdadeiro perigo criou para Helton? Quantas? Lembro-me de um remate torto, dois cruzamentos tensos mas sem destinatário seleccionado…e nada mais. Noventa e quatro minutos de passeio para o FC Porto contra o sétimo classificado da Liga. Percebem agora porque é que fico tão chateado quando coloco sequer a hipótese de perder pontos para estes fulanos?!


Já vi tantos jogos destes que nem me preocupo. Entedia-me um bocado mas sinceramente já nem me chateio com isto. Ainda se o Estoril mostrasse um mínimo de argumentos ofensivos, ainda me podia preocupar, mas nem chegou para tanto. O que interessava era a vitória e essa, com os três pontos que tanto contam, ficou deste lado. E agora, meus caros…tudo a preparar Málaga, porque esses rapazes jogam bem mais que estes…

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Baías e Baronis – Sporting 0 vs 0 FC Porto

Hoje de manhã, em futebolada com amigos, levei uma bolada no focinho que me pôs a ver estrelas durante uns segundos e me deixou o lábio superior inchado como se tivesse andado à pancada. Ainda por cima, a bola sobrou para outro adversário e entrou na minha baliza. Levantei-me e continuei a jogar. Passados dez ou vinte minutos, dei um pontapé no poste, sem querer. Uma unha partiu e a pancada fez com que enchesse a ponta da meia de sangue. Levantei-me e continuei a jogar. Antes que digam: “este gajo é mesmo tosco!”, esperem pelo corolário. Hoje à noite, em Alvalade, não houve nenhum lance que se assemelhasse a estes dois eventos matinais. Mas quase nenhum dos nossos jogadores mostrou este tipo de vontade que até eu mostrei numa amigável futebolada com amigos para, depois de aturdido com um ou outro lance que não tivesse corrido bem, se conseguir levantar e perseguir com garra o que estava ali ao seu alcance. Só houve nervosismo, incapacidade de lidar com contrariedades tácticas, incapacidade de ultrapassar um adversário fraquinho mas que correu mais que nós. Metaforicamente, levamos petardos nos dentes, demos chutos em postes. E não nos levantamos para continuar a jogar, mantivemos o jogo passivo, lento, sem rasgo, sem chama. E perdemos dois pontos, sem necessidade. Vamos a notas:

(+) Otamendi Que me lembre teve uma falha no jogo todo, que podia ter dado um golo ao adversário: o fora-de-jogo não existente a Wolfswinkel que o holandês aproveitou para rematar e Helton para defender, e onde o argentino subiu tarde, caindo na desmarcação do Ricky. Para lá disso, um jogo de intercepções consecutivas, cortes perfeitos, bola levada pelo pé até zonas que não lhe são familiares mas que Nico fez com que se transformassem em áreas onde parecia à vontade. Mantenho que é o melhor defesa que temos (“defesa”, como em “um dos gajos que ficam lá atrás, ao contrário dos defesas/médios-ala que povoam as nossas laterais), para lá do brilhantismo de Mangala e da força e técnica de Maicon, e insisto nesta tecla: como é que o Rojo é chamado para a selecção argentina e Otamendi not so much? Comigo era titular em todos os jogos.

(+) Fernando. Jogou muitas vezes em zonas avançadas, mais do que é normal. Com Defour excessivamente recuado, a tentar sem sucesso agir como Moutinho (há muitos que o consigam? duvido muito.), Fernando foi o que mais tentou e dos poucos da linha do meio-campo para a frente que mostrou que queria mesmo ganhar o jogo com a força do campeão que é e que não quer deixar de ser. Foi lutador, sempre lutador, contra os caceteiros que apanhou pela frente, nunca perdendo o tino a não ser com algumas decisões questionáveis de Paulo Baptista. Não chegou.

(+) Jackson, mesmo sem marcar. É um excelente ponta-de-lança e hoje foi o mais perigoso dos jogadores do FC Porto em Alvalade. Mas não consegue fazer tudo sozinho e está a começar a receber bolas em demasia a partir do meio-campo e até da defesa, que começam a ver nele uma espécie de messias em que todos depositam a confiança suficiente para livrar a equipa de situações mais delicadas. Nem sempre consegue e hoje tentou, sempre com inteligência e espírito de equipa. Resultado? Vários remates ao lado, com constante pressão dos defesas do Sporting, sem apoio dos colegas. Não era o dia dele, mas fez para que o fosse.

(-) Passaram onze dias desde o jogo contra o Málaga… e é assim que estamos. Uma equipa que tem tanto de genial como de permissiva, tecnicamente inapta e tacticamente incapaz de levar o jogo para cima do adversário durante um período de tempo que permita a criação de lances que levem de facto perigo à baliza contrária. Patrício teve mais trabalho pelo ar a tentar roubar a bola da cornadura de Jackson do que pela relva, e o facto de termos alguns jogadores em baixo de forma (Varela, Lucho, James, Danilo…) faz com que a boa forma de outros (Fernando, Alex Sandro, Jackson…) não chegue para compensar as falhas dos primeiros. Falta força, falta tanta força, falta choque, impacto, agressividade, falta jogar com um objectivo claro. Falta alma, falta paciência, falta pachorra para aturar a falta de paciência. Juntemos a este caldo a ausência de Moutinho e transforma-se o FC Porto numa equipa banal, incapaz de manter um ritmo de jogo consistente com o que já vimos este ano contra grandes equipas, particularmente na Europa ou na Luz. É um FC Porto de duas caras, Hyde para os amigos e Jekyll para os inimigos, ou ao contrário, porque nunca sei qual é o bom e o mau. Nem eu nem ninguém, porque no início de cada jogo nunca se sabe qual é o FC Porto que vai aparecer. Se alguma vez alguém tentou diagnosticar bipolaridade a uma equipa de futebol, não podia começar por um sítio melhor que pelo FC Porto de Vitor Pereira.

(-) Os piscineiros do Sporting. Uma curta nota porque não quero deixar passar em claro uma das coisas que mais me enervou hoje à noite, para lá da incredulidade de ter visto Rinaudo acabar sem amarelo e Miguel Lopes, que jogou de raiva e a bater em tudo que viu, a levar um amarelo apenas aos 89 minutos. O que mais me chateou no adversário foi a distinta lata da maioria dos jogadores do Sporting de tentarem sacar tudo que era falta após o mínimo dos contactos os fazer voar para o chão como putos com um fato de Super-Homem. Labyad, Capel, Carrillo mas principalmente Wolfswinkel, que já devia perceber que se chega a Inglaterra para fazer este tipo de merdas, vai ser corrido com um gesto do árbitro mais depressa do que conseguir dizer: “Ref, it’s a foul!”. Ah, só para perceberem o quão lixado devemos todos estar: perdemos dois pontos contra este bando de freiras desfloradas.


Nada está perdido e vamos lá deixar-nos de miserabilismos e toalhas ao chão e outros clichés do género. Mas preocupa-me que tenha sido um mau jogo que se seguiu a outro mau jogo, o que me deixa sem convicção para perceber se vamos ou não conseguir a recta final que precisamos. Se o Benfica vencer em Aveiro, continuamos a depender só de nós para sermos campeões. Mas custou perder dois pontos contra uma equipa que perdeu várias vezes os pontos todos contra equipas muito mas muito mais fracas. E não aconteceu por mérito deles, ou pelo menos não exclusivamente por isso. Muita da culpa do empate é nossa, e deixa-me triste. Mais uma noite triste.

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