Baías e Baronis 2012/2013 – Os defesas


Falou-se muito da zona defensiva do FC Porto durante o ano e houve muitos bons motivos para o fazerem. Foi talvez o único sector onde se notou alguma evolução nos jogadores, com dois em particular a merecerem a ressalva de serem olhados com admiração pela forma como cresceram durante a temporada: Alex Sandro e Mangala. O francês começou ao mesmo estilo do ano passado, ainda com alguma agressividade em excesso e alguma dificuldade em manter esses exageros controlados. Mas aproveitou bem a infeliz lesão de Maicon para lhe roubar o lugar e exibir-se em nível digno de transferência à FC Porto para um grande europeu. Tem tudo, o rapaz. Alto, forte pelo ar, rijo na marcação, raramente hesita no corte e é mais prático do que estamos habituados. Foi um prazer vê-lo a crescer, especialmente jogando ao lado de Alex Sandro, outro moço que subiu de produção quase exponencialmente, com sete Baías. Já no ano passado tinha mostrado que podia ter oportunidade de jogar a sério se fosse utilizado regularmente. E mostrou que Álvaro Pereira está tão bem no Inter que ninguém se lembrou dele, já que este rapaz desfez dezenas de adversários (os médios-ala e os laterais) com inteligência, criatividade, postura ofensiva mantendo o posicionamento e recuperação defensivas bem efectuadas, remate forte e apoio constante ao ataque. Algum excesso de confiança fez com que tremesse num ou noutro jogo, mas nunca deu hipótese sequer a que nos lembrássemos do Palito. Mangala tapou várias vezes o brasileiro durante a sua lesão mas era evidente que Alex traz uma profundidade ao flanco que Mangala, jogando sempre com empenho e força de vontade, não consegue.

Abdoulaye jogou pouco e foi coerente, apesar de ficar sempre ligado à final perdida da Taça da Liga. Coerente pela agressividade, coerente porque é lento e porque parece um Mangala mais alto e magro. Tem a vantagem de ser jogador “da casa” que dá muito jeito para compôr plantéis para a UEFA, mas não creio que venha a ser opção para titular a curto-prazo. Squad-player, through and through. Quiño também, passando a grande maioria da época nos Bs, não entrou mal quando foi chamado mas nunca conseguiu ser sequer uma sombra para Alex Sandro e perdeu inclusivamente o lugar para Mangala em várias circunstâncias. Talvez para o ano, rapaz.

Não me quero esquecer de Otamendi, porque seria uma injustiça. Várias paragens cerebrais durante o ano não mancham o que foi uma época excelente do argentino, à volta do qual foram rodando os restantes elementos daquela zona. Ota soube pegar no lugar desde que chegou no Verão de 2010 e este ano foi mais uma vez a rocha defensiva. A menor produção ofensiva foi contrariada com consecutivas e excelentes prestações defensivas em que mostrou que nem sempre os mais vistosos são os mais influentes. Atrás de um Mangala que voa por cima dos adversários, há um Nico que comanda os colegas, que manda no eixo e que raspa a relva com um sorriso nos lábios.

Com estes dois, Maicon pouco pôde fazer. Entrou muito bem, com rótulo de marcador de livres ainda desde a pré-temporada que perdeu a cola poucas semanas depois de começar a temporada. E lesionou-se em casa contra o Marítimo (que para lá do 5-0 também perdemos Fernando e Helton) para nunca mais recuperar em pleno a posição. Teve um momento horrível quando foi assobiado em pleno Dragão durante o mal-conseguido jogo contra o Rio Ave. Na altura disse: Ouviam-se gritos quando Maicon tocava no esférico, assobios quando demorava mais de dois segundos com a bola nos pés (muito embora raramente tivesse uma linha de passe decente), insultos quando o rapaz fazia algo que fosse contra o que as pessoas gostavam. É assim que querem apoiar os vossos jogadores? Quando as coisas estão a correr mal e vêem que um dos jogadores que conhecem há quatro anos, que já nos deu troféus atrás de troféus, que marcou o golo que deu a vitória na Luz no ano passado…quando vêem que esse rapaz, que perdeu a titularidade depois de uma lesão, está a ter um mau momento…o que optam por fazer é insultá-lo!? Nunca vou perceber este tipo de atitudes de alguma gente, palavra.. Não retiro um pixel.

Passemos aos Baronis. Um para Rolando, que preferiu sair por uma porta pequenina, no fundo de uma parede pequenina…e que desapareceu da minha mente ao ponto de ter chegado a pensar que tínhamos apenas quatro centrais desde o início do ano enquanto pensava neste artigo. Rolando escolheu o caminho que decidiu trilhar e não censurarei ninguém dentro do clube se o puserem a treinar sozinho. No Parque da Cidade. À noite. Mas agora para o Baroni da época. Danilo. Sim, vou por aí.

Danilo foi uma decepção. Quem me lê sabe que sou um gajo para dar oportunidades a todos os jogadores para mostrarem o que valem em todas as posições, em vários esquemas tácticos, com as nuances de cada competição a pesarem na minha noção sobre a valia do jogador. E Danilo esteve abaixo da média em todos os vectores que me posso lembrar de o pesar. Danilo mostrou durante toda a temporada o porquê de ser um jogador que sofre a contestação dos adeptos baseada em grande parte no valor pelo qual foi comprado. E o problema foi mesmo esse, o valor que lhe subiu a cotação e que colocou um rótulo que ainda não conseguiu sacudir. E vê-se em campo, porque mostra uma indolência que não acredito seja devida apenas ao espírito do jogador. Danilo não acredita que possa render na lateral-direita o mesmo que poderia render no centro do terreno e nota-se pela forma como tende com uma precisão de um relógio de césio para o centro do terreno, valendo-se do seu pé mais fraco para poder deambular por zonas onde se sente melhor e mostra mais produtividade. E falta sempre qualquer coisa, na corrida, na intercepção, no momento certo e na altura certa…Danilo falha mais do que acerta. Tem de reabilitar a sua imagem perante os adeptos, perante aqueles que o apoiam até ao ponto que vêem que nunca desiste, que nunca baixa os braços. E viram-se esses momentos a acontecer vezes demais durante a época.

O quadro-resumo dos defesas fica abaixo:

ABDOULAYE: BAÍA (por pouco)
ALEX SANDRO: BAÍA
DANILO: BARONI
MAICON: BAÍA
MANGALA: BAÍA
OTAMENDI: BAÍA
QUIÑO: BAÍA
ROLANDO: BARONI

PS: uma pequena adenda para Miguel Lopes, porque a sua ausência aqui da lista me foi chamada à atenção e com toda a razão. Miguel Lopes, lateral direito de raiz, não conseguiu sacar o lugar a um homem inadaptado à posição. ainda tentou, mas nunca consegui ver nele mais que um suplente glorificado. Esforçado, sem dúvida, mas demasiadamente incerto para ser titular. Fez um bom jogo em Vila do Conde, mas pouco mais.

MIGUEL LOPES: BARONI

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Baías e Baronis 2012/2013 – Os guarda-redes

Helton é uma personagem. Vai de viola às costas nos estágios como um puto no secundário, faz gestos constantes de apoio e agradecimento para com os adeptos, é baterista numa banda e finta avançados. E estas personagens trazem um sal extra a este maravilhoso mundo da bola, como uma travessa de espargos a acompanhar um prato de caça. São os pormenores do jogo com os pés, a facilidade com que lida com uma pressão mais intensa de um ou outro adversário mas acima de tudo a calma que mostra quando coordena uma defesa que parece ficar mais nova à medida que ele fica mais velho. E a PDI ainda não lhe começou a afectar os reflexos nem o julgamento, porque está mais experiente que nenhum outro no plantel (só ele é responsável por aumentar a média de idades do grupo aí uns dois ou três anos…) e mostra-o em campo, quando impõe a disciplina defensiva nos colegas, com graus variáveis de eficácia mas sempre com a convicção que é o dono daquela zona recuada. E Fabiano, que já mostrou ter bons instintos, excelente elasticidade e presença na baliza (ainda tem de melhorar o jogo com os pés, especialmente tendo em conta o padrão do “puto” que está à frente dele na ordem natural de escolha), vai ter de esperar pela reforma ou pela viagem de regresso ao Vasco da Gama, que parece não estar marcada para 2013. Helton foi Helton durante toda a temporada. Brincalhão, tranquilo, seguro. Não posso pedir mais a um guarda-redes.

HELTON: BAÍA
FABIANO: BAÍA

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Baías e Baronis – Paços de Ferreira 0 vs 2 FC Porto

A vitória estava a noventa curtos minutos de distância e não escapou. Mas o jogo mostrou segurança suficiente para que não houvesse dúvidas de quem estava ali para ganhar e para mandar no jogo como não tinha conseguido mandar no campeonato durante largas jornadas, demasiadas jornadas. E se o penalty apareceu na altura certa (em jogo corrido pareceu-me claro, mas na repetição fiquei sem perceber sequer se tinha havido falta), a verdade é que em todo o jogo só houve uma equipa que controlou os ritmos e as nuances da partida. Tacticamente bem, fisicamente razoável mas tecnicamente fraca, a equipa chegou ao final apesar de falhas consistentes no passe, salvando-se Varela e Lucho, com Defour também em bom plano. Vitória certa da única equipa que quis ganhar. Vamos a notas:

(+) Varela. Excelente jogo. Muito activo pelo flanco esquerdo na primeira parte e mais orientado pelo direito na segunda, foi Varela que levou o FC Porto para a frente com maior intensidade, sempre com a vontade que pareceu demonstrar neste final de época onde conseguiu ser um dos melhores jogadores da equipa. Sim, Varela. E quem o viu no início da temporada, lento, a arrastar-se em campo…e o vê agora, deve imaginar que o rapaz teve qualquer tipo de epifania futebolística e recomeçou a jogar à bola. Hoje esteve muito bem, com bons cruzamentos e o suor que deveria ter posto sempre em campo em todos os jogos. Muito bem.

(+) Lucho. Não esteve genial, mas esteve muito bem no centro do terreno a comandar tacticamente a equipa, quando os obrigou a pressionar alto e a carregar o jogo para cima do Paços. É inegável a influência que tem no controlo da formação portista em campo, constantemente a dar indicações aos colegas e a incentivá-los sempre que é necessário. Ah, e marcou o penalty. Ufa.

(+) Defour. Certinho no meio-campo, nunca tendo medo de meter o pé quando era necessário e marcar a diferença numa zona em que Luís Carlos e André Leão são rijos e agressivos na disputa da bola. Continua a ser dos melhores jogadores na componente técnica do passe e nem quando foi obrigado a descair para lateral direito falhou nesse aspecto, porque continuou a trabalhar bem e a subir para a marcação como lhe era pedido. Bom jogo.

(-) Danilo. Se fosse outro gajo diria a mesma coisa: foi uma estupidez. Aquela traçadela aos dez minutos da segunda-parte fez com que explodisse na cadeira onde estava e originou a que proferisse mais um pedaço de vernáculo nortenho que prefiro não reproduzir neste momento. Fazer com que seja expulso (sem espinhas nem contestação) no jogo mais importante da temporada é uma infantilidade pior que a de Fucile em São Petersburgo ou Defour em Málaga. Muito tem de aprender este rapaz e francamente começa-me a desiludir a sua atitude em campo e a forma como está a falhar a aposta nele como lateral-direito titular do FC Porto. E lixou-se porque falha a Supertaça. E que jogador não quer começar a época em grande contra o Guimarães? *wink wink*

(-) Olha, um jogo em que falhámos muitos passes… Compreendo o nervosismo, não sou estúpido ao ponto de pensar que os rapazes não iriam estar nervosos e os índices técnicos iam ter de ceder por alguma parte. E o passe foi, mais uma vez, uma dessas cedências. Mas já me chateia ver a equipa a tentar o último passe de uma forma tão atabalhoada. É um ciclo vicioso este dos passes falhados e que se pode repercutir da seguinte forma: falho um passe, não posso falhar o próximo, vou tentar com tanto afinco fazer um passe perfeito que condiciono as minhas opções e perco espaço e pumba, lá vai outro passe falhado. Na próxima época devíamos espetar pinos no Dolce Vita e obrigá-los a acertar-lhes desde o relvado. Quem falhasse tinha de ir buscar uma garrafa de Gatorade à Repsol em Fernão de Magalhães. Too harsh?


É sempre difícil falar de um jogo com este tipo de carga psicológica, de uma fortíssima intensidade e de enormes emoções. Ao escrever estas palavras ainda dura a festa nas imediações do Dragão, e Vitor Pereira está com um sorriso enorme ao ouvir as palavras de Pinto da Costa. Ele, como tantos outros antes dele, está de parabéns. Hoje, todos estamos de parabéns, todos os que acreditaram que era possível dar a volta a um campeonato que nos vergava a fé e a mente, que parecia perdido até duas semanas antes do seu final. Hoje somos felizes porque trabalhamos para isso. Análises mil seguir-se-ão nos próximos tempos e não me alheio de as fazer. Tudo a seu tempo, porque hoje é dia para celebrar, para descansar, para me sentir novamente campeão. Perdão, tri-campeão!

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Baías e Baronis – FC Porto 2 vs 1 SL Benfica

Regressei por momentos a Novembro de mil novecentos e noventa e dois, o meu primeiro jogo como sócio naquela mítica noite de um intenso nevoeiro na Invicta. Quando Jorge Costa irrompe pela área e é atropelado por Helder, o penalty foi marcado e Timofte, esse genial romeno, marca o penalty que me fez dar um dos maiores saltos da minha vida. E este jogo trouxe-me sensações similares, com a adicional componente de ser um jogo que podia ajudar a decidir o campeonato. Foi um jogo vivido entre adeptos, entre portistas, rodeado que estive toda a tarde por dragões do Porto, de Santo Tirso, de Lisboa e de Castelo Branco. O portismo, por muito que nos queiram convencer do seu provincianismo, está em todo o lado. E hoje reuniu-se de alma e coração na Invicta, na sede física mas também moral, onde podemos ter pintado um dos mais belos quadros de sempre. Foi lindo, foi catártico, foi futebol. E foi nosso. Vamos a notas:

(+) FC Porto. Não tenho a certeza que tenhamos merecido ganhar o jogo. Mas tenho a certeza que o Benfica merecia perder, porque uma equipa que joga para não perder com o exageradíssimo anti-jogo que praticou durante toda a partida merece sair do estádio com as nádegas profundamente marcadas com vergastas de nós bem fechados. Diria o mesmo se a minha equipa fosse jogar à Luz da mesma maneira. Ainda assim, se havia uma equipa que merecia ganhar era o FC Porto, pelo suor que largou em campo, pela forma audaz como se lançou ao jogo, pela maneira como conseguiram manter-se firmes, com vontade férrea de nunca desistir, nunca baixar os braços, nunca abdicar de tentar o ataque sempre que fosse possível e acima de tudo pela resistência que mostraram à aparente vontade de Proença em permitir o ostensivo queimar de segundos após segundos por parte da equipa visitante. Lucho foi rijo, Moutinho foi estável, Otamendi controlou-se quase sempre atrás e Mangala, mais nervoso, não esteve mal. Varela foi sempre trabalhador e Fernando foi igual a sempre até se lesionar. Helton seguro, Alex confiante e até Danilo esteve menos medroso que o costume. Ainda que não tivéssemos conseguido vencer, a equipa estaria sempre de parabéns.

(+) Dragão. Lágrimas escorriam pelas faces do rapaz que se senta à minha frente. O estádio estava vivo, mais uma vez, depois de quarenta e cinco minutos dos mais frustrantes que vi em mais de vinte anos de futebol ao vivo. Kelvin conseguiu transformar as vozes de portistas pelo mundo fora num grito em uníssono de vitória, de reconquista, de enorme alegria e um alívio que ninguém conseguiu controlar. Nas bancadas há abraços, beijos, danças, saltos, cinquenta mil que suspendem a gravidade e o bater do coração durante minutos consecutivos, enquanto dois mil e dezoito estóicos adversários estáo petrificados como estátuas gregas, sem resposta, sem reacção. Grito e parece que o som fica preso na minha garganta. Agarro amigos, abraço desconhecidos, salto e beijo o emblema do FC Porto com força e sem qualquer pudor em perceber que se morresse naquele momento, pelo menos morria feliz. Não me dava jeito nenhum porque tenho coisas combinadas para os próximos tempos, mas estaria feliz. Naquele momento não existia mais nada no mundo para as almas que lá estavam. Era só aquilo, só aquele remate que vi a entrar na baliza de Artur e me fez parar de respirar durante meio segundo. Futebol é isto e o Dragão hoje foi futebol.

(+) Kelvin. O jogo foi rijo, frustrante, difícil, com um Benfica que jogou para empatar e que perdeu por um golpe de sorte com muita vontade de um puto que já é uma figura de culto entre os adeptos. Quem diria, minha gente, que seria Kelvin a dar vitórias contra Braga e agora Benfica?! É abençoado pelos deuses da bola, este rapaz…

(-) James. Foi o pior jogador do FC Porto, não pelo que fez de mal mas principalmente pelo que não fez. Não conseguiu entrar em jogo, raramente teve capacidade de ter a bola nos pés e funcionar como número dez, com uma marcação muito eficaz de Matic (muito bom, este rapaz) e/ou Enzo Perez. Teve um jogo fraquinho e nunca teve hipótese de manter a bola tempo suficiente para fazer a diferença e passou a segunda parte inteira sem ter influência na partida. E foi uma pena.

(-) O beneplácito de Proença. Não me parece que tenha havido casos que possam levar a discussões com o nível de estupidez que habitualmente grassa as nossas televisões, jornais ou mesas de café. Se há um erro que poderia ter sido marcante, ocorreu no fora-de-jogo não assinalado a James que felizmente não deu golo mas que não foi tão escandaloso como isso. Mas o que enervou todos os adeptos do FC Porto e acredito que ainda enervou mais os jogadores em campo, foi a forma como Proença permitiu o anti-jogo do Benfica. Não censuro o Benfica nem Jesus pelas opções que tomaram, longe disso, mas como as puseram em prática, de uma forma tão feia e ostensiva, foi enervante para todos e se alguém poderia ter feito alguma coisa, era o árbitro. Proença insistiu em permitir os lançamentos executados com a lentidão de um caracol de muletas, as consistentes quedas no relvado e principalmente Artur. Artur é o melhor exemplo que se pode dar, porque desde os dez minutos de jogo que estava deliberadamente a perder tempo sem que se visse algum aviso de Proença para deixar a teatralidade. Artur acabou por ver um amarelo por protestos na altura do offside de James. A meio da segunda parte. Helton, depois do segundo golo, foi buscar a bola e levantou os braços para os adeptos continuarem a gritar em apoio da equipa. Amarelo imediato. Ah, e quatro minutos de descontos no final do jogo é pouco. Muito pouco. Seis substituições, duas lesões com assistências em campo e saídas em maca, tudo isto somado aos desperdícios constantes de muitos segundos em lançamentos e marcações de livres…é pouco. É esta inconsistência que chateia, mais nada.


Ainda tenho a camisola vestida (a principal de 2008/09, azul-e-branca com debruado a laranja) enquanto escrevo estas palavras. Comecei a tarde com ela e só não durmo com ela no corpo porque seria certamente mal recebido no leito e prefiro manter o status-quo familiar. Mas tenho-a ainda perto do coração, até porque faz há alguns anos parte da colecção. É uma das que “dá sorte”. Se não era, passou a ser. E é uma camisola felizarda, porque esteve presente num dos jogos mais marcantes da minha vida. Inesquecível, diria. Mas atenção, porque se não vencermos em Paços na próxima semana, este jogo acaba por ser uma etapa inconsequente no objectivo de toda uma época. A Paços, amigos, a Paços!

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Baías e Baronis – Nacional 1 vs 3 FC Porto

retirada de desporto.sapo.pt

E porquê, perguntarão vocês, pelo menos os que viram o jogo em directo, porque é que um jogo do FC Porto não se desenrola em moldes similares ao que se verificou hoje na Madeira? Entrar em grande, pressionar alto, atacar com as várias armas que temos ao nosso dispôr continuando a ser fiéis ao nosso estilo e ao que o treinador tenta implementar com sucesso pontual. Depois de um arranque forte, três golos lá dentro, resultado pretendido e conseguido, sem stresses. E a gestão segue já dentro de momentos. Deveria ser esta a matriz habitual de um jogo oficial do FC Porto. Atacar, vencer, gerir, descansar. Estivemos bem na Madeira e gostei de ver a equipa a jogar. Vamos a notas:

(+) Varela. Alguém ainda me vai explicar porque é que este camelo se lembra de fazer um jogo destes nesta altura. O Varela de hoje foi excelente, lutador, prático quando era preciso, a correr pela linha como o Varela que nos encantou em 2009/2010. O lance do primeiro golo é sintomático, o esforço por chegar à linha e evitar que a bola saísse, sem desistir, sem travar, sem duvidar das suas capacidades. Trocou bem a bola com Danilo e Mangala, independentemente do flanco por onde ia jogando. Só foi pena não marcar um golo, mas fez talvez o melhor jogo da época. A questão que coloco é sempre a mesma: continuará assim na próxima semana?

(+) Lucho. Bom jogo do capitão. Muito acima da média dos últimos tempos em relação aos passes, foi o deambulador do costume no meio-campo contrário mas serviu acima de tudo a equipa no seu todo, controlando os tempos certos nas alturas certas, com passes adequados sem exageros na criatividade e com a certeza que o jogo poderia fluir com a velocidade necessária. Ah, e não esquecer: marcou o penalty, que nos dias que correm e na equipa que comanda em campo…é obra.

(+) James. Muito bem a jogar a “10”, a rodar e a fazer rodar a bola por entre tantos colegas que mais parecia um jogo de pinball no centro do terreno, mas sem tilts e com as patelas bem controladas. Quando encontra espaço é um jogador com visão de jogo acima da média e aproveitou na perfeição o espaço que o Nacional lhe deu na primeira parte para marcar um e estar muito activo na procura de mais. Continua a meter pouco o pé na luta e já me habituei que não vamos ter outro Deco nas mãos. James é James e apesar de acreditar que o que mostrou hoje deveria ser o patamar exibicional normal para ele, já me dou por satisfeito se mantiver o nível até ao fim da época.

(-) Os adeptos do Nacional e os cânticos pelo Benfica. Nem vou falar da guinchadeira das apoiantes do Nacional que me fizeram baixar o volume da televisão. E tendo em conta a postura símia de muitos portistas, que continuam a trazer a um jogo o nome de outro clube que não está em campo, até posso compreender a ironia de vir agora reclamar com adeptos contrários por fazerem o mesmo. Como sou completamente contra esse tipo de atitudes, creio que posso falar à vontade. Mas quando comecei a ouvir as vozes a gritar pelo nosso rival, juro que pensei que era uma estranha forma de provocar o adversário. Porém, rapidamente me dei conta que a maioria do povo que ia gritando não o fazia com uma simples (ainda que parva) estratégia de desestabilizar a equipa em campo, mas estaria a apontar os guinchos não só aos jogadores mas também aos adeptos que se opunham a eles no resto das bancadas. E como não creio que haja problemas em somar dois e dois e perceber que os adeptos do Nacional que o fizeram são eles próprios adeptos do Benfica, resta-me perguntar: “É assim que apoiam a vossa equipa? Gritando um cântico de apoio e louvor a outra equipa que por acaso também apoiam? São adeptos do Nacional ou do Benfica? Naquele momento são benfiquistas a apoiar o Nacional ou nacionalistas puros (no pun intended)? Gostam de ser assim? Há algum orgulho que se possa ter numa postura tão ridícula?”. Não entendo. Estarei a reagir a quente? E não se dêem ao trabalho de me insultar por ser faccioso. Se fossem os meus, diria exactamente a mesma coisa.


Não há Baronis para o FC Porto porque, sinceramente, ninguém esteve mal ao ponto de merecer uma nota negativa. Fernando, um pouco distraído, mas mesmo assim nada de especial. Estranho, não? Not really. E insisto que ainda nada está perdido. Talvez seja melhor reformular a frase anterior. Nada está perdido em provas que exigem regularidade exibicional, já que se vamos considerar as taças, estamos bem tramados porque só sacamos uma e nem sequer é desta época. Assim sendo, mais uma semana em que jogamos primeiro e amandamos mensagens a todas as potenciais divindades para que se lembrem de nós, bons cristãos/budistas/muçulmanos/judeus/agnósticos/whatever. E sigamos sorridentes até esta trampa acabar.

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