Baías e Baronis – FC Porto 6 vs 0 BATE

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Nos comentários ao artigo que antecipou o jogo, um habitual comentador (Pudget) vaticinou um seizazero. Ria-me quando li o bitaite do rapaz, untado com a previsível volúpia de uma noite que se queria mágica mas acima de tudo vitoriosa e prática. E o rapaz lá acertou, mas não creio que o fizesse de propósito, porque o FC Porto venceu bem e os números não enganam na diferença de talento entre as equipas. Mas foi um jogo em que nos correu tudo bem e que raramente se irá repetir, desde a inovação táctica de Lopetegui, passando pela exibição fabulosa de Brahimi e terminando no acerto perfeito de Maicon na defesa. Foi muito bom, quase perfeito, e deixa a moral em alta depois do jogo cinzento de Guimarães. Vamos a notas:

(+) Brahimi. O lance do segundo golo é notável por vários motivos. Impossível de dissociar do golo de Tarik contra o Marselha aqui há uns anos, pelas incontestáveis semelhanças que ambos partilham (apontado num jogo da Champions, depois de uma correria desde o meio-campo de um jogador de origem árabe, fintando meia-equipa e rematando para o fundo da baliza), é na forma como Brahimi percorre os últimos dez metros, em toque curto, drible com a bola sempre a centímetros de ambos os pés, noção perfeita de baliza e enquadramento com a mesma. E o primeiro, com o remate perfeito de pé esquerdo? E o terceiro, igualzinho ao golo contra o Lille? E o resto dos toques e arranques e fintas e deambulações da linha para o centro? E começarmos a pensar que este rapaz é um talento do carago que eu já vinha a dizer desde a pré-época que se tivesse alguma sorte e consistência seria um dos melhores jogadores do campeonato? Chegou, viu, marcou e venceu. Uma vénia, caro Yacine.

(+) Maicon. Quem viu Maicon a chegar em Julho de 2009, não acredita no que vê agora. Escrevi sobre ele em Janeiro de 2010: “É lento demais, passa a bola com força a mais e é sempre um susto quando a bola vai para perto dele e tem um adversário a pressionar. Eu que sou do tempo de ver jogar o Alejandro Díaz, digo: não serve.” e hoje começo a penitenciar-me pela falta de crença na capacidade de um jogador que tem vindo a melhorar e é hoje em dia o patrão incontestável da defesa. Perfeito na intercepção, atento no posicionamento defensivo e ágil no corte, tem estado em grande neste início de época e é um dos responsáveis por termos apenas um golo sofrido até agora. Excelente jogo.

(+) Danilo. Está cheio de moral e nota-se, tanto pela força que coloca nas subidas como na capacidade de recuperação quando a bola é perdida por si ou por qualquer colega. E Danilo vive disso, da moral que lhe é dada pelas boas exibições, ele que é um caso para entregar a um psicanalista, tão propenso que é a desânimos e desatenções em jogo. Tem-se entendido bem com qualquer um dos companheiros que jogam à sua frente mas é na solidez defensiva que se vê a evolução dele em terras lusas desde que chegou. Já não queres ser médio-centro, pois não, rapaz?

(-) As transições de Herrera. Fica sempre a impressão que podia fazer melhor. Não “mais”, apenas melhor. Herrera é o anti-Óliver: o espanhol já sabe o que vai fazer quando a bola lhe chega, ao passo que o mexicano, incorporando todos os clichés sobre o seu povo, demora uma eternidade com a bola nos pés para depois raramente tomar a melhor opção, especialmente quando baixa a cabeça e se recusa a tentar perceber o melhor caminho por onde devia fazer seguir o esférico. Sim, joga muito sem bola, movimenta-se defensivamente para tapar as investidas contrárias, mas quando recebe a bola no centro do terreno tem de ser muito mais rápido e astuto na decisão.

(-) O desaparecimento do meio-campo. Lopetegui arriscou, sem exageros. Aquela espécie-de-4-2-4-ou-talvez-4-4-1-1 foi uma inovação que já não via desde alguns jogos-treino de Jesualdo, ou se quisermos falar a nível oficial, desde que Octávio colocou Pena e Esnáider juntos na frente…mas talvez tenhamos de recuar até Robson para vermos uma verdadeira dupla de ataque. E esta dupla que vimos hoje não foi bem uma dupla mas acabou por fazer com que o “4” do meio-campo se transformasse num “2”, com Casemiro e Herrera a funcionarem como tampões…que não funcionaram. Percebo a omissão de Ruben Neves (muito melhor como “6” onde Casemiro tem mais força e experiência) e a presença de Herrera mais recuado, mas o FC Porto vê-se invariavelmente obrigado a jogar pelos flancos durante as alturas em que o adversário se vai fechando, simplesmente porque não há movimentações (nem homens) suficientes na zona central para que o jogo por lá possa fluir. E a não ser que apareça um espaço milagroso, putativamente criado pelo “1” atrás do ponta-de-lança, a construção torna-se enfadonha e recua tudo para começar de novo. E se Adrián pode funcionar bem sem bola, a arrastar os defesas como fez no segundo golo de Brahimi, a verdade é que passou grande parte do jogo sem se conseguir safar dos (fracos) defesas nem criar jogadas de perigo, ao passo que os médios, quase sempre bem posicionados para recuperar a bola, foram incapazes de romper com ela controlada em posse. Depender de Brahimi, Tello ou Quaresma é muito frágil para uma estratégia consistente de ataque.

(-) BATE. Há uma diferença entre ser uma equipa que joga na Champions e outra que tem jogo de Champions. O BATE, infelizmente, faz parte do primeiro grupo, porque se o que mostrou hoje no Dragão é o melhor que pode e sabe fazer…então, meus amigos, cheira-me que vão corridos pelas outras três equipas com seis derrotazinhas para esconder bem lá no fundo e não mostrar a ninguém com vergonha. Salvo qualquer catástrofe, não contemos com ajudas deles nos jogos contra os outros dois grandes do grupo.


Uma grande vitória. Uma vitória grande, talvez seja o termo mais adequado, mas o que interessa é mesmo a vitória. Há dois anos que não sabíamos o que isso era em jogos da Champions no Dragão. Obrigado, rapazes.

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Baías e Baronis – Guimarães 1 vs 1 FC Porto

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Primeiro ponto de ordem sobre o resultado: não gosto de perder pontos contra ninguém. Seja o Benfica, o Vilaverdense ou o Dínamo de Bucareste, é sempre mau. Mas perder pontos contra esta cambada de malfeitores de preto e branco é uma mancha que me deixa sujo, chateado e triste. Jogámos o suficiente para vencer o jogo e mesmo com uma arbitragem que enervou toda a gente de azul-e-branco, a verdade é que devíamos ter saído de Guimarães com os três pontos e deixado aquela cáfila de mãos na cabeça. Não conseguimos por culpa própria e com um pé Montypythoniano a pisar-nos a traqueia. Siga para as notas:

(+) Brahimi. Estupendo no arranque e na recepção orientada, foi o principal criador de perigo para o adversário e merecia que o golo não lhe tivesse sido anulado. É já “o” jogador do FC Porto 2014/2015, ao lado de Jackson, e será em condições normais titularíssimo de uma equipa ainda a procurar a melhor estrutura no meio-campo, onde Brahimi diz que prefere jogar. Mas é quando pega na bola em zonas próximas dos flancos que mais brilha, flectindo quase sempre para o centro à procura de espaço por onde furar e de colegas com quem combinar. Activo, mexido, vivaço…é o que se quer e especialmente o que precisamos de ter naquela zona do terreno.

(+) A entrada de Evandro. Ajudou a estabilizar um meio-campo que até então tinha o idiota do Herrera a falhar passes em demasia, Casemiro com vontade mas sem acertar e Ruben Neves sem conseguir manter-se de pé e a deixar André x 2 passar vezes demais por si. Evandro pode e talvez deva ser titular, pela simplicidade que coloca em jogo e pela estrutura que proporciona ao meio-campo…e não fossem alguns arranques de Herrera ainda o continuarem a manter na equipa, a grande maioria dos jogos que vi do mexicano fazem com que seja, neste momento, segunda escolha.

(+) Maicon. Teve breves momentos de desconcentração durante a segunda parte mas em nada mancha (mais) uma excelente exibição do brasileiro. Forte no jogo físico, foi contra o enervante Tomané que passou a maior parte do jogo em duelo e conseguiu aguentar-se sem cravar um murro nos dentes do adversário, o que é de louvar tendo em conta a insistência do avançado do Guimarães em se tornar num dos jogadores portugueses mais enojantes da Liga, pegando no facho já meio apagado mas ainda bem seguro nas mãos de Briguel. Prático, bem na intercepção e no posicionamento a policiar a zona defensiva, sabe que é lento a arrancar e compensa com a movimentação bem coordenada e a antecipação da jogada do adversário. Está para a defesa do FC Porto como Aloísio estava no tempo dele. Com a devida proporcionalidade de talento, claro.

(-) O meio-campo sem força. Desiludiu-me imenso ver este meio-campo do FC Porto a ser tão tenrinho contra o equivalente minhoto da cena “The Bride vs Crazy 88” do Kill Bill. E não foi um filme em estreia absoluta, porque em casa contra o Moreirense e até um certo ponto no jogo de Paços, vimos uma zona central do terreno e ser calcada (fisica e metaforicamente) por um adversário que pressionava os nossos jogadores e conseguia chegar mais depressa à bola, obrigando a equipa a jogar bem mais pelos flancos do que seria desejável. É verdade, sim senhor, que a nossa mais-valia poderá ser a multiplicidade de escolhas do meio-campo para a frente. Mas na zona de cobertura defensiva e/ou de construção ofensiva, está-nos a faltar muita agressividade e qualquer equipa que se decida a correr mais que os nossos ganha vantagem imediata. E contra este Guimarães, que quase só sabe correr (continuo a estranhar os votos de louvor generalizado a Rui Vitória quando as suas equipas raramente mostram que trabalham mais que as outras a não ser no ginásio…) e empurrar, raramente houve nervo para lá de uma ou outra imagem de um jogador do FC Porto, habitualmente Casemiro, a impôr o seu físico para recuperar a bola. Algo terá de ser feito para mostrar aos adversários que aquela zona é nossa. Nem que seja à pancada.

(-) A parvoíce do lance do penalty. Não é preciso dizer muito. Jackson, na nossa própria área, decide adiantar a bola para a tirar do caminho do adversário, que se coloca entre o colombiano e o esférico. O capitão tenta chegar à bola sabendo perfeitamente que está ali um careca de barba que vai cair ao mais pequeno toque…e acerta-lhe na perna. Burrice. Muita burrice.

(-) A arbitragem. Não é meu hábito queixar-me dos árbitros e continuo a achar que é dever da nossa equipa conquistar os três pontos para que não tenhamos de andar atrás dos gajos do apito a protestar por tudo e por nada. Mas há dias em que nada lhes corre bem (ou tudo, dependendo do ponto de vista mais ou menos cínico) e os nossos rapazes são prejudicados activamente em mais que um ou outro lance ocasional. Hoje, em termos de lances concretos, foi só isto: um golo mal-anulado por fora-de-jogo inexistente e um penalty que ficou por marcar. Se o fora-de-jogo é difícil de apontar e como tal mais complicado de criticar, o penalty foi ridículo. Alguns minutos antes tinha sido apontada uma falta contra nós que foi exactamente igual, quando André x 2 viu o seu braço agarrado numa situação em tudo semelhante. Mas não foi na área. Na área deles. E portanto não foi falta. Ou foi. Mas não foi marcada. Não percebi. E também não percebi a quantidade absurda de lances em que ao jogador do FC Porto era apontada falta por exagerado contacto físico, quando uma situação idêntica com as camisolas trocadas resultava nos braços esticados do árbitro para mandar seguir. Enervou-me, enervou toda a gente.


Primeiros pontos perdidos em grande parte por culpa própria mas também com muita imbecilidade arbitral. Não é dramático, minha gente.

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Baías e Baronis – FC Porto 3 vs 0 Moreirense

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Pela quinta vez consecutiva (noutros tantos jogos oficiais que já foram disputados esta época), o resultado é melhor que a exibição. Mas se na primeira parte tudo parecia frouxo, com pouca movimentação, espaços enormes não ocupados na zona defensiva do Moreirense e muitos passes directos mal efectuados, a segunda parte trouxe melhorias e o futebol subiu de qualidade e acima de tudo de eficácia. No fundo foi mais do mesmo: Brahimi a romper, Óliver a rodar, Jackson a marcar. Ah, e um penalty falhado, para não destoar com o que tem acontecido nos últimos anos. Enfim, vamos a notas que se faz tarde:

(+) Jackson. Já leva quatro golos no campeonato (mais um na Champions) e subiu a média para um golo por jogo. Não se pode pedir mais a um ponta-de-lança que continua moralizado e que é um deleite para os extremos quando recua para lhes endossar a bola em corrida. Prova disso foi o tremendo toque de calcanhar a isolar Quaresma no início da segunda parte, a somar a uma data de outros passes em que depois de controlar a bola no chão consegue vislumbrar quase sempre a melhor trajectória para fazer o jogo rolar em direcção à área do adversário. E o primeiro golo é brilhante pela elevação que consegue no meio dos dois centrais do Moreirense, depois de um balão de José Ángel. Nota 20 (ou 10, em versão Football Manager).

(+) Maicon. Sem grandes brincadeiras, com sentido prático acima da (sua) média, Maicon esteve quase perfeito durante todo o jogo. Raramente se atreveu nos passes longos verticais (deixou essa tarefa para a desgraça que foi hoje Casemiro), foi milimétrico em vários cortes e impediu muitos ataques do Moreirense pela antecipação e bom jogo posicional. Está a ser o patrão de que precisamos, pelo menos nesta altura da época.

(+) Danilo. Um dos melhores jogos que me lembro de ver deste rapaz com a nossa camisola. Apareceu em apoio do ataque sempre que possível, audaz, sempre a pedir a bola mas mantendo-se bem posicionado para evitar contra-ataques do adversário. Tapou muito bem o flanco e fez as diagonais necessárias para tentar o remate, que conseguiu por várias vezes com boa ajuda de Quaresma, mas serviu fundamentalmente para abanar a dupla Óliver/Brahimi, que não pareciam conseguir furar pelo centro. Foi Danilo, com diversas intercepções no meio-campo adversário, quem mais trabalhou para empurrar o Moreirense para a sua área, especialmente na primeira parte. Excelente.

(-) O meio-campo durante toda a primeira parte. Raramente houve uma jogada com entendimento acima de uma triste mediocridade, muito abaixo do que podem e sabem fazer. Para arranjar desculpas podemos culpar a rotação posicional de Óliver e Brahimi, que não têm rotinas a jogarem próximos um do outro; podemos atribuir as culpas à bebedeira intelectual (vamos assumir que foi dessas) de Casemiro; podemos elogiar o posicionamento do Moreirense, astuto e voluntarioso na pressão alta; até podemos criticar a colocação de Adrián e Quaresma, ambos demasiado longínquos das áreas de influência e com pouca intervenção no jogo ofensivo da equipa como um todo para lá dos rasgos individuais, também eles pouco produtivos. Mas sejam quais forem os verdadeiros culpados pelo jogo pastoso e arrastado, houve enormes buracos no meio-campo ofensivo, viram-se demasiados passes errados (a fazer lembrar o primeiro ano de Guarín e o seu trademark “passe/remate” para rodar de flanco), excessiva confiança no passe longo vertical e pouco discernimento na organização de lances ofensivos. Talvez faça bem a Lopetegui assumir de vez um onze-base, ou pelo menos uma estrutura de meio-campo consistente para que possamos atravessar esta fase embrionária com mais tranquilidade, caso contrário podemos ter muitos jogos sofridos como este.

(-) Casemiro. Diz-me a verdade, rapaz: tu ontem foste para os copos, não foste? Bebeste uma cervejinha ou doze a mais, afinal está um calorzinho porreiro e a noite ontem até estava propícia para uma copada com os amigos…e ficaste distraído com as horas e com os “finos”, achaste piada ao nome e não paravas de pedir. É que não vejo outra explicação (se quisesse ir para a badalhoquice também podia, mas hoje estou a tentar ser “PG” e não me deu para a porcalheira) para a miséria de jogo que fizeste hoje, pá. Sempre distraído, lento, incapaz de reter a bola nos pés durante mais de um segundo, passes tortos, com força a mais ou a menos mas nunca adequada à situação. Vai para casa, enfia duas pastilhas de Guronsan num copo alto cheio de água, bebe tudo de golada…e dorme. Amanhã vais sentir-te um homem novo. Que remédio.


Três jogos para o campeonato, seis golos marcados, zero sofridos. Não estamos a jogar um futebol deslumbrante, deixo isso para mais tarde, o importante é continuar a ganhar. E não receber jogadores mancos vindos das selecções, também dava jeito.

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Baías e Baronis – FC Porto 2 vs 0 Lille

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foto retirada de desporto.sapo.pt

Um final de tarde de Nov…Agosto, bem à maneira de um jogo europeu. A chuva miudinha não incomodava, até ajudava a refrescar o corpo e a mente durante a partida, que foi tensa e complicada, também à maneira dos confrontos na Europa. E a vitória assenta-nos bem porque somos e fomos a melhor equipa em campo, mas também porque soubemos crescer nos momentos certos e acertar na baliza quando era necessário. Tudo graças a um jogo inspirado de Brahimi e ao grande ponta-de-lança que temos e que nem sempre é apreciado como devia, tanto cá como lá fora. Pouco há a reter do jogo a não ser o golão do argelino e a confirmação do apuramento de uma equipa ainda verdinha mas que tem tanto talento que parece cruel ainda não conseguir colocá-lo em campo. Early times, my friends. Vamos a notas:

(+) Brahimi. Há um lance em que faz uma “vírgula” num espaço de vinte ou trinta centímetros que deixou o estádio babado para ver mais. E apesar do jogo o ter obrigado a um papel mais defensivo, que aposto não desempenha com particular agrado, foi na frente que se mostrou eficaz, com um golo de livre directo a fazer lembrar Diego e uma assistência perfeita para Jackson enfiar lá dentro o segundo. É muito talentoso com a bola nos pés e é a sair de situações complicadas que mais brilha e põe o povo em chama. Fintar uma equipa numa cabine telefónica? Brahimi consegue isso com a bola controlada e os olhos vendados, amigos!

(+) Jackson. Esteve estupendo a receber a bola e ainda melhor a rodá-la para os colegas. Só tenho pena que tivesse de recuar tantas vezes até ao meio-campo para a poder receber, mas o jogo do FC Porto ainda não se estica como deveria para que Jackson possa ficar mais tempo em zonas de tiro, à espera que a bola lhe vá lá cair redondinha. E o golo que marcou é daqueles dignos de ponta-de-lança, recebendo “en passant” de Brahimi e fuzilando Enyeama com um remate cruzado de pé esquerdo. Excelente jogo e mais um visto na lista dos marcadores deste ano. 3 golos em 4 jogos, metade dos golos da equipa. Os números não mentem: neste momento, Jackson é essencial no FC Porto.

(+) A entrada de Evandro. Ruben parecia cansado e apesar de conseguir fazer aos 17 o que Raul Meireles fazia aos 27 (jogar meia-hora e ser substituído, certinho como um relógio atómico nas substituições de Jesualdo), notava-se que a frescura mental não era a mesma, os passes saíam mais tortos e menos inteligentes. Evandro ajudou a equilibrar o meio-campo, pausando o jogo e temporizando na altura certa para medir bem os passes e ajudar a segurar o centro do terreno que contava com Herrera em modo crazy-time e Casemiro ancorado um pouco mais atrás. E se tivesse tido pernas para ultrapassar Rozehnal, o Otamendi checo (o homem passou meio jogo a fazer carrinhos…), podia mesmo ter marcado. Fica para a próxima, rapaz.

(-) Jogo horizontal em demasia. Discutia no final do jogo os hábitos que se vão criando na estrutura de jogo e a necessidade de ir corrigindo erros para que não se tornem…habituais. A forma como a equipa começa a construção de uma jogada de ataque faz com que o jogo se torne excessivamente horizontal, com pouca vontade de avançar com a bola controlada em direcção à baliza. E isso nota-se mais em jogadores como Óliver ou Ruben Neves, mais rápidos a decidir e que começavam quase sempre por olhar para a lateral em vez de perceber se havia uma melhor linha de passe à sua frente. É com a posse de bola que melhor jogamos, não contesto, mas manter a bola entre nós sem tentar furar enquanto se espera por um erro do adversário pode levar a que em muitos jogos onde sejamos menos eficientes, especialmente no campeonato, comecemos a ficar nervosos e tomemos decisões arriscadas e rápidas demais para acelerar em altura de desespero. Espero para ver a evolução da equipa nos próximos tempos.

(-) O nervosismo do final da primeira parte. A equipa é nova mas não só em termos de contratações e estrutura. Os rapazes que lá estão também são jovens e se podemos salivar com a perspectiva da evolução de tanto talento em campo até que formem um colectivo consistente, também teremos de aguentar alguns jogos em que as decisões não são as melhores e onde há alguma tremideira em determinados momentos em que nada parece correr bem. Os últimos dez minutos da primeira parte foram uma sucessão de más escolhas para o passe, movimentações erradas e um mal-estar generalizado que parecia contagiar as bancadas, que agora parecem cheias de filhos únicos mimados a quem lhes tiraram os brinquedos por meio minuto. Cabe ao treinador acalmar as tropas e o arranque da segunda parte pareceu mais tranquilo (o golo ajudou e muito), mas vão haver jogos em que esses dez minutos podem ditar a diferença entre um bom resultado e uma catástrofe…

(-) Os assobios a Lopetegui. Ainda vou escrever sobre isto mais tarde (a ideia é esta, por isso se não acontecer, fica aqui registado que era este o meu intuito original!) mas só há uma coisa a dizer a esta montanha de unhas encravadas: se querem que as substituições ocorram sempre como suas excelências desejam, mesmo que essa substituição não seja adequada ao que o jogo está a mostrar, fica uma sugestão: vão a uma loja e comprem uma cópia do Football Manager e já podem meter o Quaresma sempre que vos apetecer. Até lá espero que se calem e deixem de pressionar a equipa, de insultar a inteligência do treinador e de lixar a cabeça dos vossos colegas de bancada. Ou então não apareçam, que tal?


O sorteio é na próxima quinta-feira, a meio da tarde. E lá estaremos, pela 19ª vez, a ver as bolinhas a serem sacadas por uma qualquer figura do futebol mundial, à espera do papelinho que diz “FC Porto”. Com mérito.

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Baías e Baronis – Paços de Ferreira 0 vs 1 FC Porto

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Ao contrário do que dizia Freitas Lobo, no final da partida, não acho que tenha sido um grande jogo de futebol. Foi um jogo sofrível, com uma equipa a jogar na retranca durante 45 minutos enquanto que outra, ainda a atravessar uma fase de construção que vai durar meses até chegar a porto seguro, tentava tudo o que podia, com calma mas empenho, para furar os onze mânfios que jogavam em 30 metros. O golo foi o momento alto de uma partida que não deixa saudades mas que vencemos com mérito apesar de praticarmos um futebol que, a espaços, fez lembrar o segundo ano de Vitor Pereira. Chato, mas eficaz. Três pontos, é o que interessa. Vamos a notas:

(+) Casemiro. Posicionamento impecável na saída da bola a partir da defesa, nunca será um trinco à antiga (definindo “antiga” como: desde os anos 90) mas talvez seja exactamente o que precisamos para aquela posição de arranque de lances ofensivos. Ruben é melhor em posse mas Casemiro dá mais corpo e uma acuidade defensiva mais acertada, apesar de raramente aparecer nos últimos trinta metros com a bola controlada, preferindo rodá-la para os flancos sempre que possível. Excelente técnica, bom nos passes longos, mostra um discernimento acima da média e entende-se já bem com os centrais, essencial para garantir boa cobertura do terreno. Ah, e parece estar todo o jogo a sorrir. Kinda creepy.

(+) Evandro. Às vezes, as coisas mais simples são as mais interessantes e as mais eficientes. Evandro mostrou isso mesmo, já depois de Ruben Neves o ter feito em Lille, que não é preciso jogar cheio de fintas e corridas loucas para mostrar que um jogo de futebol é 10% inspiração e 90% transpiração. Pelo menos na sua zona do terreno e para a grande maioria dos jogadores. Foi sóbrio, prático, com sentido de conjunto e a trabalhar para que a equipa pudesse jogar sem que notasse a sua presença. Lembrou-me um pouco do que Defour poderia ser, se tivesse a cabeça no sítio durante a maioria dos jogos que por cá fez…

(+) O lance do golo. Impensável de acontecer em 2013/2014, apesar dos três intervenientes terem feito parte do plantel no ano passado. Três jogadores com técnica acima da média, três toques de pé esquerdo, três excelentes componentes de um lance que tem tanto de simples como de estupendamente bem executado. A bola é atrasada para Alex Sandro que sem a dominar coloca na direita para Quintero, o puto recebe a bola na perfeição, adianta-a meio metro e cruza para o outro lado da área onde Jackson encosta de primeira para a baliza. Faz lembrar o puto que responde à tradicional pergunta do “2+2=?” com 4, ao que a professora responde: “Muito bem”, para receber a resposta do miúdo: “Muito bem, nada. Perfeito!”.

(+) A multiplicidade de escolhas. Sai Tello, entra Quintero. Sai Evandro, entra Óliver. Sai Ruben, entra Herrera. Quaresma e Danilo nem foram convocados e Brahimi ficou no banco. A quantidade de opções à disposição de Lopetegui assusta em termos de qualidade (uns mais que outros, é verdade, mas nenhum destes nomes pode ser considerado fraquinho) e se a rotação pode ter arrancado um pouco cedo, a verdade é que podemos estar relativamente descansados em termos de quem pode ou não jogar. É que ao forçar este tipo de escolhas, Lopetegui está ostensivamente a mostrar aos jogadores que todos vão poder jogar numa ou noutra altura e que todos têm de estar preparados para ficar no banco ou na bancada de vez em quando. Ou, pelo menos, foi assim que li as decisões do treinador.

(-) A condição física, principalmente dos “velhos”. Vi um Alex Sandro que parecia cansado ao fim de quarenta minutos, um Herrera que pareceu entrar sem força e com os tradicionais blackouts que marcaram a época passada, um Quintero a abanar demasiado a cabeça a meio da segunda-parte e um Adrián sem poder de explosão nem capacidade de arranque. A pré-época foi dura, com muitos dias a terem três treinos e as cargas físicas foram, ao que parece, bem pesadinhas. Compreendo que se comece a rodar o plantel mas quero acreditar que as pernas dos rapazes vão aguentar até chegarmos à fase de grupos da Champions, porque aí ninguém vai pensar na pré-época e nos três treinos por dia. Aí, é a doer, e se a rotação pode servir para ajudar, não explicará se os rapazes não correrem por falta de pernas…

(-) Mais uma vez, pouco jogo na área e poucos remates. Sim, o Paços enfiou dois comboios cheios de gado nos últimos vinte metros. Certo, o nosso meio-campo ainda não está oleado. Ok, os extremos eram ambos novos, um deles esteve off e o outro estourou-se ao fim de meia-dúzia de minutos. Mas a bola chegou poucas vezes a Jackson em condições de remate, Quintero preferia quase sempre fintar mais um, Ruben agarrou-se em demasia à bola e Casemiro parece ter medo da baliza. Há que trabalhar mais e melhor para colocar a bola na área com maior eficiência, ou pelo menos para assustar mais o guarda-redes contrário.

(-) Adrián. Muito pouco para um nome tão grande. Passou muito ao lado do jogo e nas poucas oportunidades que teve, não mostrou capacidade no 1×1, não se entendeu muito bem com Alex Sandro e raramente foi perigoso para a baliza adversária. É certo que ainda é cedo e que vai haver muitas oportunidades para jogar e brilhar, mas para um homem com tanto talento fazer recordar tempos de Mariano González…não terá sido o melhor arranque, fico-me por aqui.


Dois jogos do campeonato, duas vitórias, zero golos sofridos. Em Agosto, não peço mais.

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