Não foi uma grande vitória mas foi uma vitória justa, mais uma. E o mais interessante deste jogo acaba por ser a forma como a equipa conseguiu manter-se psicologicamente estável depois de uma sucessão de falhanços, más decisões e erros técnicos que quase serviram para desestabilizar o que deveria ter sido um percurso natural para uma vitória também ela natural. Em grande estiveram as claques, aparecendo no momento perfeito para elevar a moral do povo antes de começarem as assobiadelas. Não vivemos dias fáceis mas lá vamos navegando. Notas nos parágrafos seguintes:
(+) Layún. Creio que nunca será um estupendo defesa esquerdo porque não tem características para tal. É um wing-back, como me dizia o meu colega do lado, que sobe mais do que deve e raramente parece estar pronto para defender sob pressão. Mas a forma como agarrou o lugar na equipa, com golos e assistências a marcarem a diferença nos últimos jogos, bem como as subidas pelo flanco a ajudarem no overlap à ineficácia actual de Brahimi, fazem dele um dos elementos em destaque na equipa e hoje foi exactamente o que tem vindo a ser. Rápido, prático, de remate pronto e a cruzar bem para o golo de Aboubakar.
(+) Danilo. O jogador do meio-campo com mais clarividência, a manter o nível com um jogo abaixo da média para Ruben e Evandro (André também não entrou particularmente bem). O centro do terreno foi a zona mais cheia de pernas mas Danilo usou quase sempre bem o corpo para proteger bem a bola e impedir quase todos os poucos lances de ataque do Setúbal que de facto foram construídos pela relva (ao contrário da maior parte das bolas enviadas para Suk…o cabrão ganha 90% das bolas aéreas, é enervante desde os tempos do Marítimo), fazendo dele o único médio que fez um jogo em condições hoje à noite no Dragão.
(+) O apoio dos adeptos. É exactamente isto que precisamos nos momentos menos bons. Quando a equipa parecia estar a ceder à pressão e começou a dar mostras de algum nervosismo e inquietação perante a contínua infeliz decisão na entrada da área adversária, eis que se erguem as bandeiras, elevam as vozes e o Dragão renasce com o som dos cânticos vindos das bancadas mostraram à equipa que havia harmonia, apoio, paz e energia positiva. Um clube que quer estar sempre no topo precisa também de adeptos à sua altura para que ambos consigam crescer em sintonia. Hoje essa união de almas e vontades sentiu-se no Dragão e foi bonito de sentir.
(-) Indefinição na criação ofensiva e pouca gente a atacar. Tantas vezes se vê esta situação nos nossos ataques: sobe um rapaz com a bola depois de a recuperar na defesa (chamemos-lhe Tello) e rapidamente se vê rodeado de adversários. Procura uma linha de passe para intensificar o contra-ataque e não a recebe, tendo de voltar para trás e fazer um reset a toda a possibilidade de desequilíbrio do oponente durante mais uns largos minutos, simplesmente porque o apoio não aparece. Aquele triângulo com dois homens atrás acaba por não funcionar em jogo de construção ofensiva e o espaço entre linhas é tão grande que assusta pensar no tempo que se demora a chegar com a bola lá na frente. Há que partir o triângulo e soltar um dos médios mais recuados para evitar que sejam os centrais (como hoje se viu em vários momentos do jogo) a criarem alguma coisa a partir daquela zona.
(-) Maxi O pior jogo com a nossa camisola, teve imensas desconcentrações e más decisões no posicionamento, juntamente com contínuas falhas no passe (até nos lançamentos laterais falhou imenso) e na movimentação ofensiva. Apareceu bastantes vezes em zona de assistência para golo mas pareceu tomar quase sempre a pior decisão.
Cheguei a temer mais uma parvoíce de jogo como tivemos contra o Braga, com dezenas de lances gerados que poderiam ter dado em golo a serem desperdiçados um atrás do outro. Felizmente não foi assim e mais três pontos ficam deste lado. Nada mais que a nossa obrigação.